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23.3.13

BULLET TO THE HEAD (2012)


BULLET TO THE HEAD é exatamente o que eu estava esperando. Simples, violento, objetivo e sem frescuras. E, de algum modo, um retorno aos velhos tempos dos filmes de ação casca-grossa. Baseado numa história em quadrinhos, marca o retorno de Walter Hill à cadeira de diretor para um trabalho feito pra cinema e tem Sylvester Stallone como Jimmy Bobo, um assassino profissional em busca de vingança. Mas isso vocês já estão carecas de saber pelas sinopses e trailers que rolam por aí. O que vocês realmente precisam saber é que Stallone passa o filme inteiro esmurrando, explodindo e atirando na cabeça de bandido, mesmo os desarmados, na covardia, e sem qualquer remorso! E nem passa pela cabeça do sujeito o chato clichê da crise de consciência por causa do seu tipo de trabalho e modo de vida. “Buah! preciso sair dessa vida de matança”, como dizem os pseudos action heroes desta geração politicamente correta.

E Stallone está perfeito por aqui. Chega até emocionar vê-lo construindo um personagem carismático, engraçado e badass, para entrar na sua galeria de papéis marcantes, como Rocky, Rambo, Marion Cobretti e outros. O Barney Ross, de MERCENÁRIOS, por exemplo, que eu adoro, parece uma compilação de um monte de personalidades que o Stallone já interpretou, inclusive a dele própria. Jimmy Bobo é algo novo na carreira do Sly, que parece ter se divertido bastante ao encarnar um assassino sangue frio e sarcástico ao extremo. Sem contar que na sua idade atual entram alguns conflitos pelo fato de ser um dinossauro anacrônico diante do mundo moderno, da mesma maneira que o Schwarzenegger de xerife em THE LAST STAND...


Acho até que acertaram na escolha de substituir Aaron Eckhart pelo Sung Kang, que não é lá tão conhecido. Eckhart tem personalidade e presença, tiraria um pouco o foco do Stallone. Kang é apenas um bom acompanhamento. Um contraponto interessante do protagonista, até pelo fato de ser um policial que faz parceria com um assassino, apesar de não ser daqueles coadjuvantes cools, como Brandon Lee em MASSACRE NO BAIRRO JAPONÊS, ou Steve James em AMERICAN NINJA. Dá uns tiros e aplica umas artes marciais em dois ou três meliantes, além de sempre descobrir umas coisas relevantes para o caso que investigam através de celular, algo que desnorteia um pouco o Jimmy, que não é muito ligado à tecnologia... Mas o resto do filme é Stallone em ação puríssimo! Apesar disso, a química entre os dois é ótima e Kang não se torna nunca pedante. Algumas das melhores sequências de BULLET TO THE HEAD são justamente aquelas que os dois dialogam, trocam desaforos e piadinhas, lembrando os bons e velhos buddy movies dos anos 70 e 80. Gosto de uma cena em que o personagem de Kang pergunta a Jimmy Bobo quem é a mãe de sua filha. O sujeito responde que ela era "uma puta drogada que morreu há quinze anos". E pronto, só essa frase basta para destroçar mais de uma década de cinema de ação hollywoodiano politicamente correto (com as raras exceções).


No elenco ainda temos Christian Slater, num pequeno papel de advogado do vilão. E é bacana poder vê-lo na telona. É desses atores que em algum momento deixou a carreira desandar e foi parar em produções direct to video, como o Cuba Gooding Jr. e o Val Kilmer. Temos também Adewale Akinnuoye-Agbaje encarnando um vilão inescrupuloso e Jason Momoa, seu principal capanga responsável pelos serviços sujos. Pausa para falar do Momoa. Tomei certa antipatia pelo sujeito depois da refilmagem de CONAN, mas ele está perdoado por este papel em BULLET TO THE HEAD (e também pelo GAME OF THRONES, que nunca acompanhei, mas já cheguei a ver alguns episódios). Momoa faz aqui o típico vilão old school, que se fosse nos anos 80, seria interpretado por um Vernon Wells ou Brian Thompson. Um mercenário filho da puta que realiza seus serviços pelo prazer de matar e não pelo dinheiro que entra na conta. E ainda contracena com Stallone uma luta de machados que, putz, é de encher os olhos de qualquer fã de "cinema de macho". Para finalizar, apresentando Sara Shahi, uma belezinha tatuada que encarna a filha do Stallone. E podem comemorar, é possível ver algumas tattoos, digamos, mais intimas da moça...


Sobre a direção do Hill, que substituiu o Wayne Kramer (desistiu por diferenças de opiniões entre o Stallone), é preciso apontar algumas coisas. Definitivamente dá para perceber o estilo do homem impresso no modo de filmar a cidade, no excelente domínio na direção de atores, a maneira de trabalhar os elementos do gênero com a essência dos anos 80, etc... Mas de vez em quando parece que estamos diante de um direct to video mais classudo, mais elegante. Há até alguns efeitos moderninhos de pós produção que eu nunca pensei em ver num filme de um sujeito do calibre do Hill. Não chega a incomodar, mas poderia ser evitado.

Em termos de ação, o sujeito ainda manda muito bem. Só não esperem algo tão old school, com o charme de um EXTREME PREJUDICE, INFERNO VERMELHO ou 48 HORAS. Em vários momentos Hill chacoalha a câmera, picota na edição, especialmente em cenas de luta, o que não quer dizer que seja mal feito, pelo contrário, é tudo muito bem orquestrado por alguém que conhece profundamente a gramática do cinema de ação. E mesmo adotando esses artifícios modernos, o diretor demonstra que é possível fazer ação de qualidade nos nossos dias.

Tenho lido algumas resenhas gringas depois de conferir e confesso que não esperava encontrar tantas críticas negativas, dizendo que o roteiro faz juz ao segundo nome do protagonista (na verdade, é Bonomo, Bobo é um apelido carinhoso que o personagem possui). Será que só eu fiquei empolgado? Ok, o roteiro não é nenhum primor e possui alguns furos. Mas a quantidade de Stallone dando tiro na cabeça de bandidos compensou qualquer equívoco pra mim. Comparado ao vasto número de obras primas que o gênero concebeu nos anos 70 e 80, BULLET TO THE HEAD não deixa de ser mesmo apenas um filme genérico, uma gota no oceano de truculência fílmica, que ora remete ao cinema de ação daquele período, ora parece que realmente estamos vendo um exemplar da época. Agora, dentro do panorama atual, é um frescor, objeto de rara honestidade, um baita filmaço de ação.

