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2.12.12

KILLING THEM SOFTLY (2012)


E estreou o KILLING THEM SOFTLY, que estava a fim de conferir há tempos. Motivos não faltavam. É do mesmo diretor do western poético O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD (ufa); o roteiro é baseado num autor que eu curto; e tudo indicava que o tema iria envolver máfia, crime, assassinato, essas coisas que sempre me despertam o interesse.

No Brasil, recebeu o título O HOMEM DA MÁFIA. Aqui em Portugal, uma tradução mais literal: MATE-OS SUAVEMENTE. Achei bem melhor, diga-se de passagem. Mas não importa, a experiência é a mesma, ou seja, trata-se de um puta filme de crime, bastante perspicaz, que carrega um subtexto político bem relevante. A história transcorre na época da eleição presidencial americana de 2008, quando os EUA estavam atravessando uma delicada situação financeira. De alguma forma os personagens que habitam KILLING THEM SOFTLY são uma representação do próprio governo americano (ou, literalmente, fazem parte desse governo), também lidando com uma crise financeira, com a diferença de que nesse universo a coisa pode ser resolvida à base de chumbo grosso.

Foi inspirado num romance de George V. Higgins, que possui outro livro adaptado para as telas de cinema, OS AMIGOS DE EDDIE COYLE, um filmaço estrelado pelo Robert Mitchun e dirigido pelo Peter Yates (e que eu já comentei aqui no blog). Não vale a pena divulgar tanto sobre a trama de KILLING THEM SOFTLY. É daqueles filmes que será melhor degustado tendo o mínimo de informação possível. Se alguém por aí ainda não viu, não deveria estar lendo isso aqui... Whoops!


Mas já que estamos aqui destaco a maravilha que é o elenco. Não há exatamente um protagonista, apesar do Brad Pitt estampar várias artes promocionais. Na verdade, a coisa aqui funciona na base dos duelos magistrais de interpretação, contando com umas figuras simpáticas que gostamos de ver em cena, como Richard Jenkins, Ray Liotta, James Gandolfini, o próprio Brad Pitt pagando de bad-ass e outros. Além de uma rápida participação de Sam Shepard. O filme transpira a precisão narrativa de Dominik, discípulo de Terence Malick, que abusa da presença desses atores magníficos, um roteiro cheio de longos diálogos interessantes, texto sensacional, e de um visual muito bem elaborado que cria planos maravilhosos e várias cenas antológicas.

Os eventuais assassinatos, por exemplo, acontecem exatamente como o título sugere. De maneira suave. Mas de extrema violência! Uma violência belíssima de se ver. A sequência da execução que ocorre no semáforo, em câmera lenta e música de fundo, é simplesmente sublime. DRIVE já começou a deixar seus vestígios... Mas a grande sacada de KILLING THEM SOFTLY são os GENIAIS cinco minutos finais, quando todo o subtexto político finalmente se revela com clareza e a porrada pega em cheio... Nem preciso dizer que é altamente recomendado, não é?

9.8.12

THE MISSION (1999)

Eu sempre tive na minha cabeça que EXILADOS, de 2006, fosse uma continuação de THE MISSION, devo ter lido isso em algum lugar ou alguém me falou nessas discussões de cinema nas internets da vida. Nada melhor que conferir para poder afirmar que, na verdade, os filmes não possuem ligação, a não ser o fato de ambos terem os mesmos atores, o mesmo universo do crime envolvendo a Tríade e, o mais importante, é que são dois exemplares bons pra burro dirigidos pelo mestre Johnnie To (embora EXILADOS seja melhor)!

THE MISSION é um thriller de ação construído com a precisão típica de To. Após milagrosamente sair com vida de uma emboscada realizada por um grupo rival desconhecido, um chefão da Tríade e seu irmão (Simon Yam) decidem recrutar alguns pistoleiros aposentados como guarda-costas. São várias figuras improváveis, que só sabemos que darão conta do recado porque já os vimos em ação em outros filmes.


Temos um cabelereiro (encarnado por ninguém menos que Anthony Wong), um cafetão, um barman, um gordinho que adora amendoim, e por aí vai… É praticamente o mesmo time de EXILADOS, por isso a confusão que alguns fazem taxando-o de continuação. E apesar da atual ocupação de cada um, essa turma não brinca em serviço. E sob as câmeras de Johnnie To, algumas sequências de ação se transformam em belas exibições de coreografia. Não tão expressionistas quanto as de EXILADOS, SPARROW ou VENGEANCE, cujas cenas de tensão parecem números musicais, mas aqui já chama a atenção pela forma única na qual Johnnie To filma tiroteios.



A sequência acima, que transcorre dentro de um shopping vazio, demonstra claramente isso. É como se o tiroteio não precisasse dos tiros. Apenas os sujeitos se movimentando nos enquadramentos ou esperando o momento certo de atirar, enquanto To dá uma aula de edição, movimentação de câmeras e mise-en-scène, são suficientes para aumentar a adrenalina do espectador. Tudo isso embalado numa trilha sonora de sintetizadores que deixa tudo ainda mais interessante.


