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5.8.25

KEOMA (1976)

 

KEOMA é o canto do cisne do western italiano, o último grande spaghetti, surgindo em um momento em que o gênero declinava. E é inegável que o filme de Enzo G. Castellari está entre os mais ambiciosos, com uma tonalidade profundamente crepuscular e apocalíptica que, do ponto de vista formal, remete aos tempos áureos do gênero, como os clássicos de Sergio Leone, DJANGO, de Sergio Corbucci, e FACCIA A FACCIA, de Sergio Sollima, lançados na década anterior. Embora não seja tão lamacento quanto ao filme de Corbucci, KEOMA abre numa ambientação sombria, centrada em uma cidade fantasma, onde as casas desmoronam sob uma névoa permanente e tempestades de areia frequentes. Castellari reforça essa desolação com uma trilha sonora macabra, na qual o som do vento desempenha um papel crucial.

É nesse cenário que retorna Keoma (Franco Nero), um mestiço de origem indígena que esteve ausente por anos devido à Guerra Civil. Ao voltar, encontra sua cidade devastada por uma epidemia que assola o local, e Caldwell (Donald O'Brien), um tirano auxiliado pelos meio-irmãos de Keoma. Apenas seu pai (William Berger), já velho demais para lutar, e seu amigo George (Woody Strode), um antigo pistoleiro que se tornou alcoólatra, o acolhem de forma positiva. Keoma logo se vê protegendo Lisa (Olga Karlatos), uma jovem grávida, que perdeu o marido, assassinado pelos homens de Caldwell.

E Keoma surge não apenas como um libertador, mas como uma figura messiânica – sua longa cabeleira, a barba espessa e as vestes esfarrapadas reforçam essa iconografia. Ele prega a solidariedade e ajuda seus aliados, como seu pai e George, a reencontrarem sua dignidade para enfrentar o domínio de Caldwell e de seus capangas, incluindo seus meio-irmãos que sempre o rejeitaram. O enredo, ainda que familiar, é eficaz no embate moral entre Keoma e seus antagonistas, além de ressaltar a força dos oprimidos que se levantam contra a tirania, evocando tanto DJANGO quanto RIO BRAVO, de Hawks, e até mesmo a obra de Peckinpah.

Os atores são excelentes, mas a verdadeira singularidade do filme reside em sua abordagem mística, quase fantástica. Logo na introdução, Keoma encontra uma velha bruxa que reaparece ao longo da trama como uma espécie de profetisa do infortúnio. As sequências de combate são carregadas de estilização, com Castellari abusando de um slow motion dramáticos. O tiroteio perto do final está dentre os melhores da carreira do diretor. E Castellari leva a tragédia aos limites, culminando em uma cena de crucificação de Keoma, visualmente bela.

O filme também intercala inúmeros flashbacks que explicam sua relação com George, seu pai e seus irmãos, em sacadas temporais que por vezes remetem a Bergman. Detalhes que transcendem Keoma ao sublime e enfatizam sua permanência como um dos últimos, senão o último, western spaghetti digno de nota e reafirma Franco Nero como um dos maiores atores da era dourada do cinema italiano.

1.8.13

LIGHT BLAST, aka Colpi di Luce (Enzo G. Castellari, 1985)


Depois de ser campeões da Libertadores o Galo já perdeu duas seguidas, então é melhor eu atualizar isto aqui e tirar logo o escudo do clube do topo. Vamos, então, de mais um Castellari, o divertido LIGHT BLAST, um dos exemplares que oferece o que há de mais absurdo e impagável em termos de ação no cinema italiano daquele período. Além disso, numa história básica e bastante funcional, temos umas três ou quatro perseguições de carro em alta velocidade, um punhado de tiroteios espalhados pela narrativa, algumas cenas de pancadaria e boas doses de explosões. Sem contar os cenários e rostos derretidos ao estilo CAÇADORES DA ARCA PERDIDA por causa de uma super arma que o vilão utiliza. Ou seja, pra que serve um roteiro mesmo?


Erik Estrada (acima) é o protagonista e encarna um policial casca grossa que não tem receio de mandar chumbo grosso pra cima dos bandidos. A trama gira em torno do seu trabalho, junto com a força policial, para impedir o tal vilão de utilizar a poderosa arma que derrete seus alvos com extrema facilidade, incluindo edifícios, veículos e pessoas. Seu plano é fazer chantagens aos governantes para ganhar uma grana fácil. O habitual colaborador de Castellari (e também seu irmão), Ennio Girolami, é quem dá vida ao personagem maquiavélico.  


E é isso. Depois de realizar um trabalho introspectivo, sério e poético como TUAREG, Castellari resolveu voltar a fazer algo bem mais leve com LIGHT BLAST, seguindo a linha dos seus exemplares do início da década de 80. Um filme cuja única pretensão é divertir o público com o máximo de sequências de ação que puder colocar na tela.