13.1.13

96 HORAS DE WALTER HILL

Contagem Regressiva BULLET TO THE HEAD # 6: 
48 HORAS (1982) + 48 HORAS - PARTE II (1990)


Ainda no processo de conferir e revisitar os filmes do Walter Hill, fiz uma sessão dupla com os dois 48 HORAS. Fazia uns bons quinze anos que não assistia. Muito antes de MÁQUINA MORTÍFERA e o seriado MIAMI VICE, Hill já tinha se aproveitado das maravilhas do subgênero “buddy cop movies interracial” de maneira minuciosamente particular. Apesar de não ser nenhum inventor do estilo, o primeiro 48 HORAS serviu de base para muitos exemplares posteriores.

Ambos reprisaram milhares de vezes nas tardes da TV no final dos anos 80 e início dos 90, e para quem teve a oportunidade de conferir na época já deve estar careca de saber o enredo. Mas, para quem não sabe, vamos ao filme de 82: o policial Jack Cates (Nick Nolte), em uma manobra desesperada para pegar um assassino, consegue obter custódia do presidiário Reggie Hammond (Eddie Murphy) por 48 horas para ajudá-lo com o caso, formando uma dupla inusitada.

A princípio se odeiam, discutem as diferenças, até saem na porrada! Mas gradativamente vão ganhando o respeito do outro e grande parte da diversão em 48 HORAS é acompanhar esse processo de “conquista” e as questões levantadas pelo fato do policial ser branco e o seu novo parceiro ser um ex-criminoso negro.


Cates ofende Hammond com os mais variados insultos raciais possíveis escritos pelos roteiristas. Se bem que Nolte já declarou que muitos diálogos entre ele e Murphy foram improvisados. De qualquer maneira, seu personagem pede desculpas mais tarde e diz que estava apenas fazendo seu trabalho, mantendo Hammond por baixo... Vamos fingir que acreditamos. Vale lembrar que estamos no início dos anos 80 por aqui, o politicamente correto ainda não estava impregnado em todos os meios de comunicação. Se um personagem é racista, não tem porque amenizá-lo...

Além do próprio Hill, um dos roteiristas foi Roger Spottiswoode, que dirigiu uns filmezinhos legais de ação, mas nunca chegou aos pés de seus mentores. O sujeito foi editor do belo western PAT GARRET & BILLY THE KID, de Sam Peckinpah, e LUTADOR DE RUA, do Hill. Mais duas pessoas também contribuiram no guião: Larry Gross e Steven E. de Souza, que era ótimo roteirista, escreveu vários filmes de peso dos anos 80, como DURO DE MATAR e COMANDO PARA MATAR, mas quando finalmente resolveu se meter na direção, fez a desastrosa adaptação de Street Fighter para as telas, com o Van Damme.

48 HORAS tem alguns fatos curiosos, um deles é que se trata da estreia de Eddie Murphy, com apenas 20 anos, na tela grande. Já tinha uma certa reputação na TV, no cenário humorístico dos stand ups, e aqui não precisa fazer muito esforço para ser o alívio cômico. Não sei se era intenção dos realizadores que o personagem fosse engraçado, até porque a escolha inicial era o Gregory Hines, mas com Murphy nas mãos, tiveram que aceitar as palhaçadas. Mas até que a veia cômica do seu personagem faz bem ao filme.


É o contraponto perfeito ao típico policial casca grossa, mal humorado, de Nick Nolte. Sujeito que não gosta de seguir as regras, age por vias nada convencionais, não tem muitos amigos, o chefe de polícia não sai do seu encalço lhe pressionando para fazer relatórios, a namorada está prestes a deixá-lo, aparentemente racista, está sempre em volta de uma garrafa de whisky... Obviamente, é o personagem perfeito para Nolte. Engraçado pensar que Mickey Rourke foi o primeiro nome pensado para o papel. Tiraria de letra, claro, mas sinto muito, Sr. Rourke, Jack Cates tem a cara e a voz de Nick Nolte, cuspido e escarrado!

Há também um bocado de outras figuras interessantes por aqui, como os vilões vividos por James Remar, que já havia trabalhado com o Hill em THE WARRIORS, e Landham Sonny, o índio de PREDADOR. São daqueles tipos de meliantes desprezíveis que realmente conseguiam meter medo e que fariam os bandidinhos do cinema atual tremer na base. Os dois são autênticos psicóticos assassinos!

No elenco ainda temos Frank McRay, Jonathan Banks, David Patrick Kelly, que interpreta um sujeito com o mesmo nome que tinha em THE WARRIORS: Luther. Para finalizar, temos Brion James, outro ator que foi dirigido por Hill, dessa vez na obra prima SOUTHERN COMFORT.


Muito bem! De elenco, personagens, trama e temas, estamos muito bem servidos para um puta filme policial. O que mais os realizadores poderiam acrescentar para transformar 48 HORAS numa experiência arrebatadora para os amantes do gênero? AÇÃO, é claro! E com o selo de qualidade Walter Hill a ação é a da mais pura qualidade! Os bons exemplos são os tiroteios filmados com elegância e montados de maneira simples sem qualquer vestígio de frescuras modernosas. Não são tão espetaculares como as de EXTREME PREJUDICE, mas todas as sequências de ação mantém o estilo magistral do diretor.


Oito anos depois, Walter Hill decidiu dirigir uma continuação de 48 HORAS. Contextualizando a situação de alguns indivíduos, em 1990 Eddie Murphy estava no topo, desfrutando de uma carreira sólida. Nick Nolte, apesar de um percurso interessante, estava mais interessando em observar o fundo de garrafas de cachaça. Já o Walter Hill vinha de um belíssimo filme, JOHNNY HANDSOME, mas até hoje um de seus trabalhos menos lembrados. Demonstra a habilidade do diretor como contador de história, mais focado no tour de force Mickey Rourke, e não precisou elaborar sequências de ação. Talvez seja por isso que Hill tenha resolvido chutar o balde nesse aqui.

