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5.4.10

SURVIVAL OF THE DEAD (2009), de George A. Romero

Para alguns, Romero se tornou um velho gagá. Para outros, continua mestre do terror americano. Acho que está mais para uma mistura das duas coisas. O importante é que o sujeito está aí apresentando seu sexto filme de zumbis, SURVIVAL OF THE DEAD, e se não possui mais a mesma força inventiva da trilogia original (e realmente não possui), ao menos cada filme seu é uma revelação cujos impulsos criativos provam que o velho diretor ainda encontra-se sóbrio em relação ao seu cinema.
 Em SURVIVAL, Romero utiliza pela primeira vez um personagem de um trabalho anterior para fazer uma ligação direta entre os filmes. No caso, o líder de um esquadrão do exército que apareceu rapidamente em DIÁRIO DOS MORTOS roubando o trailer dos jovens protagonistas que filmavam tudo com suas câmeras. Mas desta vez ele oferece uma opção visual convencional, substituindo a representação documental.
A trama ocorre seis dias após o surgimento dos zumbis em DIÁRIO. O cenário é uma ilha onde duas famílias proeminentes estão em conflito em relação à maneira de lidar com a epidemia dos mortos vivos. Os O’Flynns não toleram os zumbis e acreditam que devem ser exterminados sem piedade. Já o clã dos Muldoons pensa que um dia haverá uma cura e, enquanto isso, os zumbis podem ser domesticados e até mesmo alimentados com algo que não seja carne humana. Procurando um lugar para ficar em paz, o esquadrão acaba entrando no meio desta confusão.
 Todos nós sabemos que os filmes de zumbis de Romero são, acima de tudo, metáforas que apontam críticas e reflexões sociais. Particularmente, acho que em SURVIVAL, o diretor não teve muito o que dizer ou não soube explorar essas idéias ou eu que tenho o QI de uma anta, o que é mais provável. Claro que há os militares e os personagens irlandeses da ilha cujas presenças possuem valor simbólico, como o próprio diretor afirma em entrevistas. Mas é pouco em comparação à substancial primeira trilogia.
Como filme B de zumbi isolado e sem grandes pretensões, não tenho do que reclamar. SURVIVAL é divertido pacas, possui bastante cenas de ação, muitos zumbis levando chumbo na cabeça, um bocado de gore e muito sangue (grande parte em CGI, infelizmente, mas já cansei de me preocupar com isso). Há um certo tom de humor que nem sempre se encaixa, mas também não me incomoda. Se por um lado Romero já não possui aquele vigor com circunstâncias sociais, como cineasta continua em plena forma, brincando com composições visuais estilísticas, algumas delas inspiradas no western, como no belo plano final.
Talvez eu esteja gostando do filme pelos motivos errados de novo, sendo tolerante demais e sem frescuras com alguns detalhes tortos, assim como em A ILHA DO MEDO. O que vejo aqui é um velhinho brincando de cinema de terror, com seus mortos vivos que já não assustam ninguém, sem a mesma grandeza e aspirações de outrora, mas ainda sobra para o espectador um passatempo fílmico de ótima qualidade. E no contexto do cinema de horror atual, isso é muita coisa!

19.3.10

O EXÉRCITO DO EXTERMÍNIO (The Crazies, 1973), de George A. Romero

Assisti a THE CRAZIES por dois motivos básicos. Primeiro, porque o remake está aí e quero vê-lo tendo em mente o original. Segundo e mais importante, porque é embaraçoso para qualquer amante de cinema B e que se diz fã de George Romero não ter visto ainda esta obra, como era meu caso. Toda a essência do cinema de Romero está em THE CRAZIES, uma autêntica peça fundamental para compreender o trabalho deste mestre, mesmo sendo apenas o seu quarto filme.
Temas políticos e sociais sempre tiveram um tratamento especial nos filmes de terror de Romero. Em A NOITE DOS MORTOS VIVOS, seu trabalho de estréia, ele já deixava isso bem claro quando colocou um negro como protagonista interagindo com superioridade sobre os brancos em situações extremas. Em THE CRAZIES, Romero desenha sua metáfora sobre a guerra do Vietnã. Coloca o governo dos Estados Unidos como um bando de desorganizados que quer apenas apertar um botão para resolver a merda que fizeram, com a preocupação mínima pela população que será dizimada, sem contar a forma de agir dos soldados americanos, como máquinas desumanas, utilizando aqueles macacões que ficaram marcados nos cartazes do filme...

Um garotinho brinca de assustar a sua irmãzinha durante a noite, mas são interrompidos por violentas pancadas ouvidas na cozinha. É o pai, totalmente fora de si, desferindo golpes com um taco de golfe nas prateleiras... talvez não tenha gostado da cor, quem sabe? Até que decide por fogo na casa e assim inicia THE CRAZIES, cuja tradução seria Os Malucos, mas a distribuidora brasileira optou por O EXÉRCITO DO EXTERMÍNIO. A trama prossegue com o exército americano colocando a pequena Evans City de quarentena por causa de um vírus espalhado nas redondezas através de um acidente de avião, o qual transportava uma arma biológica ultra secreta. Quando o vírus apresenta seu contágio, a vítima fica completamente maluca em diferentes estágios de insanidade, do mais alto padrão agressivo à leseira que se assemelha a um drogado abobalhado. A população, uma pequena comunidade rural onde grande parte possui armas de fogo, não deixa barato perante o sistema de controle implantado pelo exército e o local se transforma em uma verdadeira guerra.

Mesmo trabalhando com recurso financeiro baixíssimo, Romero realmente consegue recriar toda situação catastrófica com uma simplicidade genial, o mesmo universo que remete a seus filmes de zumbis, com cenários desertos e atmosfera aterrorizante, uma vez que, assim como em seus zombie movies existe a iminência de que algum personagem se transforme em algo que ele não é, no caso de THE CRAZIES, em um maluco contaminado. Sem contar as várias sequências viscerais que o diretor faz questão de utilizar para reforçar o impacto. Tudo banhado a muito sangue e com violência gráfica, o qual não poderia faltar de jeito nenhum na definição dos elementos que compõe o cinema de George Romero. Aposto minha melhor camisa que essa releitura não vá acrescentar em nada a esta belezura aqui. Se conseguirem ao menos captar a essência, teremos algo bem divertido talvez...