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5.8.25

KEOMA (1976)

 

KEOMA é o canto do cisne do western italiano, o último grande spaghetti, surgindo em um momento em que o gênero declinava. E é inegável que o filme de Enzo G. Castellari está entre os mais ambiciosos, com uma tonalidade profundamente crepuscular e apocalíptica que, do ponto de vista formal, remete aos tempos áureos do gênero, como os clássicos de Sergio Leone, DJANGO, de Sergio Corbucci, e FACCIA A FACCIA, de Sergio Sollima, lançados na década anterior. Embora não seja tão lamacento quanto ao filme de Corbucci, KEOMA abre numa ambientação sombria, centrada em uma cidade fantasma, onde as casas desmoronam sob uma névoa permanente e tempestades de areia frequentes. Castellari reforça essa desolação com uma trilha sonora macabra, na qual o som do vento desempenha um papel crucial.

É nesse cenário que retorna Keoma (Franco Nero), um mestiço de origem indígena que esteve ausente por anos devido à Guerra Civil. Ao voltar, encontra sua cidade devastada por uma epidemia que assola o local, e Caldwell (Donald O'Brien), um tirano auxiliado pelos meio-irmãos de Keoma. Apenas seu pai (William Berger), já velho demais para lutar, e seu amigo George (Woody Strode), um antigo pistoleiro que se tornou alcoólatra, o acolhem de forma positiva. Keoma logo se vê protegendo Lisa (Olga Karlatos), uma jovem grávida, que perdeu o marido, assassinado pelos homens de Caldwell.

E Keoma surge não apenas como um libertador, mas como uma figura messiânica – sua longa cabeleira, a barba espessa e as vestes esfarrapadas reforçam essa iconografia. Ele prega a solidariedade e ajuda seus aliados, como seu pai e George, a reencontrarem sua dignidade para enfrentar o domínio de Caldwell e de seus capangas, incluindo seus meio-irmãos que sempre o rejeitaram. O enredo, ainda que familiar, é eficaz no embate moral entre Keoma e seus antagonistas, além de ressaltar a força dos oprimidos que se levantam contra a tirania, evocando tanto DJANGO quanto RIO BRAVO, de Hawks, e até mesmo a obra de Peckinpah.

Os atores são excelentes, mas a verdadeira singularidade do filme reside em sua abordagem mística, quase fantástica. Logo na introdução, Keoma encontra uma velha bruxa que reaparece ao longo da trama como uma espécie de profetisa do infortúnio. As sequências de combate são carregadas de estilização, com Castellari abusando de um slow motion dramáticos. O tiroteio perto do final está dentre os melhores da carreira do diretor. E Castellari leva a tragédia aos limites, culminando em uma cena de crucificação de Keoma, visualmente bela.

O filme também intercala inúmeros flashbacks que explicam sua relação com George, seu pai e seus irmãos, em sacadas temporais que por vezes remetem a Bergman. Detalhes que transcendem Keoma ao sublime e enfatizam sua permanência como um dos últimos, senão o último, western spaghetti digno de nota e reafirma Franco Nero como um dos maiores atores da era dourada do cinema italiano.

26.8.13

THE HOST (1960)


Jack Hill já havia  dirigido algumas cenas de THE WASP WOMAN (59) para o seu mentor, Roger Corman, quando este precisou prolongar a duração do filme. O futuro diretor de SPIDER BABY nem chegou a ser creditado. A produção que marca a estreia oficial de Hill na direção é THE HOST, um curta metragem em preto e branco realizado quando ainda era estudante da UCLA e bem antes de se tornar um dos grandes mestres do exploitation americano.

Um fugitivo da lei encontra no México uma cidade antiga aparentemente abandonada. Entra para beber água e quase leva um tiro. Descobre que existe uma pequena população vivendo por lá e um espanhol que achou um tesouro no local e precisa roubar um cavalo para fugir. Persuadido por uma bela habitante, o fugitivo acaba matando o espanhol e se torna um Deus. Quando descobre, também, onde o tesouro se encontra, decide ir embora levando tudo consigo. Mas é tarde. Já levaram seu cavalo. I Don't want to be a god!!! - grita desesperado o sujeito nas últimas palavras ecoadas no filme.