48 HORAS - PARTE II possui certos exageros no tom, no humor, na ação, que não existem em 48 HORAS (um exemplar mais sério e verossímil  na medida do possível). Particularmente, sou bem mais o filme de 82. Não significa que o segundo seja ruim, como grande parte da crítica cantou na época do lançamento. Apenas destaco o fato dessa mudança de tonalidade. E é só na tonalidade mesmo, porque em relação à história e temas, é praticamente um xerox do primeiro filme!


Reparem na falta de sutileza na sequência que Jack Cates aparece pela primeira vez neste aqui. Ele persegue um sujeito numa pista de corrida de moto, surge um tiroteio, uma bomba de gás pega fogo e em menos de 10 minutos de filme temos uma puta explosão! A maneira como Hammond entra de vez na história é igualmente exagerada, com o ônibus da prisão sendo atacado por uma gangue de motoqueiros assassinos e capotando dezenas de vezes...

Mas o importante é que as duas figuras estão de volta. A trama se passa cinco anos depois dos acontecimentos do filme anterior e dessa vez a dupla retorna para tentar encontrar o misterioso traficante de drogas, que atende pelo nome de Iceman.

Murphy repete o papel de Reggie Hammond bem mais à vontade, podendo fazer suas palhaçadas tranquilamente. Naquela época já era sem graça, mas dirigido por alguém do calibre de Hill, até que deu certo. A cena no bar onde ele saca uma arma e faz um monólogo sobre como está tendo um dia péssimo é das melhores performances em toda a carreira de Murphy.


Nick Nolte, que é o grande destaque do primeiro filme, me pareceu um tanto no piloto automático por aqui, apenas repetindo de maneira mecânica e pouco inspirada o que já tinha feito oito anos atrás. Continua o mesmo badass de sempre, por isso dá pra relevar. E a química que mantém com Murphy também ajuda. Parecem até se divertir durante as filmagens...

O grande vilão de 48 HORAS – PARTE II é o irmão do personagem de James Remar, interpretado por Andrew Divoff, um mercenário contratado para matar Reggie. Aproveita também a oportunidade para vingar a morte de seu irmão, que levou chumbo grosso de Cates.Também lidera a tal gangue de motoqueiros que, captado pelas câmeras de Hill, faz lembrar mais um grupo de cowboys modernos. E de fato, a abertura é claramente inspirada num western, gênero que Walter Hill iria se debruçar nos anos 90 com dois filmes e meio (levando em conta que O ÚLTIMO MATADOR é meio gangster, meio faroeste). O resto do grupo é formado por David Anthony Marshall e Ted Markland. No elenco temos novamente a presença de Brion James, além de Kevin Tighe e Ed O’Ross.


Essa segunda parte da série ainda se beneficia por mais algumas doses de ação muito bem filmadas, com destaque para o clímax final, uma confusão de tiros, socos e explosões. E só por essas sequências, a experiência de rever essa belezinha já valeu a pena. O veredito é de que eu gosto bastante de 48 HORAS - PARTE II, para mim seria extremamente difícil rejeitá-lo, tendo novamente a reunião dessas duas figuras, Nolte e Murphy, em uma aventura policial inédita, mesmo fazendo as mesmas coisas vistas no filme anterior.

No entanto, não nego o fato de que este capítulo poderia chegar mais longe se os realizadores tivessem feito uma variação mais ambiciosa, levado a trama para outros caminhos, ou até mesmo se aprofundado ainda mais na construção dos personagens, nas suas relações, enfim, não tornar 48 HORAS - PARTE II em um simples repeteco do primeiro filme. Essa sensação fica ainda mais forte se os dois exemplares forem assistidos em sequência.

7.12.12

Contagem regressiva BULLET TO THE HEAD #5: TALES FROM THE CRYPT

Uma das coisas mais legais dessas séries que eu via na infância e mexiam com o fantástico, como AMAZING STORIES e TWILIGHT ZONE, era poder conferir a seleção dos diretores e roteiristas interessantes daquele período que ficavam responsáveis pelos episódios. Walter Hill, por exemplo, era um dos produtores de TALES FROM THE CRYPT e chegou a dirigir três episódios nas três primeiras temporadas da série. Como venho escrevendo sobre alguns filmes dele atualmente, como forma de preparação para o lançamento de BULLET TO THE HEAD no ano que vem, não custa nada comentar essas pequenas produções que levam a sua assinatura.


THE MAN WHO WAS THE DEATH foi o primeiríssimo episódio de toda a série, lançado em 10 de Junho de 1989. Conta com o subestimado William Sadler encabeçando o elenco, vivendo um carrasco dos tempos modernos. Para ser mais exato, é o sujeito que liga a cadeira elétrica na execução dos condenados. E ele preza bastante pelo serviço que presta. O problema é quando surge uma lei abolindo a pena de morte e o personagem decide, simplesmente, continuar a fazer o seu trabalho, como uma espécie de vigilante, arranjando maneiras de eletrocutar meliantes. Nada sensacional, mas uma delícia de se ver. Hill sabe muito bem onde colocar a câmera, sem fazer firulas, constrói tudo no equilíbrio entre o humor e o clima de suspense. Mas o destaque mesmo é a grande atuação de Sadler, que narra o episódio e vez ou outra resolve olhar diretamente para a câmera, para o público, enquanto constrói a narrativa. Bom episódio pra começar uma das séries mais bacanas que eu assistia na TV na pré adolescência.


