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7.7.09

COMBOIO DO MEDO (Sorcerer, 1977), de William Friedkin


Outro exemplar das minhas obrigações cinematográficas que acabei matando neste último fim de semana foi esta extraordinária obra de William Friedkin. SORCERER é dedicado ao diretor francês Henry-George Clouzot, que em 1953 realizou uma primeira versão, O SALÁRIO DO MEDO, baseado no livro de Georges Arnaud. E que me perdoem os fãs deste último, que é um filmaço sem dúvida alguma, mas o trabalho de Friedkin neste remake é incrivelmente superior, provando que refilmagens de verdadeiros clássicos consagrados podem dar certo. Mas também não precisam exagerar como se faz atualmente em uma quantidade absurda de remakes que param nas mãos de vários diretorzinhos medíocres sem personalidade alguma.

Aqui é outro caso. William Friedkin já tinha no currículo OPERAÇÃO FRANÇA e O EXORCISTA, duas obras da maior importância em seus respectivos gêneros, além de possuir um talento único na direção e na concepção de suas idéias. Mesmo assim, são várias as histórias de bastidores sobre as dificuldades de levar SORCERER às telas de cinema; desde os problemas em arranjar dinheiro para a produção, as filmagens no local (que colocou em risco a vida da equipe em várias situações), um furacão que atrasou o trabalho e até mesmo na escolha do elenco. De todos os atores principais, apenas um desconhecido, chamado Amidou, foi a primeira escolha de Friedkin. Steve Mcqueen, Clint Eastwood e Jack Nicholson foram cotados para viver o protagonista. Todos recusaram por algum motivo. Acabou mesmo com o Roy Scheider, que já havia trabalhado com o diretor em OPERAÇÃO FRANÇA.

A trama principal é basicamente a mesma de O SALÁRIO DO MEDO, apenas muda a contextualização histórica, sobre um grupo de homens que tem a missão de transportar uma carga de dinamites velhas (com vazamento de nitroglicerina correndo o risco de explodir a qualquer movimento brusco; no caso do filme francês, era apenas a nitroglicerina liquida mesmo) em caminhões caindo aos pedaços, pelas florestas de um país tropical. Diferente do original também, Friedkin enriquece o seu filme ao aprofundar-se nos personagens, mostrando os motivos que os levaram a estar naquele vilarejo no fim de mundo, o que toma quase a metade do filme, mas não se preocupem, porque Friedkin nunca deixa que a narrativa perca sua força. É apenas uma preparação perfeita para a outra metade, a missão suicida que deixa o espectador tenso, vendo a avó pela greta.

O poder visual do filme sob a batuta da direção crua de Friedkin talvez seja o ponto mais significativo do filme, sempre tratando os eventos e a ambientação de miséria e violência com um realismo impressionante, com uma linguagem quase documental. A cena em que o comboio atravessa uma ponte completamente instável é um verdadeiro espetáculo cinematográfico, de colocar o publico de joelhos! Uma pena que SORCERER tenha sido um fracasso de bilheteria. Mas é um filmaço altamente recomendável.

14.3.09

O SANGUE DE ROMEU (Romeo is Bleeding, 1993), de Peter Medak

O SANGUE DE ROMEU talvez seja a homenagem mais porra-louca feita aos clássicos filmes policiais dos anos 40 e 50. Após uma rápida introdução mostrando Gary Oldman em algum lugar no deserto do Arizona, onde cuida de um posto a beira da estrada, somos levados há cinco anos atrás, se eu não estou enganado, para tomar conhecimento das circunstancias que levaram o sujeito àquele lugar. O próprio personagem se habilita em narrar a história, como um bom film noir tem que ser...

Oldman interpreta Jack Grimaldi, um policial que de vez em quando realiza alguns servicinhos sujos para a máfia. É um sujeito ambicioso e faz isso pra ter uma “graninha” extra, já que o salário de policial não dá conta de manter o nível que pretende dar para a esposa (Annabella Sciorra) e para a amante (Juliette Lewis, que agora virou roqueira). Tudo parecia dar certo, até que um dia conhece Mona (Lena Olin), membro da máfia russa e com contas para acertar com o mafioso Don Falcone, vivido pelo grande Roy Scheider.

O bicho pega porque Jack deveria fazer uma missão bastante simples, mas dá tudo errado. Mona desaparece, Falcone a quer morta e caso Jack não resolva isso em dois dias, vai ter que vestir o terno de madeira. Só que Mona é o diabo de saia! A mais diabólica das femme fatale’s de qualquer filme clássico não passa de um anjinho perto desta aqui. É a partir dela que a coisa toda começa a ficar bizarra, porra-louca total. A cena absurda do carro em que ela foge de Jack é o ponto crucial, a partir daí estamos em outro universo, mais doentio, barroco, violento...

