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14.3.11

ASSASSINO À PREÇO FIXO, aka THE MECHANIC (2010)

Não gostei muito deste remake do clássico de ação setentista ASSASSINO A PREÇO FIXO, estrelado pelo Charles Bronson, mas também não é um filme que me ofende. É claro que não sou estúpido suficiente para conferir esperando um típico filme do Bronson, algo que parece impossível nos nossos tempos, então está mais para um habitual filme de David Statham mesmo, que costuma estar acima da média em relação aos trabalhos dos “ícones” do cinema de ação da nova geração em Hollywood, mas que aqui incomoda um pouco justamente por me fazer lembrar que estamos diante dum remake de um filme bem superior.

Um exemplo: a primeira cena de assassinato em ASSASSINO À PREÇO FIXO é boa, simples, rápida, inteligente, demonstra as habilidades notáveis do nosso protagonista como assassino profissional, etc... mas se formos comparar com o assassinato do Bronson no filme original, não dá nem para o cheiro. São 16 minutos sem qualquer diálogo, a câmera do diretor Michael Winner descreve visualmente cada movimento do protagonista, sem exageros, com uma elegância cinematográfica absurda, uma verdadeira aula de cinema que já vale o remake inteiro!

E é impossível pra mim não ficar fazendo comparações, especialmente quando o filme se assume como remake, utiliza os mesmos nomes dos personagens originais e não muda praticamente nada da essência do primeiro filme, o que de certa forma é algo elogiável. é o certo, na verdade. Aliás, tirando o final (que é totalmente bunda-mole, diga-se de passagem, mas não vou estragar), ASSASSINO À PREÇO FIXO é um filme que respeita o original até demais e segue uma estrutura bem fiel ao filme de 72. É claro que temos cenas de ação diferentes, algumas situações são atualizadas para os dias atuais, não tem a classe do cinema de ação dos setenta, enfim, é exatamente o que acaba que atrapalhando a quem tem grande apreço pelo filme do Bronson. E eu sou fanático pelo original!

Classe. Ou você tem, ou você não tem.
Embora não dê pra esperar um “Charlie Bronson movie”, até que Jason Statham se sai bem por aqui. Convenhamos que nunca haverá substituto para o Bronson na história do cinema. Mas o Statham seria um dos poucos candidatos a estrelar os “equivalentes” atuais dos filmes do Bronson, como é o caso deste aqui, de certa forma. O sujeito é dos poucos atores de ação que consegue imprimir estilo no cinemão; tem porte, carranca e possui ligação coma artes marciais. Até seus filmes mais bobos acabam sendo divertidos com sua presença, como a série TRANSPORTER e DEATH RACE 2000 (outro remake que não deveria ter sido realizado, ruim pra cacete, mas presta como bom passatempo).

A direção de ASSASSINO À PREÇO FIXO ficou por conta do Simon West, daí já viu, né? O cara estreou sua carreira fazendo aquele barulhento CON AIR, outro filme de qualidades duvidosas, mas visto na ingênua adolescência, me deixou de queixo caído. Hoje não perco meu tempo para conferir se realmente é muito ruim, ou se acaba tornando-se num autêntico guilty pleasure. De qualquer forma, as cenas de ação deste aqui não são lá grandes coisas... alguma coisinha aqui e ali, mas nada demais. O que me surpreendeu um pouco é justamente quando NÃO havia ação. O filme se segura e nunca fica chato! Tá certo que a relação entre “mestre” e “aprendiz” (Ben Foster) é fraca, não funciona pra mim, mas as cenas com o Donald Sutherland ou até mesmo o relacionamento com a belíssima prostituta são competentes, prendem a atenção...

No fim das contas, dá pra perceber que ASSASSINO À PREÇO FIXO é um sólido filme de ação, melhor do que muita coisa feita atualmente dentro do gênero em Hollywood, mas é inegável que poderia obter perfeitamente resultados bem melhores. Especialmente se colocado ao lado do original. Sei que isso é frescura minha, o filme de 72 sempre vai existir para a minha degustação, mas isso atrapalha bastante.

