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12.9.11

GLI OCCHI FREDDI DELLA PAURA (1971)


aka MOMENTOS DE DESESPERO
       COLD EYES OF FEAR

direção: Enzo G. Castellari
roteiro: Leo Anchóriz, Tito Capri, Enzo G. Castellari

Já que me cobraram para continuar com textos do ciclo Castellari, vamos voltar às atividades com o homem! Apenas justificando a parada, já disse algumas vezes que sou tremendamente desorganizado com essas peregrinações de diretores. Então, podem me cobrar, caso eu abandone o italiano de novo. Outro motivo deve ter sido porque eu não achei GLI OCCHI FREDDI DELLA PAURA grandes coisas, o que me desanimou um bocado pra escrever algo e acabei esquecendo.


Sempre li que era um giallo, mas no fim das contas é um filme de “invasão de casa com reféns”, estilo HORAS DE DESESPERO, clássico com o Bogart, ou então a refilmagem do Cimino, com o Mickey Rourke. Claro que pensar que era uma coisa e na verdade ser outra não foi o motivo de não ter me agradado tanto. O filme começa brincando com os elementos do giallo, com uma mulher indefesa sendo molestada por um sujeito apontando-lhe uma faca… mas fica só na brincadeira mesmo. Trata-se de uma apresentação teatral. A cena é interessante, Castellari demonstra jeito pra esse tipo de atmosfera, a trilha do Morricone também contribui. É uma bela homenagem ao gênero, de qualquer modo…

 

Mas o restante do filme é a trama de um advogado e uma prostituta submetidos como reféns por um casal homossexual de bandidos. O problema é que Castellari não consegue extrair muita coisa interessante dessa situação. Pra ser honesto, eu achei o filme chato pra cacete em determinados momentos, diferente de um THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK, do Ruggero Deodato, que consegue manter a tensão do início ao fim tendo a mesma situação que este aqui. Mas vá lá, o elenco até que manda bem (Frank Wolff, Gianni Garko, Fernando Rey, etc) e nem tudo no filme é de se jogar fora. Mas no geral, fiquei um pouco decepcionado.

1.3.10

LA RAGAZZA CHE SAPEVA TROPPO, aka The Girl Who Knew Too Much (1963), de Mario Bava

Mario Bava dirgiu tantos filmes sem receber o devido crédito como diretor que só mesmo tendo em mãos o livro do Tim Lucas pra ter certeza o que ele realmente realizou ou não (e eu não tenho), mas é provável que este aqui seja o primeiro filme contemporâneo do diretor. Bava foi um gênio de grande influência no cinema italiano e até então só havia recriado outras épocas em seus filmes, como o terror gótico LA MASCHERA DEL DEMONIO e o peplum ERCOLE AL CENTRO DELLA TERRA.

O roteiro escrito pelo próprio Bava e outras cinco pessoas (!) para LA RAGAZZA CHE SAPEVA TROPPO é bem simples, mas consegue segurar o espectador até o último minuto com um suspense de primeira qualidade. Conta a estória de Nora Davis (Letícia Román), uma jovem america que viaja à Roma e fica hospedada na casa de uma senhora doente. Em certa noite chuvosa, após ter sua bolsa furtada, Nora bate a cabeça no chão e ainda atordoada testemunha (ou não) o assassinato de uma mulher. Com a ajuda do Dr. Marcello (John Saxon), ela tenta investigar por conta própria o mistério, sem ter a certeza se tudo não passou de uma simples ilusão, o que é mais provável para todos ao redor.

Mesmo trabalhando com algo mais próximo da realidade, LA RAGAZZA CHE SAPEVA TROPPO carrega todas as características que marcaram o cinema de Bava. É um filme que apresenta, especialmente, grande poder visual. Emoldurado por um preto e branco expressionista e de atmosfera densa, o diretor abusa de grande inventividade nos movimentos de câmera, esbanja criatividade no uso da luz e cria vários elementos que serviram de matéria prima para a criação do famigerado subgênero conhecido como giallo. Algo que seria amadurecido no ano seguinte em seu SEI DONNE PER L'ASSASSINO.

A cena em que Nora testemunha o assassinato possui uma sutileza experimental muito interessante, com a câmera distorcida e ótima edição, mostrando o delírio visual da protagonista interpretada de forma bastante segura pela bela italiana Letícia Román. Outro destaque do elenco é o grande ator americano John Saxon, sujeito subestimado em seu país e que fez mais sucesso em território europeu.

O título original e em inglês faz referência ao clássico de Alfred Hitchcock, O HOMEM QUE SABIA DEMAIS. No Brasil ficou conhecido como OLHOS DIABÓLICOS.

13.11.09

O ESTRANHO SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS (Non si sevizia un paperino, 1972), de Lucio Fulci

Antes de viajar, mais um textinho de lambuja. Revi O ESTRANHO SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS, um dos maiores filmes do genial Lucio Fulci, o qual é sempre um prazer poder ver e rever grande parte da sua obra. Carrego boas lembranças de seus filmes e este aqui é especial porque acumula algumas das cenas mais memoráveis e impressionantes que o homem já filmou, a começar pela belíssima e mórbida sequência de abertura, o plano nas mãos da brasileira Florinda Bolkan desenterrando o esqueleto de uma criança pequena... muito arrepiante!