Gary Oldman está perfeito. É incrível como ele incorpora cada personagem que interpreta de maneira expressivamente singular como é o caso do policial corrupto de O SANGUE DE ROMEU. Consegue transmitir toda a sensação de desespero surreal a partir da catarse como se a visão do narrador estivesse turva e perturbada ao narrar aquela história para nós, espectadores, que assistimos sob o seu ponto de vista. Mas é Lena Olen quem rouba a cena. É impossível descrever as capacidades físicas e psicológicas que a personagem se submete sem estragar a surpresa. É o cerne de todo o filme e que torna O SANGUE DE ROMEU único.

O elenco é bem legal: Além de Oldman, Olin, Sciorra, Lewis e Scheider (que está excelente como chefão mafioso) temos participações de Will Patton, James Cromwell, David Proval, Michael Wincott, Ron Perlman, Dennis Farina, alguns fazendo apenas uma ponta outros com uma participação maior como Wincott que é um desses atores subestimados que nunca teve uma boa chance de mostrar seu talento para o grande publico e aqui demonstra total segurança no que faz.

A direção do húngaro Peter Medak é muito boa, mas é daquelas que deixa seus atores brilharem, uma escolha acertada com um elenco desses e um roteiro em mãos muito bem escrito que faz jus ao estilo noir e ainda torna tudo mais interessante com as bizarrices da personagem de Lena Olin. O SANGUE DE ROMEU andou passando no canal fechado MGM, não sei se ainda vai passar, mas quem tiver a oportunidade não perca!

17.11.08

A HORA DA BRUTALIDADE (52 Pick-Up, 1986), de John Frankenheimer


A Hora da Brutalidade é desses thrillers policiais que só poderia ter saído dos anos 80 quando os roteiros ainda elaboravam histórias inteligentes e criativas, criavam universos crus e violentos, vilões marcantes, heróis ambíguos e os diretores possuíam força narrativa sem afetações da linguagem de vídeo clip, tudo isso raro nos dias de hoje. John Frankenheimer já era um mestre do cinema americano quando dirigiu este aqui a partir do roteiro de Elmore Leonard, o pai dos romances policiais contemporâneos. E o filme conta com um elenco de primeira encabeçado pelo grande Roy Scheider, que partiu desta pra melhor no início do ano, além de Ann-Margret, John Glover e Clarence Williams III.

Na trama, Scheider interpreta Harry Mitchell, um empresário muito bem sucedido no ramo da siderúrgica, e embora tenha um casamento estável, dinheiro, um carrão, ou seja, não lhe falta nada, possui um relacionamento extraconjugal. Até aí tudo bem, digamos assim, já que é normal figuras desse tipo colocarem chifres em seus companheiros (as). O problema começa quando três sujeitos sem escrúpulos e perigosos filmam Mitchell pulando a cerca e resolvem fazer chantagem e ameaças em troca de uma boa grana. A premissa até parece um novelão melodramático, mas são os desdobramentos que transforma este simples plot em um thriller tenso com direito a uma jornada pelo submundo da prostituição e pornografia.

A densidade dramática e o detalhamento dos personagens são grandes qualidades no filme. Scheider está magnífico como sempre. Não é desses que sai atirando nos bandidos, mas parte pra cima de seus inimigos com coragem e inteligência. Quem rouba cena, entretanto, é o expressivo John Glover no papel de um dos vilões. Hoje fazendo seriados americanos, Glover nunca teve o reconhecimento que merecia e a prova disso está em sua interpretação em A Hora da Brutalidade. Outro destaque é Clarence Williams III, que vive um cafetão com um aspecto de dar medo, como na cena que em que quase mata uma de suas garotas asfixiada com um urso de pelúcia.

Embora não seja um filme de ação explosivo, com tiroteios e perseguições, Frankenheimer consegue passar muita intensidade das situações dramáticas e conduz com segurança as movimentações do roteiro e o controle sob seus atores. Seqüências de ação nem chegam a fazer falta, mas violência temos de sobra. A cena em que Mitchell assiste um snuff movie é extremamente realista e se encaixa perfeitamente ao universo da trama. Com todos esses ingredientes muito bem utilizados, A Hora da Brutalidade não tinha como não se tornar um clássico dos anos oitenta.