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26.8.13

THE HOST (1960)


Jack Hill já havia  dirigido algumas cenas de THE WASP WOMAN (59) para o seu mentor, Roger Corman, quando este precisou prolongar a duração do filme. O futuro diretor de SPIDER BABY nem chegou a ser creditado. A produção que marca a estreia oficial de Hill na direção é THE HOST, um curta metragem em preto e branco realizado quando ainda era estudante da UCLA e bem antes de se tornar um dos grandes mestres do exploitation americano.

Um fugitivo da lei encontra no México uma cidade antiga aparentemente abandonada. Entra para beber água e quase leva um tiro. Descobre que existe uma pequena população vivendo por lá e um espanhol que achou um tesouro no local e precisa roubar um cavalo para fugir. Persuadido por uma bela habitante, o fugitivo acaba matando o espanhol e se torna um Deus. Quando descobre, também, onde o tesouro se encontra, decide ir embora levando tudo consigo. Mas é tarde. Já levaram seu cavalo. I Don't want to be a god!!! - grita desesperado o sujeito nas últimas palavras ecoadas no filme.


Quem faz o papel principal é ninguém menos que Sid Haig, que se tornaria um dos ícones do cinema independente de gênero. Também fazendo aqui seu debut. Em THE HOST Haig e Jack Hill iniciaram uma parceria que teria ainda outros sete clássicos do B movie americano. Sobre a direção de Hill, não há muito a dizer. É um típico trabalho de estudante, feito com orçamento apertado e restrições de produção. Mas pelo menos não é chato, possui algumas soluções visuais interessantes e Haig já demonstra certo talento na sua performance... Mas THE HOST vale mesmo como curiosidade, poder conferir essas figuras em atividade aprontando no início de suas carreiras.


Um fato pitoresco é que na época Francis F. Coppola era colega de sala de Jack Hill. E rola umas histórias de que este curta teria inspirado o terceiro ato de APOCALYPSE NOW... Se forçar bastante, quem sabe? Claro, há o óbvio fato do estrangeiro que se torna Deus de um povo estranho. Mas as circunstancias são muito diferentes... Pode ser só coincidência. Enfim, THE HOST saiu como extra no DVD de SWITCHBLADE SISTERS, outra pérola de Jack Hill.

19.3.10

A MULHER VESPA (The Wasp Woman, 1959), de Roger Corman

Não sabia da existência desses três DVDs lançados aqui no Brasil pela distribuidora Fantasy Music contendo vários clássicos do terror e sci-fi dos anos 50 e 60, até ler o livro O Cemitério Perdido dos Filmes B, do Cesar Almeida. Em cada DVD, dois filmes obrigatórios: A MULHER VESPA, do Roger Corman; O ATAQUE DOS SANGUESSUGAS GIGANTES, de Bernard Kowalski; A BESTA DA CAVERNA ASSOMBRADA, de Monte Hellman; O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER, de Joseph Green; CRIATURA SANGRENTA, de Gerry de Leon e O LOBISOMEM NO QUARTO DAS GAROTAS, de Richard Benson. Claro que eu comprei os três na mesma hora!

Antes de entrar no filme, não posso deixar passar que o livro do nosso amigo, citado ali em cima, é excelente! De linguagem clara e sem frescuras, o Cesar faz uma verdadeira odisséia ao cinema de baixo orçamento com uma seleção de filmes primorosa. Essencial para qualquer fã de filme B que se preze. Aliás, depois que eu acabei de ler, o livro ficou posicionado num lugar estratégico por aqui. Sempre que meu velho vai “amarrar um gato” ele gosta de ler alguma coisa (mas quem não gosta?). Com o Cemitério Perdido em mãos, ele sempre chega prá me pedir algum filme do livro para assistir.


A MULHER VESPA, dirigido pelo maior gênio dos filmes B americanos, é claramente uma tentativa de aproveitar o sucesso do clássico A MOSCA DA CABEÇA BRANCA (1958), de Kurt Neumann, com o grande Vincent Price no elenco. Mas aqui é Susan Cabot quem assume a posição de protagonista, dando vida a uma quarentona, dona de uma empresa de cosméticos. Além de proprietária, ela era o rosto bonito que enfeitava os anúncios publicitários da empresa. Com o passar do tempo, a idade chega e ela resolve colocar uma pessoa mais jovem e menos enrugada para continuar a divulgação de seus negócios, acarretando uma inesperada diminuição retumbante de vendas.

