20.12.10

NATAL SANGRENTO 2 (Silent Night, Deadly Night 2, 1987), de Lee Harry

O desfecho do primeiro filme deixava as coisas em aberto para uma óbvia continuação onde o “mal” do assassino fantasiado de Papai Noel teria passado para seu irmão mais novo. Dito e feito, a trama de NATAL SANGRENTO 2 segue o irmão, agora adulto e vivendo atrás das grades. Por meio de sua narração, conversando com um psiquiatra, saberemos, através de flashbacks o que o levou para o xadrez, além de um resumo do primeiro filme. E quando eu digo resumo, entra aqui uma picaretagem das boas! Incluíram sequências inteiras, diálogos inteiros, resumiram o filme inteiro nos primeiros 40 minutos deste aqui.

Recomendo duas opções pra quem quiser encarar a série. Ou você pula o primeiro filme e vai logo para o segundo e toma um conhecimento CLARO do que foi a primeira parte, ou assista ao primeiro e veja o segundo com o controle na mão para pular praticamente 40 minutos de picaretagem.

Mas por favor, não esqueçam de parar e assistir a TODOS os momentos em que o protagonista aparece em cena. Eric Freeman, o ator que interpreta o irmão, apresenta uma das piores atuações que eu já vi. Eu adoro atuações ruins. Geralmente isso é um motivo a mais para minha diversão quando vejo uma tralha dessas, mas esse cara ultrapassa todos os limites da vergonha alheia! A ausência de vocação em artes dramáticas fica evidente logo no início, mas a partir do momento que ele narra a sua história, um sujeito que surta como seu irmão e inicia uma onda de assassinatos agindo como um louco é uma coisa muito embaraçosa... depois ele ainda foge da cadeia e se veste de Papai Noel também, para não quebrar a tradição, e seu desempenho consegue ser pior ainda. Hour concours das atuações ruins, de longe! Só pra dar um gostinho, recomendo esse trecho para sentir a expressividade do sujeito... a força que ele possui em cena, no olhar e na risada. Um gênio, sem dúvida.


Ainda vou tentar assistir aos outros três filmes da série para postar aqui, mas não garanto nada. Já estamos no lucro por eu ter conseguido escrever sobre esses dois!

9.12.10

SOCIETY (1989), de Brian Yuzna

Apesar de não estar tendo muito tempo nas últimas semanas, é preciso comentar sobre este filme de estreia do Brian Yuzna, que foi uma das últimas coisas que eu vi e que me surpreendeu positivamente. Yuzna, naquela altura, era produtor e associou-se com o grande diretor Stuart Gordon na realização de algumas clássico que adoramos dos anos 80, como RE-ANIMATOR e FROM BEYOND, por exemplo. Como diretor, nunca foi considerado um dos grandes do gênero. Já li vários textos maldosos a respeito da carreira dele, muitos eu discordo totalmente, tendo como base o que eu já pude conferir do homem. O que, na verdade é bem pouco, infelizmente. Preciso rever alguns de seus trabalhos e tentar dar uma atenção a sua filmografia, mas uma coisa é certa: fazer uma peregrinação pelo seu trabalho é, no mínimo, diversão garantida. SOCIETY está aí de prova. É um suspensezinho muito bom de acompanhar, sem grandes pretensões, a não ser criar bons momentos de puro horror, como a belíssima e perturbadora sequência final... provavelmente uma das coisas mais bizarras que o Yuzna já concebeu! brrrr!!! 


Se não estou enganado, passava bastante na TV aberta com o título de SOCIEDADE DOS AMIGOS DO DIABO, e aposto que muita gente chegou a ver, só que hoje é pouco falado. Bem, eu nunca tinha visto e nem fazia idéia do estrago que o desfecho poderia causar, algo para se entrar numa lista de sequências esquisitas e repugnantes do horror contemporâneo... ao menos na minha lista entraria...

A história do rapaz da alta classe de Beverlly Hills atormentado com a suspeita de que sua família faz parte de uma sociedade secreta de hábitos incomuns possui ecos em O BEBÊ DE ROSEMARY, de Roman Polanski. O filme tem aquele visual retrô oitentista, mas possui também alguns bons momentos atmosféricos de mistério que vão aumentando à medida que o personagem descobre a verdade. Mas são as imagens finais que ficam gravadas na mente do espectador. Vai ser difícil esquecer o banquete canibal surrealista, com distorções de membros humanos, imagens inspiradas em pinturas de Salvador Dali e criadas pelo mestre japonês dos efeitos de maquiagem, Joji Tani, mais conhecido como Screaming Mad George. Yuzna consegue resultados perturbadores sem precisar apelar para a violência extrema, sangue, etc, apenas assistimos a carne em variadas transformações... como se o final de SOCIETY fosse uma extensão da idéia de VIDEODROME, de Cronenberg, sobre a sentença “long live the new flesh”... ou talvez eu esteja apenas “viajando” demais.

29.11.10

16.11.10

A SERBIAN FILM (2010)


aka TERROR SEM LIMITES
direção: Srdjan Spasojevic
roteiro: Aleksandar Radivojevic, Srdjan Spasojevic

Não me lembro de ter visto outro este ano, mas acho que o “filme-choque” de 2010 é A SERBIAN FILM (Srpski film, 2010). Aliás, se existia algum outro que pensava em se candidatar para o cargo, provavelmente vai passar vergonha diante deste provocativo monumento de subversão marcado por uma história brutal não recomendado pra qualquer estômago.