Quem faz o papel principal é ninguém menos que Sid Haig, que se tornaria um dos ícones do cinema independente de gênero. Também fazendo aqui seu debut. Em THE HOST Haig e Jack Hill iniciaram uma parceria que teria ainda outros sete clássicos do B movie americano. Sobre a direção de Hill, não há muito a dizer. É um típico trabalho de estudante, feito com orçamento apertado e restrições de produção. Mas pelo menos não é chato, possui algumas soluções visuais interessantes e Haig já demonstra certo talento na sua performance... Mas THE HOST vale mesmo como curiosidade, poder conferir essas figuras em atividade aprontando no início de suas carreiras.


Um fato pitoresco é que na época Francis F. Coppola era colega de sala de Jack Hill. E rola umas histórias de que este curta teria inspirado o terceiro ato de APOCALYPSE NOW... Se forçar bastante, quem sabe? Claro, há o óbvio fato do estrangeiro que se torna Deus de um povo estranho. Mas as circunstancias são muito diferentes... Pode ser só coincidência. Enfim, THE HOST saiu como extra no DVD de SWITCHBLADE SISTERS, outra pérola de Jack Hill.

15.8.13

SETE HOMENS E UM DESTINO, aka The Magnificent Seven (1960)


Dizem que Akira Kurosawa se inspirou nos faroestes americanos de John Ford, Budd Boetticher, Delmer Daves, Howard Hawks e outros ao realizar o seu clássico OS SETE SAMURAIS. Por sua vez, John Sturges baseou-se no filme de Kurosawa para realizar o western SETE HOMENS E UM DESTINO. Assisti pela primeira vez quando ainda era moleque e não achei grandes coisas. Revendo hoje acabou se mostrando bem mais interessante por conta da maneira como o filme desmistifica um pouco a áurea dos heróis justiceiros do faroeste americano com reflexões sobre a solidão e o modo de vida desses indivíduos. Algo que eu não havia pescado na infância, interessado apenas em ver pessoas atirando uma nas outras...

Outros westerns já haviam trabalhado esse assunto, portanto, nada de muita originalidade por aqui. Mas o fato é que SETE HOMENS E UM DESTINO deixa de ser apenas um bang-bang de aventura para ser, também, um excelente estudo de personagens. E estes são interpretados por um elenco dos mais notáveis, o que contribui muito para que o espectador não desgrude o olho da tela. SETE HOMENS E UM DESTINO ajudou a alavancar as carreiras de Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn e Robert Vaughn. Conta também com atores experientes, do calibre de Yul Brynner e Eli Wallach. O primeiro, já naquela altura, possuía status de celebridade.



Com toda essa turma reunida, são curiosas algumas, digamos, fofocas de bastidores. McQueen, por exemplo, ávido por mais presença, queria se tornar um astro o mais rápido possível e tentava roubar as cenas de Brynner fazendo coisas que chamassem a atenção para si quando contracenava com o careca. Já Brynner estava preocupado em aparecer bem mais alto que McQueen nos enquadramentos (os dois tinham praticamente a mesma altura). O sujeito chegou a fazer um montinho de terra para ficar em cima, mas McQueen chutava “sem querer querendo” toda vez que passava por ele...


Confrontos de egos à parte, todos estão ótimos e cada um conseguiu transmitir com personalidade as características definidas particularmente para seus personagens. Coburn caladão, sempre na dele, Vaughn medroso traumático, Bronson durão de coração mole, e por aí vai... É bacana também as habilidades específicas de alguns deles, especialmente Bronson, que é um exímio atirador com o rifle, e Coburn, um perito em facas. A divisão na hora de editar as sequências de ação também concede a cada um algumas boas cenas. Nisso John Sturges era muito bom, algo que se comprovou em outros filmes, sobretudo em FUGINDO DO INFERNO (63), clássico que também tinha o trio Bronson, McQueen e Coburn no elenco. Além de uma porrada de outros atores.


Sturges é o que podemos chamar de bom artesão. Não se pode esperar a elegância e maestria de um John Ford ou Don Siegel, mas fazia o que tinha que fazer com muita eficiência. Nesse sentido, as sequências de ação acabam em segundo plano. São filmadas de maneira correta, mas com poucos momentos de maior destaque. Uma das cenas que eu chamaria atenção é quando Robert Vaugh finalmente perde o medo e resolve entrar na ação invadindo uma casa cheia de bandidos.


