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5.8.25

KEOMA (1976)

 

KEOMA é o canto do cisne do western italiano, o último grande spaghetti, surgindo em um momento em que o gênero declinava. E é inegável que o filme de Enzo G. Castellari está entre os mais ambiciosos, com uma tonalidade profundamente crepuscular e apocalíptica que, do ponto de vista formal, remete aos tempos áureos do gênero, como os clássicos de Sergio Leone, DJANGO, de Sergio Corbucci, e FACCIA A FACCIA, de Sergio Sollima, lançados na década anterior. Embora não seja tão lamacento quanto ao filme de Corbucci, KEOMA abre numa ambientação sombria, centrada em uma cidade fantasma, onde as casas desmoronam sob uma névoa permanente e tempestades de areia frequentes. Castellari reforça essa desolação com uma trilha sonora macabra, na qual o som do vento desempenha um papel crucial.

É nesse cenário que retorna Keoma (Franco Nero), um mestiço de origem indígena que esteve ausente por anos devido à Guerra Civil. Ao voltar, encontra sua cidade devastada por uma epidemia que assola o local, e Caldwell (Donald O'Brien), um tirano auxiliado pelos meio-irmãos de Keoma. Apenas seu pai (William Berger), já velho demais para lutar, e seu amigo George (Woody Strode), um antigo pistoleiro que se tornou alcoólatra, o acolhem de forma positiva. Keoma logo se vê protegendo Lisa (Olga Karlatos), uma jovem grávida, que perdeu o marido, assassinado pelos homens de Caldwell.

E Keoma surge não apenas como um libertador, mas como uma figura messiânica – sua longa cabeleira, a barba espessa e as vestes esfarrapadas reforçam essa iconografia. Ele prega a solidariedade e ajuda seus aliados, como seu pai e George, a reencontrarem sua dignidade para enfrentar o domínio de Caldwell e de seus capangas, incluindo seus meio-irmãos que sempre o rejeitaram. O enredo, ainda que familiar, é eficaz no embate moral entre Keoma e seus antagonistas, além de ressaltar a força dos oprimidos que se levantam contra a tirania, evocando tanto DJANGO quanto RIO BRAVO, de Hawks, e até mesmo a obra de Peckinpah.

Os atores são excelentes, mas a verdadeira singularidade do filme reside em sua abordagem mística, quase fantástica. Logo na introdução, Keoma encontra uma velha bruxa que reaparece ao longo da trama como uma espécie de profetisa do infortúnio. As sequências de combate são carregadas de estilização, com Castellari abusando de um slow motion dramáticos. O tiroteio perto do final está dentre os melhores da carreira do diretor. E Castellari leva a tragédia aos limites, culminando em uma cena de crucificação de Keoma, visualmente bela.

O filme também intercala inúmeros flashbacks que explicam sua relação com George, seu pai e seus irmãos, em sacadas temporais que por vezes remetem a Bergman. Detalhes que transcendem Keoma ao sublime e enfatizam sua permanência como um dos últimos, senão o último, western spaghetti digno de nota e reafirma Franco Nero como um dos maiores atores da era dourada do cinema italiano.

27.11.11

KEOMA (1976)

KEOMA deve ter sido o meu primeiro Spaghetti… ou será que foi TRÊS HOMENS EM CONFLITO? Não importa, a verdade é que esse filme marca a infância de qualquer moleque com um mínimo de interesse na sétima arte. Não que eu tivesse muita consciência deste interesse na época, mas até hoje me lembro daquela VHS da Poletel que meu velho alugou numa sexta feira no fim dos anos oitenta.

Na época em que KEOMA foi realizado, o spaghetti western já tinha esfriado. O ciclo já não rendia algo interessante há tempos, mas mesmo assim, a dupla Enzo G. Castellari e Franco Nero, que já haviam trabalhado juntos antes em uns três filmes, estavam convictos e centrados em realizar um projeto de faroeste, mas não qualquer faroeste, eles sentiam que KEOMA seria algo maior, e foram em frente na tentativa de arranjar financiadores.