Mas o que poderia tornar um filme dessa estirpe uma das grandes experiências cinematográficas deste ano? Além das próprias sequências ignóbeis, as quais excedem os limites do bom gosto, da ética, chocando, incomodando, mexendo com os sentidos do espectador, temos uma direção excelente e precisa ao trabalhar com esse tipo de imagem, não apenas jogando na tela para impressionar o espectador, mas combinadas à um boa trama e num contexto que justifique toda essa sandice. É bem provável que nem todos consigam embarcar no clima pesado da narrativa, não comprem a idéia central e questionem o poder descomunal de A SERBIAN FILM , taxando-o de “sem conteúdo” e apelativo.

Felizmente, não tive esse problema. Já sabia de antemão que não era um filme recomendado para toda a família, mas resolvi encarar pra ver até onde o estreante diretor sérvio Srdjan Spasojevic iria chegar. Quando a gente acha que já viu de tudo nessas garimpadas pelas obscuridades do cinema, o sujeito consegue destruir toda a nossa segurança de “espectador treinado” com algumas imagens e idéias extremamente pertubadoras!


O espectador é submetido a um estado de tensão até nos mais triviais momentos de A SERBIAN FILM, com uma fotografia sufocante e a trilha de batidas fortes muito bem integrada ao andamento da coisa. Quanto menos você souber da trama, melhor, mas dá pra adiantar que o enredo gira em torno de Milos, um ex-astro da indústria pornográfica que vive agora tranquilo com sua esposa e filho. Com a crise assolando o país, Milos recebe a proposta para retornar à atividade por um cachê milionário e estrelar o filme obscuro de um diretor com… digamos, um alto nível de pretensão artística, sob a condição de não saber absolutamente nada a respeito do que será o tal filme… Bom, o que acontece a partir daí, você vai ter que descobrir sozinho por sua conta e risco, se tiver estômago.

Garanto apenas que não será uma experiência agradável…

Segundo os realizadores, fãs confessos do cinema exploitation americano dos anos 70, toda essa agressão visual de A SERBIAN FILM seria uma espécie de metáfora do estado de espírito de um indivíduo após viver na Sérvia por mais de vinte anos, com todos os prolemas políticos e territoriais que até hoje assola a população. É uma boa desculpa filosófica para mostrar um cara enfiando o próprio falo (vulgo caralho) no olho de outro sujeito...

Caso queiram mais informações sobre o filme, vai um texto mais detalhado que o meu aqui.

14.11.10

RESIDENCIA PARA ESPIAS (1966), de Jess Franco

Se fosse realizado uma década depois, RESIDENCIA PARA ESPIAS teria excelentes motivos para que o diretor Jess Franco explorasse a sua maior especialidade: PUTARIA! Ele iria às favas com a trama (se é que haveria um roteiro) e passaria o filme inteiro dando zoons em pererecas cabeludas de atrizes robustas. Mas estamos em 1966 e Franco ainda não havia descambado para essas peculiaridades da forma como temos em seus filmes a partir dos anos setenta.

É um trabalho simpático, adjetivo estranho para elogiar um filme deste prolífico diretor, mas é um bom termo para definir esta obra de início de carreira (décimo primeiro filme, na verdade, mas pra quem já fez mais de 190, não é nada). Além de ser uma leve comédia, RESIDENCIA PARA ESPÍAS é um autêntico Eurospy - subgênero criado na esteira dos filmes do agente 007 e gerou uma infinidade de cópias, paródias, homenagens e picaretagens no velho continente, principalmente na Itália e França.

Jess Franco possui alguns exemplares do gênero no currículo (aliás, qual gênero ele não possui?). Para o papel do espião, Franco escalou o americano Eddie Constantine, que no ano anterior havia interpretado outro espião, Lemmy Caution, só que num filme totalmente cerebral, ALPHAVILLE, de Jean Luc Godard. Curioso numa cena logo no início do filme, ele contracena com Howard Vernon, fiel colaborador de Franco, mas que também esteve presente no filme de Godard, no papel do Professor Nosferatu.

Em RESIDENCIA PARA ESPÍAS, Eddie Constantine encarna o agente da CIA Dan Leyton, uma versão de James Bond, só que desprovido de beleza, mas tão mulherengo quanto o espião à serviço de sua majestade. Sua missão é se infiltrar numa espécie de colégio para espiãs americanas na Turquia e descobrir de onde está vazando informações sigilosas que os inimigos do governo americano estão obtendo.

A direção de Franco é caprichada, explora as paisagens turcas sem ficar enrolando o espectador com o excesso de planos vazios como acontece em alguns trabalhos do espanhol, mas já demonstra uma má vontade com a narrativa, algo que de vez em quando fica totalmente em segundo plano em vários de seus melhores filme, os quais são mais experiências sensoriais do que qualquer outra coisa.

Mesmo assim, não recomendaria para quem deseja iniciar-se pelo cinema de Franco. Tirando um certo tipo de humor que surge em alguns momentos, é um filme bem diferente daquilo pelo qual o diretor espanhol é lembrado. Mas é divertido, dos mais acessíveis e muito bem contextualizado como um Eurospy.

4.11.10

BORN TO RAISE HELL (2010), de Lauro Chartrand


O papel de vilão em MACHETE não fez muita diferença para a carreira “principal” de Steven Seagal. Seu novo trabalho segue a mesma linha de seus últimos filmes lançados no mercado de vídeo (A DANGEROUS MAN e THE KEEPER). Se são descartáveis e esquecíveis, ao menos ainda servem como passatempo sem compromisso pra quem curte este tipo de tranqueira.

