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23.7.10

PAT GARRET & BILLY THE KID (1973), de Sam Peckinpah

E finalmente chega em minhas mãos o terceiro lançamento em DVD realizado pela LUME da obra de Bloody Sam, o belíssimo faroeste PAT GARRET & BILY THE KID, um exemplar fundamental para sentir toda a essência do cinema de Peckinpah. E só não é o melhor faroeste feito pelo diretor, porque Peckinpah é tão fod!@#$, que já havia realizado alguns anos antes o melhor western de todos os tempos, na minha opinião: MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA.  

Adoro os westerns de John Ford, Budd Boetticher, Anthony Mann, Delmer Daves, Howard Hawks, etc, é inegável a importância dos filmes desses caras, mas pessoalmente sou apaixonado é pelo western dos anos 70, e final dos 60. E claro, os Spaghetti Westerns... mas estou me referindo ao cinema americano mesmo.

E PAT GARRET é lindo pra danar. A trama é bem simples, mas cheia de introspecção, situações complexas, personagens profundos. Peckinpah narra um dos duelos mais significantes do cinema, entre os personagens título, com uma sensibilidade impressionante, que contrasta com a violência característica de seus trabalhos e que também está presente neste aqui. James Coburn está soberbo na pele de Pat Garret, um ex-bandido que agora trabalha do lado da lei e precisa prender o seu ex-parceiro, Billy, vivido pelo Kris Kristofferson.

E temos o bom e velho Bob Dylan, emprestando sua voz na excepcional trilha sonora e marcando presença também como ator. Aliás, há um tópico interessante na biografia de Bob que retrata justamente as filmagens de PAT GARRET. Dizia que Peckinpah realizou o filme completamente bêbado e surtado, atirando nos espelhos e mandando os atores repetirem as cenas cem milhões de vezes!!! Uma pena o diretor ter perdido a vida justamente pelas complicações causadas pela bebida, mas se era assim que a coisa funcionava para ele na hora do “vamos ver”, ao menos deixou umas quatro ou cinco obras primas incontestáveis. PAT GARRET com certeza é uma delas.

18.7.10

ASSASSINOS DE ELITE (The Killer Elite, 1975), de Sam Peckinpah

Neste fim de semana chegou aqui em minhas mãos outro filme do mestre Sam Peckinpah lançado em DVD pela LUME, que eu havia comentado na semana passada. Trata-se de THE KILLER ELITE, ou ASSASSINOS DE ELITE, como foi intitulado pela distribuidora. Agora falta chegar o belíssimo western PAT GARRET & BILLY THE KID, também lançado recentemente pelo mesmo selo.

Apesar da festa com os lançamentos destes filmes do diretor, este aqui em especial nunca recebeu a devida atenção pela crítica e público. No Brasil, se não estou enganado, nunca havia sido lançado em vídeo. Até o próprio Peckinpah o considerava meio maldito. Ok, o filme não é uma obra prima, não chega ao nível de ALFREDO GARCIA, STRAW DOGS ou WILD BUNCH, mas não deixa de ser um puta filme de ação setentista, dirigido brilhantemente, com um elenco de primeira encabeçado por James Caan e Robert Duvall, e para coroar, além das habituais cenas de ação “peckinpanianas” realizadas com maestria, possui cenas de lutas com ninjas chineses!!! Sensacional!!!

Alguém confirme, por favor, se esses ninjas eram chineses mesmo, mas só por esse “pequeno” detalhe, THE KILLER ELITE já merecia entrar na lista de filmes obrigatórios do diretor.

Na época da produção, Peckinpah já era o diretor marginal, bêbado e problemático que todos nós conhecemos. Mesmo assim, o chefe da United Artists naquele período, Mike Medavoy, acreditava na capacidade do diretor e achou que o projeto era perfeito para o homem. Então deu a ele essa oportunidade, contanto que o trabalho fosse supervisionado pelo próprio Medavoy. Aparentemente, Peckinpah aceitou...

Acabei não revendo THE KILLER ELITE para um texto mais detalhado, mas mesmo assim vale comentar. A estória é bem simples e não passa da boa e velha trama de vingança. Duvall é o traidor que deixa James Caan praticamente morto após executarem um serviço mercenário. Caan acaba tendo sérias sequelas, mas esforça para se recuperar e poder efetuar sua desejada vingança. E para isso conta com a ajuda de alguns sujeitos de sua confiança, interpretados por Burt Young e Bo Hopkins.

