Digam o que quiser, sempre achei o J.J. Abrams um sujeito de boas idéias. Pode até não ser um diretor genial, longe disso, mas a sua visão sobre determinados projetos sempre me agradou. Dois exemplos: é o criador de LOST, o único seriado que tenho assistido atualmente (porque minha namorada é fã da série e vivia pedindo para que eu baixasse pra ela, mas acabei gostando também); é a mente por trás de CLOVERFIELD, um dos filmes de monstro que mais me surpreendeu nos últimos anos. Por isso não foi uma surpresa perceber que estava diante de um filmaço enquanto assistia
STAR TREK.
Antes de qualquer coisa, devo confessar que não sou um
trekkie, nem mesmo gostava tanto da série quando passava na TV. Cheguei assistir a alguma coisa quando era adolescente, sempre adorei a essência, os personagens, a importância que aquelas produções tiveram no mercado televisivo nos anos 60 (no cinema, nem tanto, embora os filmes sejam bem mais legais, na minha opinião). Mas, enfim, fã eu não sou, não conseguia ver muita graça nos episódios.

Mas todo mundo sabe que a serie criada por Gene Roddenberry é ultracultuada, possui uma legião de fãs que venderia até a mãe pra tirar uma foto com o Leonard Nimoy fazendo aquela saudação com os dedos, e mexer com a origem desses lendários personagens sem causar um reboliço, seria impossível. Eu mesmo não achava que daria certo, imaginem então um sujeito que se masturba pensando no William Shatner vestido com o uniforme da Enterprise... é capaz de ter uma parada cardíaca.
Mas, convenhamos, se alguma série/filme merecia uma atualizada que fizesse jus à sua estima, com certeza, a escolha de
STAR TREK foi uma ótima sacada! Trabalhar a origem dos personagens, melhor ainda. Engraçado que o Abrams também não era um maníaco pela turma do capitão Kirk, outro motivo para os fãs ficarem temerosos, mas dar continuidade aos longas seria o tipo da coisa anacrônica que já se esgotou, vide aqueles filmes medíocres estrelados pelo professor Xavier... digo, Patrick Stewart.
Mas o suspense passou, finalmente, e podemos festejar,
STAR TREK é sensacional!
Então vamos logo com isso. A trama tem seu início já na espetacular sequencia de abertura, quando um nervosinho romulano, chamado Nero, volta no tempo e resolve tirar satisfações com o Spock por um probleminha que ainda vai acontecer daqui alguns anos. Calma! Isso é o de menos, embora abranja muito mais detalhes do que meu pequeno relato, o que vale mesmo é a forma como o roteiro trata os personagens com o equilíbrio perfeito entre a tradição de longa data da série, agradando os
trekkies de plantão, e a atualização para a molecada de hoje, que não faz a mínima idéia do que seja um Vulcano.

Mas o mérito não é apenas do excelente roteiro. Grande parte do resultado vem dos próprios atores, a maioria deles desconhecidos ou trazidos das series de TV. Chris Pine, que encarna James Kirk jovem, convence ao transformar o personagem num sujeito abespinhado com a vida, mas também bastante afoito e intenso. Shatner deve ter se orgulhado. Zachary Quinto também surpreende em sua atuação complexa, explorando um Spock sem sentimentos e carismático, apesar dos seus conflitos internos entre a sua origem Vulcana e suas características humanas. Um fator crucial para
STAR TREK é esculpir a relação entre estes dois personagens, um relacionamento que transcende o coração da série e que é trabalhada aqui com um sucesso tremendo!

Todo o elenco, na verdade, mandou muito bem e merece destaque pela construção dos personagens (mas se eu for citar todos, o texto vai ficar bem maior do que já está). Um dos atores mais conhecidos (embora esteja meio irreconhecível por causa da maquiagem) é Eric Bana, interpretando corretamente o maléfico Nero; Simon Pegg está impagável e perfeito para os momentos de humor; e claro, como não deixar de falar da participação de Leonard Nimoy, o Spock original, encarnando novamente o personagem! Eu ainda acho que daria para encaixar uma participação do Shatner... mas tudo bem.

Voltando a falar do J.J. Abrams, o sujeito até que surpreende em algumas escolhas. A maneira como filma a ação, por exemplo, e se aproveita dos efeitos visuais e sonoros deveria servir de exemplo pra Gavin Hood’s e Frank Miller's da vida. Na verdade, o diretor nunca se apóia totalmente nestes artifícios - embora tanto a fotografia quanto a edição de som e trilha sonora sejam magníficos - ao mesmo tempo em que tais efeitos contribuem de maneira eficaz no resultado que determinadas cenas necessitam sem nunca virar um carnaval de maquiagens e explosões em CGI, como nos últimos STAR WARS, por exemplo.
Até mesmo a direção de atores, com suas batalhas emocionais cuja narrativa escora-se constantemente de maneira inteligente e interessante, demonstra que o diretor possui um potencial para a coisa, amadureceu bastante e até difícil de acreditar que seja o seu segundo longa (o primeiro foi MISSÃO: IMPOSSÍVEL III). Se continuar à frente de futuras sequencias (algo, acredito eu, que vá acontecer) podemos ter certeza que a série
STAR TREK estará em boas mãos. Vida longa e próspera para esta nova franquia que vai encher os bolsos de muita gente em Hollywood às nossas custas...