A trama é sobre um policial (Seagal, em um dos seus personagens menos inspirados) que trabalha numa agência financiada pelo governo americano no combate das drogas ao redor do mundo (uma boa desculpa para a produção ser rodada na Romênia onde os impostos são mais baratos) e caça um maníaco, que além de ser traficante, assalta, estupra e assassina suas vítimas sem remorso. O roteiro do próprio Seagal é bobinho, joga no meio também uma história de vingança, mas serve de base para diversas cenas de ação e pancadaria. O problema é que Lauro Chartrand não consegue manter a boa reputação dos dubles diretores, como Craig R. Baxley, Vic Armstrong e Jesse V. Johnson, e faz um trabalho bem fraquinho. Mas o que realmente incomoda é a montagem cheia de frescura e efeitos para deixar o filme mais "mudernoso". Com tantos bons filmes de ação sendo lançados no mercado de vídeo, BORN TO RAISE HELL fica abaixo da média, mas com um pouco de paciência, dá pra se entreter.

3.11.10

THE WALKING DEAD


Vi o episódio piloto de THE WALKING DEAD. Gostei. Sabia da existência dos quadrinhos, que serviu de base para série, mas nunca li. Estava mais empolgado por causa do nome de Frank Darabont nos créditos, que nos surpreendeu há algum tempo com um dos melhores filmes de horror dos últimos dez anos, O NEVOEIRO. Aliás, nunca fui de acompanhar séries. As últimas tentativas fora com LOST e DEXTER, e apesar de ter curtido ambas, não tive paciência para prosseguir.

Este primeiro episódio de THE WALKING DEAD é ótimo! Nada de zumbis velocistas ou invenções de moda. Na essência, é mais do mesmo, e por isso mesmo tão bom! E não deixa de ser um raro exemplar inteligente, mesmo no desgastado subgênero dos "filmes de zumbis", que brota uns duzentos por ano e se tornou um dos mais abusados do mundo. O clima é muito legal, não sei se é fiel ao quadrinho, mas é tremendamente violento, agressivo, subversivo, tudo muito bem feito e sem frescuras. Genial? Não, mas teve o suficiente para me fazer esperar pelo segundo episódio…

1.11.10

CANNIBAL APOCALYPSE (1980), de Antonio Margheriti,

Não era exatamente o filme que eu esperava para um domingão de Halloween, mas valeu muito a pena. CANNIBAL APOCALYPSE não deixa de ser terror, embora também seja uma bizarra combinação de gêneros, com um roteiro deliciosamente desconexo que começa na selva do Vietnã, passa pelo drama de veteranos com trauma de guerra, desemboca num horror canibal cujo desejo pela carne humana é transmitida por vírus, até virar um filme de ação policial! Mesmo sem pé nem cabeça, o filme aposta na sua originalidade. Só a idéia de haver um vírus que “transmite canibalismo” através de mordidas e arranhões dos infectados é suficiente pra tirar o filme do lugar comum. Mas não poderia faltar também uma boa dose de violência e todo o tipo de efeito gore criado pelo genial Giannetto De Rossi. Margheriti (que assina o filme como Anthony M. Dawson) não tem a virtuose de um Bava ou Argento, mas já transitou em todos os gêneros do cinema popular italiano e conduz com firmeza e bom senso rítmico para comportar toda essa confusão. O fato é que Margheriti não está nada preocupado com a lógica narrativa de seu filme, e é isso que dá a ele a liberdade em tornar cada situação um momento único.

24.10.10

DAMAGE (2009), de Jeff King

B movie de porrada feito diretamente para o mercado de vídeo que me surpreendeu bastante. O diretor é Jeff King, que realizou DRIVEN TO KILL, um dos bons trabalhos de Steven Seagal em 2009, mesmo ano deste aqui. O filme é bem mais que um veículo de ação estrelado pelo truculento Steve Austin, que foi recentemente visto trocando sopapos com Sylvester Stallone em OS MERCENÁRIOS, é um belo estudo de personagem dentro de um gênero rejeitado. A trama, basicamente, é muito parecida com outro filmaço direct to vídeo que eu vi este ano, BLOOD AND BONE, com o excelente Michael J. White.

John Brickner (Austin) sai da prisão e entra no circuito de lutas clandestinas. Até aí, tudo bem. A diferença é a motivação e alguns detalhes na construção da trama e dos personagens. Pela arte promocional do filme dá pra perceber que a coisa aqui é diferenciada, não se vê ninguém fazendo pose de luta, suado e sem camisa, com aquelas cores quentes ou azuladas que esses filmes geralmente possuem. Apenas Austin refletindo sobre as pancadas que vai desferir sobre seus oponentes (depois sairam uns posters mais tradicionais)...

Brickner tenta levar uma vida normal em liberdade, mas os problemas começam a surgir quando a esposa do sujeito que ele matou antes de parar na cadeia lhe informa que precisa de uma grana preta para pagar o caríssimo transplante de coração da sua filha de oito anos e ele é quem vai arranjar. Encontra então no submundo das brigas uma forma de ganhar dinheiro e “fazer a coisa certa”.



O filme traça um retrato mais humano daquilo que estamos acostumados a ver neste tipo de filme, ainda que o protagonista não passe de um brutamontes e que o roteiro não se preocupe em mencionar detalhes do passado do personagem, onde ele aprendeu a lutar ou quem era o cara que ele matou, como a coisa aconteceu, não temos nada de background. A trama tem apenas a intenção de mostrar um cara fodido tentando se redimir de um passado que ele próprio procura ignorar.

As cenas de luta em DAMAGE são boas. O espectador enxerga o que se passa na tela, a câmera não treme e a edição é tranquila, mas nada muito excitante como no já citado BLOOD AND BONE ou nos filmes do Isaac Florentine, que este ano lançou UNDISPUTED III, outro filmaço do gênero lançado diretamente em DVD. Tem algumas sacadas legais, como o dente de um oponente que fica cravado na mão de Brickner, após um murro na boca muito bem dado. As lutas dão pro gasto, o negócio é que o foco é outro, apesar de superficialmente ser um genérico filme de luta. Os personagens e a trama são tão interessantes que eu não conseguia desgrudar os olhos da tela.