Já o CUTTING CARDS, terceiro episódio da segunda temporada, é sensacional! Eu já não me lembro tanto, mas deve ser um dos mais legais da série inteira! Hilário, macabro, tenso... A trama é a seguinte: dois jogadores viciados e rivais, encarnados com genialidade por Lance Henriksen (que trabalhou com Hill em JOHNNY HANDSOME) e Kevin Tighe (que esteve em 48 HORAS - PARTE 2), decidem, em apenas uma noite, resolver as suas diferenças fazendo apostas extremas e perigosas. A atenção do episódio se divide entre ver esses dois magníficos atores contracenando e a habilidade de Hill em manter a dose de humor negro e a tensão das situações. Uma roleta russa malfadada e um jogo de poker macabro, onde a cada rodada, o perdedor tem um dedo decepado pelo seu adversário. Depois, outro dedo, e outro... a mão, braço e por aí vai… Só não digo que é das melhroes coisas que o Hill já filmou porque o sujeito tem coisa boa até dizer chega em sua carreira, mas é mais uma boa prova da maestria deste grande diretor.


Apesar disso, DEADLINE, da terceira temporada, não é tão bom quanto esses dois acima, infelizmente. Aqui temos Richard Jordan como um jornalista desempregado, por causa dos problemas com álcool, tentando de tudo conseguir seu emprego de volta. Para isso precisa de uma boa história que será colocada no caderno policial e vai conseguir, nem que tenha, de fato, criar a notícia, se é que me entendem... A história é boa e Jordan está excelente como sujeito desesperado tentando não surtar. Mas o que pega é que falta uma certa leveza... aquele equilíbrio entre um humor ácido com os elementos do horror e suspense não aparece tão bem em relação ao que Hill havia conseguido anteriormemente. Esperava mais. No entanto, vale a pena a conferida para os fãs que desejam ver tudo do homem.

Aliás, os três episódios podem ser conferidos no youtube

18.11.12

Contagem regressiva BULLET TO THE HEAD #4: SOUTHERN COMFORT (1981)


Com o lançamento do trailer número 2 de BULLET TO THE HEAD, novamente fiquei animado em ver e rever alguns filmes do mestre Walter Hill, fazendo aqui no blog uma ansiosa contagem regressiva para seu próximo trabalho, um dos acontecimentos cinematográficos mais aguardados do próximo ano. Especialmente depois das críticas que saíram após sua exibição no Festival de Roma. Ok, todos já perceberam que BULLET IN THE HEAD é o meu novo MERCENÁRIOS 2… vamos logo ao SOUTHERN COMFORT!

É sobre um grupo da Guarda Nacional americana que faz uns treinamentos de localização e navegação pelos pântanos da Louisiana, tentando encontrar um local específico, exercitando a utilização de mapas, etc. A maioria deles está levando o trabalho bem à sério, muito preocupados com as putas que vão comer quando terminar o exercício. Quero dizer, até mesmo as armas que levam em punho estão carregadas com festim. Em quem vão atirar? Estão em solo americano, não existe inimigo nesse treinamento…


Os problemas começam quando se dão conta de que estão completamente perdidos. Onde deveria haver tal objetivo, só tem água e mais água… Decidem então pegar “emprestado” algumas canoas que encontram num acampamento aparentemente abandonado à beira do rio, com alguns animais esfolados e tal. Mas deixam um bilhete pra quem quer que fosse. Depois de alguns minutos navegando o pelotão descobre que está sendo observado à distância por um grupo de cajuns*, possíveis donos das canoas. Eles gritam para que leiam o bilhete, mas os caipiras não se mexem. Um dos soldados então, decide ser o engraçadinho da turma e começa a atirar na direção dos sujeitos com uma metralhadora cheia de festim. Rá, muito engraçado mesmo.


* Os Cajuns são os decendentes dos Acadianos, expulsos do Canadá, que se instalaram na Louisiana. [/Wikipédia mode off]


Só que os cajuns respondem ao fogo, e a munição não é de festim, para azar dos pobres militares. A primeira bala já acerta a testa do lider do pelotão e, bom, vocês já podem começar a imaginar o que teremos aqui. Sim!!! Walter Hill é um dos canônes em orquestrar sequências de tiroteios, realizou algumas perseguições de carros mais impressionantes que eu já vi em THE DRIVER, é um dos grandes mestres do cinema de ação americano e… também é o diretor de um dos melhores filmes de caipiras psicopatas que existe!

Na época, era clara a intenção de Hill em fazer referência à guerra do Vietnam, mas não há outra maneira de ver SOUTHERN COMFORT atualmente sem pensar no Iraque e outros países do Oriente Médio. O filme mantém sua análise, só muda o local. Quero dizer, temos aqui um pelotão americano, alguns deles agindo como autênticos imbecis, numa região na qual não entende porcaria nenhuma de seus habitantes, sua cultura, não fala nem sua língua. Chega sem permissão, se achando os fodões, mas descobre rapidinho que a coisa não é bem assim. O adversário conhece o território, monta armadilhas, sabe onde se esconder e como monitorá-los…


É o simbolo perfeito para o fracasso inevitável nesse tipo de negócio que o governo americano insiste em fazer de vez em quando ao longo de sua história. E não importa se estão apenas “pegando emprestado uma canoa”. Contendo todo esse substrato, fica difícil não preferir SOUTHERN COMFORT em relação a outros filmes do género, como DELIVERANCE, por exemplo (apesar ser excelente também), que é mais aclamado. Mesmo tirando a análise política, sobra ainda um puta thriller de caçada humana (o final é um dos troços mais tensos que vi nos últimos anos!), o qual destaca-se desde o roteiro, escrito à seis mãos pelo próprio Walter Hill, Michael Kane e David Giler, a utilização dos cenários naturais dos pântanos da Louisiana, passando pela direção habitualmente magistral de Hill e, principalmente, o elenco com feras do calibre de Powers Boothe, Keith Carradine, Fred Ward, Peter Coyote, um Brion James assustador e vários outros.

17.8.12

BULLET TO THE HEAD - Trailer


Agradecimentos ao leitor Danilo Carvalho que compartilhou essa beleza de trailer na timeline do Dementia 13 no Facebook. Valeu!