Depois do sinal verde para a produção, o roteiro final só chegou nas mãos de Castellari três dias antes de começarem as filmagens. Ele próprio e Franco Nero não gostaram do que leram. Castellari diz em uma entrevista que jogou tudo fora e sem tempo pra reescrever começou a elaborar as cenas no dia a dia das filmagens, deixando as suas principais inspirações sublinharem a narrativa. De Ingmar Bergman à Sam Peckinpah, as influências foram absorvidas naturalmente e o resultado não poderia ser diferente: KEOMA foi um sucesso e se tornou um símbolo do Spaghetti Westen.

Todo mundo já deve conhecer a história, que é tratada em tons de tragédia clássica. Pra começar, Keoma (Franco Nero) é um mestiço, filho de uma índia com um fazendeiro branco. Após retornar da guerra civil, ele encontra a região onde vivia sendo comandada por Caldwell (Donald O'Brien). Como sabemos que isto aqui é um faroeste, não preciso nem dizer que tipo de sujeito é esse Caldwell, não é mesmo? Mas as coisas pioram quando Keoma descobre que seus três meio-irmãos (que sempre lhe trataram muito mal) estão do lado do facínora, para a desgraça do pai de todos eles, vivido por William Berger.


No elenco, ainda temos Woody Strode, Olga Karlatos, e uma série de figuras sempre presente nas produções populares do cinema italiano. Mas o grande nome do filme não poderia ser outro: Franco Nero, com uma atuação sólida e expressiva, provavelmetne a minha favorita de sua longa carreira.

Um dos grandes méritos de KEOMA é conseguir agradar tranquilamente os fãs do Western bruto, mais movimentado, e também aqueles que procuram algo com mais substância, e o que não falta por aqui são elementos filosoficamente dramáticos. E como de costume, a direção de Castellari constitui de algo absurdamente magistral. É de fazer chorar qualquer amante do cinema, desde os enquadramentos expressivos, as sacadas de montagem e, claro, as sequências de ação e tiroteios fazendo uso da câmera lenta ao melhor estilo Peckinpah.


Agora, vocês podem não concordar, até porque é apenas a minha opinião e estou aberto à boa e velha discussão, mas que KEOMA merecia uma música tema mais decente, eu acho que merecia. Não que eu não goste da que está lá, é muito marcante e até funciona. Mas se o visual colhe com êxitos momentos notáveis durante todo o filme, onde será que estava o Morricone pra fechar este spaghetti western crepuscular de forma sonoramente brilhante?

3.7.11

MATE TODOS ELES E VOLTE SÓ (1968)

... aka Ammazzali tutti e torna solo
... aka Kill Them All and Come Back Alone


Filme que fecha um primeiro ciclo de Spaghetti Westerns do diretor Enzo G. Castellari, que se arriscaria em outros gêneros nos dois trabalhos seguintes antes de voltar ao faroeste. Mas não sei, pode ser impressão minha, me pareceu que o diretor já estava meio de saco cheio de trabalhar com os elementos do gênero, ou de contar uma história bem inserida neste universo do “bang bang”, e escreveu, em parceria com Tito Capri e Joaquim Romero Marchent (diretor de um dos westerns italianos mais violentos que se tem notícia: CONDENADOS A VIVIR), uma historinha sem muita substância sobre um grupo de mercenários, liderados pelo ótimo Chuck Connors, contratados para roubar um milhão de dólares que se encontra dentro de um forte do exército da união, em plena guerra civil americana. Sem optar por explorar os personagens, conflitos psicológicos, aprofundar de forma dramática no tema da traição que acontece bastante na trama, MATE TODOS ELES E VOLTE SÓ acaba tendo um plot bem básico, que beira ao simplório…




Em compensação, o que temos aqui em termos de ação é algo extraordinário! O filme pode muito bem ser resumido como uma sucessão de sequências frenéticas e exageradas de tiroteios, explosões, pancadarias, tudo muito bem orquestrado pelo diretor que se especializou neste tipo de coisa. Não é a toa que consideramos Castellari entre os grandes mestres do cinema de ação ao lado de John Woo, Sam Peckinpah, John Flynn, etc… E se não temos aqui personagens profundos, ao menos cada um deles tem sua especialidade voltada para ação (o atirador de facas, um grandalhão fortão, um acrobata e até um especialista em explosivos que carrega uma bazuca!!!). No elenco, temos várias figuras reconhecíveis no faroeste italiano, mas sem grandes destaques em desempenhos, com exceção de Connors e do já frequente colaborador de Castellari, Frank Wolff.