Eu ainda prefiro BLOOD AND BONE, mais visceral e divertido, um dos meus filmes prediletos de porrada em 2010, mas DAMAGE conseguiu me surpreender de uma maneira muito agradável. Steve Austin tem carisma, apesar da cara de malvado, e contribui bastante para este sólido filme de porrada. Austin pode seguir por este caminho, talvez da próxima vez até encontre um coreógrafo de lutas mais talentoso, que saiba explorar o seu tamanho, o tipo de luta que pratica, com certeza teremos mais um grande ator para os fanáticos por filmes B de ação acompanharem.

22.10.10

RETROCEDER NUNCA, RENDER-SE JAMAIS (No Retreat, No Surrender, 1986), de Corey Yuen


O astro belga Jean Claude Van Damme estampar as artes de capas de DVDs lançados no mundo afora do filme RETROCEDER NUNCA, RENDER-SE JAMAIS (No Retreat, No Surrender, 1986), não passa de pura e simples picaretagem. Afinal, o único rosto conhecido atualmente na produção é o dele. Mas o baixinho só aparece mesmo no início e no final do filme, interpretando o russo Ivan Kraschinsky. É também o vilão, com quem o nosso herói terá de medir forças à base do chute na cara pra saber quem é o melhor.

O herói é um tal de Kurt McKinney, do qual eu nunca tinha ouvido falar. No filme ele é Jason Stillwell, um rapazinho cujo pai, Tom, possui uma academia em L.A. onde ensina karate, inclusive a Jason. Os problemas aparecem quando o crime organizado decide fazer uma "oferta irrecusável" para comprar a academia, dessas que alguém pode sair muito machucado, caso um dos lados não goste da palavra final. E é o que acontece. Um gangster, acompanhado de seus guarda costas (Van Damme), expulsa o sujeito de sua própria academia, com o belga já demonstrando golpes ultra rápidos e aqueles chutes incríveis que fizeram sua carreira.


O que é um ator que sabe lutar sendo dirigido por alguém que entende do assunto? Temos aqui uma cena que não dura nem um minuto, mas comprova que Van Damme não é só pose. Ele se tornou “posudo” porque decidiu firmar carreira em Hollywood sendo dirigido por diretores que não sabem trabalhar cenas de luta, por mais divertido que sejam os seus filmes. Corey Yuen sabe! E é quando se mete com diretores orientais Van Damme obtém seus melhores resultados.

Meus favoritos do baixinho são CYBORG e SOLDADO UNIVERSAL, que no campo da “pancadaria” perdem para, por exemplo, GOLPE FULMINANTE. Na minha opinião, ao invés de ficar gastando mais de meia década em porcarias, ele devia ter tentado a sorte em Hong Kong. Seus últimos trabalhos são ótimos, mas passou por uma sequência de filmes meia boca, sobrevivendo com produções baratas lançadas direto no mercado de vídeo, que fazem as fitas do Steven Seagal verdadeiras obras primas.

Por falar no barrigudo de rabo de cavalo, ele se saiu muito bem como vilão em MACHETE, não é? Também achei excelente o Van Damme como vilão aqui. Já que ele não quis ir a Hong Kong, podia ao menos ter feito alguns papéis de bandido em filmes classe A e assim alternava com suas fitas B de ação. Ao menos ele teria mais visibilidade e não entraria na decadência que entrou. O Seagal, por exemplo, foi visto por um público bem maior em MACHETE do que em seus 15 últimos filmes juntos… não posso ignorar o problema das drogas que quase acabou com o Van Damme, mas a gente sabe que o sujeito não bate muito bem da cabeça quando recusa a proposta de participar de uma produção como OS MERCENÁRIOS… mas chega de palpitar sobre a carreira do baixinho que eu já devo ter falado merda demais... Só espero que seus filmes atuais mantenham o nível.


Voltando ao enredo de RETROCEDER NUNCA, RENDER-SE JAMAIS, Tom (o pai, pra quem já se esqueceu) decide mudar de ares e parte para Seattle. Muda também sua mentalidade sobre o karate e a finalidade de se usar violência, ou seja, o cara virou um bundão. E até que ele luta bem, embora seja de longe o pior ator do filme! Já Jason, a primeira coisa que faz quando chega em sua nova casa é transformar a garagem num centro de treinamento, com cartazes de Bruce Lee e toda a parafernália. Fã do grande astro de OPERAÇÃO DRAGÃO, o rapaz vai visitar o túmulo de Lee, que se encontra na cidade, além de procurar uma outra escola de karate para continuar seus ensinamentos.

A trama é totalmente voltada à Jason, que transforma o filme numa espécie de rip off de KARATE KID. A estrutura intercala momentos de treinamento, de flerte com a garota bonitinha, com confrontos entre os bullies que sempre lhe dão porrada, além de problemas com o pai, que a cada briga na rua precisa levar um sermão danado, até que Tom rasga o poster do Bruce Lee servindo de estopim para um “NÃÃÃÃÃÃOOO!!!” daqueles! Em outra cena, Jason ajoelha no túmulo de Bruce Lee e implora por ajuda… Para melhorar ainda mais a história, o espírito de Bruce Lee aparece em sonhos e delírios do personagem para lhe aplicar vários ensinamentos. O problema é que o ator que faz o fantasma não tem nada a ver com o Bruce Lee, mas Jason não cria caso com isso, então ok. Aliás, o ator que dá vida ao falecido é Kim Tai Chung, que era dublê de Bruce Lee.