E comparado com outros filmes italianos do gênero produzidos naquele período, este aqui aparenta ter um bom orçamento, o que acho muito difícil, já que neste período os italianos trabalhavam cada vez mais com dinheiro reduzido. Não sei quanto foi gasto, mas a sequência final, por exemplo, uma perseguição de carros filmada em São Francisco, me parece muito bem produzida... digo, eles precisam de licença, dublês, carros para batidas, fechar algumas ruas para filmar esse tipo de sequência, etc. Não tenho ideia de como fizeram para pagar tudo isso (ou se realmente pagaram), mas o resultado é ótimo!


No entanto, para quem tem acompanhado o ciclo Castellari por aqui já sabe que falar bem de sequências de ação filmadas pelo diretor é chover no molhado. Nem preciso dizer, portanto, que os tiroteios são bem coreografados e as situações que colocam o protagonista em movimento são criativas, o que é sempre habitual na carreira do italiano. O fator novidade que aparece na por aqui é a tal super arma e as imagens de pessoas sendo derretidas, com efeitos especiais toscos pra cacete! Mas muito legais!


O mesmo pode ser dito sobre Erik Estrada. Até que Castellari conseguiu transformá-lo, pelo menos aqui em LIGHT BLAST, num homem de ação competente, capaz de convencer empunhando uma escopeta ou dirigindo velozmente pelas ruas perseguindo os meliantes. E são acontecimentos dessa espécie que definem a obra, mais uma divertida sandice italiana que merecia ser redescoberta por mais cinéfilos de “bom” gosto!

14.7.13

TUAREG - O GUERREIRO DO DESERTO (Enzo G. Castellari, 1984)


Depois de filmar tralhas divertidas como O ÚLTIMO TUBARÃO e se dedicar a uma trilogia de filmes de ação futuristas e de roteiros bobos, mas que renderam alguns de seus melhores trabalhos, Enzo G. Castellari resolveu encarar o projeto mais caro e ambicioso da carreira. TUAREG – O GUERREIRO DO DESERTO foi inspirado num best seller, escrito por Alberto Vázquez Figueroa, e é o retorno do diretor a uma abordagem mais séria, contemplativa e poética, que remete aos seus melhores filmes como KEOMA e JOHNNY HAMLET.

O que não o impede, claro, de jogar na tela as habituais sequências de ação que, na seara do cinema italiano, Castellari era o maior. Não é a toa que TUAREG foi considerado como uma mistura de LAWRENCE DA ARÁBIA com RAMBO. Uma combinação interessante que transforma o visual árido e as belezas do deserto num campo de batalha protagonizado por um Tuareg badass que conhece todos os segredos de sobrevivência da região, toca o terror pra cima do governo, bebe sangue de camelo para matar a sede e ainda pede mais.


Os Tuaregues, como são conhecidos os habitantes do Sahara, além de agricultores e comerciantes, servem também de guias para quem resolve encarar uma travessia pelo deserto. Mas isso não importa muito, aqui são representados como autênticos guerreiros ninjas, capazes de realizar as mais inacreditáveis façanhas que os italianos poderiam pensar para um filme de aventura e ação.

Só para ter uma noção do que o herói, Gacel Sayah (Mark Harmon), é capaz, o filme abre com o relato de um ancião sobre uma perigosa região do deserto,  na qual ninguém, aparentemente, havia sobrevivido ao tentar atravessar. No mesmo instante surge Gacel interrompendo o velhote só para dizer que não atravessou apenas uma vez, mas duas vezes tal pedaço de terra!


A aventura do personagem começa por causa da forte relação com a cultura do seu povo. Dois homens misteriosos aparecem em sua propriedade no meio do deserto precisando de cuidados e Gacel lhes oferece abrigo e lhes toma como hóspedes. Nas leis dos tuaregues um dos mandamentos mais sagrados é a hospitalidade. Portanto, quando um pelotão do exército liderado por ninguém menos que Antonio Sabato chega para prender os dois sujeitos (um deles acaba executado no próprio local), Gacel se sente ofendido ao ponto de abandonar mulher e filho e iniciar uma guerra contra quem quer que seja para salvar seu hóspede.

E a coisa toma enormes proporções. O país em crise, vivendo uma onda de protestos contra o atual presidente e o exército inteiro precisa se preocupar com um único Tuareg, que acaba se tornando um herói popular. Sem contar que o Tuareg, a princípio, nem imagina o grau de importância que seu hóspede, um preso político, possui para o país.

Sobre a ação de TUAREG, destaco duas sequências. A primeira, o duelo de espadas com o Tuareg que serviu de guia para que o pelotão adentrasse as terras do protagonista. Depois, o frenético tiroteio que o herói arranja contra todo um pelotão para libertar seu hóspede dentro de uma base militar. E o sujeito é um monstro. Não sobra alma viva para contar a história. E aqui é o momento em que Castellari deixa sua marca registrada, põe de lado a poesia da obra e contextualiza o filme entre os exemplares de ação da época, cujas cenas exageradas e explosivas não fazem feio a clássicos como COMANDO PARA MATAR, INVASÃO USA e DESEJO DE MATAR 3.


