27.8.10

A CATEDRAL (La Chiesa, 1989), de Michele Soavi

O excesso de trabalho e a preguiça me consomem de vez em quando. Fico até sem ânimo de parar para assistir a filmes e comentar algo interessante aqui no recinto. Mas é só me deparar com uma obra prima do horror europeu do calibre de A CATEDRAL, do genial Michele Soavi, para voltar a sentir prazer pelo cinema.

Produzido e co-roteirizado por outro mestre italiano, Dario Argento, o filme possui uma visão muito original para tratar dos temas de bruxaria e satanismo. O prólogo ambienta o enredo no período da Idade Média numa sequência onde cavaleiros teutônicos massacram um vilarejo cujos habitantes são acusados de bruxaria. No local onde os corpos são enterrados é construido uma gigantesca catedral. Muitos anos depois, a trama se desloca para o período “atual” onde vários personagens interagem com os cenários góticos da catedral e liberam um mal adormecido durante séculos. Praticamente toda a ação se passa dentro da tal catedral. A direção de arte explora muito bem os seus interiores e a condução de Soavi é uma verdadeira aula de composição e arquitetura cinematográfica, com movimentos de câmera impressionantes. O climão fantástico e onírico que toma conta de toda narrativa é constantemente sublinhado por uma trilha sonora inusitada composta por Philip Glass e Goblin.

No elenco, algumas figurinhas típicas do horror europeu. Mas o nome mais famosinho hoje em dia é o de Asia Argento, que tinha apenas 14 anos na época, em um de seus primeiros trabalhos.

Algumas sequências possuem imagens belas e ao mesmo tempo aterradoras, como o gárgula demoníaco praticando o coito com uma moça à luz de velas ou a recriação de uma pintura de Boris Vallejo onde uma mulher nua abraça uma sinistra figura. Grande filme esse A CATEDRAL, que comprova porque tanta gente venera o Soavi, mesmo tendo realizado poucos filmes. Eu só havia assistido DELLAMORTE DELLAMORE e ARRIVEDERCI AMORE CIAO, o suficiente pra notar o talento do diretor. A CATEDRAL apenas confirma e o coloca agora entre os meus favoritos. E ainda preciso ver STAGE FRIGHT, LA SETTA, etc…

Em tempo, A CATEDRAL, a princípio, seria mais um episódio da série de filmes de terror da dupla Argento/Bava (filho), DEMONS, mas Soavi conseguiu intervir para que seu filme ficasse de fora. Mas no Japão chegou a ser lançado com o título DEMONS 3.

26.8.10

5º Cinefantasy – Festival Festival Internacional de Cinema Fantástico


"Em 2010, o Festival Internacional de Cinema Fantástico chega à sua quinta edição mais fantástico do que nunca. Na Programação serão exibidos curtas e longas-metragens nacionais e internacionais, além de homenagem ao cineasta brasileiro José Mojica Marins e ao colombiano Jairo Pinilla.

Nesta edição serão apresentados 154 títulos distribuídos na mostra Competitiva de Longas e Curtas-Metragens, Mostra paralela, que contará com o Panorama Israelense, Colombiano e Grego, os Melhores do Cinefantay 2009, e um filme surpresa, que será lançando no festival.

Para completar a programação, o Festival traz ainda a saudosa “Sessão da Tarde’, com exibição de clássicos como “As Sete Faces do Dr. Lao” e “Os Goonies”, a Oficina de maquiagem com Rodrigo Aragão, palestra sobre Cyberpunk japonês, além de bate-papos com convidados.

O Festival Internacional de Cinema Fantástico, acontece de 31 de agosto a 12 de Setembro, em São Paulo, nas salas do Centro Cultural de São Paulo, Cine Olido (ao lado da Galeria do rock) e sala Luiz Sérgio Person (biblioteca Viriato Correa). Atualmente é o principal evento no país dedicado aos curtas-metragens fantásticos - horror, ficção-científica e fantasia."

20.8.10

19.8.10

BLACK SWAN - poster

Se um cartaz fosse a representação exata da qualidade de um filme, BLACK SWAN já seria uma das maiores obras primas do cinema moderno.