E apesar dessa maestria toda em desenvolver cenas de ação, a prova final de que To é um dos grandes gênios nessa arte de fazer filmes é na singela cena em que os cinco guarda-costas estão esperando o chefe do lado de fora da sala de reunião, no escritório, e começam a brincar de chutar uma bolinha de papel. Até os mais carrancudos chutam de volta quando a bolinha pára perto dos seus pés. Até que o chefe aparece e, subitamente, eles desaparecem com a bolinha! É de uma naturalidade tocante, a desglamurização do capanga da máfia, desses momentos que colocam Johnnie To acima da grande maioria no cinema atual.

E THE MISSION tem apenas 95 minutos de duração, mas podia ter duas horas e meia que não faria diferença, é uma delícia de se ver… já o novo BATMAN… putz.

4.5.12

MISSÃO PERIGOSA, aka Avenging Angelo (2002)

Quem olha esse cartaz com o Stalone fazendo cara feia e apontando uma arma, corre o risco de pensar que se trata de um pequeno filme de ação obscuro e pouco comentado, que talvez mereça uma redescoberta ou algo do tipo. Na verdade, MISSÃO PERIGOSA  está longe disso e se não foi redescoberto, espero que continue assim! O filme não passa de uma comediazinha romântica das mais cretinas, não muito diferente dessas coisas horrorosas estreladas pela Sandra Bullock ou Jennifer Aniston e algum galã da atualidade… argh! Ou talvez seja pior!

Lembro quando chegou nas locadoras e, na época, não tive a mínima vontade de ver, mas como admirador do Stallone, quero conferir TUDO que o sujeito já fez. O problema são essas bagaceiras realizadas numa certa fase negra, início da década passada, e que antecede o maravilhoso ROCKY 6 (que colocou o Stallone de volta nos eixos). São três ou quatro exemplares, no máximo, mas cada um de dar vergonha alheia... alguém se lembra daquela produção no qual o Sly é piloto de corrida?! Aquilo é o cúmulo do ridículo para quem é ícone de toda uma geração fanática pelo cinema de ação oitentista.

E já que perdi meu tempo vendo essa baboseira, vou perder mais ainda escrevendo algumas palavras que deve servir de alerta ao fiel amigo leitor que ainda não assistiu a porcaria que temos aqui. A trama é centrada na personagem da Madeleine Stowe, uma ricaça meio maluca que descobre que é filha de um mafioso (Anthony Quinn) assassinado recentemente e agora possui um guarda costa (Stallone) 24 horas na sua cola para protegê-la de outros mafiosos. Aos poucos, ele se apaixona por ela e… putz, o sujeito devia estar realmente precisando de dinheiro pra entrar numa dessa.


MISSÃO PERIGOSA aposta exatamente na interação e química dos protagonistas, que passam o filme inteiro dentro de uma mansão conversando bobagem, tentando criar situações engraçadas e falhando enormemente nesse sentido. Todas as fórmulas patéticas das comédias românticas “água com a açúcar” estão lá, só que com um ator do calibre do Stallone marcando presença pra enganar a moçada, atrair marmanjos que esperavam algo totalmente diferente. O cartaz e o título nacional não ajudam em nada.


E o pobre Anthony Quinn, coitado, décadas de dedicação ao cinema, entregando memoráveis atuações em clássicos de grande importância, acabando a carreira nessa fita vagabunda. As filmagens ainda aconteciam quando o ator morreu. Lastimável… Depois dessa, só revendo algum RAMBO, ROCKY ou COBRA para me desintoxicar… e pensar que ainda não assisti a refilmagem de GET CARTER, estrelada pelo Sly! Ui!

29.1.12

OS INTOCÁVEIS, aka The Untouchables (1987)

Assisti a uns filmes bem legais esta semana para comentar aqui no blog, mas não tive tempo ainda para escrever. E não, ainda não vi outro Castellari, mas fiquem tranquilos que em breve eu posto mais do italiano. Hoje revi este filmaço do Brian De Palma e decidi arriscar algumas palavras. De Palma é um dos meus diretores americanos preferidos ainda em atividade e é sempre interessante dissertar sobre seus filmes – se é que o sujeito ainda está realmente em atividade, só acredito nisso quando PASSION, seu próximo filme anunciado, estiver em fase de pós produção.

Enquanto isso, ficamos com as maravilhas que já realizou durante a carreira, como é o caso de OS INTOCÁVEIS, sobre o incorruptível agente do Tesouro, Eliot Ness, que trava uma batalha contra o execrável gangster Al Capone durante a Lei Seca americana e blá, blá, blá…

O enredo é bastante conhecido por todo mundo e já foi diversas vezes explorado em filmes e séries, mas não significa que tenha deixado de ser interessante. Além do belo roteiro, escrito por David Mamet, a grande proeza de OS INTOCÁVEIS está na eloquente e estilosa direção de De Palma, além da colaboração de alguns monstros da atuação, como Robert De Niro e Sean Connery e os jovens Kevin Costner, Andy Garcia e até Billy Drago. Trilha sonora marcante de Ennio Morricone, impecável direção de arte e fotografia, não poderia sair nada menos que um autêntico clássico daqui!