Talvez com um pouco mais de atenção a certos detalhes no roteiro, trama e personagens, teríamos uma obra prima. Mas do jeito que está MATE TODOS ELES E VOLTE SÓ já se torna obrigatório como um dos Spaghetti Westerns mais movimentados e recheados de ação que eu já vi!

26.6.11

VOU, VEJO e DISPARO (1968)

... aka I Tre che Scolvonsero il West
... aka Vado, Vedo e Sparo
... aka I Came, I Saw, I Shot

Li em algum lugar que VOU, VEJO E DISPARO fecharia uma espécie de trilogia de “caça ao tesouro” do Enzo G. Castellari, formada ainda por SETTE WINCHESTER PER UN MASSACRO e VOU, MATO E VOLTO. Tirando o fato de que não se trata bem de um tesouro escondido a ser caçado, e sim uma maleta cheia de dinheiro roubado, este aqui é dos mais divertidões do diretor, até porque assume seu tom de comédia sem qualquer receio.

Temos três personagens principais que disputam incessantemente a tal maleta e o filme desenvolve com bastante agilidade a partir disso uma típica “comédia de erros” que oferece situações hilárias. Alguns detalhes lembram o que a dupla Terence Hill e Bud Spencer faria um tempo depois.

Dos destaques de VOU, VEJO E DISPARO, o trio de protagonista merece boa atenção, cada um com suas peculiaridades, formado por Frank Wolff, que já havia trabalhado com o diretor em POCHI DOLLARI PER DJANGO e vive aqui um mestre do disfarce, Antonio Sabato é o ladrão afoito e mulherengo e o americano John Saxon, que se deu muito bem no cinema popular italiano, encarna um experiente jogador de cartas. Todos estão ótimos e bem à vontade em seus papéis. Difícil apontar um melhor...

Particularmente, prefiro o Castellari mais sério e trágico de JOHNNY HAMLET e KEOMA, mas é impossível não dar boas risadas descompromissadas com um Spaghetti Western tão ingenuo e honesto como este.

21.6.11

JOHNNY HAMLET (1968)

... aka Deus Criou o Homem e o Homem Criou o Colt
... aka Quella sporca storia nel west

A notícia do Simon West na direção de OS MERCENÁRIOS 2 me atormentou durante um tempo, mas para demonstrar que já estou recuperado, vamos falar um pouco de Castellari, especialmente se for um de seus melhores filmes, como é caso do Spaghetti Western JOHNNY HAMLET.

O nome do famoso personagem de Shakespeare já foi adaptado para as telas do cinema em diversas contextualizações, mas imaginem vê-lo com toda a carga de conflitos que o sujeitinho carrega, mas na pele de um jovem rápido no gatilho do velho oeste! É exatamente o que temos aqui, um autêntico encontro de Shakespeare com o Spaghetti Western, sob o olhar inspirado de Enzo G. Castellari!

A idéia original de JOHNNY HAMLET surgiu de outro mestre do gênero, Sergio Corbucci, que teve de abandonar o projeto pelo seu envolvimento com outras produções.

Johnny Hamilton (Andrea Giordana) é um jovem soldado confederado que retorna, após dois anos, da guerra civil americana. Ele descobre que durante sua ausência seu pai foi morto misteriosamente e sua mãe está casada com seu tio, Claudius (Horst Frank), que agora é dono de todas as terras de seu falecido irmão… A culpa pelo assassinato de seu pai caiu em cima de um bandido chamado Santana, que, aparentemente, já foi morto por Claudius. Achando tudo isso meio estranho, Johnny, com a ajuda de Dazio (Gilbert Roland), um amigo de seu pai, tenta descobrir o que realmente aconteceu.

Quem conhece a peça Hamlet, vai perceber que a maioria dos personagens permanece fiel aos escritos de Shakespeare, como Claudius, a mãe, Polonius, que aqui surge como o xerife, Rozencrantz e Guildenstern… Emily, uma jovem que serve de par romântico a Johnny é claramente inspirada em Ophelia. A trama, de uma forma geral, possui reviravoltas e situações bem mais condizentes a um spaghetti, para manter um ritmo mais movimentado, mas são todas alterações bem vindas que surtem um bom efeito ao resultado do filme e podem agradar até o apreciador mais exigente, tanto de spaghetti quanto de Hamlet