PRÍNCIPE DAS SOMBRAS (Prince of Darkness, 1987), John Carpenter

Revi PRÍNCIPE DAS SOMBRAS só pra não esquecer nunca de como John Carpenter filma bem pra cacete e por isso é um dos meus diretores favoritos! O filme é a parte do meio de uma espécie de trilogia do apocalipse realizada pelo diretor, iniciada por THE THING e fechada com À BEIRA DA LOUCURA, onde um grupo de estudantes e cientistas são convocados para investigar um misterioso recipiente com um líquido verde guardado durante séculos dentro de uma igreja abandonada. Não demora muito para que o mal se espalhe, os assassinatos comecem a acontecer, tudo com muito clima e atmosfera densa, sempre acompanhado da excelente trilha criada pelo próprio Carpenter.

Após a frustração de ter trabalhado com grandes estúdios e o fracasso comercial de OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO, Carpenter resolveu voltar ao ofício de forma independente neste pequeno filme de terror, filmado em apenas 30 dias, mas conduzido com a sua competência habitual, que constrói uma série de grandes imagens e seqüências. Poderia citar vários pontos altos do filme, mas que coisa mais genial aqueles últimos 15 minutos!!! Difícil soltar a respiração depois de presenciar tudo aquilo...

No elenco, Carpenter escalou o músico Alice Cooper, alguns atores que havia trabalhado em seu filme anterior, como Victor Young, mas o grande destaque é Donald Pleasence, mais uma vez trabalhando com Carpenter, no papel do padre. É sempre um prazer vê-lo interpretando esse tipo de personagem.

John Carpenter fez filmes melhores, mas se tivesse feito apenas PRÍNCIPE DAS SOMBRAS, já teria sido um diretor notável.

18.8.10

CHINA GIRL (1987), de Abel Ferrara

Acabei de ler no blog do amigo Vlademir que o novo filme do Abel Ferrara, NAPOLI NAPOLI NAPOLI, está previsto para ser lançado nos cinemas brasileiros em setembro. É uma notícia e tanto! Curiosamente, assisti ontem ao maravilhoso CHINA GIRL, que nas palavras do meu amigo Daniel, é uma versão hardcore de Romeu & Julieta! A definição é perfeita! Imaginem a peça de Shakespeare sem as situações "mela-cueca" entre os pombinhos apaixonados, focado muito mais no violento conflito entre duas gangues, formada por chineses e italianos, em plenos anos oitenta, que fazem fronteira em bairros novaiorquinos iluminados sob as luzes fluorescentes de neon e musicalmente acompanhados de uma trilha típica daquele período! Um filmaço destruidor! E quando Ferrara resolve acompanhar de perto o romance proibido entre a chinesinha Tye e o italiano Tony, ele transforma a situação na coisa mais linda do mundo! Não é a toa que o diretor já declarou que dentre seus próprios trabalhos, CHINA GIRL seria o seu favorito. A direção é inspiradíssima! Questão de movimentação de câmera, uma mais impressionante que a outra, até chegar num plano final antológico!

No elenco, temos James Russo como irmão mais velho de Tony. O sujeito é simplesmente um dos maiores atores injustiçados do cinema americano. Dono de um talento ímpar e de uma segurança estupenda para encenar situações dramáticas com perfeição, Russo nunca teve o destaque merecido. Basta ver sua atuação em OLHOS DE SERPENTE, também de Ferrara, para entender o que estou falando. David Caruso também marca presença, assim como James Hong e Russell Wong.

16.8.10

INCEPTION E JOE D'AMATO COM NAMORADA

Além de OS MERCENÁRIOS, assisti apenas a mais dois filmes no fim de semana. No sábado fui ao cinema conferir o novo trabalho do Nolan, que recebeu o nome de A ORIGEM, o qual até agora não entedi o porquê do título. Mas só isso que fiquei sem entender, porque apesar de tanto comentário sobre a complexidade do enredo, o filme acabou se revelando super simples de se acompanhar, mas tentando desesperadamente ser algo bem mais complicado do que é. E como não entender um filme que para a cada 5 minutos para explicar o que se passa? Nolan tem uma síndrome de grandeza muito prejudicial também, que deixa seu trabalho cheio de excessos ao longo de 2h30 de duração. Mas há dentro de A ORIGEM uma pequena trama que se vista com muita boa vontade e tolerancia, até que dá pra se divertir. Como eu sou o tolerante pra burro, não acho o filme ruim. Mas que 1 hora a menos cortados na sala de edição faria um bem danado ao filme, isso pode ter certeza que faria!