No entanto, fica difícil distinguir de fato um gênero para o filme. É um exercício de terror, sem dúvida, com alguns elementos dos gialli, acompanhado de um comentário político. Mas não importa, o que vale no fim das contas é a experiência de ver um gênio em atividade em uma de suas ocasiões mais inspiradas. E Fulci chuta o balde e já subverte na premissa: numa pequena cidade do interior italiano, as crianças é que são alvos de um serial killer. Suspeitos é que não faltam no local para fazer a polícia botar a cuca para funcionar e o diretor trabalhe o suspense, já que os filma como se todos realmente fossem o assassino de crianças.

Uma das suspeitas é Maciara (Florinda Bolkan), uma bruxa que mexe com vodu. Em determinado momento ela vai presa, mas após verificarem sua inocência, ela é solta pela polícia, mas os pais de algumas crianças mortas não acreditam na decisão das autoridades e tomam a atitude medieval de espancá-la até a morte. Embora brutal e muito violenta, a sequência consegue também atingir um tom poético pela maneira como Fulci a realiza, ao som de Ornela Vanoni... a cena belíssima, digna de qualquer antologia do cinema mundial.

Florinda nasceu no Ceará e foi para Itália em 68 onde teve um papel importante no filme de Luchino Visconti OS DEUSES MALDITOS. Atuou em mais de quarenta filmes, mas dizem que em suas entrevistas nunca cita nomes de diretores como Fulci e Elio Petri, com os quais já trabalhou, apenas se vangloria por ter trabalhado com Visconti e Vittorio de Sica, que realmente é uma honra, mas é curioso pois Visconti não gostou de trabalhar com ela e disse que um dos piores erros de sua vida foi tê-la escalado num papel importante em seu filme. Enfim, aqui ela está sensacional e a cena na delegacia comprova o seu talento e demonstra porque essa brasileira conseguiu tanto trabalho no cinema italiano.

Outra suspeita na trama é Patrizia, interpretada pela musa Barbara Bouchet. Fulci a apresenta na cena onde o garotinho leva o suco pra ela e a encontra estirada, bem à vontade, da maneira em que ela veio ao mundo. A personagem vive no local a mando de seu pai, pelo seu envolvimento num escândalo com drogas e o cenário de sua casa parece um universo paralelo, com a decoração psicodélica setentista em contraste com o estilo rústico do vilarejo. E como se já não tivéssemos ótimas atrizes o suficiente, Fulci ainda coloca a grega Irene Papas vivendo a mãe do padre local.

Mas o assassino mesmo não chega a ser uma surpresa e lá pelas tantas já dá pra ter uma noção, principalmente levando em consideração à opinião do diretor sobre religião e o catolicismo. Não foi a toa que Fulci foi excomungado por este filme. O legal é que O ESTRANHO SEGREDO não assume um ponto de vista definido em momento algum entre os personagens. Acompanhamos as crianças, o jornalista (Tomas Milian), mas principalmente a polícia (na verdade, vários oficiais). Na maior parte do tempo, a narrativa se resume em investigações, interrogatórios com os suspeitos, etc... Mas o filme se beneficia muito do talento de Fulci mesmo nessas sequências, e o final é mais uma prova de sua genialidade, com o assassino despencando e se arrebentando nas pedras do precipício. Poético e brutal, O ESTRANHO SEGREDO é um grande exemplar do cinema italiano que precisa ser visto pelas novas gerações (como seu fosse muito velho...).

29.10.09

TORSO (I Corpi Presentano Tracce di Violenza Carnale, 1973), de Sergio Martino

TORSO é sem dúvida uma das experiências mais bacanas com o gênero giallo que eu já tive! A trama é bem simples e com certeza você já deve ter visto um milhão de filme com a mesma premissa, mas e daí? É a filosofia da forma superando o conteúdo o que nós temos aqui! A primeira metade da estória se passa dentro de um campus universitário, onde se inicia uma série de misteriosos assassinatos envolvendo mulheres em "situções picantes", se é que me entendem. Depois, o grupo de belas protagonistas - quatro jovens amigas - vai passar o fim de semana num casarão isolado em uma pequena vila no interior da Itália e, obviamente, o perigoso assassino com suas luvas pretas vai marcar presença para fazer a festa dos fãs do gênero. Martino filma muitíssimo bem, ainda não havia atingido ao máximo seu estilo sofisticado presente em filmes posteriores, mas realiza tudo de uma maneira pura, grosseira, genial, e não poupa o público de assassinatos violentos regados com bastante groselha! Aproveita também as beldades e, com exceção de Suzy Kendall, todas as outras atrizes estão bem à vontade em frente às câmeras, o que ajuda em muito o tom erótico pelo qual o filme é conhecido. No elenco ainda temos o astro do cinema popular italiano, Luc Merenda. O clímax ao final é um dos grandes momentos da carreira de Martino, o suspense é calmamente trabalhando, acumulando tensão, preparando o espectador para as surpresas (que neste período ainda surpreendia o público, diferente de hoje...). Só vendo com os próprios olhos para acreditar no que esse cara é capaz! Se Sergio Martino realizou algum filme melhor que TORSO, ainda preciso descobrir.