Na verdade, não duvido que JOHNNY HAMLET agrade a qualquer pessoa que realmente goste de cinema, que valoriza a forma, um visual criativo, porque é impossível escrever qualquer coisa sobre esta obra sem destacar o trabalho notável da direção de Enzo G. Castellari, que dá ao filme uma riqueza estética impressionante, equivalente aos grandes mestres do gênero. Somos fisgados a partir da primeira cena, onde vemos uma sequência de sonho, cheia de elementos de horror e um belíssimo uso das cores, logo depois o nosso protagonista acorda em uma praia com uma trupe circense, um universo surreal que serve de introdução para o famoso monólogo “ser ou não ser”… E o nível de qualidade estética se mantém firme até o último segundo desta bela obra prima do gênero!

Como muitos Spaghetti Westerns, JOHNNY HAMLET foi retitulado em outros países como mais um filme da série DJANGO, como expliquei a picaretagem desses distribuidores italianos no último post do ciclo Castellari aqui do blog, vocês já devem entender porque. No Brasil, foi lançado em DVD pela distribuidora Ocean, como JOHNNY HAMLET mesmo. A capa é feia e pode parecer apenas mais um exemplar comum do gênero, no entanto, trata-se de um filme obrigatório em todos os sentidos!

12.6.11

SETTE WINCHESTER PER UN MASSACRO, aka TEXAS 1867 (1967)

A princípio, o mais legal em percorrer a carreira do Castellari está sendo descobrir e escrever sobre alguns Spaghetti's que eu demoraria décadas para ver. Eu nunca tinha ouvido falar de SETTE WINCHESTER PER UN MASSACRO, um bom exemplar que, dessa vez sim, trata-se da oficial estréia de Enzo G. Castellari como diretor, assinando com um pseudônimo americanizado, E. G. Rowland.

O filme é sobre um ex-coronel sulista, Thomas Blake (Guy Madison), que não aceita a derrota na guerra de secessão e reúne um grupo de peculiares bandidos para tocar o terror pelos territórios por onde passa. Até que um dia, um misterioso pistoleiro, Stuart (Edd Byrnes) se junta ao bando e propõe a todos a ir recuperar um tesouro de duzentos mil dólares enterrado num cemitério indígena.

O tema caça ao tesouro seria abordado por Castellari em seu filme seguinte também, VOU, MATO E VOLTO, que já comentei aqui no blog. E parece que VOU, VEJO E DISPARO também tem esse mote, formando uma espécie de trilogia… este último eu preciso ver ainda. Mas suspeito de que este aqui seja o melhor deles! É um filme bem cuidado e que me fisgou logo de cara, nos créditos iniciais, com aquelas telas com uma cor predominante, mesmo estilo de TRÊS HOMENS EM CONFLITO e outros, com imagens da guerra civil americana e a trilha sonora composta por Francesco De Masi.

Depois disso há um prólogo inspirado, violento e cheio de ação (algumas cenas reaproveitas de POCHI DOLLARI PER DJANGO) que apresentam os personagens do bando, cada um com suas habilidades especiais, como o uso da faca, chicote, um deles dá uma voadora e corta a garganta de um sujeito com as esporas!!!

SETTE WINCHESTER já demonstra também um Castellari mais à vontade na direção, experimentando na edição e em alguns enquadramentos interessantes, como a cena em que o coronel Blake aparece pela primeira vez em seu esconderijo em território mexicano, mostrado em super closes de partes da face, como a boca ou os olhos, antes de mostrar seu rosto. Na sequência da ação no final, no cemitério indígena, Castellari faz um belo jogo de sombras e incrementa com elementos de horror.

Como Peckinpah ainda não havia mostrado ao mundo o que se pode fazer com tiroteios filmados poeticamente em câmera lenta, Castellari ainda filmava ação de modo convencional, o que não quer dizer que seja ruim. A cena do massacre de sherifes é um belíssimo exemplo disso.

O filme sofre um pouco com o ritmo, tem alguns momentos de marasmo e alguns personagens são bem desinteressantes. Outro problema é que não consigo ver o ator Edd Byrnes na pele de herói de Spaghetti Western, como é o caso aqui... embora grande parte do elenco esteja ótimo, especialmente Guy Madison. Apesar disso, ainda acho obrigatório para os fãs do gênero e do diretor.