O Capone de Robert De Niro é algo simplesmente extraordinário. Bons tempos quando o ator podia fazer apenas umas cinco ou seis aparições num filme e ainda assim surpreender a cada cena. O sujeito leu todas as biografias de Capone, viu todos os filmes sobre o cara e conferiu ainda documentários da época para compor o personagem.


O resultado está na tela em cada gesto, cada olhar, cada sorriso, já vi esse filme umas quinze vezes e toda vez fico espantado com o desempenho do De Niro. Ao mesmo tempo que inspira simpatia, fazendo seus “capachos” rirem com suas piadas, o sujeito é totalmente brutal, como na impactante cena da explosão de ódio com um taco de baseboll na mão. Deve ser o Capone definitvo do cinema, não?

O fato é que Capone é um total contraponto do bem absoluto personificado no Eliot Ness de Kevin Costner, que não é ator que guardo muita admiração, mas até que se sai bem como o herói bonzinho. Já o velho Sean Connery é outro nível e mereceu o seu Oscar de coadjuvante pelo seu trabalho impecável em OS INTOCÁVEIS.


O sujeito faz o papel de Jim Malone, um correto guarda de rua prestes a se aposentar e por isso, a princípio, não aceita fazer parte do grupo. Mas depois se encarrega de fazer o “trabalho sujo” e ações mais violentas contra Capone. “Ele puxa uma faca, você saca o revólver. Ele manda um dos seus para o hospital, você manda um deles para o necrotério. Essa é a Lei de Chicago”. Uma aula de interpretação.

Malone ajuda Ness a escolher a dedo um cadete, que ainda não foi comprado por Capone, e entra em cena um jovem Andy Garcia. O quarto Intocável é o desajeitado, mas decidido, fiscal de rendas, vivido por Charles Martin Smith, que não hesita quando Malone lhe oferece uma escopeta para entrar em ação.



E o que não poderia faltar em OS INTOCÁVEIS são boas sequências de tiroteios em que o quarteto se envolve, estraçalhando os inimigos com chumbo grosso, como na parte que se passa na fronteira com o Canadá, quando interceptam um carregamento de bebidas. A dose de violência também não vai deixar na mão os amantes de uma sangreira, como o assassinato no elevador. Noutra cena, logo no início, De Palma explode uma garotinha segurando uma bomba numa maleta… se fosse filmado hoje, nesta “maravilha” de mundo politicamente correto que vivemos, o filme teria vários problemas… Temos até Brian De Palma brincando de Dario Argento, com o ponto de vista subjetivo na cena do meliante que tenta entrar na casa de Malone. Um puta trabalho de câmera!


Mas o ponto máximo de OS INTOCÁVEIS foi a cena da escadaria da Union Station, um misto de suspense e ação de cortar a respiração. Ness tenta capturar uma testemunha chave para o julgamento de Capone. O cerco armado. Uma mulher que acaba de chegar de viagem aparece com um carrinho de bebê e, com muita dificuldade, resolve subir a escadaria enquanto o local vai se enchendo de figuras ameaçadoras. Basta esses simples elementos em jogo para que De Palma bote para arregaçar num tiroteio desenfreado, cuidadosamente esculpido e editado, para servir tanto de atrativo para o público, demonstrando as façanhas dos Intocávais, quanto homenagem à uma das cenas mais famosas do cinema mudo, o massacre na escadaria do filme russo O ENCOURAÇADO DE POTENKIM, de Sergei Eisenstein.

Numa época em que eu não fazia idéia de quem era Brian De Palma, lá pelos meus dez anos, no início dos anos 90, tive contato com OS INTOCÁVEIS enquanto passava numa madrugada no Corujão da Globo e como não era sempre que eu podia dormir tão tarde, gravei em VHS. Aquela fita ficou até gasta de tantas vezes que passava no velho vídeo cassete quatro cabeças do meu velho. O filme não é nem o meu favorito do De Palma, mas acabo tendo uma ligação bem maior por conta da nostalgia, por ser um dos vários exemplares responsáveis por me fazer amar tanto o cinema.

30.9.11

DRIVE (2011)


Já estava de olho em DRIVE desde que saíram as primeiras notícias de que o dinamarquês Nicolas Winding Refn trabalharia em solo americano e seria responsável por um “car chase movie” na linha deste aqui. Embora ainda não tivesse feito nada exatamente dentro do gênero ação, os filmes anteriores de Refn serviam não apenas para colocá-lo entre os diretores de ponta da sua geração, como também davam indícios do que o sujeito seria capaz com um material desses em mãos. Logo, veio o prêmio de melhor direção no festival de Cannes e, com isso, a ansiedade com que DRIVE era aguardado estava justificada. O meu prognóstico super otimista foi ultrapassado esta semana, quando assisti a este filme antológico, que já está no topo dos meus favoritos de 2011.


Uma das melhores coisas é Ryan Gosling, até porque eu tinha minhas dúvidas se o ator poderia mesmo se passar de anti herói badass que aparentemente seu papel exigia. Mas o cara convence fácil! Taciturno na maior parte do tempo e brutal quando precisa ser, não fica longe, no aspecto “casca grossa”, de um Michael Caine em GET CARTER, Steve McQueen em OS IMPLACÁVEIS, ou Lee Marvin em POINT BLANK. Gosling é boa pinta, mas conseguiu encontrar uma maneira de utilizar suas feições como uma máscara de pedra - e um palito de dente no canto da boca ajuda - para dar um ar impassivo, expressivamente inexpressivo. E é um grande personagem, sempre calmo e caladão, um ás no volante, dublê de filmes em cenas perigosas envolvendo carros e, quando lhe apetece, motorista de fuga para assaltantes.