Mas perguntem a algum fã do filme se ele sente falta de tiroteios mais elaborados. A construção dos personagens, a maneira como interagem, como são desmitificados, até a trilha sonora de Elmer Bernstein, são elementos suficientes para transformar SETE HOMENS E UM DESTINO no autêntico clássico que é. E a história é fascinante. Com uma duração bem menor que a de OS SETE SAMURAIS, há quem diga que os realizadores pegaram somente as “partes boas” do filme do Kurosawa e transformaram neste aqui. Recomendo uma espiada em ambos para as devidas comparações e tirarem suas próprias conclusões.

Curiosidade: Dos principais atores que compõem o elenco, apenas dois ainda estão vivos. Robert Vaughn, com 80 anos, e Eli Wallach, com seus 97 anos bem vividos.

9.8.13

MAIS FORTE QUE A VINGANÇA, aka Jeremiah Johnson (1972)


O que dizem os escritos sobre o verdeiro Jeremiah Johnson, um sujeito que decidiu abdicar-se do mundo civilizado para descobrir os mistérios da vida na natureza, caçando animais e enfrentando índios, frio e solidão, é que acabou se tornando um bárbaro assassino comedor de fígados de peles-vermelhas... Lenda ou não, daria um bom exploitation um filme que explorasse essa característica. Ou, nas mãos de um poeta da violência como Peckinpah, poderia render uma obra, digamos, diferenciada. E, de fato, o diretor de STRAW DOGS realmente foi cotado para dirigir MAIS FORTE QUE A VINGANÇA, cujo roteiro é do grande John Milius e teria Clint Eastwood no papel de Johnson.

Provavelmente por conta do álcool e outros entorpecentes, Bloody Sam acabou de lado - como vários outros projetos que o mestre não conseguiu se firmar - e Sydney Pollack ocupou a cadeira de diretor. Robert Redford, no fim das contas, foi quem encarnou o personagem do título original. O roteiro de Milius se manteve, mas aposto que o filme acabou suavizado... Não que isso seja um problema. MAIS FORTE QUE A VINGANÇA segue outra linha. É uma aventura contemplativa e reflexiva, um belíssimo western histórico que conta com um personagem magnífico, cuja vida retratada aqui, independente do grau de violência mostrada na tela, é simplesmente fascinante.


Nunca sabemos os motivos que levaram Johnson a abandonar tudo. Sabemos apenas que foi soldado e há indícios de desilusões com o ser humano, mas seu passado é misterioso. Acompanhamos o protagonista a partir do momento que decide encarar a hostilidade da natureza. Mas seus primeiros passos como homem das montanhas não é fácil e é interessante vê-lo passando maus bocados em situações que dialogam com os clássicos embates "homem vs natureza", na qual diretores como Werner Herzog transformariam em temas fundamentais.

Em determinada altura, algumas figuras entram no caminho de Johnson, como um velho caçador de ursos que lhe dá algumas dicas, mas especialmente um garoto, sobrevivente de um massacre cometido por índios, e a filha de um cacique com quem se casa. Quando decide criar raízes num local, construir uma cabana, e experimentar uma vida em família, o filme mostra que não importa muito o ambiente que ocupamos, seja na vida selvagem da floresta, numa cidade civilizada, numa montanha gelada ou numa cabana quentinha, merdas acontecem.


A partir daí, a trama poderia virar o banho de sangue que fico imaginando nas mãos de um Peckinpah. Tornaria a narrativa mais movimentada, teríamos sequências de ação deflagradoras, mas provavelmente perderíamos a ideia de odisseia intimista e a reflexão sobre a solidão, sublinhada pelas imagens de Jeremiah Johnson isolado no meio das paisagens. Ou talvez não. Mas como não dá pra ter certeza, ficamos na especulação. O que podemos é elogiar o que temos de concreto. O trabalho de locação, por exemplo, o visual das panorâmicas são de encher os olhos!


E é claro que de vez em quando a necessidade de ação surge na trama, como na cena em que, de fato, Johnson age com o olhar embaçado pela vingança, armado com duas espingardas, em direção a um bando de índios.