Poucas namorada são tão perfeitas quanto a minha. Além de me acompanhar em clássicos de ação oitentistas, adora um bom spaghetti western e filmes de kung fu! Ontem fiz uma revisão com ela do maravilhoso EMANUELLE IN AMERICA, do mestre Joe D’Amato!!! Lesbianismo, sexo explícito, snuff movie e até um cavalo excitado. E não é que ela gostou?! Já escrevi sobre o filme aqui.

14.8.10

OS MERCENÁRIOS (The Expendables, 2010), de Sylvester Stallone

OS MERCENÁRIOS não é simplesmente um filme de ação. Representa muito mais que isso para uma geração que cresceu assistindo aos exemplares do gênero nos anos 80, os bons e velhos anos 80, como os RAMBO’s, COMANDO PARA MATAR, INVASÃO USA, DURO DE MATAR, e milhares de outros títulos onde reinava o exagero, a violência e a truculência de personagens valentões e politicamente incorretos, que matavam e torturavam sem piedade, sem se importar com a quantidade de inimigos que enfrentavam. E ainda por cima, fazendo pose pra câmera... afinal, eles eram os “good guys” que nunca seriam alvejados e suas balas não iriam acabar.

Essa mesma geração acompanhou de perto o que o gênero se tornou com o passar do tempo. O cinema de ação feito hoje para a moçada é vergonhoso, feito por gente sem o mínimo de talento e bom senso em comparação com os diretores de saco roxo de 25 anos atrás. Ainda há um grupo remanescente que de vez em quando apresenta algumas pérolas, quase sempre no cenário independente, lançados diretamente em DVD, como Isaac Florentine, John Hyams e Jesse V. Johnson.


Até ontem, meu filme de ação preferido de 2010, era o pequeno THE BUTCHER, do citado Johnson, um excelente exemplar feito à moda antiga estrelado pelo Eric Roberts. Disse até ontem porque após o monumental OS MERCENÁRIOS fica difícil a disputa pelo posto de primeiro lugar. O filme de Stallone come a concorrência no café da manhã com rosquinhas e leite! Fazendo um papel de porta voz em nome dos fãs do cinema de ação da minha geração, não tenho medo de arriscar ao dizer que OS MERCENÁRIOS é um acontecimento histórico, um retorno ao coração dos anos oitenta, ao exagero frenético e explosivo da mais pura ação, onde a trama não importa, as atuações muito menos, apenas o efeito catártico sobre o espectador obtido através do espetáculo visual e sonoro é o que realmente conta. E é o que temos de sobra por aqui.


Além, é claro, da reunião “aldrichiana” do elenco formado por alguns personagens ícones do cinema de ação e que serviu de isca para a campanha promocional do filme. Alguns atores nem chegam a ter tanto status, mas estão tão bem inseridos nesse universo, que a impressão é a de que sempre estiveram lá, participando daquele período mágico. E apesar de toda brutalidade, a contagem de corpos e violência exacerbada, é preciso muita sensibilidade para realizar um filme como este. Stallone não é nenhum ignorante e sabe muito bem o que o cinema de ação mainstream tem se tornado ao longo do tempo. Em RAMBO 4, por exemplo, ele já tinha jogado na tela: “FILME DE AÇÃO É ISSO AQUI, CA@#$LHO!!!”. A segunda aula de cinema é agora, com OS MERCENÁRIOS.


Não se trata de um filme perfeito. Estou prevendo muita gente apontando o dedo em alguns problemas, alguns excessos... normal. Mas quem entrar no cinema disposto a ver muita, mas muita explosão, tiros e alta contagem de corpos, vai ser muito bem recompensado. Eu me senti como se tivesse doze anos. Foi uma experiência única. Nunca vi tanta pirotecnia numa sala de cinema em toda minha vida!


