EM BUSCA DO FILME ESQUECIDO
Bastou uma modesta sessão em VHS, quando eu tinha lá os meus nove ou dez anos para carregar algumas imagens deste filme na memória durante um bom tempo da vida. Só que era desses exemplares que comumente assistimos acidentalmente ainda moleque, sem saber o título, nome dos atores, na verdade não era nem para eu estar assistindo, e acaba esquecendo completamente. Quando se lembra, são apenas imagens desconexas que não formam sequer uma sinopse… Enfim, quando chegou a internet, imdb, baixação de filmes, resolvi tentar reencontrar algumas coisas, mas não consegui lembrar de informações suficientes para encontrar este aqui.
No ano passado, conversando com o meu amigo Osvaldo Neto, sobre um diretor de filmes B (óbvio, já que o Osvaldo é especialista no assunto) que havia feito um filme que ele tinha assistido, COHEN AND TATE, acabei tomando conhecimento do diretor Eric Red. Fui dar uma conferida no imdb, para ver o que o rapaz já tinha feito e pimba! Estava lá BODY PARTS. Só de ver a arte do cartaz e o título, as imagens do filme começaram a rondar a minha cabeça. Depois de ler a sinopse, confirmei que era o filme esquecido. Lembro até de comentar com o Osvaldo na nossa conversa que estava atrás daquele filme há anos, mas não lembrava de nada que me ajudasse a encontrá-lo… e o pior é que o enredo tem uma peculiaridade bem característica.
No último sábado, depois de quase um ano segurando o filme aqui, resolvi assistir. Claro que não é exatamente a mesma experiência que tive com o olhar da ingenuidade, mas pela mãe do guarda, juro que vivenciei alguns bons momentos diante dessa simplicidade fílmica, mas de uma grandeza inesperada! Chego a ficar constrangido por gostar tanto de um filme que, aparentemente, não possui nada fora do normal, mas acaba me atigindo de uma maneira notável. Não sei se chega a ser um “guilty pleasure”, porque o filme não é ruim, mas só mesmo um belo filme especial e torto causa esse tipo de reação em mim.
BODY PARTS não é uma obra prima, mas é um excelente thriller, possui uma trama urdida com criatividade, uma pitada de ação e ficção científica, além de ser uma esquisita e moderna releitura de Frankenstein. O bastante para surtir o seu efeito catártico sobre mim.
A trama gira em torno de um pacato psicólogo criminal, Bill Chrushank, que após um acidente de carro perde um braço. É preciso aceitar o tom fantástico do enredo que parte do princípio de que um transplante de braço vai substituir perfeitamente o antigo. E é isso que acontece, o protagonista recebe um braço novo que funciona 100 % em poucos meses, através de uma cirurgia experimental de ponta.
A partir daí, a vida de Bill muda de uma maneira negativa. Sua personalidade gradativamente se torna mais agressivas e estranha. Desconfiando que seu novo membro exerce essa influência sobre o seu comportamento, Bill inicia uma investigação para descobrir de quem era o braço, além de entrar em contato com outras pessoas que também receberam partes do mesmo corpo.
Entre suas inúmeras qualidades, Eric Red acerta em cheio ao colocar Jeff Fahey como protagonista. O ator, que já esteve em mais de 100 filmes e é bem conhecido pelos apreciadores do cinema de baixo orçamento, tem aqui uma atuação digna de nota. Quem também está ótimo é Brad Douriff, como um pintor medíocre que passa por uma fase inspirada, pintando quadros bizarros e macabros, após receber o outro braço do corpo em questão. A primera cena dele no filme é antológica!
O filme não possui muita ação. Temos a cena do acidente, que é um espetáculo. É rápida, visceral e sem frescuras. Há uma sequência envolvendo carros em alta velocidade que é de lascar também. Eric Red preza mais pelo climão de suspense. Red não chega a ser um mestre, mas BODY PARTS pode servir como uma autêntica aula de atmosfera, de montagem clássica e eficiente, para os cineastas da nova geração que acham que fazer suspense é dar sustos e aumentar o volume da trilha.
Recomendo para aqueles que curtem um simples, mas ótimo suspense a moda antiga, mesmo sabendo que não vão entender porque eu gosto tanto do filme, mas não tem problema. Certamente vocês devem ter vários filmes que eu não entendo como alguém pode gostar tanto…
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11.8.10
12.12.09
THE BAD LIEUTENANT: PORT OF CALL - NEW ORLEANS (2009), de Werner Herzog

Sendo a disparidade entre os dois filmes tão evidente, não é justo fazer comparações entre as versões, mas como filmes policiais, ainda prefiro o do Ferrara, uma das experiências mais deprimentes que já tive com um filme, aquela atmosfera e a atuação do Keitel são elementos difíceis de igualar. Ah, e aquele desfecho niilista! Demais!

Seu retrato do personagem central é extremo, politicamente incorreto, construido no limite, à beira de um ataque de nervos numa New Orleans suja e devastada pelo furacão Katrina. Deve-se tirar também o chapéu para Nicholas Cage, com uma performance de respeito, compondo um protagonista nos mínimos detalhes. É sua melhor atuação desde... er, quando mesmo? Enfim, o que importa é que o homem está genial e protagoniza um dos momentos mais bad ass do ano, na cena em que ele tenta tirar informações de duas velhinhas!!! Grande Cage...

Portanto, para quem ainda estava com o pé atrás com este novo trabalho do alemão maluco só por causa da ligação com o filme do Ferrara, pode conferir sem medo, porque além de ser um filmaço policial bem acima da média atual, consegue ter substância suficiente para trabalhar com autoridade a dramaticidade e profundidade de seu protagonista, que é a verdadeira pretensão do enredo. E Herzog tem atitude e moral pra isso! Está em crédito comigo e totalmente perdoado pelos 10 minutos finais de O SOBREVIVENTE...
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