Vale destacar o desempenho de Robert Redford, que encarou o frio das montanhas durante as filmagens. Não utilizou dublês nem nas cenas em que aparece distante. Mas isso é detalhe, o ator realmente consegue dar alma ao personagem com muita força e expressividade. Digna de nota também é a direção de Sydney Pollack, sujeito que eu nem gosto muito, mas que conseguiu imprimir personalidade neste aqui. Três filmes do Pollack que considero obrigatórios desse período: A NOITE DOS DESESPERADOS, o casca-grossa OPERAÇÃO YAKUZA e, claro, MAIS FORTE QUE A VINGANÇA. Preciso rever O DIA DO CONDOR...

Para finalizar, umas das coisas mais legais sobre este filme é a quantidade de cartazes e artes alternativas bacanas que ele possui espalhados na rede, incluindo com o sensacional título italiano CORVO ROSSO NON AVRAI IL MIO SCALPO!:

 
 

  

26.1.13

DJANGO LIVRE (Django Unchained, 2012)


Se tem uma coisa que ainda aprecio no cinema do Tarantino, além do seu próprio talento como fazedor de filmes, é a brincadeira de pescar referências, por mais que toda gente já esteja de saco cheio disso! Gosto de perceber as coisas, encontrar o significados de alguns itens espalhados pelos filmes e descobrir de onde vieram a partir da cultura cinematográfica do diretor.

Nesse quesito, DJANGO LIVRE foi um prato cheio. Diverti-me à beça ligando os créditos iniciais e o nome do personagem principal a um spaghetti western de 1966, dirigido por Sergio Corbucci; o mesmo western interpretado por um italiano que atende pelo nome de Franco Nero e que faz uma ótima participação por aqui; ou o tema dos escravos lutadores nos faz lembrar de MANDINGO, de Richard Fleischer; o corcunda que aparece rapidamente por causa do personagem de Klaus Kinski em POR UNS DÓLARES A MAIS, de Sergio Leone; ou que os protagonistas vão para uma região coberta de neve apenas para fazer alusão ao spaghetti IL GRANDE SILENZIO, também do Corbucci; e que Samuel L. Jackson não consegue terminar sua derradeira frase só porque o Tuco (Eli Wallach) também não consegue em TRÊS HOMENS EM CONFLITO, de Leone... etc, etc, etc... não me canso disso.



A trama de DJANGO LIVRE não é preciso comentar, pois vocês já devem saber. Para estarem lendo isso aqui com certeza vocês já devem ter conferido a obra, afinal, é Tarantino... Ninguém vai ler uma resenha de um filme dele antes de assistir, não é? Você meio que já sabe o que esperar, ao mesmo tempo não faz a menor ideia do que vai ser e sabe que vale a pena esperar para descobrir no momento da projeção. Bem, pulemos a descrição do enredo e comecemos com uma rasgação de seda de 90% de DJANGO LIVRE.

O filme tem uma duração total de 2 horas e 45 minutos. Dentro desse tempo, aproximadamente 2h20m passaram voando, achei simplesmente maravilhoso! É o primeiro longa linear do Tarantino, sem tramas paralelas nem personagens que precisam de flashbacks em desenho animado, etc. Da abertura ao desfecho, acompanhamos o mesmo personagem. Tudo sob um domínio de ritmo e visual impressionante que me absorveu completamente, marcado pelos habituais diálogos espertos e afiados; personagens bem construídos; uma trilha sonora eclética que funciona como uma sinfonia; doses cavalares de humor...

A partir do momento em que surgem na tela aquelas rochas amarronzadas e os créditos em vermelho, ao som do tema do DJANGO original, eu abri um sorrisão que durou muito tempo... DJANGO LIVRE é filme pra se ver sorrindo, soltando algumas gargalhadas de vez em quando, como na cena pré-KKK, que parecia mais um esquete do Monty Phyton. Enfim, são duas horas e vinte de cinema grande, da mais pura qualidade.