E Stallone provavelmente se estabelece agora como o grande nome do cinema de ação americano da atualidade. Mais por manter o espírito do gênero da maneira que deve ser: anacrônico, sem firulas e bem exagerado. É até curiosa as sequências de ação, pois são filmadas e montadas como uma máquina de costura, com excesso de planos e cortes acelerados, da maneira que nós acostumamos a criticar, mas o espectador consegue perfeitamente ver o que se passa na tela. Domínio total da gramática da ação do velho Stallone mesmo chacoalhando a câmera. A única cena que esse tipo de recurso estético deveria ter sido modificado para uma montagem menos acelerada e enquadramentos mais clássicos é na luta do Jet Li contra o Dolph. O resultado não favorece o oriental, que poderia ter suas habilidades e a beleza dos seus movimentos melhor aproveitadas.

A trama básica que já estamos carecas de saber permanece com poucas surpresas. Grupo de mercenários contratado para derrubar um ditador num país sul americano. Até na premissa Stallone foi buscar lá atrás, em filmes como CÃES DE GUERRA e MCBAIN. A história pode até ser bem simples, mas é com as situações cheia de testosterona e os personagens carismáticos que OS MERCENÁRIOS realmente ganha um corpo.


Não vou falar de cada ator, mas todos eles mereceriam um parágrafo só pra eles. Todos têm a sua peculiaridade muito bem trabalhada, ainda que de forma sutil. TODOS estão muito bem, com a impressão de que se divertiram muito fazendo esse filme. Isso fica claro na encenação, nos diálogos, alguns parecem improvisados, mesmo que a atuação de alguns não seja grande coisa, mas cumpriram muito bem seus papéis.

Meus destaques ficam por conta de 1) Mickey Rourke. Há uma cena belíssima onde ele relembra os velhos tempos com as lágrimas nos olhos que me deixou arrepiado. Dessas cenas que tornam um filme desses em algo muito maior do que aparentemente deveria ser. 2) Eric Roberts como vilão está sensacional. Bem caricato e eficiente. Como é bom vê-lo na tela grande tão a vontade. 3) Outro que me surpreendeu foi o velho Dolph!!! Quase todos os atores que se envolvem na ação tiveram o trabalho de interpretar a eles mesmos ou as representações que os transformaram em ícones. Dolph não. Foi um dos únicos que precisou encarnar um personagem bem diferente do que faz, na pele de um abobalhado alucinado, louco, psicopata! É meu personagem favorito.



E há ainda o encontro dos ícones máximos! Não vou entrar em detalhes para não estragar o prazer de quem ainda não viu, mas Stallone, Bruce Willis e Arnoldão juntos é antológico! Um dos melhores momentos do filme.

JET LI x DOLPH LUNDGREN

Como já disse, um detalhe que eu encrenquei foram as lutas do Jet Li filmadas de maneiras picotadas. Não sei, mas acho que Stallone busca realismo com esse tipo de edição. Mas cada personagem é apresentado com uma habilidade especial e várias delas com o pé no exagero. Stallone rápido no gatilho com um revólver à moda antiga, Stathan é hábil com facas e por aí vai. Não custava nada o Jet Li demonstrar suas habilidades da maneira correta de se filmar kung fu. Enfim, acho que o grande e esperado duelo entre ele e o Dolph ficou um pouco prejudicado por conta disso, mas ainda assim achei bacana e muito bem contextualizado.

SYLVESTER STALLONE x STEVE AUSTIN

Essa aqui foi melhor. No calor da ação final, Stallone atraca com Austin num quebra pau pra lá de truculento num túnel. Aí sim, quando dois brutamontes trocam murros, o resultado na tela é bem melhor da forma que ficou. E Stallone dando golpes de MMA é sensacional! Aliás, toda a sequência que acontece dentro dos túneis nos subterrâneos da mansão do ditador é de deixar qualquer fã do gênero com um sorriso de orelha a orelha durante muito tempo. Gary Daniels levando uma surra de Jet Li e Stathan é uma coisa linda e Terry Crews destruido com sua metralhadora é a cena mais "puta que pariu" do filme.


GISELE ITIÉ

Delícia!