O elenco ainda possui Bryan Cranston, de BREAKING BAD, que vive uma espécie de mentor para Gosling… não que ele precise, mas apenas o tolera como tal. Ron Perlman, excelente, surge como um gangster sádico e Albert Brooks, geralmente associado a filmes mais leves, surpreende como um mafioso sanguinolento carniceiro, parceiro de Perlman. O lado feminino tem a musa ruiva, Christina Hendricks, que poderia se passar como a femme fatale que balança o coração do protagonista, mas este só tem olhos para a sua vizinha, Carey Mulligan, que está muito bem. O dois dividem o elevador, ele a vê no supermercado com o filho, pequenas situações que fazem surgir uma relação interessante, até descobrir que ela é casada com um cara prestes a sair da prisão...e paro por aqui com a história.


Mas posso garantir que não vão faltar sequências de perseguições que são verdadeiras aulas de tensão, especialmente a cena de abertura, que é uma obra prima! Todas elas demonstram com precisão as habilidades e inteligência do protagonista, que se mantém com a face de pedra, mesmo sob pressão extrema. Mas em momento algum DRIVE se transforma num exemplar de ação convencional, então não esperem nada muito alucinante em termos de ação. O filme é todo construído num ritmo extremamente lento, praticamente sem climax, silencioso, atmosférico… um primor! O Refn dirigiu VALHALLA RISING, então vocês sabem o que esperar. Há uma cena que vai da mais pura sensibilidade e ternura ao extremo da violência gráfica em questão de segundos, mas tudo é preparado com um absurdo trabalho temporal, segurando a tensão ao máximo.


DRIVE faz parte de uma categoria incomum do gênero, uma espécie de “arthouse de ação”, e aí podemos incluir um GHOST DOG, de Jim Jarmusch, alguns filmes do Takeshi Kitano, por exemplo, pra vocês terem uma noção do que eu quero dizer. É também uma ode a determinado cinema dos anos 70 e 80, com uns certos toques estilísticos que acentuam esse aspecto, como a fonte neón cor de rosa dos créditos iniciais e a belíssima trilha sonora de música eletrônica e vocais femininos que ecoa onde menos se espera. Um neo noir que remete à TAXI DRIVER, de Martin Scorsese, THE DRIVER, de Walter Hill e até THIEF, de Michael Mann.


Particularmente, acho bacana apontar esse universo de referência reciclável, mas o mais legal é notar, apesar de tudo, como DRIVE é peculiar. A princípio, Neil Marshall era cotado para comandar o filme. Eu até gosto de algumas coisas do britânico, mas ele e o Refn são diretores de propostas totalmente diferentes e, convenhamos, a história que é pra lá de batida, resultaria em nada além de um genérico filme de ação barulhento nas mãos do Marshall. Definitivamente não chegaria nem perto do que Refn desenvolve por aqui, e não estou dizendo que um é melhor que o outro, mas o fato é que Refn o fez com uma força detalhística e cinematográfica impressionante, com grande estilo, classudo, atmosférico, contemplativo, fascinante e é só isso que importa. Espero ansiosamente agora pra vê-lo lançado nos cinemas daqui. Faço questão de rever na telona.

28.9.11

BIG BAD MAMA (1974)

O google resolveu me sacanear colocando uma mensagem informando que o blog estava avaliado como foco de ataques e que a entrada por aqui poderia lhe render um belo “cavalo de Tróia”. Depois de futucar bastante umas páginas da minha conta no google que eu nem sabia que existiam, fizeram uma análise e constataram que o blog está limpo. Retirei vários elementos da coluna à direita e coloquei esse template dark que é das antigas do blogger pra garantir que o problema não volte. Vamos manter as coisas assim, por enquanto.

Mas chega de papo e vamos ao que interessa! Estamos no período da depressão americana, temos a Lei Seca, assalto à bancos, tiroteios à rodo com Tommy Gun’s cuspindo fogo e Angie Dickinson peladona! Precisa de mais alguma coisa para BIG BAD MAMA ficar melhor? Ah, claro, a presença hilária de Dick Miller, que não aparece mais que o habitual nas produções de Roger Corman, mas sua participação foi bem distribuida ao longo do filme. Ele interpreta o policial durão que vive pelas estradas atrás da Big Mama do título e sua gangue. Sempre que está prestes a concluir sua missão, algo dá errado e suas reações são, no mínimo, de rachar o bico! Não tem como não ser fã desse eterno coadjuvante...

 
Corman estava começando a fazer dinheiro com pequenos gangster movies e resolveu apostar na anti-heroina, vivida por Dickinson, e suas duas filhas espirituosas e sapecas, que embarcam numa jornada no mundo do crime, no qual estão sempre envolvidas em roubos, sequestros, perseguições, tiroteios, num road movie alucinante de ação e com vários personagens interessantes cruzando o caminho das três protagonistas, como o ladrão de bancos encarnado por Tom Skerritt, por exemplo, ou o romântico jogador compulsivo na pele de William Shatner.

