Uma dessas historinhas de bastidores conta que após realizar A MARCA DA PANTERA a vida de Paul Schrader entrou numa maré de azar danada, como uma espécie de maldição. O sujeito foi parar no Japão onde teve a idéia de filmar a vida de Yukio Mishima, provavelmente o maior escritor japonês do século XX. Conseguiu dinheiro com a dupla Francis F. Coppola e George Lucas, escreveu o roteiro junto com seu irmão, Leonard, e filmou uma cinebiografia incomum e de rara beleza no cinema americano. Um verdadeiro banquete de soluções visuais que impressiona até mesmo o espectador mais exigente.
Mishima era uma figura curiosa, um misto de genialidade e loucura, narcisista ao extremo, ativista político, que encontrou um ótimo desempenho aqui na pele de Ken Ogata. O roteiro dos irmãos Schrader é muito inteligente e divide o filme em capítulos e variações temporais, além de inserir três obras de Mishima à narrativa, com o intuito de se aprofundar às variadas máscaras de seu protagonista.
Em seu último dia de vida, Mishima invadiu um quartel em Tóquio, acompanhado de alguns pupilos e praticou o harakiri. Este evento é captado num tom bem realista pelas câmeras de Schrader. Mas a narrativa fragmentada e entrelaçada recua no tempo mostrando, num belo preto e branco, a infância e juventude do autor de Confissões de uma Máscara.
Já as cenas inspiradas na obra do escritor são compostas com uma estética expressionista de cores vibrantes e cenários intencionalmente falsos e estilizados, demostrando toda a segurança artística de Schrader e sua ousadia em transcender visualmente, algo que já tinha esboçado em A MARCA DA PANTERA e em MISHIMA chega ao ápice. A trilha sonora de Philip Glass é um dos grandes destaques, tem um casamento perfeito com as poderosas imagens. Mais um absolutamente obrigatório do diretor.
------------------------------------------------------------------
Muitos de vocês talvez se lembrem que antes do DEMENTIA 13 eu tinha outro blog, o Cine Art, o qual eu compartilhava com um amigo daqui de Vitória-ES, Felipe Mappa, o trabalho de atualização. Depois de algum tempo, o Felipe abandonou o recinto e eu fiquei mais de um ano carregando o blog sozinho até resolver me mudar para este aqui. Depois de quase dois anos sem atualização, o Cine Art está de volta sob o comando do Felipe, que resolveu embarcar novamente neste prazeroso universo, agora sozinho, ainda que meus velhos e constrangedores textos estejam lá. Enfim, não deixem de prestigiar o novo Cine Art.