OS MERCENÁRIOS se confirma como o filme de ação absurdo, violento e oitentista que eu esperava ansiosamente. E Stallone é dos poucos diretores americanos que devolve o prazer por este gênero que eu tanto aprecio. Seu trabalho aqui é bem mais que uma homenagem aos bons tempos do gênero. É quase um autêntico exemplar daquele período, mas calhou de aparecer na hora errada, só que deveria servir de paradigma para todo e qualquer cidadão que resolvesse se aventurar com o cinema de ação na atualidade.

11.8.10

ANATOMIA DE UM ASSASSINO (Body Parts, 1991), de Eric Red

EM BUSCA DO FILME ESQUECIDO

Bastou uma modesta sessão em VHS, quando eu tinha lá os meus nove ou dez anos para carregar algumas imagens deste filme na memória durante um bom tempo da vida. Só que era desses exemplares que comumente assistimos acidentalmente ainda moleque, sem saber o título, nome dos atores, na verdade não era nem para eu estar assistindo, e acaba esquecendo completamente. Quando se lembra, são apenas imagens desconexas que não formam sequer uma sinopse… Enfim, quando chegou a internet, imdb, baixação de filmes, resolvi tentar reencontrar algumas coisas, mas não consegui lembrar de informações suficientes para encontrar este aqui.

No ano passado, conversando com o meu amigo Osvaldo Neto, sobre um diretor de filmes B (óbvio, já que o Osvaldo é especialista no assunto) que havia feito um filme que ele tinha assistido, COHEN AND TATE, acabei tomando conhecimento do diretor Eric Red. Fui dar uma conferida no imdb, para ver o que o rapaz já tinha feito e pimba! Estava lá BODY PARTS. Só de ver a arte do cartaz e o título, as imagens do filme começaram a rondar a minha cabeça. Depois de ler a sinopse, confirmei que era o filme esquecido. Lembro até de comentar com o Osvaldo na nossa conversa que estava atrás daquele filme há anos, mas não lembrava de nada que me ajudasse a encontrá-lo… e o pior é que o enredo tem uma peculiaridade bem característica.

No último sábado, depois de quase um ano segurando o filme aqui, resolvi assistir. Claro que não é exatamente a mesma experiência que tive com o olhar da ingenuidade, mas pela mãe do guarda, juro que vivenciei alguns bons momentos diante dessa simplicidade fílmica, mas de uma grandeza inesperada! Chego a ficar constrangido por gostar tanto de um filme que, aparentemente, não possui nada fora do normal, mas acaba me atigindo de uma maneira notável. Não sei se chega a ser um “guilty pleasure”, porque o filme não é ruim, mas só mesmo um belo filme especial e torto causa esse tipo de reação em mim.

BODY PARTS não é uma obra prima, mas é um excelente thriller, possui uma trama urdida com criatividade, uma pitada de ação e ficção científica, além de ser uma esquisita e moderna releitura de Frankenstein. O bastante para surtir o seu efeito catártico sobre mim.

A trama gira em torno de um pacato psicólogo criminal, Bill Chrushank, que após um acidente de carro perde um braço. É preciso aceitar o tom fantástico do enredo que parte do princípio de que um transplante de braço vai substituir perfeitamente o antigo. E é isso que acontece, o protagonista recebe um braço novo que funciona 100 % em poucos meses, através de uma cirurgia experimental de ponta.

A partir daí, a vida de Bill muda de uma maneira negativa. Sua personalidade gradativamente se torna mais agressivas e estranha. Desconfiando que seu novo membro exerce essa influência sobre o seu comportamento, Bill inicia uma investigação para descobrir de quem era o braço, além de entrar em contato com outras pessoas que também receberam partes do mesmo corpo.

Entre suas inúmeras qualidades, Eric Red acerta em cheio ao colocar Jeff Fahey como protagonista. O ator, que já esteve em mais de 100 filmes e é bem conhecido pelos apreciadores do cinema de baixo orçamento, tem aqui uma atuação digna de nota. Quem também está ótimo é Brad Douriff, como um pintor medíocre que passa por uma fase inspirada, pintando quadros bizarros e macabros, após receber o outro braço do corpo em questão. A primera cena dele no filme é antológica!

