Mostrando postagens com marcador john frankenheimer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador john frankenheimer. Mostrar todas as postagens

29.6.09

ATÉ O ÚLTIMO DISPARO (99 and 44/100% Dead, 1974), de John Frankenheimer

Frankenheimer já era um diretor com uma carreira considerável nos Estados Unidos quando realizou ATÉ O ÚLTIMO DISPARO, um filme que rompe totalmente com a construção clássica de vários trabalhos anteriores, mas de uma maneira meio que extravagante demais ou, dependendo do ponto de vista, um filme de vanguarda, muito à frente de seu tempo (e é como eu prefiro enxergá-lo). O problema é que nem a crítica nem o público se interessaram na época e o filme acabou sendo esquecido. Mesmo assim, Frankenheimer prosseguiu em frente com um aspecto mais solto, influenciado pelos jovens diretores que estavam modificando de vez o cinema americano nos anos 60 e 70.

Seu trabalho seguinte, OPERAÇÃO FRANÇA II já demonstra claramente isso, mas nada se compara ao estilo bizarro deste aqui, uma mistura de Roy Liechtenstein com Chuck Jones numa trama de guerra de gangsteres, tiroteios estilizados, um vilão com vários apetrechos no lugar da mão, um cemitério aquático cheio de corpos com os pés presos em blocos de concreto, trilha sonora espertinha e Richard Harris como o protagonista anti-herói que parece ter saído de um quadrinho. Preciosidade que merece uma redescoberta urgentemente.

17.11.08

A HORA DA BRUTALIDADE (52 Pick-Up, 1986), de John Frankenheimer


A Hora da Brutalidade é desses thrillers policiais que só poderia ter saído dos anos 80 quando os roteiros ainda elaboravam histórias inteligentes e criativas, criavam universos crus e violentos, vilões marcantes, heróis ambíguos e os diretores possuíam força narrativa sem afetações da linguagem de vídeo clip, tudo isso raro nos dias de hoje. John Frankenheimer já era um mestre do cinema americano quando dirigiu este aqui a partir do roteiro de Elmore Leonard, o pai dos romances policiais contemporâneos. E o filme conta com um elenco de primeira encabeçado pelo grande Roy Scheider, que partiu desta pra melhor no início do ano, além de Ann-Margret, John Glover e Clarence Williams III.

Na trama, Scheider interpreta Harry Mitchell, um empresário muito bem sucedido no ramo da siderúrgica, e embora tenha um casamento estável, dinheiro, um carrão, ou seja, não lhe falta nada, possui um relacionamento extraconjugal. Até aí tudo bem, digamos assim, já que é normal figuras desse tipo colocarem chifres em seus companheiros (as). O problema começa quando três sujeitos sem escrúpulos e perigosos filmam Mitchell pulando a cerca e resolvem fazer chantagem e ameaças em troca de uma boa grana. A premissa até parece um novelão melodramático, mas são os desdobramentos que transforma este simples plot em um thriller tenso com direito a uma jornada pelo submundo da prostituição e pornografia.

A densidade dramática e o detalhamento dos personagens são grandes qualidades no filme. Scheider está magnífico como sempre. Não é desses que sai atirando nos bandidos, mas parte pra cima de seus inimigos com coragem e inteligência. Quem rouba cena, entretanto, é o expressivo John Glover no papel de um dos vilões. Hoje fazendo seriados americanos, Glover nunca teve o reconhecimento que merecia e a prova disso está em sua interpretação em A Hora da Brutalidade. Outro destaque é Clarence Williams III, que vive um cafetão com um aspecto de dar medo, como na cena que em que quase mata uma de suas garotas asfixiada com um urso de pelúcia.

Embora não seja um filme de ação explosivo, com tiroteios e perseguições, Frankenheimer consegue passar muita intensidade das situações dramáticas e conduz com segurança as movimentações do roteiro e o controle sob seus atores. Seqüências de ação nem chegam a fazer falta, mas violência temos de sobra. A cena em que Mitchell assiste um snuff movie é extremamente realista e se encaixa perfeitamente ao universo da trama. Com todos esses ingredientes muito bem utilizados, A Hora da Brutalidade não tinha como não se tornar um clássico dos anos oitenta.