Como já adiantei que Van Damme aparece novamente no final, presume-se que os gângsters também vão à Seatle tentar abocanhar mais academias. E que premissa mais boba é essa... pra que a máfia quer tanta academia pelo país? Enfim, no local há um grande campeão de artes marciais que decide resolver tudo realizando um torneio. O vencedor fica com a academia.

Kurt McKinney é muito carismático. E não é tão mirrado como Ralph Macchio, o Daniel San de KARATE KID. É claro que na vida real, McKinney não teria chance com Van Damme, que era um monstro cheio de músculo, mas nada tão impossível também. O rapaz tem bom físico. Possui também um relacionamento meio estranho com RJ, um vizinho que se torna seu melhor amigo. RJ não luta, mas é um excelente dançarino, mais um motivo pra achar esquisito… ainda mais depois da cena em que R.J toma sorvete sentado… digamos, na região do quadril de Jason, enquanto este faz um exercício. Bom, não estou chamando-os de viadinhos, nem tenho nada contra, mas acho que eles já passaram da idade da inocência pra um enquadramento como este abaixo não soar extremamente homoerótico.


Até o menino ao fundo achou meio estranho...
Sei que KARATE KID deixou uma irrecuperável boa impressão na infância de muitos de nós, mas vocês vão me desculpar, RETROCEDER NUNCA, RENDER-SE JAMAIS é muito mais divertido, dirigido por um cara que realmente entende de artes marciais, coreografou uma penca de filmes e dirigiu meu ninja movie favorito, NINJA IN THE DRAGON’S DEN! As lutas aqui não chegam ao mesmo patamar de outros trabalhos do Corey Yuen, mas é muito acima da média, especialmente aquelas com Van Damme (não foi a toa que seu sucesso dentro do gênero começou aqui).

O filme tem algumas atuações das mais vergonhosas que eu me lembro de ter visto na vida!!! Fora alguns furos evidentes de roteiro, os clichês de sempre, até microfones aparecendo no canto da tela, mas tudo isso serve de bônus para quem entrar na onda do filme, uma diversão escapista, que passa rápido, tem um bom ritmo e as cenas de luta fazem valer o programa. Pra mim, já virou clássico do cinema de artes marciais dos anos 80.

RETROCEDER NUNCA, RENDER-SE JAMAIS teve duas continuações que não possuem muita ligação com este aqui. O segundo apenas acrescenta o número “2” na frente, se não estou enganado. Também é dirigido pelo Yuen e tem no elenco Cynthia Rothrock, Loren Avedon e o brutamontes Matthias Hues! Eu preciso ver essa belezinha! Já o terceiro filme recebeu o título aqui no Brasil de OS IRMÃOS KICKBOXERS, que assisti quando era pequeno, numa VHS da saudosa TOP TAPE, e tem umas lutas alucinantes de outro mundo!!! Preciso rever com extrema urgência!

17.10.10

MIRRORS 2 (2010), de Víctor García



A recepção de ESPELHOS DO MEDO em 2008 já não havia sido das melhores, mesmo contando com o francês Alexandre Aja na direção e Kieffer Sutherland como protagonista. Então o que faz alguém pensar que uma continuação, realizada por um diretor de quinta categoria e rostos desconhecidos do grande público, fosse dar certo?
Não tenho uma resposta pra isso, mas de qualquer forma MIRRORS 2 (2010), de Víctor García, está aí, lançado direto para o mercado de vídeo, com um orçamento bem mais baixo, e a qualidade mais baixa ainda!

Não acho ESPELHOS DO MEDO ruim. Na época, escrevi que algumas cenas realmente me deixaram arrepiado. Acho que foi por isso que resolvi me aventurar nesta continuação, mesmo sabendo dos riscos. A trama, caso estejam curiosos,  não possui relação com o primeiro longa, a não ser o lance dos espelhos. Não fiquem pensando que vão tomar conhecimento do paradeiro do personagem de Sutherland ou o que ele fez pra sair daquela situação que se meteu no desfecho do primeiro filme.  Até que não seria uma má idéia, se compararmos com a bomba que é este aqui!

Max (Nick Stahl) sofre um acidente de carro e perde a namorada. A partir de então, começa a ter visões estranhas. A coisa agrava quando começa a trabalhar como vigia noturno num shopping que está prestes a inaugurar. Os espelhos começam a assombrá-lo e misteriosas mortes se iniciam. Enfim, a coisa não passa de vingança de uma fantasminha mal comida. O roteiro fraco sofre ainda mais por praticamente não haver momentos de horror no filme. Existe uma tentativa disso. O espanhol Víctor Garcia parece não ter a mínima noção do que está fazendo. E olha que sua carreira como diretor é focada em filmes do gênero. Ele deveria voltar ao departamento de efeitos especiais onde já fez um belo trabalho em outras produções.



A única cena que achei interessante é a da decapitação no chuveiro, onde o diretor encarna ao menos um pouquinho o espírito “boobs and blood” que poderia tornar a sessão mais agradável. É insuficiente o que temos aqui pra aguentar uma trama extremamente chata, carregada por Nick Sthal, cujo desempenho demonstra  porque tem trabalhado em filmezinhos de merda como este aqui. Nem a presença de William Katt ajuda...
Pra quem não gosta do primeiro, não vai ser este aqui que vai resolver o problema. Pra quem curtiu, fique apenas com as lembranças do anterior e passe longe de MIRRORS 2.