O filme não possui muita ação. Temos a cena do acidente, que é um espetáculo. É rápida, visceral e sem frescuras. Há uma sequência envolvendo carros em alta velocidade que é de lascar também. Eric Red preza mais pelo climão de suspense. Red não chega a ser um mestre, mas BODY PARTS pode servir como uma autêntica aula de atmosfera, de montagem clássica e eficiente, para os cineastas da nova geração que acham que fazer suspense é dar sustos e aumentar o volume da trilha.

Recomendo para aqueles que curtem um simples, mas ótimo suspense a moda antiga, mesmo sabendo que não vão entender porque eu gosto tanto do filme, mas não tem problema. Certamente vocês devem ter vários filmes que eu não entendo como alguém pode gostar tanto…

10.8.10

A CENTOPÉIA HUMANA (The Human Centipede, 2009), de Tom Six

Gostando ou não, temos que admitir que seria preciso ter estômago (além de ser muito chato) pra ficar indiferente diante de A CENTOPÉIA HUMANA, filme que arregalou alguns olhares em suas exibições e levantou muita discussão trazendo um dos conceitos mais perturbadores que eu vi nos último anos: três pessoas são sequestradas por um médico maluco que realiza um experimento que consiste em interligar as três cobaias num único sistema digestivo.

A estória surgiu de uma idéia boba do diretor Tom Six, que dizia para seus amigos, enquanto assistiam TV  sempre que passava alguma reportagem sobre pedofilia, que as autoridades deveriam fazer o sujeito comer as fezes de um motorista de caminhão bem gordo como punição. Six sabia que isso poderia servir de base para um enredo de filme de terror e foi amadurecendo a idéia até chegar no resultado que foi visto na tela. Consultou até um médico cirurgião holandês que só aceitou ajudá-lo nos detalhes medicinais porque era fã de cinema (os desenhos do médico foram até utilizados no próprio filme, na cena em que o Dr. Heiter explica os procedimentos da sua operação).

Apesar da idéia ser realmente doentia e de revirar o estômago, e não faltam situações grotescas por conta disso, o resultado final não é tão subversivo assim. Visualmente, o filme é bem light e limpinho. Tá certo que chocar por chocar eu dispenso, mas A CENTOPÉIA HUMANA até teria um ótimo motivo, principalmente porque eu adoro um bom gore! O filme tem algumas falhas comuns do cinema de terror atual, mas gostei do jeito que ficou, embora não deixe de imaginar o que teria saído nas mãos de um diretor italiano no início dos anos 80, como um Joe D’Amato ou Lucio Fulci. Ou do alemão Jorg Buttgereit e o japonês Takashi Miike em seus dias de inspiração… haja estômago!

Algo que indiscutivelmente me agrada bastante é a presença do ator alemão Dieter Laser, que encarnou no Dr. Heiter, o médico maluco da trama, com muita força e expressividade. Um dos personagens mais bizarros e assustadores do horror moderno. O resto do elenco está bem, principalmente aos atores que fazem as três vítimas. É preciso uma certa coragem para submeter-se a papéis como estes. Cheguei a ler que várias pessoas que apareciam para os teste de escolha de elenco abandonaram o local quando tomavam conhecimento do que se tratava...

A CENTOPÉIA HUMANA foi pensado como um filme de dois volumes. A segunda parte está prevista para 2011. Tom Six não revela nada do que teremos a seguir, mas estarei esperando por mais uma dose dessa sandice toda.

9.8.10

TRIANGLE (2009), de Christopher Smith

Estava sentindo que precisava experimentar mais filmes novos. Não apenas assistir, algo que tenho feito pouquíssimo, mas escrever também sobre algumas coisas que vi e acabei deixando passar em branco aqui no blog. A CENTOPÉIA HUMANA, por exemplo, assisti há meses e até agora nada, mas vou tentar escrever algo sobre ele durante a semana. Por enquanto, vamos ficar com este TRIANGLE, que também já faz um bom tempinho que eu vi e até me surpreendeu bastante.