Méritos também ao elenco. Christoph Waltz e Jamie Foxx são o coração do filme. Não acho Foxx um ator espetacular, mas quando bem dirigido demonstra segurança. E sabe se fazer de badass! Agora, o Waltz, que ator magnífico! Rouba completamente o filme para si e transforma o próprio Django num mero coadjuvante. Mais uma vez Tarantino lhe presenteou com um papel incrível, da mesma forma que em BASTARDOS INGLÓRIOS. Mas bem diferente também. Um caçador de recompensas europeu, nos moldes de outro personagem de Franco Nero, o traficante de armas sueco de VAMOS A MATAR COMPAÑEROS!, outro filme excelente de Sergio Corbucci. Sentimental, humano e correspondido por Waltz com um desempenho de encher os olhos.


A coisa fica melhor ainda quando surge em cena o personagem de Leonardo Di Caprio, que também dá um show. Os dois contracenando é um duelo magnífico de diálogos bem sacados, é um puta tour de force quando estão juntos. São vários momentos marcantes, para entrar no hall de boas cenas da filmografia do Tarantino, como o monólogo do Di Caprio manuseando um crânio. O diálogo final entre ele e o Waltz também é uma coisa linda.



Samuel L. Jackson é outro destaque, está impagável fazendo um personagem sinistro e ao mesmo tempo engraçadíssimo. E como Tarantino é mestre até em reunir atores de alto calibre, temos participações de Don Johnson (que está ótimo), James Remar (em papel duplo), o já citado Franco Nero, James Russo, Don Stroud, Bruce Dern, Jonah Hill, Lee Horsley, Robert Carradine, Tom Savini, Walton Goggins, e vários outros.

DJANGO LIVRE não tem muitas sequências de ação. Claro que não faltam tiros, violência, contagem alta de corpos, cachorros estraçalhando um escravo, uma sangrenta luta entre mandingos... Mas uma sequência de tiroteio bem arquitetada, temos apenas uma. Mas é uma para arregaçar! DJANGO LIVRE, para quem não notou ainda, é um western, um gênero que às vezes a coisa é mais interessante pela maneira na qual os personagens se preparam para sacar um revolver do que realmente atirar. Mas quando James Foxx resolve mandar chumbo grosso para cima dos capangas do Di Caprio, Tarantino devia estar muito inspirado e disposto em criar o tiroteio de faroeste mais definitivo do mundo! Não chegou nem perto, é claro, mas conseguiu criar uma sequência magnífica em termos de ação. Um espetáculo de balas e sangue estilizado jorrando "pra tudo quanté lado", com todos os elementos em cena precisamente coreografados, inclusive o sangue e as balas... A maneira como o ambiente fica pintado de vermelho me fez pensar da mesma forma que o meu amigo, Osvaldo Neto: Tarantino é o Pollock do cinema.








E, bem, essa cena de ação termina justamente ao final das 2h e 20, uma das melhores coisas que o Tarantino já filmou. Os 25 minutos seguintes, um prolongamento do final, tem um propósito bem definido, compreensível, mas infelizmente não consegue ter a força que DJANGO LIVRE tinha até então. Não é questão de ser um final desnecessário. Serve para mostrar que Django evoluiu e agora pode agir e tomar decisões sozinho. O problema, para mim, é a maneira na qual isso tudo é explorada. A sequência que o herói é mantido preso e convence que o libertem em troca de dinheiro, com o papo furado da recompensa, é uma solução muito fácil para um roteirista que tinha construído 90% de um filme extremamente inteligente. Claro que algumas coisas justificam, como ter o próprio Tarantino sendo explodido, mas ao mesmo tempo temos que aguentar Foxx fazendo gracinha em cima do cavalo, que eu achei um troço extremamente ridículo. No fim das contas, meu veredito é que DJANGO LIVRE  é mais um filmaço do Taranta. Isso é fato. Mas o sujeito perdeu uma grande chance de deixar o filme ainda melhor, tudo por causa deste final estendido, que não estraga a diversão, não é ruim, mas não consegue manter o nível.

Sobre temas polêmicos de escravidão, política, etc, não esperem nada por aqui. Me dá uma preguiça só de pensar. E sei que muita gente tem tratado o filme por esse lado, o que acho uma besteira. A intenção do Tarantino era de fazer um western com um herói negro, apenas isso. A escravidão é consequência dramática, não tenho porque ficar procurando mensagens, significados e pêlo em ovo...