Em suma, ela acaba conhecendo um cientista maluco, o qual desenvolveu um novo cosmético a partir das enzimas das vespas, transformando o envelhecimento da pele na beleza da juventude. Cabot começa a usar em si mesma o produto e em pouco tempo, está com rostinho de 20 anos novamente. É lógico que em algum momento algo daria errado, caso contrário, não teríamos um sci-fi de terror, e sim mais um drama sobre uma mulher em conflitos existenciais partindo numa jornada sem mapa para o interior dos imperativos selvagens de si própria... ou algo assim.

De maneira gradativa, a natureza lasciva da vespa rainha inicia um processo de mutação física e de personalidade na protagonista. À noite, ela se transforma numa espécie de híbrido metade mulher, metade vespa (mas nem chega perto do desenho do cartaz do filme, que é genial, diga-se de passagem), bem ao estilo Corman, com uma máscara mal feita cujo pescoço da atriz fica à mostra e umas luvas de forno trabalhada para dar a impressão de... mãos de vespa? Enfim, o resultado é um charme, prezando mais pela idéia e criatividade do que pelas limitações orçamentárias. E isso vale para o filme inteiro.

Algumas curiosidades, A MULHER VESPA foi originalmente lançado pela famigerada AIP, em sessão dupla com A BESTA DA CAVERNA ASSOMBRADA, mas foi o primeiro filme produzido pela Corman Filmgroup, do próprio diretor, apresentando vários de seus colaboradores habituais. A duração era tão curta que ficava impossibilitado de passar na TV. Então Corman precisou chamar Jack Hill, um dos seus pupilos daquele período, para escrever e dirigir algumas cenas adicionais, como por exemplo, todo o início do filme que se passa na fazenda produtora de mel. Em 1995, Corman produziu uma versão mais atual dirigida pelo Jim Wynorski, mas essa eu ainda não vi...

17.4.09

FACA NA GARGANTA (Switchblade Sisters, 1975), de Jack Hill

Dia desses vi esta belezura do Jack Hill, que é um diretor dos mais criativos e ousados dos anos 60 e 70 no cinema americano de baixo orçamento e merecia um reconhecimento maior entre os cinéfilos de hoje, além de ser essencial para qualquer pessoa que deseja se aventurar no mundo do cinema de exploração. Desabafos à parte, FACA NA GARGANTA é um autêntico clássico do “gênero” e um de seus melhores trabalhos que ainda incluem COFFY, FOXY BROWN, THE BIG BIRD CAGE, THE BIG DOLL HOUSE, SPIDER BABY, etc (um cara com um currículo desse é um gênio!).

FACA NA GARGANTA Faz parte também de uma lista imaginária dos filmes-referência de Quentin Tarantino, que é fã confesso da obra e chegou a comprar os direitos de lançamento para o seu selo de DVD’s, a Rolling Thunder, em meados dos anos 90. E tem tudo a ver com o universo que o diretor de PULP FICTION desenvolveu a partir de suas influências.

A premissa básica de FACA NA GARGANTA trata da disputa pelo poder dentro de uma gangue feminina entre a líder Lace (Robbie Lee) e a recém chegada no pedaço Maggie (Joanne Nail). Mas para deixar tudo mais profundo e divertido, o roteiro inspirado de F.X. Maier tece uma complexa teia de guerra entre gangues, subtramas psicológicas que funcionam e uma galeria de personagens interessantes que só enriquecem o resultado.

Isso sem contar com os momentos dignos de um exploitation, afinal, estamos falando de um filme com rixas de gangues; temos brigas de mulheres, tiroteios no estilo do final de DESEJO DE MATAR 3, lutas de facas, conflitos verbais com muitas frases de efeitos e muito mais!

As atuações são acima da média para um filme de baixo orçamento e Jack Hill demonstra porque é um dos grandes autores do ramo com um estilo único. Consegue ainda combinar elementos de vários subgêneros incluindo uma sequencia “Women in Prison”, quando as garotas vão pra cadeia e têm de enfrentar a robusta carcereira lésbica e suas subordinadas, e “blaxploitation”, quando pinta em certo momento uma gangue de mulheres negras que dispõe de um verdadeiro arsenal! É por isso que é impossível não virar fã de Jack Hill!