A direção é de Steve Carver, que no ano seguinte fez outro filme do gênero para Corman: CAPONE, com Bem Gazzara no papel título. Dirigiu depois Chuck Norris pelo menos duas vezes, como o McQUADE - O LOBO SOLITÁTIO, que eu acho um filmaço! BIG BAD MAMA é o seu primeiro longa e já demonstra boa habilidade trabalhando muitas sequências de ação, um senso de humor bem equilibrado, mantendo as coisas num ritmo ágil e divertido… é claro que a pulsão sexual e a quantidade de nudez também ajudam, especialmente com as personagens das filhas (Susan Sennett e Robbie Lee) bem à vontade e Angie Dickinson, nos seus 43 anos, expondo seus atributos de deixar muita mulher de vinte com inveja.

BIG BAD MAMA recebeu o título A MULHER DA METRALHADORA aqui no Brasil e ganhou uma continuação nos anos 80, dirigido por outro pupilo de Corman, Jim Wynorski.

7.2.11

OUTRAGE (2010), Takeshi Kitano

Vi o novo Takeshi Kitano, também conhecido como o retorno do diretor ao violento mundo da máfia japonesa. Mas, antes de tudo, OUTRAGE não pode ser igualado a outros filmes do gênero realizados outrora pelo Kitano, como HANNA BI ou BROTHERS, etc. O filme é engraçadíssimo! Na verdade, o humor é sutil, mas dei boas risadas com situações que eram violentíssimas e cômicas em medidas iguais, como na cena do consultório odontológico, onde o próprio Kitano, que interpreta o lider de uma pequena facção criminosa da Yakuza, resolve dar uma de dentista enfiando uma broca nos dentes de um dos chefes de uma gangue rival.

Apesar da presença do Kitano em cena, o filme não possui protagonistas. A trama é composta por vários tipos de "gags" que se espera de antemão quando ocorre uma guerra entre organizações mafiosas. Um membro de uma família é espancado ali, outro membro morre por vingança lá, um carro é explodido acolá, pedidos de desculpas com direito a dedinho decepado, e por aí vai… Tudo isso narrado com elegância e inteligência de quem sabe o que faz, trabalhando com competência os clichês do gênero e, de novo batendo nessa tecla, com um tom de humor inesperado mesclado à violência habitual dos filmes de Beat Takeshi.

24.9.10

CHARLIE VALENTINE (2009), de Jesse V. Johnson


Não sendo dirigido por um desses sujeitos sem personalidade que tem assolado o cinema hollywoodiano atual, fica difícil para um fã de bons elencos resistir a um filme de gangster como CHARLIE VALENTINE, que conta com Raymond J. Barry, James Russo, Tom Berenger, Steven Bauer, Keith David, Dominiquie Vandenberg, Vernon Wells, Jerry Trimble e até Matthias Hues!!! Ainda que alguns deles façam apenas aparições do tipo “entra mudo e sai calado”, um enquadramento contendo várias dessas velhas figuras da velha guarda do cinema de ação já vale o filme inteiro.

E para nossa sorte, o diretor não é um desses pau-mandados qualquer. Trata-se do talentoso Jesse V. Johnson, que é simplesmente o responsável pelo melhor filme de 2010 lançado diretamente no mercado de vídeo até o momento: THE BUTCHER, com Eric Roberts. Jesse vem desenvolvendo uma espécie rara de cinema dentro do cerco independente americano, buscando sempre um processo de imersão no submundo do crime, protagonizado por gangsters maduros de meia idade.


J. Barry é o personagem-título, um mafioso sessentão que se mete numa enrascada dos diabos com um chefão do crime local, vivido por um assustador James Russo, após tentar um último golpe. Com o fiasco, seguido de tragédia, Charlie V. foge da cidade e busca refúgio no último lugar que ainda lhe resta: na casa do seu filho que há muito tempo não o vê. É aí que Charlie toma consciência de quão insignificante sua vida tem sido e tenta se reencontrar nessa jornada moral representada pela reaproximação com o filho. CHARLIE VALENTINE é mais um drama cerebral e emotivo, com alguns tiroteios, do que um filme de ação físico de fato - algo um tanto diferente daquilo visto em THE BUTCHER.

Mas quando precisa ser brutal, o filme não poupa o espectador de uma boa dose de violência, sangue e rombos causado por balas em tiroteios muito bem filmados à moda antiga. O público jovem deverá estranhar o ritmo dessas sequências, montadas de maneira cadenciada, feias, sem grandes movimentações de câmera, do jeito que deve ser. Na verdade, acho que o público jovem, de um modo geral, deveria manter uma certa distância de CHARLIE VALENTINE. As cenas de ação acabam servindo de bônus. A narrativa é tão bacana de acompanhar que mesmo se os tiroteios fossem cortados, o filme ainda funcionaria.