27.11.11

KEOMA (1976)

KEOMA deve ter sido o meu primeiro Spaghetti… ou será que foi TRÊS HOMENS EM CONFLITO? Não importa, a verdade é que esse filme marca a infância de qualquer moleque com um mínimo de interesse na sétima arte. Não que eu tivesse muita consciência deste interesse na época, mas até hoje me lembro daquela VHS da Poletel que meu velho alugou numa sexta feira no fim dos anos oitenta.

Na época em que KEOMA foi realizado, o spaghetti western já tinha esfriado. O ciclo já não rendia algo interessante há tempos, mas mesmo assim, a dupla Enzo G. Castellari e Franco Nero, que já haviam trabalhado juntos antes em uns três filmes, estavam convictos e centrados em realizar um projeto de faroeste, mas não qualquer faroeste, eles sentiam que KEOMA seria algo maior, e foram em frente na tentativa de arranjar financiadores.

Depois do sinal verde para a produção, o roteiro final só chegou nas mãos de Castellari três dias antes de começarem as filmagens. Ele próprio e Franco Nero não gostaram do que leram. Castellari diz em uma entrevista que jogou tudo fora e sem tempo pra reescrever começou a elaborar as cenas no dia a dia das filmagens, deixando as suas principais inspirações sublinharem a narrativa. De Ingmar Bergman à Sam Peckinpah, as influências foram absorvidas naturalmente e o resultado não poderia ser diferente: KEOMA foi um sucesso e se tornou um símbolo do Spaghetti Westen.

Todo mundo já deve conhecer a história, que é tratada em tons de tragédia clássica. Pra começar, Keoma (Franco Nero) é um mestiço, filho de uma índia com um fazendeiro branco. Após retornar da guerra civil, ele encontra a região onde vivia sendo comandada por Caldwell (Donald O'Brien). Como sabemos que isto aqui é um faroeste, não preciso nem dizer que tipo de sujeito é esse Caldwell, não é mesmo? Mas as coisas pioram quando Keoma descobre que seus três meio-irmãos (que sempre lhe trataram muito mal) estão do lado do facínora, para a desgraça do pai de todos eles, vivido por William Berger.


No elenco, ainda temos Woody Strode, Olga Karlatos, e uma série de figuras sempre presente nas produções populares do cinema italiano. Mas o grande nome do filme não poderia ser outro: Franco Nero, com uma atuação sólida e expressiva, provavelmetne a minha favorita de sua longa carreira.

Um dos grandes méritos de KEOMA é conseguir agradar tranquilamente os fãs do Western bruto, mais movimentado, e também aqueles que procuram algo com mais substância, e o que não falta por aqui são elementos filosoficamente dramáticos. E como de costume, a direção de Castellari constitui de algo absurdamente magistral. É de fazer chorar qualquer amante do cinema, desde os enquadramentos expressivos, as sacadas de montagem e, claro, as sequências de ação e tiroteios fazendo uso da câmera lenta ao melhor estilo Peckinpah.


Agora, vocês podem não concordar, até porque é apenas a minha opinião e estou aberto à boa e velha discussão, mas que KEOMA merecia uma música tema mais decente, eu acho que merecia. Não que eu não goste da que está lá, é muito marcante e até funciona. Mas se o visual colhe com êxitos momentos notáveis durante todo o filme, onde será que estava o Morricone pra fechar este spaghetti western crepuscular de forma sonoramente brilhante?

16.10.11

CANNIBAL! THE MUSICAL (1993)


Outro filme sugerido para o mês de horror aqui no blog foi este CANNIBAL! THE MUSICAL… er, embora não se enquadre muito bem ao gênero. Na verdade, foi realizado pelos criadores do desenho South Park, a dupla Trey Parker e Matt Stone, então seria um equívoco esperar algo sério por aqui, mas isso pouco importa! O filme é delicioso, estranho, engraçado e com altas doses de gore! As filmagens aconteceram quando os dois dementes ainda eram alunos do curso de cinema na Universidade do Colorado e algum tempinho depois a produtora Troma resolveu lançar essa tralha pelo mundo à fora.

E fizeram um bem danado! Lembro que perdi a chance de comprar o DVD quando fui na Master Class do Lloyd Kauffman em São Paulo, porque, se não estou enganado, o Felipe M. Guerra pegou o último exemplar que tinha à venda e eu acabei tendo que me contentar com o obscuro DEF BY TEMPTATION, que também deve ser uma maravilha… tem o Samuel L. Jackson no elenco e é dirigido por um cara chamado James Bond III!!! Quando eu der uma espiada, eu comento por aqui.