2.7.12

TOQUE RÁPIDO

REVISÃO DE ALIEN³ (1992)


Queria ter escrito umas coisinhas sobre ALIEN³ antes de postar algo sobre PROMETHEUS, mas precisava rever e não deu tempo. E como vocês devem ter reparado, tempo tem se tornado muito escasso ultimamente (e as atualizações aqui no blog vão continuar lentas por mais um tempinho ainda, até tudo voltar ao normal). Bom, depois de uns quinze anos, finalmente revi este primeiríssimo trabalho de David Fincher como diretor, que só aceitou o cargo após alguns nomes (Renny Harlin, Walter Hill, que é o produtor) abandonarem o barco durante a pré-produção. Aliás, é um filme que até hoje possui uma carga de polêmicas de bastidores, problemas com o roteiro (que fora reescrito trocentas vezes), interferências dos executivos dos estúdios pra cima do Fincher, e o resultado final, por muito tempo, foi considerado a ovelha negra da série, até, é claro, surgir o quarto filme, que assumiu esse posto…

Hoje, tenho certeza de que ALIEN³ é uma obra equivocadamente subestimada. Tá certo que não chega a ser melhor que os dois filmes anteriores, dirigidos pelo Ridley Scott e James Cameron, respectivamente, mas basta aquelas cenas da baratona alienígena perseguindo os personagens pelos corredores apertados da prisão espacial para colocá-lo entre os melhores filmes de horror dos anos noventa. É uma autêntica aula de tensão e horror atmosférico, que se aproxima bastante do filme de 78, embora seja o mais sombrio e melancólico exemplar da série. O final deve ter feito muitos fãs ferrenhos deixarem as salas de cinema da época xingando a mãe do diretor, mas eu adoro e acho que fecha a trilogia de maneira sublime. Mas, inventaram de fazer um quarto filme… agora preciso rever também antes de crucificar o francês maluco que dirigiu.

TIM BURTON SEM SURPRESAS: SOMBRAS DA NOITE (Dark Shadows, 2012)


Primeiro, uma afirmação indiferente. DARK SHADOWS é o melhor trabalho de Tim Burton em muitos anos. Indiferente porque isso não quer dizer nada quando nos referimos a um diretor que há mais de dez anos vem lançando filmes de nível fraco (PLANETA DOS MACACOS, FÁBRICA DE CHOCOLATE, ALICE) à exemplares simpáticos sem muita expressão (PEIXE GRANDE, SWEENEY TODD) e que encontram-se à milhas de distância de seus grandes feitos dos anos noventa (EDWARD – MÃOS DE TESOURA, MARTE ATACA, CAVALEIRO SEM CABEÇA e, principalmente, ED WOOD, uma obra prima excepcional).

Dito isso, DARK SHADOWS também é uma baita perda de tempo.

Baseado na antiga série de TV dos anos sessenta, criada pelo mestre Dan Curtis, e com Johhny Depp em mais uma parceria com Burton, DARK SHADOWS conta a história de um vampiro libertado de seu caixão, após ficar quase duzentos anos aprisionado, em plena década de 70. Enquanto se adapta ao mundo “moderno”, tenta reerguer o prestígio e fortuna de sua família, se vingar da bruxa que o amaldiçoou, além de se apaixonar por uma moça cujas feições são idênticas à da sua amada de dois séculos atrás. O problema é que a trama aborda tudo isso (e muito mais) sem conseguir definir um foco e acaba possuindo alguns momentos com um pouco de interesse (Depp tentando se adaptar) e outros extremamente pedantes, numa narrativa bagunçada que me aborreceu muito. E o final, o climax, a “batalha” entre o vampiro e a bruxa, é filmada com uma peguiça desanimadora, cheia de soluções equivocadas… Onde se meteu o Tim Burton que sabia fazer cenas legais de ação como a do final de A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA?!

Apesar disso tudo, para ser o "melhor" trabalho do diretor em muitos anos, deve ter alguma coisa boa. Temos o visual bem feitinho de sempre; Johnny Depp se repetindo mais uma vez, embora funcional; Eva Green, que é um colírio (temos uma bela participação do Chistopher Lee também); as músicas e algumas fagulhas do velho Tim Burton contador de fábulas, como o prólogo é digno das antigas produções da Hammer… pena que ele não consiga fazer essas qualidades durar muito tempo na tela.

16.6.12

ALIENS - O RESGATE (1986)


James Cameron é fã de carteirinha de ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO (1979), de Ridley Scott, e precisou colocar em prova sua capacidade e talento, que não eram tão claros naquele período, para ter seu nome escrito na cadeira de diretor desta continuação. Ainda estamos em 1980, passado apenas um ano do lançamento do original, os produtores já começam a viabilizar a idéia de uma sequência. O problema maior é encontrar um script que justificasse mais um filme.

Os produtores David Giler e Walter Hill chegaram ao pobre Cameron através do roteiro de O EXTERMINADOR DO FUTURO (que ainda não havia sido realizado) e resolveram marcar um encontro para trocar idéias. Lá pelas tantas, depois de algumas doses de whisky, comentaram o desejo de realizar a continuação de ALIEN e Cameron se interessou subitamente. Após vários roteiros recusados, James Cameron, que mal havia dirigido PIRANHA 2 e trabalhou apenas na parte técnica de algumas produções de ficção, conseguiu colocar na mesa dos executivos uma história que finalmente chamou-lhes a atenção. O roteiro ainda não estava pronto (e muita coisa foi mudada com outras pessoas metendo o bedelho), mas já era meio caminho andado; a base desse script eram idéias que o diretor estava desenvolvendo para um filme chamado MOTHER.

No entanto, era um risco colocar nas mãos de James Cameron a direção de um filme que exigia muito investimento, muita estrutura, muita coisa que aquele sujeitinho ainda não havia trabalhado. Ninguém podia assegurar que ele era realmente capaz de administrar todo o aparato que seria colocado em suas mãos. A prova de fogo foi o filme que Cameron estava realizando, ainda em fase de pré-produção. Se conseguisse ser bem sucedido, teria o emprego na continuação de ALIEN. Mas todos nós sabemos que O EXTERMINADOR DO FUTURO foi um sucesso, então…


ALIENS recebeu este título (e não ALIEN 2) porque em 1980, um italiano chamado Ciro Ippolito produziu, escreveu e dirigiu uma “sequência picareta” de ALIEN chamado ALIEN 2, com a trama se passando na terra. Mas ALIENS é um nome que se encaixa perfeitamente ao filme de Cameron, pois uma das principais diferenças do original é que, desta vez, Ripley (Sigourney Weaver) terá de enfrentar um exército de aliens ao invés de um único como no primeiro filme.