18.8.08

COFFY (1973)


direção: Jack Hill
roteiro: Jack Hill

Excelente exemplar do cinema blaxploitation, autêntico clássico do gênero, e não apenas por dispor da musa Pam Grier como protagonista, talvez a maior estrela deste nicho, mas para um filme exploitation de baixo orçamento, COFFY é surpreendentemente bem filmado, escrito, com personagens marcantes. Crédito do diretor e roteirista Jack Hill que teve muito bom gosto nas suas escolhas visuais e na forma como parece deixar seu elenco livre e confortável para representar cada um o seu papel.


O filme traz Pam Grier como Coffy, uma exuberante enfermeira que resolve se vingar dos traficantes que colocaram sua irmã mais nova no mundo das drogas e espancaram um policial que não se vendeu para o mundo do crime. É uma premissa bastante simples, e na verdade o único sentido nisso tudo é que, se tivesse oportunidade, Coffy colocaria uma bala na cabeça de todos os traficantes da face da terra. Mas são os detalhes  e a maneira como Hill conta sua história que tornam o filme especial. E Pam Grier possui muita personalidade pra encarar uma personagem com bruto desejo de vingança e o apelo sexual, elementos que já elevam o filme num nível superior.


 

Só pra ter uma noção, logo no inicio, ela age como uma espiã sexy disfarçada de prostituta. Através de seus atributos físicos, convence fácil um traficante a levá-la para um apartamento prometendo de tudo e mais um pouco. Já no local, ela surpreende o público ao tirar da bolsa uma garrucha e estourar a cabeça do sujeito com as calças arriadas. É tudo questão de estilo, algo que Pam Grier tem de sobra pra fazer a cena funcionar com timing perfeito, independente dos exageros típicos do gênero.

Há uma cena bem hilária onde Coffy acaba na casa de uma drogada lésbica para conseguir algumas informações sobre o caso do seu amigo policial. As coisas esquentam e as duas começam a brigar e de repente aparece a namorada da moça, uma negra do tamanho do Shaquille O’neal que confunde a situação achando que as duas estavam botando as aranhas pra brigar (se é que me entendem). E aí o pau come de verdade, mas Coffy dá no pé, já que seria impossível enfrentar aquele mamute.

 

Pois bem, Coffy descobre que um cafetão chamado King George possui contato com os grandes chefões da máfia, mas em especial, Vitroni, que é o gangster por trás do acontecido com o seu amigo policial. Mais uma vez, ela se disfarça de prostituta para se infiltrar na organização. A primeira impressão que ela causa é de inveja nas outras garotas por conta de seus atributos "artísticos". Numa festa promovida pelo gigolô (que usa umas roupas supimpas!) está presente o alvo de Coffy, e é o momento de usar toda sua sensualidade para impressionar. Mas de cara acontece algo absurdamente impagável. Coffy cai na porrada com as putas invejosas com direito a muita pagação de peitinho, gilete no cabelo e sangue pra todo lado. E é justamente o que chama a atenção de Vitroni.


Escolhida para uma noite de amor com o traficante, Coffy se prepara para a hora da vingança, mas é surpreendida por um capanga que impede que ela mate seu chefe. Coffy acusa o pobre King George como mandante do assassinato. Daí surge então outra seqüência antológica para os amantes do cinema exploitation. O gigolô é arrastado pelo o pescoço por uma corda amarrada no carro dos bandidos de Vitroni. E lá se vai mais uma dose de muito sangue espalhado por quarteirões. Enquanto isso, Coffy dá seus pulos pra escapar e meter muita bala durante o resto do filme, que ainda guarda muitas surpresas como uma rede de corrupção que envolve personagens ambíguos e inesperados e não quero ficar aqui contando tudo, embora já tenha contado até demais...


Dos filmes do diretor Jack Hill que eu vi, Coffy é o meu preferido. Possui todos os elementos que se poderia esperar de um filme como este e vai mais além criando personagens profundos e até mesmo inovando em alguns pontos da essência do Blaxploitation. Normalmente, os filmes deste estilo eram protagonizados por homens, policiais, traficantes ou drogados que usavam a mulher como objeto sexual. E Jack Hill, que é branco, chega com Coffy, um dos primeiros filmes do gênero onde temos uma heroína que luta contra as drogas e representa a força da mulher na personificação perfeita de Pam Grier.