16.10.10

PIRANHA 3D (2010), de Alexandre Aja



Assisti ao original, do Joe Dante, há muito tempo e até queria fazer uma revisão antes de assistir a este novo. A única coisa que me lembro é que havia piranhas assassinas almoçando turistas de uma pequena cidade à margem de um lago, ou seja, o plot básico. Os detalhes da trama, personagens, etc, não faço a menor idéia se bate uma versão com a outra, só sei que neste remake o francês Alexandre Aja entregou um espetáculo doentio de encher os olhos com as doses cavalares de violência explícita e mulheres gostosas... o cara realmente tem colhões! Depois daquele pequeno deslize que foi ESPELHOS DO MEDO (e que eu não acho ruim), Aja demonstra que ainda tem pulso firme pra coisa, ainda é o diretor insano de HAUTE TENSION e VIAGEM MALDITA. Fazia tempo que eu não via um produto de Hollywood com tanto gore e atrocidades com os personagens. O próprio diretor já vinha preparando o terreno e alertando que PIRANHA 3D seria um banho de sangue, mas ainda assim consegue surpreender. Aja não desvia a câmera em nenhum momento para mascarar o estrago que essas pobres bichinhas fazem à carne humana. E os efeitos especiais e maquiagens são simplesmente GENIAIS! Claro que não se pode exigir do roteiro meia boca, mas quem liga pra isso quando só se vê peitos e violência sem pudor a cada 5 minutos na tela?

11.10.10

O ÚLTIMO MESTRE DO AR (The Last Airbender, 2010), de M. Night Shyamalan

Minha opinião sobre o Shyamalan é a de que ele é um grande engodo. Mas há oito anos atrás eu não diria isso. Não vi seus primeiros filmes, acho O SEXTO SENTIDO bacana e CORPO FECHADO um filmaço! A partir de SINAIS é que a qualidade vem despencando. Especialmente a partir de A DAMA DA ÁGUA, a coisa ficou insuportável demais. Sei que ele tem defensores, que argumentam como seus filmes são cheios de significados, como é um diretor incompreendido e tal. Tudo bem, respeito a opinião de cada um e de quem enxerga algo a mais no seu trabalho, mas pra mim seus filmes não passam de metidos a inteligente, chatos e pretensiosos.
E agora temos este O ÚLTIMO MESTRE DO AR (2010). Minha namorada é fã do desenho AVATAR e por isso acabei encarando com ela essa versão cinematográfica mesmo com a espectativa lá em baixo, mesmo sendo algo totalmente destoante da filmografia do homem. E não é que ele demonstra ser bem pior do que eu pensava?! Não conheço muito bem a animação, então minha percepção ficou limitada ao que foi visto na tela mesmo, ou seja, uma aventurazinha meia boca e sem alma, com um ritmo irregular, genérico no humor, na ação (copiando os cacoetes de Zack Snider), aproveitando-se de todos os elementos, situações e personagens que tornam uma estória chata. Por onde anda aquele autor interessante, apontado como grande revelação no início dos anos 2000, bom diretor de narrativas lentas, simples, de roteiros instigantes?

8.10.10

PREDADORES (2010), de Nimród Antal

Só agora assisti a PREDADORES. Sempre tive a impressão de que o personagem alienígena do primeiro filme, o tal predador, seria um playboy metido a besta que fica gastando o dinheiro e a nave espacial do pai indo de planeta em planeta praticar a caça, seu esporte preferido. Depois veio o segundo filme, que apesar de pouco lembrado, é muito bacana, e agora esse PREDADORES, que enfatiza ainda mais a minha teoria. Não só o predador do primeiro filme é um puta vadio, como toda a sua espécie é formada por um bando de desocupados que gastam todo seu tempo e fortuna brincando de caçar outras espécies e quando não estão fazendo isso, ficam aprimorando habilidades de caça e melhorando a tecnologia pra garantir que a brincadeira não fique muito perigosa pra eles… porque só me resta essa explicação pra tanta covardia. Se é tão legal para os predadores ficar caçando seres inferiores, qual é a graça de usar todo aquele aparato tecnológico pra cima de uns pobres infelizes como os seres humanos ou qualquer outra raça? Raios lasers, visão infra-vermelha que capta calor, camuflagem… além de desocupados, são covardes.
Pensando nisso tudo que eu acabei de escrever e lembrando dos dois primeiros filmes, fica ainda mais evidente de como PREDADORES é fraco. É um filme ofensivo para os fãs dos originais, assim como deve ter sido aqueles que o predador enfrenta os Aliens da outra franquia, que eu me recusei a ver… me senti ofendido. O roteiro chupa todo o primeiro filme, a ação é ruim, o suspense é meia boca e os diálogos são de fazer vergonha alheia. O filme joga o espectador numa trama meio LOST e começa a acumular pessoas num planeta onde os predadores utilizam pra brincar de caçadores, mas a construção dos personagens é tão rasa e clichê que de antemão já sabemos quem morre e quem sobrevive até o fim. E puta merda, Adrien Brody pagando de anti herói badass de voz rouca não dá pra comprar.
O pior é a personagem da Alice Braga tentando deixar algo a se pensar para o público com a filosofia de boteco “Somos os predadores do nosso mundo” ou coisas do tipo. Algumas cenas são bacanas, como a do Yakuza usando uma espada samurai encarando bravamente um predador. Pena que são pouquíssimas cenas que conseguem sobressair com um lapso de criatividade. Não é o pior filme do mundo e até que dá pra assistir sem ficar xingando a mãe do roteirista, mas o resultado disso tudo nós já vimos antes, só que muito melhor. Um filmaço, aliás, dos anos oitenta, estrelado pelo Arnoldão…