Não que seja um filme excelente, mas não esperava muita coisa. A trama rocambolesca que aborda viagens no tempo poderia dar tudo errado em qualquer momento, mas o diretor Christopher Smith consegue manter o nível, a complexidade (sem desandar em explicações estúpidas) e até a minha atenção do início ao fim. Consegue realmente sustentar a idéia do enredo, por mais frágil que seja, mesmo sem atingir resultados geniais, com atores satisfatórios, efeitos especiais sem frescuras e bom visual.

Quanto menos o espectador souber da trama, melhor será a apreciação. Uma coisa certa é que uma conferida à obra não será perda de tempo. Pra quem não viu ainda LOS CRONOCRIMENES, filme espanhol de Nacho Vigalondo realizado em 2007, recomendo uma sessão dupla com TRIANGLE! Por que? Vai entender quando assistir aos dois filmes.

O diretor Christopher Smith tem em seu currículo o terror PLATAFORMA DO MEDO, aka CREEP, que tem seus admiradores, eu não sou muito chegado, e SEVERANCE (2006), muito elogiado, mas não vi. TRIANGLE é seu terceiro trabalho, mas não foi o último. BLACK DEATH, uma aventura medieval com Sean Bean, já teve lançamentos em festivais no exterior, mas não faço a menor idéia do que esperar deste filme. De qualquer maneira, vou assistir e depois deixo aqui as minhas impressões. Smith ainda é neófito na direção, mas não deixa de ser promissor.

8.8.10

2 ANOS DEMENTES

Diferente do ano passado, eu me lembrei do aniversário do DEMENTIA 13 na data certa este ano!

O blog possui atualmente quase 80.000 acessos e uma média diária de 200 visitantes. Pode parecer pouco para alguns de vocês, mas para um pobre infeliz que mora longe do circuito e que ainda está em fase de aprendizagem sobre o tipo de cinema que admira, é muito mais do que o esperado.

Portanto, meus agradecimentos sinceros aos leitores, aqueles que acompanham o blog desde o início até aquele que entrou hoje aqui pela primeira vez, e a todos os fiéis amigos que eu fiz durante este tempo, são vocês que sustentam a minha vontade de sempre continuar. Não vou citar nomes, pois são tantos e poderia fazer a injustiça de esquecer alguém. Vida longa ao DEMENTIA 13!

5.8.10

CHEGA DE ENROLAÇÃO E VAMOS AOS FILMES

A BLADE IN THE DARK (La casa con la scala nel buio, 1983), de Lamberto Bava

A idéia inicial dos produtores era de fazer uma série televisiva de suspense, dividida em quatro partes, onde um assassinato aconteceria sempre ao final de cada episódio. Mas felizmente abandonaram a proposta porque acharam que seria muito violento para se passar na TV. Eu digo felizmente porque como um filme de 110 minutos, a narrativa já é leeeeeenta o bastante, imagina dividida em quatro partes. O que não quer dizer que seja uma obra ruim, pelo contrário, é um baita filme de terror. E se não foi adiante na idéia da série por causa da violência, ao menos para o cinema, o filhote de Mario Bava não teve preocupação alguma na quantidade de sangue!

A trama de A BLADE IN THE DARK bem simples, mas é recheada de metalinguagem, sobre um músico contratado para compor a trilha sonora de um filme de terror e se instala numa mansão isolada para se concentrar no trabalho. Durante esse processo de criação, coisas estranhas começam a ocorrer. Não demora muito para uma bela jovem ser brutalmente assassinada e o protagonista passa a ter uma obsessão em tentar resolver os crimes por conta própria.

Uma cena é especialmente marcante, a do assassinato no banheiro. A faca fincada na mão, o saco plástico sufocando a vítima, um corte final na jugular e sangue pra tudo “quanté” lado. Uma coisa linda! A direção de Bavinha (como chama carinhosamente o Leandro Caraça) é muito boa, cadenciada, o filme tem climão dos bons! Não chega a ter a genialidade do pai, mas imaginem a pressão de um sujeito que resolve virar diretor sendo filho de quem é. Não deve ser fácil. E mesmo assim se sai muito bem. E teve como assistente de direção o Michele Soavi, ainda em fase de aprendizagem...