Mas voltando ao CANNIBAL, trata-se de um bizarrento musical que mistura elementos verídicos da história americana, western, aventura e, claro, antropofagia, como o título já indica, com direito à várias sequências grotescas de violência trash. O enredo segue a jornada de Alfred Packer, um ingênuo cowboy, com uma paixão animalesca por sua égua, que acaba se transformando no guia de uma expedição de seis homes em busca de ouro pelos confins dos Estados Unidos. Durante o percurso, uma galeria de personagens hilários cruza o caminho do grupo e várias atribulações comprometem a missão. O problema é que Packer é o único a retornar com vida da jornada e acabam lhe acusando de comer, literalmente, seus companheiros de viagem.


Momento desabafo: acho que o gênero comédia, de uma forma geral, se tornou um troço meio intragável a partir de determinado período, quando o politicamente correto parece ter virado um consenso. Por isso é sempre legal celebrar uns exemplares libertos, ácidos e com personalidade, como CANNIBAL, filme sem grandes pretensões, mas com um humor peculiar e ousadia de sobra! Uma pena Parker & Stone terem feitos  poucos trabalhos para cinema...

Parker, em especial, é um talento fora do comum e em CANNIBAL ele escreve o roteiro e todas as canções, dirige, estrela com muita desenvoltura e até empresta a sua voz nas cenas de cantoria. Matt Stone também dá a sua contribuição como produtor, roteirista e interpreta um dos caçadores de ouro. O resto do elenco é quase todo formado por amadores e mandam muito bem… inclusive Stan Brakhage também marca presença. Sim, o mestre do cinema experimental era professor da dupla na época. Tenho a impressão de que não era bem isso aqui que o sujeito esperava de seus aplicados alunos.

3.7.11

MATE TODOS ELES E VOLTE SÓ (1968)

... aka Ammazzali tutti e torna solo
... aka Kill Them All and Come Back Alone


Filme que fecha um primeiro ciclo de Spaghetti Westerns do diretor Enzo G. Castellari, que se arriscaria em outros gêneros nos dois trabalhos seguintes antes de voltar ao faroeste. Mas não sei, pode ser impressão minha, me pareceu que o diretor já estava meio de saco cheio de trabalhar com os elementos do gênero, ou de contar uma história bem inserida neste universo do “bang bang”, e escreveu, em parceria com Tito Capri e Joaquim Romero Marchent (diretor de um dos westerns italianos mais violentos que se tem notícia: CONDENADOS A VIVIR), uma historinha sem muita substância sobre um grupo de mercenários, liderados pelo ótimo Chuck Connors, contratados para roubar um milhão de dólares que se encontra dentro de um forte do exército da união, em plena guerra civil americana. Sem optar por explorar os personagens, conflitos psicológicos, aprofundar de forma dramática no tema da traição que acontece bastante na trama, MATE TODOS ELES E VOLTE SÓ acaba tendo um plot bem básico, que beira ao simplório…




Em compensação, o que temos aqui em termos de ação é algo extraordinário! O filme pode muito bem ser resumido como uma sucessão de sequências frenéticas e exageradas de tiroteios, explosões, pancadarias, tudo muito bem orquestrado pelo diretor que se especializou neste tipo de coisa. Não é a toa que consideramos Castellari entre os grandes mestres do cinema de ação ao lado de John Woo, Sam Peckinpah, John Flynn, etc… E se não temos aqui personagens profundos, ao menos cada um deles tem sua especialidade voltada para ação (o atirador de facas, um grandalhão fortão, um acrobata e até um especialista em explosivos que carrega uma bazuca!!!). No elenco, temos várias figuras reconhecíveis no faroeste italiano, mas sem grandes destaques em desempenhos, com exceção de Connors e do já frequente colaborador de Castellari, Frank Wolff.

Talvez com um pouco mais de atenção a certos detalhes no roteiro, trama e personagens, teríamos uma obra prima. Mas do jeito que está MATE TODOS ELES E VOLTE SÓ já se torna obrigatório como um dos Spaghetti Westerns mais movimentados e recheados de ação que eu já vi!