OBS: e que título genial o filme recebeu na Itália, não é mesmo?

12.8.09

4 MOSCAS NO VELUDO CINZA (4 mosche di velluto grigio, 1971), de Dario Argento

A essa hora, todo mundo já deve estar sabendo da ótima notícia de que a competente Califórnia Filmes vai lançar o novo filme do Dario Argento, GIALLO, direto em DVD. Parabéns aos responsáveis desta maravilha de decisão e só espero que peguem a capinha do DVD e enfiem bem lá dentro no olho do c@#$%!

Mas enfim, já que nós temos que aturar este tipo de atitude de merda de distribuidoras Brasileiras, vamos celebrar um dos trabalhos antigos deste genial diretor, que não é um dos melhores filmes de sua carreira, mas não deixa de ser muito bom. 4 MOSCAS NO VELUDO CINZA é a terceira parte da famosa “trilogia dos bichos” que marcou o início da carreira de Dario Argento. Os outros filmes são O PÁSSARO DAS PLUMAS DE CRISTAL e O GATO DE NOVE CALDAS, todos os três estruturados no subgênero que Argento cristalizou, o subgênero do assassino de luvas pretas, chapéu fedora e sobretudo de couro, cujas vítimas quase sempre são moças indefesas e o principal suspeito, geralmente, é o herói que precisa correr contra o tempo para desvendar os mistérios e provar sua inocência, já que a polícia, na maioria das vezes, se revela incompetente. Yeah, estamos falando de giallo!

A trama envolve um baterista de uma banda de rock, interpretado por Michael Brandon, que se vê envolvido numa enrascada quando acaba matando acidentalmente um sujeito misterioso que o seguia. O problema é que alguém fotografou o crime culposo e começou a fazer chantagens com o pobre músico. Durante sua jornada, cheia de conflitos psicológicos, tentativa de resolver o caso e se segurar para não ir à policia e se entregar, o rapaz tenta contar com a ajuda de várias figuras interessantes, como o personagem vivido pelo grande ator italiano Carlo Pedersoli, mais conhecido como Budd Spencer, que fazia a alegria na Sessão da Tarde quando eu era moleque, e um detetive gay interpretado por Jean-Pierre Marielle.

Muita gente fala que 4 MOSCAS é uma prévia de PROFONDO ROSSO. E realmente eu concordo, principalmente no que confere aos procedimentos técnicos, na forma como Argento trabalha sua câmera em alguns momentos, na criação da atmosfera de suspense, são verdadeiros esboços do que ele faria em seu melhor filme. Mas isso não quer dizer que aqui ele esteja inseguro, várias seqüências são muito bem executadas e até a grande revelação do caso, por mais absurda que seja, parece plausível.

Outro destaque óbvio é a presença musical do mestre Enio Morricone, ingrediente fundamental em algumas cenas, como no desfecho, quando o belo e o brutal entram em perfeita sintonia como poucas vezes se vê por aí.

E este post eu dedico ao meu primo carcamano Stefano Zorzin, que vive enchendo meu saco pra eu falar mais sobre Dario Argento, giallo e terror italiano...

5.5.09

A DOPPIA FACCIA (1969), de Riccardo Freda


Primeiro filme do Riccardo Freda que assisto. Não sei se era o mais adequado pra iniciar a filmografia do cara, mas devo confessar que comecei muito bem! A DOPPIA FACCIA é um belíssimo e sofisticado giallo, subgênero que eu não havia tratado aqui no blog ainda. Preciso ver e rever alguns bons, porque o Dementia 13 está carente deste estilo que eu tanto adoro.

A DOPPIA FACCIA é baseado numa obra de Edgar Wallace e trata de um sujeito recém casado com uma milionária que acaba surpreendido quando ela pede um divórcio prematuro e logo depois morre num acidente de carro. O ex-marido é logo apontado como o principal suspeito, após a policia descobrir que o carro havia sido sabotado.

O marido em questão é interpretado pelo Klaus Kinski, que é sempre uma presença marcante em qualquer coisa que faça. E ele está muito bem no papel do sujeito amargurado por ter perdido a esposa ao mesmo tempo em que se vê acusado; e pior, acaba descobrindo que, possivelmente, ela ainda está viva, após uma jornada psicodélica numa festa onde assiste a um filme erótico cuja "atriz" possui algumas características que pertenciam a sua mulher.

É praticamente uma versão giallo de VERTIGO, de Alfred Hitchcock, e isso fica ainda mais evidente no desfecho. Mas esse tipo de alusão não tira o brilho de A DOPPIA FACCIA, que é uma aula de construção atmosférica, embora algumas cenas com efeitos especiais e miniaturas sejam bem toscos, mas não deixa de ser um charme a mais.