O que realmente seria um problema em CHARLIE VALENTINE era se o conjunto de atuações dos principais atores do elenco não funcionasse. Mas não vem ao caso. Raymond J. Barry está em estado de graça e carrega o filme tranquilamente. Faz pose de velho sábio, mas sabemos que se trata de um badass de primeira linha. Michael Weatherly, que vive o seu filho, também tem um desempenho sólido, James Russo rouba todas as cenas nas quais aparece e Steven Bauer é outro destaque. O restante do elenco, já citado, vale pelas aparições, deixando o filme com um charme a mais.

CHARLIE VALENTINE não está isento de problemas, possui algumas soluções mal resolvidos em determinados pontos, claramente causados pela falta de verba da produção, mas cumpre muito bem a sua proposta de ser um B movie sério de gangster e um belo estudo de personagem. Lembra aqueles filmes menores, mas mais ousados e simpáticos, feito nos anos 40 e 50, com o dinheiro que sobrava das produções classe A. Tomara que tenha lançamento por aqui.

18.8.10

CHINA GIRL (1987), de Abel Ferrara

Acabei de ler no blog do amigo Vlademir que o novo filme do Abel Ferrara, NAPOLI NAPOLI NAPOLI, está previsto para ser lançado nos cinemas brasileiros em setembro. É uma notícia e tanto! Curiosamente, assisti ontem ao maravilhoso CHINA GIRL, que nas palavras do meu amigo Daniel, é uma versão hardcore de Romeu & Julieta! A definição é perfeita! Imaginem a peça de Shakespeare sem as situações "mela-cueca" entre os pombinhos apaixonados, focado muito mais no violento conflito entre duas gangues, formada por chineses e italianos, em plenos anos oitenta, que fazem fronteira em bairros novaiorquinos iluminados sob as luzes fluorescentes de neon e musicalmente acompanhados de uma trilha típica daquele período! Um filmaço destruidor! E quando Ferrara resolve acompanhar de perto o romance proibido entre a chinesinha Tye e o italiano Tony, ele transforma a situação na coisa mais linda do mundo! Não é a toa que o diretor já declarou que dentre seus próprios trabalhos, CHINA GIRL seria o seu favorito. A direção é inspiradíssima! Questão de movimentação de câmera, uma mais impressionante que a outra, até chegar num plano final antológico!

No elenco, temos James Russo como irmão mais velho de Tony. O sujeito é simplesmente um dos maiores atores injustiçados do cinema americano. Dono de um talento ímpar e de uma segurança estupenda para encenar situações dramáticas com perfeição, Russo nunca teve o destaque merecido. Basta ver sua atuação em OLHOS DE SERPENTE, também de Ferrara, para entender o que estou falando. David Caruso também marca presença, assim como James Hong e Russell Wong.

27.7.09

INIMIGOS PÚBLICOS (Public Enemies, 2009), de Michael Mann

Primeiramente eu gostaria de pedir desculpas pela falta de atualização. Prestes a completar um ano de blogue, é a primeira vez que fico mais de uma semana sem postar um texto, imagem ou até mesmo uma mísera notícia, por mais cretina que seja. A última semana foi bem corrida e por isso não deu para atualizar, mas agora chega e vamos ao que interessa, vamos falar de cinema. Porque aqui em Vitória temos somente quatro cinemas. Dentre estes, apenas um não é de Shopping, para vocês terem uma noção de como a vida é algo deprimente por estas bandas. Arrisco a dizer que temos um dos piores circuitos do Brasil, considerando que o Espírito Santo pertence ao Sudeste, com suas capitais (excluindo Vitória) culturais e cheias de amor para dar. Se atualmente eu vejo um blogueiro de São Paulo ou Rio reclamando do circuito, queria saber como ele iria se virar por aqui...

Embromei vocês apenas para dizer que INIMIGOS PÚBLICOS estreou por estes lados junto com a moçada no restante do Brasil, na data certa, na última sexta feira. E lá estava eu, levei a patroa, claro, pois também é fã de Michael Mann (embora confunda Mann com Scorsese, ou De Palma, ou Coppola, mas o importante é que assiste aos filmes), demorei uns 5 segundos na difícil escolha de qual cinema ir, já que são tantas opções de salas, optei por um cinema de Shopping e záz!

Ficar diante de um monumento como este aqui numa sala escura de cinema é uma experiência impar, sem dúvida alguma, assim como também aconteceu com COLATERAL e MIAMI VICE (claro que os outros trabalhos do diretor também dão o mesmo impacto, mas infelizmente eu não os vi na tela grande). INIMIGOS PUBLICOS é absolutamente extraordinário. Mais uma vez Michael Mann chega para mostrar como é que se faz cinema de verdade, puro, mesmo utilizando-se de tecnologia digital, que não faz mal a ninguém, principalmente nas mãos de um mestre como este cabra aqui. É perfeito o domínio que o sujeito tem de espaços, de movimentação de câmera, da criação atmosférica dos ambientes, controle sobre os atores. É impressionante a que nível o cinema de Mann atingiu (e que já havia atingido desde a época de FOGO CONTRA FOGO e O INFORMANTE, mas permanece amadurecendo e nos surpreendendo).