10.9.08

DON'T LOOK NOW (1973)

aka INVERNO DE SANGUE EM VENEZA
direção: Nicholas Roeg
roteiro: Allan Scott, Chris Bryant

Provavelmente, a cena mais interessante do horror UM INVERNO DE SANGUE EM VENEZA não é de suspense, tensão ou algo do tipo. É a sequência onde o casal vivido por Donald Sutherland e Julie Christie fazem amor. O primoroso trabalho de edição intercala planos que mostram o durante e o depois do coito, causando um efeito curioso somado à veracidade sexual que os atores depositam na cena. Na época do lançamento, acreditava-se que os dois efetivamente haviam transado. A cena é um encaixe estranho à narrativa. É o único momento de calmaria pelo qual os protagonistas atravessam durante o filme – embora cause uma sensação nervosa - que é um dos exemplares de horror psicológico que mais me impressionou nos últimos tempos.

Desde o início, quando o restaurador John Baxter (Sutherland) está trabalhando, observando alguns slides de fotos de uma igreja italiana junto com sua esposa Laura (Christie) enquanto seus filhos brincam nos arredores da casa, nas paisagens campestres da Inglaterra, o que aparenta conforto na verdade é uma aula de construção atmosférica de suspense. Tudo é mostrado e montado de uma forma muito intensa e cada detalhe prepara o espectador para o que está por vir. A filha do casal, usando um casaco vermelho, brinca jogando uma bolinha em volta de um lago, seu pai sente que algo ruim está acontecendo e sai em direção ao local encontrando a menina afogada numa sucessão de imagens expressionistas que culmina com o grito angustiado de horror de Donald Sutherland com a filha morta nos braços.

 

O filme é subitamente transportado para Veneza, algum tempo depois. John Baxter está restaurando as imagens sacras de uma igreja e sua mulher o acompanha pela cidade entrecortada pelos canais, com suas ruas estreitas, prédios antigos e a atmosfera natural acinzentada pelo clima de inverno. Perfeito cenário onde se passa o restante do filme, no qual o diretor britânico Nicholas Roeg estabelece com um ritmo lento o desenvolvimento de uma misteriosa história. O suspense é trabalhado cuidadosamente nos ambientes e em elementos estéticos, como a cor vermelha do casaco da filha, que passa a servir de metáfora para acentuar o tom sobrenatural que entra em cena com duas irmãs (uma delas cegas) já senhoras de idade.

A cega é uma médium que diz ter visto o espírito da menina entre o casal num restaurante. Laura começa a se sentir bem com isso e passa a acreditar nas duas senhoras. É o momento nos leva a cena de sexo entre o casal. Mas John é cético e não acredita, “Nossa filha está morta! Morta!”. A atuação de Donald Sutherland dá bastante vigor ao filme, com seus olhos expressivos, enquanto é engolido pelos mistérios de Veneza. Vários acontecimentos estranhos iniciam a partir de então para contribuir com o clima de suspense, como a cena do acidente na igreja, a visão de John do barco fúnebre (que ultrapassa os limites do tempo numa inovadora sacada cronológica) e as aparições de uma figura pequenina usando um capuz vermelho vagando pelas ruas noturnas da cidade.

Existem vários outros momentos que vão desde o aterrorizante até o perturbador que acompanham o espectador até o desfecho de UM INVERNO DE SANGUE EM VENEZA. Um filme realmente fascinante pela construção inspirada de um clima de horror que trabalha o psicológico do publico e pelo estilo visual que influenciou vários diretores. E lógico, como não poderia ser diferente, apesar da forma misteriosa como foi filmada, a cidade de Veneza acaba se tornando um desses lugares obrigatórios para se visitar algum dia...