Sendo assim, o diretor de AVATAR tomou um caminho diferente ao de Ridley Scott. O primeiro filme da série era um exercício de claustrofobia, atmosférico ao extremo e trabalha muito bem o suspense. Sem dúvidas é um dos filmes contemporâneos mais eficazes nesse sentido. Já o filme de James Cameron segue uma proposta que impõe um ritmo mais frenético à narrativa, com bastante ação, tiroteios, explosões, correrias, muita carnificina, etc (Cameron estava trabalhando também no roteiro de RAMBO 2 antes de começar este aqui, talvez estivesse muito focado nesses elementos…). O mais impressionante disso é que o respeito de Cameron pelo original é fundamental para balancear o tom entre os dois filmes. ALIENS possui atmosfera suficiente para permanecer ao lado de ALIEN e possui ação de tirar o fôlego suficiente para garantir a proposta de Cameron.

A trama de ALIENS se passa 57 anos após os acontecimentos do primeiro filme. Ripley desperta do seu sono criogênico depois de ter sua nave encontrada pela companhia pela qual trabalhava; toma conhecimento de que toda sua família morreu; mal se recupera e já é persuadida para retornar ao planeta alienígena numa missão para averiguar a situação dos colonos que habitam o planeta, já que a comunicação com eles fora interrompida. Ela se faz de difícil, etc, mas acaba aceitando e desta vez terá ajuda de um grupo de fuzileiros carregando um grande poder de fogo.


O que se segue a partir daí é suspense intenso da melhor qualidade com altas doses de ação em cenários de ficção científica e atmosfera dark inspirados nas artes de H. R. Giger e intensificados pela ótima trilha sonora de James Horner; a contagem de corpos é altíssima, muitos fuzileiros matando aliens, sendo mortos também pra dar uma balanceada, embora o número de aliens seja bem maior, até chegar a um ponto em que Sigourney Weaver questiona James Cameron sobre o filme estar muito violento, ter muitas armas, e essas baboseiras, mas a resposta do diretor já demonstrava um sujeito que não se deixa levar por frescuras de ator: “Então vamos fazer uma cena que um Alien lhe ataca e você tenta bater um papinho com ele”.


Além de Weaver, que recebeu uma indicação ao Oscar pela sua atuação, o restante do elenco merece uma atenção à parte. Temos Michael Biehn voltando a trabalhar com o diretor, Lance Henriksen fazendo um andróide para o desespero de Ripley (quem não se lembra de Ian Holm no primeiro filme?), Bill Paxton como alívio cômico involuntário, Paul Reiser, William Hope, Jenette Goldstein e outras feras que compõem um excelente time. E é curioso como grande parte deles são subestimados atualmente.

A versão que revi e recomendo fortemente é a estendida, na qual James Cameron realiza um estudo humano muito interessante com a personagem de Sigourney Weaver e ajuda bastante na compreensão de seus atos, no instinto materno com o qual ela acolhe e protege a garotinha, única sobrevivente dos colonos, enxergando a oportunidade de ter uma família novamente, já que a verdadeira se perdeu ao longo dos 57 anos. O confronto final entre Ripley e a alien rainha toma proporções épicas visto dessa forma. A protagonista tentando proteger sua “filha” e a criatura também com um instinto de proteção pelos seus ovos.

Get away from her, you bitch!


Sobre a rainha e seu aspecto visual impressionante, vale destacar os incríveis efeitos especiais da equipe comandada pelo genial Stan Winston. É um troço realmente assustador! Não só ela, mas todos os aliens aparentam bem mais flexibilidade, agilidade e realismo em relação ao alien solitário do primeiro filme, embora o conceito de Giger ainda permaneça intacto. É a prova de que o talento manual de um verdadeiro gênio dos efeitos especiais sempre vai superar o resultado de um CGI.

Aliens é um filme inovador nos quesitos técnicos, afirmativa que pode ser reaproveitada em qualquer texto sobre os filmes dirigido pelo Cameron. Todas as suas obras seguintes revolucionaram o cinemão americano comercial de alguma maneira, seja nos efeitos especiais, sonoros ou até mesmo na forma como contar uma história, transformando seus trabalhos em experiências únicas para o público. Este aqui não foge à regra. É um espetáculo em todos os sentidos.

13.6.12

ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO (1979)


Ainda não assisti a PROMETHEUS, mas revi ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO. Serve?

Em 1974, o jovem Dan O’Bannon escrevia um roteiro de ficção científica que acabou se transformou em filme, DARK STAR, dirigido pelo então marinheiro de primeira viagem, John Carpenter. Eu adoro o filme, mas O’Bannon parece não ter ficado muito satisfeito com o resultado. A trama, entre outras coisas, é sobre a tripluação de uma pequena nave atormentada por um alien feito de bola de praia… é de rolar de rir!

Então o sujeito resolveu pegar alguns elementos de DARK STAR para escrever um novo roteiro. Além disso, O’Bannon aproveitou sua aproximação com o artista H.R. Giger da época em que estavam preparando a adaptação de DUNA, que seria sob a direção de Alejandro Jodorowski, para trabalhar na concepção visual desse novo projeto. Ainda teve o dedo de Walter Hill na produção… Então qualquer coisa que saísse dessa combinação de mentes seria, no mínimo, interessante, mas calhou de sair ALIEN, ou seja, um dos maiores clássicos do horror espacial.

Ao contrário de vários amigos, não compartilho do mesmo desprezo pelo Ridley Scott. Não é mestre, mas quando acerta, demonstra que realmente sabe o que faz. Especialmente nesse início de carreira, o sujeito estava em estado de graça! OS DUELISTAS, BLADE RUNNER e este aqui são obras de grande vigor cinematográfico… o problema é quando lembramos de coisas como ATÉ O LIMITE DA HONRA ou o novo ROBIN HOOD.


