22.5.09

HUNGER (2008), de Steve McQueen

Primeiramente, será que não havia ninguém para avisar ao diretor que o nome que ele utiliza já pertenceu à outra pessoa ligada ao cinema? Aliás, um dos maiores atores americanos de sua geração, pra ser ainda mais puxa-saco do ator! Enfim, isso não importa. O que vale é o resultado bem interessante deste trabalho aqui.

HUNGER descreve as penosas condições carcerárias e as brutais repressões que sofriam os ativistas do IRA, no início dos anos 80, em uma luta para serem reconhecidos como presos políticos. Nisso tudo, o filme basicamente se estrutura em duas partes. A primeira, até um tanto didática, mas sem cair na mesmice de outros filmes do gênero, mostra o dia a dia na prisão. A segunda ganha uma força maior quando a narrativa se concentra em Bobby Sands (Michael Fassbender), um dos líderes ativistas, que resolve fazer greve de fome. Também não deixa de ser didático, mas acompanhar o processo do cara definhando é algo muito tenebroso...

É legal observar a relação entre o olhar do diretor sobre o seu material com a estética carregada impregnada na construção narrativa. Principalmente porque o número de diálogos no roteiro é mínimo. Mas em certos momentos, McQueen até exagera e acaba se perdendo numa espécie de busca por uma edificação visual sem muita força de significado, mas quando acerta, acaba rendendo belas seqüências, como o longo plano estático e esfumaçado com duas personagens dialogando. O sujeito tem um talento e tanto pra amadurecer. Este é seu primeiro filme e aponta como forte revelação do atual cinema britânico.

Obs: Hoje é sexta feira, dia de atualização do Dia da Fúria. Tem texto meu sobre REVOLVER, ainda do Sergio Sollima e um textinho do único giallo que o Sollima fez, O CÉREBRO DO MAL, escrito pelo Rogério Ferraz. Não percam!

19 comentários:

  1. Nos cinemas possíveis da minha cidade passam 4 filmes. Na semana de estréia desse filme eu tentei baixá-lo umas quatro vezes e minha internet caiu nas quatro. Eu desisti, mas acho que no mínimo vale a pena.

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  2. Um dos melhores filmes que vi nesse ano. Artista plástico quando resolver virar cineasta geralmente dá merda. (Esse) McQueen é exceção.

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  3. Tá aí... nem sabia que o cara era artista plástico.

    Mas existem outros ótimos diretores que se deram bem com as artes plásticas... Cronenberg, Lynch, Mario Bava, Takeshi Kitano e até o Peter Greenaway, que muita gente não gosta, mas eu adoro.

    Agora não sei se eram artistas que viraram diretores ou ao contrário...

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  4. O Kitano sempre foi um artista polivalente (comediante, dançarino, cantor, pintor) e o Lynch um cara 'multimídia'. Mas o Peter Greenaway primeiro foi pintor e depois diretor. Já o Bava era filho do cinema, praticamente viveu dentro de um set de filmagem. Manjava tudo de fotografia, figurino, cenário e efeitos, sem falar de como dirigir e contar uma história.

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  5. Ah, agora entendi seu comentário no Twitter. rsrs.

    Além do nome bizarro do cara, o título tb é de outro famoso filme, o primeiro do Tony Scott.

    E quanto aos artistas plásticos transformados em cineastas, só vi bons (ótimos) exemplos citados aqui, fora os do q eu já conhecia.

    Talvez se me disserem que Bay, Boll, Emmerich foram artistas plásticos tb...

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  6. Filme forte e um surpreendente debut esse Hunger. O diretor promete...
    Kitano é mestre.
    Outro que, além de escritor, roteirista e diretor de filme, também virou pintor foi Clive Barker.

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  7. A questão não é o cara ser polivalente, mas de ter uma outra formação anterior. Um pintor ou escultor sempre terá uma visão diferente em seus filmes do que um cineasta convencional.

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  8. "Um pintor ou escultor sempre terá uma visão diferente em seus filmes do que um cineasta convencional.
    "

    Mas que deixa um, por exemplo, Greenaway um diretor de qualidade diferencial é justamente isso. Até pq se ele tiver talento para conduzir uma história, o contraste entre sua experiência artística anterior com a audiovisual pode ser bem interessante. Arte tb é abrir a mente para experimentações. No cinema, incluso.

    Tem cara que adora criticar publicitário e jornalista que vira cineasta, mas eu conto tantos publicitários e jornalistas bons cineastas, quanto os ruins.

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  9. "Arte tb é abrir a mente para experimentações. No cinema, incluso."

    Principalmente o cinema, acho, porque o cinema é uma arte que se beneficia de todas as outras formas de expressões artísticas.

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  10. Vamos a lista: O Dreyer era jornalista, o Eisenstein era cartunista, Lynch publicitário, Greenaway pintor, Abbas Kiarostami publicitário, Godard & Truffaut jornalistas, Fincher videoclipeiro, ou sei lá como chamar isso, Meirelles publiça,Jan Svankmajer cartunista e Alejandro Jodorowsky era palhaço e "marioneteiro" (!!!). E assim por diante.

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  11. Bom pra kct o blog parabens, favoritado no central de horror =]

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  12. Eu dou um desconto pro Fincher, já que ele começou como técnico da ILM. Talvez o maior problema seja com aqueles que não tem um aprofundamente, ou apenas um "leve jeito" em algum tipo de arte e que resolvam se aventurar no cinema. É como dar a Casa Brabca para alguém como Bush. Só pode resultar em merda.

    Há 10 anos eu tinha medo de publicitários que iam tentar a sorte no cinema. Hoje tenho pavor de diretores de TV que se acham capazes de fazer cinema.

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  13. O problema dos publicitários é que eles adoram seguir tendências modernosas, então quando se vêem atrás de uma câmera, pensam que são os próprios Danny Boyle's. Eu sou publicitário, eu sei como é.

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  14. Mais uma vez, é como eu quero dizer, vc tem um Michael Bay, Emmerich, Fincher e Ritchie que não eram publiciotários, e no entando filmam mais do que alguns que nem cineastas são. E alguns publicitários que filmam da maneira extremamente convencional, ou os que usam que aprenderam a favor do cinema como Irmãos Scott e Lynch. E as vezes até aqueles que não eram propriamente publicitários, como Oliver Stone e Spike Lee!

    Ou seja, é mais uma discussão que pra mim cai no fundo do poço chamado relativo.

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  15. Um cara que filma um filme como um estilo videoclipe, não quer dizer que ele precise ter um background publicitário ou referente a isso. As vezes o sujeito faz isso tendo uma formação de cinema absolutamente clássica.

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  16. Com certeza, tudo é relativo, pô, mas é muito mais fácil de acontecer se o cara tiver formação publicitária.

    Claro que se formos citar só os grandes dificilmente vamos encontrar. O negócio é a generalização dos "pequenos".

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  17. "mas é muito mais fácil de acontecer se o cara tiver formação publicitária."

    Não necessariamente, pô. É disso que eu to falando só. Já entendi o que querem dizer, mas meu ponto de vista é outro.

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  18. Vou ter que endossar o Daniel (e sei que um dia me arrependerei) nessa discussão e dizer que é tudo horrivelmente relativo. Da forma mais descontrolada e despropositada possível, mesmo.

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