E Castellari ainda iria melhorar muito na direção. Assisti essa semana a JOHNNY HAMLET e estou petrificado, impressionado, embasbacado com o primor que é a direção deste filme, os enquadramentos, a precisão dos movimentos de câmera, é algo absurdo! Mas é assunto para o próximo post! Até lá, muchachos!!!

9.6.11

POCHI DOLLARI PER DJANGO (1966)

Comecemos então pelo começo! Apesar de não receber o crédito de diretor, este Spaghetti Western é a estréia não-oficial de Enzo G. Castellari na direção. Há um trecho na biografia do Anthony Steffen, em que o próprio ator diz que o argentino Leon Klimovsky (famoso pelos filmes de terror com Paul Naschy) não filmou uma cena sequer, apesar de ser o seu nome que estampa o crédito, e acabou parando nas mãos de Castellari o serviço, que se não o fez com excelência, ao menos demonstrou que tinha talento para a coisa. O filme não é dos melhores do gênero, e acho que nem tinha essa pretensão, mas é um exemplar divertido, sem o “glamour” dos filmes do Leone, Corbucci, Sollima, Damiani, Lizzani, Questi e etc…

Um detalhe que vale lembrar é que esses italianos eram todos picaretas. Mudavam títulos, redublavam cenas, faziam o que fosse possível para promover seus filmes. Naquela época, DJANGO, de Sergio Corbucci, foi um dos grandes sucessos do gênero e o que surgiu de produção explorando a popularidade do personagem não é brincadeira! POCHI DOLLARI PER DJANGO é um bom exemplo disso, já que não há personagem algum com o nome que aparece no título.

Anthony Steffen, na verdade, se chama Regan, um caçador de recompensas que vai até Montana em busca de dois foras da lei, mas no meio do caminho encontra o corpo do sujeito que iria ocupar o posto de xerife da cidade e resolve assumir a identidade do homem para ganhar uma moral entre a população e facilitar as buscas pelos bandidos. O problema é que Regan acaba envolvido numa guerra entra um poderoso barão do gado com os pequenos agricultores da região. Isso o leva a Jim Norton (Frank Wolff), um ex-bandido que assumiu a identidade de seu irmão gêmeo, Trevor, liderou o bando cujos dois bandidos com as cabeças à prêmio faziam parte, mas agora vive tranquilo ao lado de sua sobrinha (filha).

O roteiro, apesar de um pouco confuso pela minha descrição, consegue ser simples ao trabalhar com o lance das trocas de identidade. As poucas sequências de tiroteios não são as melhores do mundo e a trilha sonora, elemento de extrema importância aqui, está mais para os clássicos westerns americanos do que para as marcantes melodias do spaghetti, mas acompanhar a trama e os desdobramentos se torna algo prazeroso, especialmente com o Anthony Steffen em cena e o sempre excelente Frank Wolff, um dos grandes atores do cinema popular italiano. Percebe-se também claramente o baixo orçamento da produção, o que pode ter influenciado no acabamento. No fim das contas, não chega a ter as peculiaridades de seu (verdadeiro) diretor, Enzo G. Castellari, mas não deixa de ser um westen bem decente.

25.10.09

UMA BALA PARA O GENERAL (El Chuncho, Quien Sabe?, 1966), de Damiano Damiani

Nada melhor que fechar o sabadão com um Spaghetti Western arrasador! Sabe aquele filme ou diretor que você sempre ouviu todos os amigos comentarem que é muito bom, que todas as resenhas que você lê sempre são positivas e percebe que está dando mole e ainda não viu uma das obras fundamentais de algum gênero que gosta? Pois então, é exatamente o meu caso com UMA BALA PARA O GENERAL, de Damiano Damiani. Não sei porque não havia assistido antes!

Trata-se de um exemplar do mesmo subgênero de VAMOS A MATAR COMPAÑEROS, que postei aqui no blog outro dia, o Zapata Western, filmes sobre revolução mexicana, etc. UMA BALA PARA O GENERAL transcorre justamente neste universo do México revolucionário e conta a estória de um jovem americano que se junta a um grupo de revolucionários, liderados por Chuncho, e ajuda na peleja contra as autoridades e no tráfico de armas entre os rebeldes. A princípio, o que o gringo parece almejar é dinheiro, mas a ambiguidade de seu olhar e da forma de agir conota objetivos obscuros, que ficam claros apenas ao final.