E depois temos Johnny Depp de corpo presente vivendo um Dillinger de carne e osso, apenas atuando, sem precisar de suas transfigurações exóticas que alguns críticos acham necessárias para que tenha um bom desempenho. Da mesma forma, comedida e sem exageros, está a performance de Christian Bale, que convence como o policial sangue frio que mantém um certo código moral injetado na veia. Ainda temos Marion Cotillard, que é um pitel (e boa atriz também) e é peça chave na trama como par romântico do protagonista. O resto do elenco é recheado de bons atores que merecem destaque nas mínimas participações, como James Russo, um dos grandes atores subestimados da história do cinema, que não tem nem 5 minutos em cena. Além dele, Stephen Dorff, Billy Crudup, Giovanni Ribisi, Stephen Lang e vários outros, possuem presenças marcantes.

Creio que a trama todo mundo já deve saber, aborda a figura de John Dillinger e transcorre no último ano de vida deste lendário assaltante de bancos que causou o terror nos Estados Unidos no período da grande depressão e ficou conhecido como o inimigo público número 1 da América. Mas como se trata de Michael Mann, não vamos esperar apenas um filme policial/assalto comum, mas um épico definitivo sobre o próprio cinema de Mann e suas obsessões. Portanto, a preocupação profunda pelos personagens, seus conflitos morais e psicológicos, suas relações, vidas que vão muito além do que é simplesmente visto na tela, tudo se torna evidente dentro do fio condutor da trama, que está longe da estrutura habitual dos filmes policiais. É, na verdade, um autêntico exemplar de gangster movie de construção clássica. Além disso, não são poucas as situações deste aqui que podem ser observadas em outros filmes de sua carreira; pequenas releituras e reinvenções de seus próprios trabalhos.

Trilha bacana com a Billie Hollyday, edição de som sensacional (Tommy Guns cuspindo fogo à vontade), fotografia caprichada, várias cenas antológicas, enfim, um primor. INIMIGOS PÚBLICOS é filme para ser revisitado várias e várias vezes, captando a cada revisão uma riquezas de novos detalhes. E é exatamente isso que farei. Mas já tenho certeza absoluta que se trata de um dos grandes filmes de 2009.

14.5.09

James Cagney em dose dupla!

O Daniel (now, just Daniel) vivia falando pra eu assistir aos filmes desse baixinho impertinente. Então, lá fui eu...


O primeiro é INIMIGO PÚBLICO (Public Enemy, 1931), do diretor William A. Wellman, que foi um verdadeiro mestre do cinema americano hoje pouco lembrado, infelizmente. Dirigiu ASAS, primeiro vencedor do Oscar de melhor filme, e um dos westerns mais admiráveis que existe, CONSCIÊNCIAS MORTAS, com Henry Fonda. Mas voltado ao que interessa no momento, INIMIGO PÚBLICO é um marco dentro do gangster movie e é difícil saber o que seria de um Scorsese sem ele. Claro que tivemos, no mesmo período, vários exemplares que serviram de base para solidificar o subgênero, mas a influência deste aqui é inegável. 



Sujeito é mau demais mesmo...

O filme se resume em contar a vida de Tom Powers (Cagney), sujeito que desde a infância é um problema para a lei. Quando adulto, torna-se um gangster com moral, dinheiro e mulheres. Aliás, muito boa a cena que Cagney esfrega uma laranja na cara de uma senhorita durante um café da manhã (foto aí em cima), parece que causou um reboliço nas feministas da época, mas a cena é genial! De uma forma geral, é um filme cuja importância releva o fato de que o filme não envelheceu tão bem, e claro, a presença de cagney é brilhante em todos os momentos e abonaria qualquer defeito do filme. Belíssimo clássico.


ANJOS DE CARA SUJA (Angels With Dirty Faces, 1938) não possui o mesmo valor histórico do anterior, mas foi o que eu apreciei mais. A direção é por conta de Michael Curtiz, que poucos anos depois fez CASABLANCA. O filme é mais amarrado, o roteiro é bem elaborado, possui uma boa dose de ação e, assistindo hoje, desce muito melhor. Inicia com uma certa semelhança a INIMIGO PÚBLICO, mostrando o personagem de Cagney, Rocky Sullivan, ainda jovem até se tornar um gangster de mão cheia. Em ambos os filmes, há um parceiro inseparável que o acompanha de maneiras diferentes. Neste aqui, interpretado por Pat O’Brien, o sujeito toma um caminho oposto ao protagonista e acaba virando um padre, contraponto interessante. E ainda temos Humphrey Bogart fazendo o papel de um advogado inescrupuloso, ainda canastrão, mas dando um charme a mais no filme. James Cagney está igualmente intenso e explosivo. E que final magnífico!


Realmente o baixinho merece a fama que tem de ser um dos grandes atores que já passou por Hollywood, sem dúvida alguma. A maneira como se impõe em cena coloca qualquer ator, por mais talentoso que fosse, ao chão com muita facilidade. Sensacional. Ainda devo ver nos próximos dias WHITE HEAT, do Raoul Walsh, que o mesmo Daniel afirma ser o melhor Cagney e o melhor Walsh. Veremos.