A LENDA DOS SETE VAMPIROS (1974), de Roy Ward Baker




Como devem ter percebido no último post, aliás, em vários posts de vários blogues, o grande diretor inglês Roy Ward Baker, que ao lado de Terrence Fisher realizou alguns dos melhores filmes da Hammer, faleceu aos 93 anos. Vou ficar devendo uma análise mais profunda sobre sua obra porque infelizmente vi pouco do seu trabalho, mas o suficiente pra saber que foi um dos grandes nomes do horror britânico. O último dele que eu vi foi A LENDA DOS SETE VAMPIROS (1974), um bizarro híbrido de horror com artes marciais que nasceu da turbulenta parceria entre a Hammer e a Shaw Brothers. O filme pode fazer parte da longa série de filmes da produtora inglesa sobre o personagem Conde Drácula, aqui vivido por John Forbes-Robertson. Na trama, Drácula acorda de seu sono e vai para a China fazer renascer os lendários sete vampiros dourados, daí o famoso caçador de vampiros Van Helsing, novamente na pele do Peter Cushing, se junta a um grupo de lutadores de kung fu para combater esse terrível mal… contando dessa forma parece brincadeira, de tão irreal que seria um filme assim, mas realmente existe e é divertido, embora tenha sido uma penosa jornada até que as filmagens chegassem ao fim, com tantas brigas entre os executivos da Hammer e da Shaw Bros.

Anyway, Roy Ward Baker merece mais destaque por aqui. Vou assistir mais alguns de seus trabalhos e comento aqui no blog. O sujeito merece.

ROY WARD BAKER











R.I.P.
1916 | 2010

4.10.10

LOUCA PAIXÃO (1973), de Paul Verhoeven



Já que o assunto do último post foi Verhoeven, aproveitei o domingo para ver LOUCA PAIXÃO, puta filmaço da fase holandesa do diretor que eu ainda não havia conferido. É a história de amor entre Erik, um escultor interpretado por Rutger Hauer, e Olga, a ruivinha Monique van de Ven. Como é Verhoeven quem comanda, provocativo e transgressor de sempre, obviamente o resultado não vai ser do mesmo nível de um LOVE STORY. Está mais para O ÚLTIMO TANGO EM PARIS, só que muito melhor, mais subversivo e acrescido de escatologia. Tudo encaixado ao próprio estilo do diretor e o resultado é um cinema anarquista, com várias sequências que tocam na ferida da sociedade certinha e ajustada.

O primeiro encontro do casal é surtadíssimo: Erik pede carona, a ruivinha para o caro, ele pergunta se o cabelo de baixo é da mesma cor que o de cima, em instantes estão fazendo sexo selvagem dentro do veículo, ele prende o pinto no zíper, vão até a casa mais próxima pedir um alicate emprestado e logo depois o carro capota. A partir daí, Verhoeven desenvolve uma aproximação humana que transcende qualquer relação íntima que eu já vi, ao ponto de uma cena como a que Erik examina as fezes com sangue de Olga para tranquilizá-la de que o líquido avermelhado é, na verdade, causado pela beterraba que havia comido na noite anterior e não um câncer como ela, desesperada, suspeitava, seja algo absolutamente afetuoso. Há tanta ternura no ato que até o sujeito de estômago fraco percebe o sentimento, depois do asco.

O problema agora é usar o filme como referência para avaliar qualquer outro cujo tema principal seja a relação de dois pombinhos apaixonados. Difícil superar LOUCA PAIXÃO...

Uma curiosidade, o diretor de fotografia do filme é Jan de Bont, que se apaixonou pela atriz principal e os dois tiveram um longo relacionamento. Diferente de Verhoeven, de Bont não fez nada interessante na sua tentativa de dirigir em Hollywood… Já Verhoeven, como sabemos, é um exemplo perfeito de alguém que conseguiu trabalhar em Hollywood sem deixar de expressar sua visão de mundo, por mais cínica e trangressora que seja.

3.10.10

15 ANOS DE SHOWGIRLS

Estava aqui navegando em alguns blogs gringos e notei a celebração do aniversário de 15 anos de estréia de SHOWGIRLS (1995), do Paul Verhoeven, que aconteceu há poucos dias.
É um caso curioso. Não vou dizer que SHOWGIRLS foi incompreendido na época, porque realmente há muita coisa errada ali, é um filme muito torto. Virou motivo de gozação, ganhou o Framboesa de Ouro, praticamente acabou com a carreira da atriz Elizabeth Berkley e só não acabou com a do Verhoeven porque o sujeito é um dos maiores gênios do cinema dos últimos 40 anos.
Minha relação pessoal com o filme é um pouco melhor. Eu simplesmente ADOREI desde o primeiro momento em que assisti, por volta de 1997, quando loquei um VHS mesmo não tendo idade permitida para isso. Foi uma das experiências mais arrebatadoras que eu já tive, até mais do que alguns outros filmes do próprio diretor e que eu considero melhores. O roteiro, diálogos e atuações podem ser ridículos, mas Verhoeven manda tudo isso às favas e faz de SHOWGIRLS uma das maiores provocações ao moralismo babaca americano! Hoje, o filme tem mais público, principalmente depois que Jacques Rivette declarou seu amor à obra numa entrevista há alguns anos. Continua sendo um dos meus Guilty Pleasure preferidos.


Pela expressão no rosto de Verhoeven percebe-se como as filmagens de SHOWGIRLS foram extremamente difíceis...