A força do filme se constrói de forma cadenciada nesse conflito entre Caan e Duvall, sem muita ação. E talvez por isso o grande público tenha esquecido e ignorado o filme. Na verdade, THE KILLER ELITE realmente sofre um bocado com o ritmo e outros equívocos, mas à medida em que caminha para o final a coisa vai ficando melhor, mais movimentado, a tensão aumenta e entram em cena os ninjas para um gran finale altamente bizarro e divertido! É uma preciosidade que merece ser vista, nem que seja para comprovar que até um filme menor de ação dos anos 70 é muito superior a 95% dos filmes do gênero realizado hoje.

9.7.10

TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA (Bring me the Head of Alfredo Garcia, 1974), de Sam Peckinpah

A distribuidora LUME já ganhou o meu respeito. Lançou recentemente em DVD CRASH, do Cronenberg, e agora vem com TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA, a obra prima de Sam Peckinpah e um dos meus filmes favoritos de todos os tempos! E se preparem que vem mais por aí do diretor: o belo western PAT GARRET E BILLY THE KID e o subestimado THE KILLER ELITE. Ainda não tive tempo de colocar pra rodar o DVD de ALFREDO GARCIA, chegou ontem, mas vale a pena relembrar alguns detalhes memoráveis que tornam essa preciosidade uma das razões de existir uma tal arte chamada cinema!

A história de ALFREDO GARCIA começa bem antes das suas filmagens, com seu realizador se tornando famoso, não pelas obras que produzia, mas por um pequeno pormenor envolvendo álcool em excesso e problemas com executivos dos grandes estúdios. Acabou que ninguém mais queria investir numa produção que estivesse nas mãos do diretor maluco beberrão irresponsável. Como todo bom bandido de faroeste, partiu para o México onde realizou este que é o filme mais subversivo, melancólico e visceral de sua filmografia.

Foi no próprio diretor que Warren Oates se inspirou para compor o protagonista, Benny, um pianista americano frustrado que chegou ao fundo do poço numa cidadezinha mexicana e passa as noites tocando um órgão de bar para alegrar turistas. Mas a nossa trama começa em outro cenário, nas terras de um poderoso fazendeiro mexicano que descobre que Alfredo Garcia, um de seus empregados de confiança (que considerava um filho), engravidou sua filha. Puto da vida, o sujeito resolve dar uma gorda recompensa a quem trouxer, vivo ou morto, o pai da criança.

Aí que entra Benny. Em uma noite como outra qualquer, enchendo a cara e tocando alguns sucessos, como Guantanamera, em seu piano no bar, chega até ele um “casalzinho” de senhores arrumados, cabelinhos bem penteados, vestindo blazers com um grau de chiqueza acima do comum e oferecem a Benny uma quantia em dinheiro para que ele encontre Alfredo Garcia sem fazer muitas perguntas. Na situação em que se encontrava, acho que Benny venderia a própria mãe.

Contando com a ajuda da prostituta Elita (por quem o sujeito tem uma atração que vai além dos serviços que ela presta), que sabe do paradeiro de Alfredo Garcia, Benny aceita a missão e parte nessa jornada niilista pelo território mexicano em busca do pobre coitado (que já está morto e enterrado!). E a tensão só vai aumentando à medida que a viagem do casal se transforma num verdadeiro inferno. Após conseguir a cabeça do procurado, com direito a profanação de cova, Benny precisa retornar e não são apenas os caçadores de recompensas que querem botar as mãos no utensílio de Alfredo, mas também a família do pobre infeliz. Benny defende seu apetrecho com unhas e dentes.

Quanto mais ele mata, mais a loucura toma conta do personagem cujo desempenho de Warren Oates está em estado de graça! As cenas em que Benny dirige pelas estradas conversando e resmungando com a cabeça ao seu lado, dentro de um saco rodeado de moscas, além de impagáveis, demonstram todo estado de espírito de um personagem completamente perdido em seus atos!

Quando a violência finalmente explode de uma vez, o impacto é grande. É praticamente impossível desgrudar os olhos da tela. É aí que o diretor se sente mais à vontade para utilizar todos os artifícios pelo qual ganhou notoriedade: tiroteios em câmera lenta, derramamento de sangue e uma edição ousada que cria um resultado estranhamente belo. Não é à toa o apelido de “poeta da violência”.

Temos aqui o que há de melhor no cinema de ação peckinpaniano. Difícil um fã de cinema de ação não ser também admirador do trabalho de Sam Peckinpah. O sujeito praticamente reinventou o gênero com seus westerns e filmes de ação violentíssimos. Mas em ALFREDO GARCIA temos nas entrelinhas o que há de mais pessoal e circunstancial para Peckinpah naquela época. Não era apenas com uma puta direção de tiroteios em câmera lenta ou perseguições de carros alucinantes que ele fisga seu público, ele sabia exatamente como expressar todas suas frustrações, desilusões e visão de mundo com uma câmera. Se tratando então de Peckinpah, esse universo diegético pessimista deixa um estrago considerável.