Os personagens principais são perfeitamente construídos, assim como um bom SW tem de ser pra deixar sua marca! E o elenco também auxilia muito nesse sentido. Gian Maria Volonté cai perfeitamente na pele de Chuncho, o líder da nobre causa mexicana e de uma sinceridade impressionante. O gringo, que é chamado de Niño, é vivido por Lou Castel, um sujeito frio, capitalista e certamente “não gosta da fruta”. Por último, um personagem que merecia mais presença em cena, mas no pouco que aparece Klaus Kinski registra seu momento com maestria encarnando o meio irmão de Chuncho. É um fanático religioso que acha que está participando de uma missão religiosa ao invés da libertação de seu país.

Damiani conduz um filme bem movimentado, com bastante ação e muito tiroteio, mas o aspecto humano nunca é ignorado. Chuncho, apesar de ser considerado um bandoleiro pela polícia, age em prol de seu povo e mesmo quando esquece seus princípios e acaba movendo-se por dinheiro, consegue fazer a escolha certa ao final, jogando na cara do espectador o ponto de vista esquerdista de seus realizadores. UMA BALA PARA O GENERAL é daqueles filmes magnificamente bem filmados, com bela trilha de Morricone, lindamente fotografado, um dos melhores do gênero! Não perde o foco de seus elementos políticos nem deixa de ser um grande espetáculo.

Recomendo também o texto do amigo lusitano Pedro Pereira, do blog Por um Punhado de Euros.

30.9.09

VAMOS A MATAR, COMPAÑEROS (1970), de Sergio Corbucci


Eis aqui um belo exemplar comprovando o que muita gente fala, mas poucos acreditam. Sergio Leone merece ser reconhecido como um gênio do spaghetti western, mas não só ele! Existe uma lista de bons nomes que mereciam estar no topo junto com o diretor de ERA UMA VEZ NO OESTE, mas geralmente são esquecidos pela crítica e pelos cinéfilos mais jovens (aliás, os cinéfilos mais jovens se interessam por cinema popular italiano?).

Sergio Corbucci é um desses renegados e VAMOS A MATAR COMPAÑEROS é uma das mais fundamentais obras do gênero! O filme é também um perfeito representante do Zapata Western, uma ramificação dentro do Spaghetti Western, tratando de assuntos mais políticos que exploram a revolução mexicana. Outro bom exemplo deste sub-sub-gênero é QUANDO EXPLODE A VINGANÇA, do Leone.

VAMOS A MATAR COMPAÑEROS apresenta o traficante de armas sueco Yolaf Peterson (Franco Nero!) que chega ao vilarejo de San Bernardino com um vagão de trem lotado de armas e munições para vender aos revolucionários comandados pelo general Mongo (Francisco Bódalo). O problema é que o dinheiro para o pagamento das armas está trancafiado dentro de um cofre de ultima geração impossível de ser aberto sem a combinação correta. Todas as pessoas que sabiam já estão comendo capim pela raiz, a não ser o professor Xantos (Fernando Rey), um outro líder revolucionário, diferente de Mongo, idealista, sempre pregando a paz e que está preso em um forte em território americano. Seus seguidores não utilizam armas e buscam fazer a revolução através de medidas pacíficas, algo que não tem dado muito certo até então.

O sueco propõe "resgatá-lo" em troca de uma boa quantia de dinheiro e conta com a companhia de Vasco (Tomas Milian!), soldado de Mongo, um tanto estúpido, mas bastante afoito e rápido no gatilho. Partindo dessa premissa, Corbucci conduz a incrível jornada destes dois personagens cheia de aventuras, contratempos, tiroteios enfrentando o exército americano, os federais mexicanos e até mesmo um grupo de mercenários liderado pelo insano John (Jack Palance!!!), e que possui contas do passado a serem acertadas com o sueco.

Já dá pra perceber que um dos pontos fortes do filme é o elenco composto de feras do cinema europeu, mas quem merece um destaque a parte é o americano Jack Palance (que teve bastante presença no cinema popular do velho continente) com uma atuação magnífica. O que sobra é um dos vilões mais marcantes do western italiano. O sujeito veste uma capa preta, tem o cabelo bagunçado, é viciado em maconha, possui um falcão altamente treinado e uma mão de madeira (a de carne seu próprio falcão devorou para salvá-lo de uma crucificação causada pela traição do suíço). Coisa de louco!