Mas em ALIEN, a coisa é diferente! Scott se aproveita da força visual, o primor estético concebido por Giger, os efeitos especiais, trilha sonora, para trabalhar o tenso climão claustrofóbico dos corredores escuros e cenários fechados em um crescente suspense. Sei que todo mundo está careca de saber sobre tudo isso, mas até hoje me encanta os detalhes e escolhas que Scott faz para a construção do horror. Todas as cenas dos ataques do alien, por exemplo, se baseiam muito mais na atmosfera do que a brutalidade. Se existe um filme que transcende o sentido de horror atmosférico, é este aqui. Dessa maneira encontramos cenas brilhantes, como a que o personagem de Tom Skerritt, Dallas, adentra os apertados dutos de ventilação da nave Nostromo, em busca do invasor indesejado. É tudo questão de manutenção de luz, sombras e noção de como utilizar os cenários... o alien mesmo mal aparece durante todo o filme. E mesmo assim, Scott tem nas mãos o suficiente para fazer a platéia tremer na base. Hoje nem tanto, é verdade, ainda mais com tantas reprises, mas ainda é uma realização de fazer inveja a muito filmezinho de terror da atualidade.

Algumas sequências são célebres. A visita de parte da tripulação à nave alienígena abandonada cheio dos famigerados ovos estranhos; Ian Holm se revelando após a violenta pancada na cabeça desferida por Yaphet Kotto; Sigourney Weaver de calcinha se preparando para a peleja final; e claro, o sensacional parto de John Hurt, dando à luz a uma lombriga de dentes afiados. Sem contar o aspecto incrível do monstro espacial, que me deixava arrepiado quando era criança.

E vou parando por aqui, fiz esse post apenas para comentar brevemente a revisão deste filmaço na semana em que estréia o retorno de Ridley Scott ao universo ALIEN. Tempo se tornou algo precioso nesses dias e ficou complicado de postar. Depois tudo volta ao normal… Amanhã republico meu post sobre ALIENS, de James Cameron, para quem ainda não leu.

24.4.12

Contagem regressiva BULLET TO THE HEAD #3: THE WARRIORS - OS SELVAGENS DA NOITE (1979)

Estava revendo outro dia o DVD de THE WARRIORS que eu havia comprado há séculos, mas NUNCA tinha botado no aparelho para conferir. E, para minha surpresa, felizmente, descobri que a versão que eu tenho não é a director’s cut! Como eu não faço idéia do ano que essa versão do diretor foi lançada, julgo que a minha cópia veio antes. O filme foi relançado há uns dois anos por aqui e não sei também qual versão colocaram. A principal diferença é que a director’s cut possui uns efeitos de história em quadrinhos na edição de algumas transições que eu, particularmente, achei brega pra cacete. Prefiro a montagem original.

Mas isso não importa, THE WARRIORS é uma experiência obrigatória de qualquer jeito. E se alguém aí estiver lendo este comentário sem ter assistido ainda, recomendo que pare tudo agora e vá assistir! Se já passou mais de cinco anos que você viu, reveja! É impressionante a riqueza de detalhes que este filme possui. A cada revisão, novas descobertas.

Mas nem sempre foi tão fácil assistir ao filme. Nunca chegou a ser uma raridade, ou nada disso, especialmente aqui no Brasil foi bastante reprisado na TV e o acesso a ele nunca gerou algum tipo de complicação. Mas na época do lançamento, THE WARRIORS conseguiu fama de filme polêmico após confusões e quebra-quebra em alguns cinemas onde o filme era projetado. Em alguns países, como a Suécia, por exemplo, chegou a ser proibido.


Tá certo que é uma obra que faz um retrato perfeito sobre a onda devastadora das gangues nos anos 70 (embora seja baseado num livro da década de 60), tem um belo cartaz mostrando uma multidão de delinquentes com caras de poucos amigos, armados com bastões, e dizeres insinuantes. Então imaginem vocês assistindo a projeção na época do lançamento, dividindo o local com uma horda de membros de gangues, animados com um filme que fala sobre… eles!

Mas o que realmente me chama a atenção é a maneira na qual o diretor Walter Hill constrói sua fábula a partir de uma idéia tão simples. Os Warriors são uma gangue do sul de Manhattan que comparecem ao Bronx para participar de uma reunião com quase todas as tribos que planejam uma união para dominar a cidade.

You're standing right now with nine delegates from 100 gangs. And there's over a hundred more. That's 20,000 hardcore members. Forty-thousand, counting affiliates, and twenty-thousand more, not organized, but ready to fight: 60,000 soldiers! Now, there ain't but 20,000 police in the whole town. Can you dig it?” É o que diz Cyrus, o líder da mais poderosa gangue da cidade e o cabeça da “rebelião”.


No entanto, Cyrus é assassinado à tiro enquanto ainda fazia o seu discurso no palanque. A culpa cai, injustamente, sobre os pobres Warriors. O resto do filme é a odisséia do grupo de volta ao seu território, tentando cruzar uma Nova York sombria e cheia de contratempos, esgueirando-se pelos becos e metrôs, correndo pelas ruas driblando policiais e trocando sopapos com os mais diversos membros de gangues.

Sem discursos morais, mensagens políticas ou temas complexos. Apenas uma aventurazinha superficial. É mais que suficiente para que Hill transforme isso aqui num pequeno clássico!


Mas não é, exatamente, um filme de ação. Na verdade, é até bem anticlimax… o fato é que toda a narrativa possui uma carga de tensão muito forte que compensa a ação, que acaba se concentrando no olhar dos personagens, nos seus atos, no mais simples diálogo… tudo se torna “ação” no contexto dramático construído em THE WARRIORS. É claro que temos algumas belas sequências de pancadaria que não poderiam faltar de forma alguma! A cena no banheiro é uma delas, além de ser uma prova da maestria de Walter Hill. Uma aula de montagem e cinema físico.

Também é curiosa a caracterização das gangues. Cada uma possui seu estilo próprio, seu vestuário, sua essência. É tudo tão bem definido nesse universo que algumas tribos urbanas poderiam ganhar filmes próprios! Eu seria o primeiro da fila para conferir um exemplar estrelado pelos The Baseball Furies, por exemplo, que é o grupo que usa uniforme de baseball e os membros pintam as caras!




