Mostrando postagens com marcador lucio fulci. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador lucio fulci. Mostrar todas as postagens

13.11.09

O ESTRANHO SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS (Non si sevizia un paperino, 1972), de Lucio Fulci

Antes de viajar, mais um textinho de lambuja. Revi O ESTRANHO SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS, um dos maiores filmes do genial Lucio Fulci, o qual é sempre um prazer poder ver e rever grande parte da sua obra. Carrego boas lembranças de seus filmes e este aqui é especial porque acumula algumas das cenas mais memoráveis e impressionantes que o homem já filmou, a começar pela belíssima e mórbida sequência de abertura, o plano nas mãos da brasileira Florinda Bolkan desenterrando o esqueleto de uma criança pequena... muito arrepiante!

No entanto, fica difícil distinguir de fato um gênero para o filme. É um exercício de terror, sem dúvida, com alguns elementos dos gialli, acompanhado de um comentário político. Mas não importa, o que vale no fim das contas é a experiência de ver um gênio em atividade em uma de suas ocasiões mais inspiradas. E Fulci chuta o balde e já subverte na premissa: numa pequena cidade do interior italiano, as crianças é que são alvos de um serial killer. Suspeitos é que não faltam no local para fazer a polícia botar a cuca para funcionar e o diretor trabalhe o suspense, já que os filma como se todos realmente fossem o assassino de crianças.

Uma das suspeitas é Maciara (Florinda Bolkan), uma bruxa que mexe com vodu. Em determinado momento ela vai presa, mas após verificarem sua inocência, ela é solta pela polícia, mas os pais de algumas crianças mortas não acreditam na decisão das autoridades e tomam a atitude medieval de espancá-la até a morte. Embora brutal e muito violenta, a sequência consegue também atingir um tom poético pela maneira como Fulci a realiza, ao som de Ornela Vanoni... a cena belíssima, digna de qualquer antologia do cinema mundial.

Florinda nasceu no Ceará e foi para Itália em 68 onde teve um papel importante no filme de Luchino Visconti OS DEUSES MALDITOS. Atuou em mais de quarenta filmes, mas dizem que em suas entrevistas nunca cita nomes de diretores como Fulci e Elio Petri, com os quais já trabalhou, apenas se vangloria por ter trabalhado com Visconti e Vittorio de Sica, que realmente é uma honra, mas é curioso pois Visconti não gostou de trabalhar com ela e disse que um dos piores erros de sua vida foi tê-la escalado num papel importante em seu filme. Enfim, aqui ela está sensacional e a cena na delegacia comprova o seu talento e demonstra porque essa brasileira conseguiu tanto trabalho no cinema italiano.

Outra suspeita na trama é Patrizia, interpretada pela musa Barbara Bouchet. Fulci a apresenta na cena onde o garotinho leva o suco pra ela e a encontra estirada, bem à vontade, da maneira em que ela veio ao mundo. A personagem vive no local a mando de seu pai, pelo seu envolvimento num escândalo com drogas e o cenário de sua casa parece um universo paralelo, com a decoração psicodélica setentista em contraste com o estilo rústico do vilarejo. E como se já não tivéssemos ótimas atrizes o suficiente, Fulci ainda coloca a grega Irene Papas vivendo a mãe do padre local.

Mas o assassino mesmo não chega a ser uma surpresa e lá pelas tantas já dá pra ter uma noção, principalmente levando em consideração à opinião do diretor sobre religião e o catolicismo. Não foi a toa que Fulci foi excomungado por este filme. O legal é que O ESTRANHO SEGREDO não assume um ponto de vista definido em momento algum entre os personagens. Acompanhamos as crianças, o jornalista (Tomas Milian), mas principalmente a polícia (na verdade, vários oficiais). Na maior parte do tempo, a narrativa se resume em investigações, interrogatórios com os suspeitos, etc... Mas o filme se beneficia muito do talento de Fulci mesmo nessas sequências, e o final é mais uma prova de sua genialidade, com o assassino despencando e se arrebentando nas pedras do precipício. Poético e brutal, O ESTRANHO SEGREDO é um grande exemplar do cinema italiano que precisa ser visto pelas novas gerações (como seu fosse muito velho...).

17.12.08

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (Paura nella città dei morti viventi, 1980), de Lucio Fulci

Praticamente um ano depois de dirigir sua obra-prima, ZOMBIE 2 (79), o diretor italiano Lucio Fulci foi para os Estados Unidos onde se firmou e realizou um bom número de filmes, como PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS. E já pelo título deste, nota-se que Fulci continuou a explorar o tema dos mortos vivos que povoam a terra e etc. Mas, além disso, tentou desenvolver um estilo que envolvesse mais elementos de horror do que somente zumbis que brotam do nada, diferente do seu filme anterior que, por mais que tenha explicações do surgimento dos zumbis, possui uma certa ligação com o cinema de George A. Romero.

Esta tentativa de se criar o novo, um experimentalismo pulsante e genial que dá todo o sentido de existir do cinema de Fulci, infelizmente acaba não dando muito certo por aqui. Mas graças ao bom Deus, o diretor amadureceu a idéia e filmou THE BEYOND (81) onde obteve resultados muito mais excelentes. PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS pode ser considerado um esboço de THE BEYOND, mas por favor, de maneira alguma essa preciosidade é de se jogar fora. Mesmo que Fulci pareça meio perdido, sem muita noção ao trabalhar com tantos elementos, ele soube criar algumas das seqüências mais extremas, violentas e atmosféricas de sua filmografia e que satisfazem tranquilamente o desejo de sangue de seus fãs, deixando de lado os furos e constrangimentos do roteiro.

Só pra dar um gostinho, existe uma cena onde uma moça vomita suas próprias vísceras e Fulci faz questão de mostrar com variações impressionantes de closes. Quase que eu coloquei as minhas próprias tripas pra fora ao ver aquilo, enfim... Outra cena maravilhosa é a do rapaz que é assassinado com uma broca. Extremamente realista e bem filmada, graças ao mestre italiano dos efeitos especiais, Gianetto de Rossi, só essa seqüência já valeria o ingresso do filme (se por algum milagre divino passasse num cinema por aqui). A história de PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS é totalmente descartável, até mesmo porque tentar acompanhá-la é dar motivo pra decepção. O bom mesmo é reparar os detalhes, as seqüências recheadas de gore, se você é fã de Fulci ou do cinema italiano de horror daquela época sabe do que estou falando...