Milian e Nero também não fazem feio. Os dois possuem uma química estranha que acabou dando certo com um Franco Nero cínico e debochado e Milian fazendo o ignorante meio tresloucado, com um visual que lembra Che Guevara, muito utilizado como alívio cômico em certos momentos. Aliás, o humor aqui é muito peculiar, ridicularizando situações violentas com um tom de humor negro, que é a mesma base do que seria o humor dos filmes de Quentin Tarantino muitos anos depois.

Voltando um pouco à trama, depois de resgatar o professor Xantos, Vasco e o sueco começam a questionar o sentido daquilo tudo que estavam fazendo, em especial Yolaf, que sabe as verdadeiras intenções do coronel Mongo: colocar as mãos no dinheiro do cofre e que se dane o México! Claro que a reflexão dos protagonistas não impede que ao final Franco Nero empunhe uma metralhadora ao estilo visceral de Django e saia atirando num exercito de bandidos, enquanto Tomas Milian faz sua parte, um verdadeiro estrago na carcaça dos meliantes, com um facão. Para aqueles que pensam que filme político é sinônimo de filme chato, provavelmente ainda não conhece o Zapata Western (ou até mesmo o cinema político italiano de uma forma geral, que possui obras brilhantes).

VAMOS A MATAR COMPAÑEROS consegue ser inteligente e ainda apresenta uma boa dose de ação dirigida com muita elegância e maestria pelo Corbucci e pontuada pela excelente trilha sonora de Ennio Morricone, uma das mais marcantes do compositor e estou com ela há dias grudada na cabeça. Muito bem, por enquanto é isso, vamos assistir, companheiros! (não resisti...)

23.9.09

TRÊS HOMENS, UMA LEI (Il bianco, il giallo, il nero, 1975), de Sergio Corbucci


Arrumei este aqui em VHS por 0,99 mangos numa locadora cuja promoção dizia o seguinte: “alugue e não devolva nunca mais!”. Então beleza! Acabei descobrindo depois que TRÊS HOMENS, UMA LEI é o mesmo filme lançado em DVD no Brasil pela Ocean Pictures com o título O ÚLTIMO SAMURAI DO OESTE.

Para quem não conhece nada sobre o filme, o básico do enredo trata de três personagens completamente diferentes que se unem em uma aventura em busca de um raro pônei japonês que fora sequestrado por um bando de malfeitores exigindo uma gorda quantia para o resgate.

Temos então o policial Black Jack Gideon, vivido pelo grande Eli Wallach, o eterno Tuco de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, o bandido bonzinho na pele do astro do faroeste spaghetti Giuliano Gemma e Sakura, o assistente de um samurai que faz de tudo para honrar o nome de seu mestre tentando recuperar o pônei sequestrado. E quem encarna a figura é ninguém menos que o cubano Tomas Milian, de longe o melhor em cena, engraçadíssimo.

O filme não é dos melhores trabalhos do diretor Sergio Corbucci, autor de alguns spaghetti westerns de primeiríssima qualidade, como O VINGADOR SILÊNCIOSO e DJANGO, mas não deixa de ser uma pequena homenagem ao gênero, já bastante enfraquecido na época, além de ser divertido, com alta dose de humor e ótimas atuações do trio principal, que é, na verdade, o grande destaque de TRÊS HOMENS, UMA LEI.

27.4.09

Mais dois filmes...

FEMALE YAKUZA TALE - INQUISITION AND TORTURE (Yasagure anego den: sôkatsu rinchi, 1973), de Teruo Ishii


É a sequencia de SEX & FURY, de Norifumi Suzuki, agora com a direção de Teruo Ishii, de THE EXECUTIONER, mas com a mesma Reiko Ike de volta ao papel do filme anterior, mostrando todo talento, graça e beleza (leia-se os atributos físicos que Deus lhe deu). Alguns consideram FEMALE YAKUZA TALE superior, acho que são filmes bem diferentes. O filme de Suzuki é mais denso e sua força parece centrada na trama de vingança e na ação; ambos possuem uma estética carregada, mas este aqui se sai melhor como um exercício visual e muito mais apelativo no quesito “nudez gratuita”.