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MURDER OBSESSION (Follia omicida, 1981), de Riccardo Freda

Freda tinha “apenas” 72 anos quando dirigiu MURDER OBSESSION. Então não sei se ele estava pouco se lixando para alguns detalhes do filme ou se já estava caduco. O fato é que o homem foi genial e não precisava provar mais nada a ninguém e aqui o resultado está mais para um Jess Franco ou Joe D'Amato. Foi o último filme que dirigiu por completo. Em seu trabalho seguinte, já na década de 1990, e com mais 80 anos, acabou despedido, dizem as lendas, por ter agredido a estrela do filme, Sophie Marceau, depois de ficar com o saco cheio das frescuras da atriz.

Mas voltando a MURDER OBSESSION, a trama é sobre um famoso ator de filmes de terror (de novo!) que possui um trauma infantil e resolve visitar a mãe, que não vê há muito tempo, em sua mansão isolada (de novo!). Resolve levar consigo alguns amigos, que trabalham com ele no cinema, mas aos poucos começa a boa, velha e misteriosa matança. E que a verossimilhança se exploda! Sabe-se que o cinema italiano de gênero nem sempre prezou pela qualidade dos roteiros, então é normal situações meio bizonhas para forçar a barra, mas o que importa mesmo, e Freda era expert neste aspecto, são as imagens que se formam na tela.

Por mais que houvesse um desleixo em alguns detalhes, na elaboração do roteiro, ritmo, ou que os atores não fossem grandes coisas (menos Laura Gemser, sempre belíssima e dedicada), é inegável a capacidade de Freda na direção, na construção de suspense e ambientações atmosféricas. Há uma longa sequência de sonho que é uma das coisas mais interessantes que eu tenho visto nos últimos meses, com direito a aranha gigante, ataque de morcegos e um ritual satânico, tudo isso ostentado sob um visual gótico que remete ao melhor do cinema de horror italiano dos anos 60 e que Freda foi um dos principais representantes. Só essa sequência já vale o filme todo!

E há um bocado de violência gráfica também, embora não seja realizada pelos artistas mais competentes do ramo, já dá um sabor a mais. A medida que o filme caminha para o final, vai ficando cada vez mais emblemático e surreal, até chegar num desfecho inacreditável, cujos enquadramentos lembram quadros renascentistas. Tudo isso sem perder o charme do desleixo inicial, pra espantar o público comum e deixar apenas os verdadeiros fãs curtirem essa obra esquisita.

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LA MALA ORDINA (1972), Fernando di Leo

Teria como ser ruim um filme que começa com Henry Silva e Woody Strode, interpretando dois assassinos, sendo contratados pela máfia para matar um cafetão italiano, vivido por Mario Adorf?! Claro que não! Ainda mais dirigido pelo grande mestre do gênero, Fernando di Leo. Pois é exatamente essa a premissa de LA MALA ORDINA, a segunda parte de uma espécie de trilogia realizada pelo diretor envolvendo o subgênero. Os outros filmes são MILANO CALIBRO 9, que é um dos meus favoritos, e IL BOSS, que eu não vi ainda, mas parece ser do grande cacete também.

Silva e Strode são um deslumbre, mas quem rouba a cena é Adorf que ganha maior destaque tentando entender a sua situação hitchcockiana, versão subversiva, ao ser caçado pela máfia por um "crime" que não cometeu. No elenco, Adolfo Celi marca presença na pele de um chefão. Temos ainda pancadaria, tiroteios lindamente filmados, uma perseguição de carro frenética, truculência até a alma. Poucos gêneros são tão estimulantes como o poliziotesco. Este aqui é um dos melhores exemplares que eu já vi.

ENTREVISTA EXPLOSIVA

1.8.10

RADIOACTIVE DREAMS ATUALIZADO

Publicação em inglês da entrevista com a atual musa de Albert Pyun, Victoria Maurette, realizada pelo parceiro Osvaldo Neto, que havia saído no Boca do Inferno anteriormente.

E um textinho sobre DOLLMAN, que eu escrevi.

Sei que o diretor Albert Pyun possui poucos admiradores, mas eu e o Osvaldo vamos tentar manter o RADIOACTIVE DREAMS atualizado com mais frequência.

PIRANHA 3D - NOVO POSTER