Na vida real seriam ridicularizados, obviamente. Ser atormentado numa ruela escura à noite por uns carinhas de cara pintada? Certamente eu iria perder a carteira, mas não ia conseguir ficar sem tirar um sarro. Se bem que eu correria sério risco de levar uma paulada na nuca. Mas aqui é apenas um filme! Mesmo assim, é engraçado ver estampado uma seriedade absurda na cara dos persoangens enquanto vestem modelitos esquisitos.


Os Warriors inicialmente seriam formado apenas por negros, mas os produtores não aceitaram. Eles são bem discretos, o uniforme é apenas um colete básico. E vale comentar que na sequêcia da reunião logo no início, várias gangues reais estavam presentes, vestidos à carater com seus uniformes, o que gerou até uma certa tensão a mais nas filmagens.

Aliás, não vou nem entrar nos méritos das filmagens, que mereceria um post à parte. É notória a série de problemas que Hill e sua equipe tiveram para realizar THE WARRIORS. Mas é assim que nascem os clássicos, não? O filme deu início a uma série de exemplares sobre grupos de delinquentes, cheios de mensagens sociais e morais, algo que não existe por aqui. Mas também influenciou outras obras que também se assumiram como boa diversão de aventura/ação, como os clássicos italianos GUERREIROS DO BRONX e FUGA DO BRONX, ambos de Enzo G. Castellari.

12.4.12

Contagem Regressiva BULLET TO THE HEAD #2: RUAS DE FOGO (1984)

Antes mesmo de me preocupar em saber o nome de diretores, eu já gostava do trabalho de Walter Hill. Alguns de seus principais filmes passavam exaustivamente na TV e durante a minha infância pude conferir várias belezinhas, como 48 HORAS I e II, INFERNO VERMELHO, THE WARRIORS, EXTREME PREJUDICE, etc…

No entanto, o curioso é que mesmo tendo visto apenas uma parcela de seu trabalho, adorando o cinema do sujeito, tendo-o, na minha opinião, como um dos pilares do cinema de ação moderno (junto com Woo, Flynn, Castellari, Mann e, claro, Peckinpah), grande parte da sua obra só fui parar para conferir há pouco mais de dois anos: LUTADOR DE RUA, CAVALGADA DOS PROSCRITOS, THE DRIVER, O IMBATÍVEL… Pra piorar (ou não, já que vou ter o prazer de assistir pela primeira vez), me falta conferir um bocado de coisa do homem ainda (SOUTHERN COMFORT, TRESPASS, JOHNNY HANDSOME, WILD BILL, etc).

E RUAS DE FOGO entra na categoria das descobertas recentes. Tive uma relutância boba, não sei explicar a razão por não ter assistido antes e me arrependo profundamente por tê-lo conferido agora. Não, não achei o filme ruim, ou algo parecido, pelo contrário, é uma obra muito estilosa, sonoricamente magnífica e visualmente hipnotizante, tem boa ação (não poderia ser diferente, já que estamos falando do Hill), enfim, é mais que uma simples diversão! Mas eu fico imaginando assistir com o olhar de menino… teria sido, no mínimo, mágico!




Situado em um universo paralelo em um período indefinido, um mundo mítico saído da mente de Hill - talvez o mesmo universo de THE WARRIORS - que mistura a década de 50 com a de 80, RUAS DE FOGO narra a simples fábula na qual Cody (Michael Paré), retorna para casa, após o chamado de sua irmã, para resgatar sua antiga namorada, agora uma cantora de sucesso, Ellen (Diane Lane), das garras de Raven (Willem Dafoe), líder de uma gangue de motoqueiros. Assim eles poderão tentar dar uma segunda chance ao amor, ou não, e ela poderá continuar cantando músicas bacanas como Tonight Is What It Means To Be Young, uma das tantas canções que fica grudada na cabeça:


*Este vídeo contém spoiler!

Ah, sim! Esqueci de dizer que o filme é meio que um musical… mas não do tipo convencional, desses que as pessoas substituem diálogos com cantoria, como nos desenhos da Disney. A narrativa é pontuada com trechos de shows da mocinha e outros músicos, e o filme inteiro acaba possuindo um ritmo alucinante no encadeamento das cenas. A sequência do resgate de Ellen é um bom exemplo, quando a edição entrecorta planos de Cody se preparando para distribuir sopapos, tiros, explodir motocicletas, com a apresentação de Rock’n’Roll dentro de um bar. O efeito sonoro-visual é simplesmente incrível!




Michael Paré demonstra ser um canastrão de rostinho bonito que prometia ser um astro, mas acabou entrando em cada furada... Nem mesmo o Hill conseguiu tirar muita coisa do sujeito, mas até que não se sai tão mal por aqui fazendo pose de herói de ação, com seu modelito cowboy, estilo ERA UMA VEZ NO ESTE. Já Diane Lane, apesar de ser de dublada nas cenas que aparece cantando, está admirável e tem bastante química com Paré. E ainda temos Willem Dafoe fazendo vilão com aqueles olhos esbugalhados e assustadores. Sujeito possui talento de sobra! O elenco se completa ainda com Bill Paxton, Rick Moranis, Deborah Van Valkenburgh e Amy Madigan, que é uma das personagens mais interessates, autêntica mulher-macho, que chuta a bunda dos marmanjos e faria Stallones e Schwarzeneggers pensarem duas vezes antes de mexer com ela.





O projeto inicial de Hill seria realizar uma trilogia com o personagem de Paré, mas como RUAS DE FOGO foi um desastre completo nas bilheterias, acabaram desistindo da idéia. Mas é um filme fascinante que já encontrou o seu público e ganhou status de cult, merecidademente. Ainda este ano ou no próximo (nunca se sabe), o diretor Albert Pyun, que é fã confesso de RUAS DE FOGO, pretende lançar uma espécie de continuação não oficial, ROAD TO HELL, estrelado pelo Paré. Vamos ver o que vai dar…