A começar pelo próprio entrecho, que envolve um bando de traficantes que transporta a mercadoria ilícita colocando-a nos orifícios sexuais de um grupo de moças, que recebem em troca uma dose da droga. Destaque para o grande final quando um exército de mulheres nuas, sob o comando de Oshô (Ike), enfrenta os traficantes. Literalmente uma bela dose de sangreira e mulher pelada! Imperdível!


DJANGO, O BASTARDO (Django il bastardo, 1969), de Sergio Garrone


Mudando totalmente de gênero, assisti a este bom Western Spaghetti estrelado pelo ítalo-brasileiro Anthony Steffen e dirigido por Sergio Garrone, que apesar de ter feitos muitos westerns, realizou também alguns filmes de horror. E DJANGO, O BASTARDO é uma hibrida produção que transita entre o terror e a poeira do velho oeste.

O fato é que durante toda a narrativa, Garrone mostra o protagonista como um fantasma que surge das trevas para se vingar do crime que três sujeitos cometeram há alguns anos, durante a guerra civil. Inclusive os próprios personagens pensam que se trata de uma alma penada. Depois de uma boa quantidade de mortes e uma meia hora final que me lembrou outra mistura de western/terror, E DEUS DISSE A CAIM, do Antonio Margheriti, o filme acaba revelando se Django era realmente de carne e osso ou não. Mas eu não vou contar!

OBS: Uma dica para uma boa leitura, muito mais completa, sobre DJANGO, O BASTARDO, pode ser encontrada aqui.

8.4.09

10.000 DÓLARES PARA DJANGO (10.000 dollari per un massacro, 1967), de Romolo Guerrieri

Mais um Western Spaghetti pra moçada que curte o gênero. 10.000 DÓLARES PARA DJANGO, como o título já anuncia, trata de mais um belo exemplar que aproveita o lendário personagem que Franco Nero, Terence Hill e até o ítalo-brasileiro Anthony Steffen deram vida outrora. Típico desses italianos espertinhos usufruindo do sucesso de outro filme, mas ok, contanto que façam coisas boas como é o caso deste aqui.

Talvez nem fosse necessário explorar a figura do mítico Django – aliás, o título original nem apela nesse sentido – porque o filme possui um lado significativo de boas idéias, personagens interessantes e uma realização técnica das melhores possíveis, que por si só renderia uma obra única. Por outro lado, tem um dos enredos mais estranhos no qual o espectador é sempre surpreendido pelas reviravoltas, o que nem sempre é bom quando há em excesso. No mais, uma parte compensa a outra de tal modo que no fim, os fãs do bang bang à italiana não têm do que reclamar!

Quem encarna o personagem desta vez é Gianni Garko (sob o pseudônimo de Gary Hudson), figurinha carimbada do western macarrônico tendo interpretado outros grandes indivíduos como Sartana e Camposanto. Em 10.000 DÓLARES PARA DJANGO, o protagonista é um caçador de recompensa que parte para um ultimo serviço, já que sua próxima vítima vale os 10.000 dólares do título que ele tanto almeja para largar essa vida e ir viver com uma bela francesinha (Loredana Nusciak). Mas isso é basicão da trama, durante o percurso, rola o seqüestro de uma moça, assalto a uma diligencia, questões de amizade, confiança e vingaça!

O contraponto de Django é Claudio Camaso, que interpreta o perigoso vilão da estória, Manuel. O problema é que Camaso parece que está sempre de rímel nos olhos e fica com cara de viado, não que isso prejudique o andamento da coisa, mas o ator precisa demonstrar a masculinidade diversas vezes pra provar que é macho de verdade e mesmo assim, ainda fiquei com dúvidas...


nofa!
Ah, vai me dizer que não é rímel?

Mas deixando esses detalhes de lado, temos a direção de Romolo Guerrieri que é ótima desde a abertura do filme (que é genial, Django acordando à beira da praia com um defunto do lado) até o desfecho melancólico; Guerrieri é bastante seguro nos enquadramentos, nas seqüências de ação e na direção de atores; e a linda trilha de Nora Orlandi ajuda a intensificar a dramaticidade da obra, como todo bom e velho western à parmegiana tem que ser. Então, podem ir sem medo: 10.000 DÓLARES PARA DJANGO é, sem dúvida, um dos grandes momentos deste gênero italiano que eu tanto adoro!