2.3.09

MACHINE GUN KELLY (1958), de Roger Corman


Já devo ter comentado sobre o Roger Corman num dos primeiros posts do blog, mas vale a pena relembrar. Corman foi um dos grandes mestres do cinema B americano, prolífico produtor e diretor de cinema fantástico, western, policial e exploitation de todas as espécies, além de ter revelado vários cineasta como Scorsese, Coppola, Monte Hellman, Joe Dante, e uma lista infindável. Uma de suas principais características é a velocidade na qual realiza suas produções. MACHINE GUN KELLY, por exemplo, teve apenas oito dias de filmagens e faz parte de uma série de gangster movies que realizou na época.

O filme é livremente inspirado na vida de George Kelly - conhecido como Machine Gun Kelly pelo fetiche que tem por sua metralhadora - um perigoso bandido da década de 30, que foi impulsionado pela mulher ambiciosa a trilhar o caminho do crime. Quem encarna o sujeito é ninguém menos que Charles Bronson; e quem pensa que ele era um iniciante naquela época está enganado. MACHINE GUN KELLY era seu vigésimo segundo filme (embora tenha sido seu primeiro com maior importância) e sua interpretação está entre as melhores que o ator já compôs, principalmente no que se refere aos detalhes da construção de personagem, como a fobia pela morte, por exemplo.

A direção de Corman é bem inspirada. Com uma simples cena ele resume toda a essência do personagem de Bronson (aquela em que o ator brinca de bater palma com a criança sequestrada). Além disso, a criatividade do diretor para driblar o baixo orçamento é absurda, como no primeiro assalto logo no início, onde mostra apenas a sombra do policial que é baleado pela metralhadora de Kelly numa solução bem simples e muito funcional; isso sem contar os diálogos muito bem colocados no roteiro de R. Wright Campbell (roteirista de várias produções do Corman e de HELLS ANGELS ON WHEELS, de Richard Rush).

Mas MACHINE GUN KELLY possui algumas irregularidades narrativas que decorrem por causa da pressa da produção, do baixo orçamento. O filme começa muito bem, mas tem suas decaídas, não preza muito por cenas de ação e tudo isso não permite que o filme saia do limbo preconceituoso que a crítica “séria” tem com os filmes B, pois na verdade nenhum destes detalhes atrapalha a diversão. O fato é que é um ótimo filme e a forma como Corman trata psicologicamente seu personagem é digna de um cinema inventivo muito além de seu tempo.

5.9.08

WISE GUYS (1986)



aka QUEM TUDO QUER, TUDO PODE
direção: Brian De Palma
roteiro: George Gallo, Norman Steinberg

Para quem está acostumado com os filmes de Brian De Palma, sempre carregados de tramas violentas, suspenses elaborados por uma câmera virtuosa, vai se surpreender com o diretor no comando desta comédia leve e divertida que aceitou fazer a convite do produtor Aaron Russo, após realizar DUBLÊ DE CORPO (84), embora o início de sua carreira seja composta de algumas comédias que satirizavam politicamente o modo de vida americano da época, como GREETINGS (68) e HI, MOM! (70), ambos estrelados por um jovem Robert de Niro antes de iniciar sua parceria com o diretor Martin Scorsese, ou seja, De Palma já havia provado antes o talento do ator.

Mas vamos ao WISE GUYS cuja história gira em torno de dois membros atrapalhados da máfia de New Jersey, interpretados por Danny De Vito e Joe Piscopo. O filme remete aos trabalhos do Scorsese mostrando a uma máfia de baixa categoria e sem o glamour de Tony Montana do filme SCARFACE (83) que De Palma havia dirigido alguns anos antes. Os dois sujeitos, na verdade, recebem sempre os trabalhos mais pífios e são ridicularizados pelos outros membros. Ao receberem a “grande missão” de apostarem num cavalo de corrida, acabam colocando o dinheiro em outro cavalo, achando que o favorito de seu chefe perderia, o que não acontece. Os dois são marcados como traidores, mas ao invés de matá-los subitamente, Tony Castelo (Dan Hedaya), o chefão da parada, coloca-os com a missão de matar um ao outro.


WISE GUYS é um ótimo exercício de direção para De Palma que, apesar de não realizar nenhuma acrobacia com sua câmera, deixa seus atores brilharem livremente no gênero que já estão à vontade. Danny De Vito surpreende com um dos papéis mais engraçados de sua carreira e Joe Piscopo demonstra toda sua expressividade cômica. O elenco ainda é formado com Frank Vincent, Harvey Keitel e Lou Albano (talvez o personagem mais divertido). O filme não foi muito bem de bilheteria nos Estados Unidos e acabou sendo esquecido automaticamente, infelizmente. Mas realmente não é tão perfeito quanto parece. Algumas situações do roteiro poderiam ser melhor exploradas e o final é um tanto forçado e preguiçoso.

No Brasil recebeu o título cretino de QUEM TUDO QUER, TUDO PERDE, o que contribuiu ainda mais para o esquecimento por aqui, fora o estúdio que resolveu meter o dedo no material final. Mas nada que estrague a diversão, principalmente nos dois primeiros atos, quando a história é conduzida de maneira simples com ótimos momentos como a cena em que De Vito recebe a ordem de ligar o carro de seu chefe ou o assassinato na igreja, praticamente uma mistura genial do pastelão com o rigor intrigante do suspense de De Palma.