1.10.10

THE KILLER INSIDE ME (2010), de Michael Winterbotton


Resolvi dar uma chance ao britânico Michael "botão de inverno" (se bem que, botão em inglês é button, mas deixa pra lá), que dessa vez largou mão do seu estilo habitual “mudernoso” e resolveu tentar fazer um filme de verdade como diretor de cinema. Nada contra quem curte aqueles filmes “hiperrealistas” que ele faz, mas eu acho um pé no saco. Alguém aí conseguiu assistir ao O PREÇO DA CORAGEM, com a Angelina Jolie, pra ficar num exemplo mais recente? Porque eu não passei dos 15 minutos daquela encenação cretina.
Já o THE KILLER INSIDE ME não é nenhum filmaço, mas tem uma abordagem diferente, com cara de filme mesmo, estrutura noir, adaptado de Jim Thompson, com ótima atuação de Casey Affleck no papel de um serial killer, cuja descrição mental é trabalhada de uma forma bem interessante. O filme faz bom uso das paisagens áridas, da boa recriação de época (anos 50) e possui um elenco legal. Não tem como não ser “bão”, mas não passa muito disso, o resultado é oco pra minha cabeça oca. Mas merece, claro, uma certa atenção, porque vá me desculpar pelo spoiler, um filme onde o assassino desfigura a cara da Jessica Alba à base da porrada paga tranquilamente o meu ingresso.

28.9.10

GARRAS DE ÁGUIA (Talons of Eagle, 1992), de Michael Kennedy


Há poucas semanas o Osvaldo Neto deu uma dica preciosa de um site que está queimando o estoque e alguns DVDs originais estão na bagatela de 1,50 cada. Claro que eu não perdi a oportunidade e comprei algumas pepitas a esse precinho, entre eles este “clássico” da golden age dos filmes B americanos de artes marciais que marcaram o final dos 80 e início dos anos 90. GARRAS DE ÁGUIA traz Billy Blanks como um dedicado policial novaiorquino, obviamente especialista em artes marciais, que aceita a perigosa missão de ir a Toronto, no Canadá, juntar forças com um detetive local, ninguém menos que Jalal Merhi, e se infiltrar na organização criminosa por trás do tráfico de entorpecentes, comandada por Mr. Li, vivido por James Hong.



Os dois heróis precisam de alguma forma impressionar Mr. Li, que curiosamente financia um torneio de luta clandestina dentro de um armazém abandonado. Mas não fiquem pensando que vai ser moleza. Antes de entrar no torneio, os protagonistas passam por semanas de treinamento de kung fu com o mestre Pan, interpretado pelo próprio Qingfu Pan, que ensina aos dois o grande estilo das Garras de Águia! Por isso o título, sacaram? Então tá bom… Emulando ROCKY, temos várias sequências de treinamento que basicamente se resumem a vídeo clips, com uma música bacana e os dois sujeitos em diversas situações que fazem parte do ensinamento.


Bom, acaba que o torneio não dura nem 10 minutos e logo Blanks e Merhi já estão contratados para trabalhar no Cassino de Mr. Li, onde funciona também, vejam só que legal, um centro de treinamento de kung fu para bandidos! E como se isso não bastasse, o professor é o alemão Matthias Hues, que ensina seus alunos demonstrando toda sua delicadeza, com direito a chutes na cara e ossos quebrados! Hues “interpreta” o braço direito (e talvez algo mais) de Mr. Li, e desde o momento em que vemos o sujeito em cena, já começamos a imaginar uma luta final entre ele e o Sr. Blanks!
Já infiltrados, os heróis tomam conhecimento de que a garota de Mr. Li, Cassandra (Priscilla Barnes) é, na verdade, uma agente disfarçada também. Agora, só precisam arranjar as evidências de que o sujeito é, de fato, o rei do tráfico canadense para desmascará-lo. O problema é sair com vida do local, o que não vai ser fácil tendo o fortão Hues e um grupo de lutadores no encalço.



GARRAS DE ÁGUIA teve um lançamento discreto nos cinemas do Canadá, mas se deu bem mesmo no mercado de vídeo, assim como a grande maioria dos filmes do gênero. Nota-se que é um filme barato, mas tem um ritmo muito bom. Claro que você precisa ser apreciador deste tipo de tralha, pois para um fã do gênero, até nos momentos parados basta colocar Matthias Hues contracenando com James Hong para ficarmos entusiasmados.



Billy Blanks, por exemplo, é um canastrão de primeira linha, e por isso mesmo é muito divertido vê-lo tentando extrair de si alguma atuação. Já as cenas de lutas são bem legais. Claro que não se deve comparar com as coreografias de um filme de Hong Kong, mas Blanks tem bons movimentos. Inclusive ele ficou famoso depois por ter criado o Tae Bo, um sistema de treinamento derivado de várias artes marciais e dança. O aguardado embate entre ele e Hues é histórico, uma obra prima da truculência no cinema!



E o diretor é um tal de Michael Kennedy, que não dirigiu muita coisa pra cinema, mas deixou algumas pérolas. Seu trabalho aqui até que não foi muito difícil, contanto que não dirigisse como um completo idiota, inventando modinha, bastava colocar uns brutamontes pra brigar em frente à câmera e tudo iria funcionar. E funcionou!
Enfim, queria fazer apenas um breve comentário e acabei me extendendo demais. Ainda nem ressaltei que este filme resultou num dos episódios mais engraçados daquele programa da MTV, Tela Class, na qual os caras do Hermes & Renato editavam e dublavam algumas bagaceiras e transformavam numa grande piada! A MTV já tinha morrido há tempos, mas esse programa era o único que prestava. GARRAS DE ÁGUIA se transformou no GARRAS DE BAITOLA, onde Billy Blanks se chamava Edson, “entende”?! Na trama, Edson era um homossexual que estava a procura de um parceiro. “Eu queria um homem pra eu”, diz na agência de relacionamentos. E Merhi surge como pretendente… é muito engraçado e pode ser visto no youtube.



GARRAS DE ÁGUIA também é hilário, só que involuntariamente. O filme tem falhas de continuidade gritantes, roteiro forçado, atuações medíocres, mas pra quem assim como eu acha que esses meros detalhes não estragam a diversão neste tipo de filme, é recomendadíssimo.