No entanto, é a única sequência nesse estilo, até porque Gacel não luta apenas contra seres humanos, mas também com os desafios do deserto, o calor infernal, a falta de água... Um dos pontos altos de TUAREG é justamente uma sequência de ação sem ação, na qual Gacel vai para o meio de uma área do deserto e realiza uma loga batalha psicológica contra seus adversários.

E só mesmo o Castellari para convencer que o americano Mark Harmon, com seus olhos azuis e pele branquinha, é um guerreiro beduíno. Olho azul por olho azul, o Franco Nero, que já trabalhou com o diretor por diversas vezes, não estava disponível? Mas até que Harmon consegue se sair muito bem em todos os aspectos, especialmente como herói de ação. Além dele e Sabato, outros rostos familiares também entram em cena por aqui, como Paolo Malco, Aldo Sambrell e Romano Puppo.


Outro destaque é a trilha sonora de Riz Ortolani que entra em perfeita sintonia com as paisagens deslumbrantes do deserto. O que reforça a ligação de TUAREG com LAWRENCE DA ARÁBIA, mas acrescentando a violência deflagradora do cinema de ação dos anos 80 faz com que ganhe uma outra dimensão. Uma Belíssima fotografia, boa história, ótimas atuações, situações inusitadas que só mesmo o cinema italiano desse período poderia proporcionar e a elegante direção de Castellari fazem dessa belezinha um dos maiores trabalhos desse estimado diretor italiano.

9.7.13

FUGA DO BRONX (Enzo G. Castellari, 1983)


Para fechar a trilogia pós-apocalíptica do Castellari, chegou a vez de FUGA DO BRONX, continuação direta de 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX. O título é um pouco enganador, deve ter sido bolado só para fazer referência ao clássico do John Carpenter, FUGA DE NOVA YORK, porque na verdade, pelo enredo deste aqui, o título deveria ser algo do tipo “NÃO fujam do Bronx”!

Desta vez, a corporação malvada do primeiro filme resolve expulsar os moradores do Bronx, região sem lei, dominada por gangues, como vimos no episódio anterior. A ideia é esvaziar o local para construir um bairro novo com prédios modernos, e quem não quiser sair por bem... Bom, sai à pontapés mesmo, ou acaba assassinado a sangue frio pelo esquadrão fascista liderado por Wrangler (o sempre genial Henry Silva), contratado para limpar o local usando a força bruta. Castellari antecipou trinta anos o modo de agir da polícia militar brasileira.


Sobra até para os pais do herói de OS GUERREIROS DO BRONX, Trash, novamente encarnado por Mark Gregory, que agora vai revidar com sede de vingança! E seguindo a linha dos outros filmes, o roteiro não avança muito para além disso e o filme se transforma numa batalha exatamente para não fugirem do Bronx. É só ação, ação e ação!  Provável que FUGA DO BRONX seja o filme com mais ação de toda a carreira do Castellari. A quantidade de tiroteios é impressionante e toda situação que o enredo apresenta é desculpa para que a equipe de dublês trabalhe dobrado.

Um bom exemplo é quando decidem sequestrar o presidente da corporação. Não há qualquer tipo de elaboração. O plano é puxar o sujeito pelo colarinho e distribuir chumbo grosso em quem estiver pela frente.



E mesmo o conceito das gangues diferenciadas do filme anterior acaba se perdendo. Todos os grupos agora estão reunidos nos subterrâneos do bairro, liderados por Dablone (Antonio Sabato), na luta contra a tal corporação. E Mark Gregory consegue amadurecer o seu personagem. Trash está mais melancólico, com ar de cavaleiro solitário badass e deixou de lado a calça Jeans apertadinha no rabo... Logo no início do filme há uma cena na qual Trash explode um helicóptero com tiros calibre 38. O sujeito realmente não está para brincadeira!



Aliás, a ação do filme, além da grande quantidade, é toda repleta desse tipo de exagero. Especialmente o gran finale, cuja contagem de corpos é de arrepiar (algumas fontes apontam 174 mortos)! Imaginem o final de DESEJO DE MATAR 3 elevado à décima potência em termos de balas, explosões e violência e terão alguma ideia do que é isso aqui! O estilo Peckinpah de trabalhar o slow motion durante os tiroteios está em toda parte e Castellari é especialista nesse recurso, o que torna a ação ainda mais espetacular! Há também uso de miniaturas toscas sendo explodidas. Dá aquele charme nostálgico oitentista para a produção, que possui, aparentemente, um orçamento melhor para o departamento de pirotecnia e dublês em comparação ao primeiro filme.






O elenco também é outro destaque como sempre. Além de Gregory, Silva, que está realmente sensacional, e Sabato, temos uma excelente participação de Giancarlo Prete, que é o protagonista de THE NEW BARBARIANS, entre outros rostos reconhecíveis do cinema popular italiano, como Romano Puppo (desempenhando o pai de Trash), Paolo Malco, Ennio Girolami e o próprio diretor em uma pequena participação.

Apesar dos outros dois também me agradarem bastante, FUGA DO BRONX é disparado o melhor dos três exemplares futuristas que o velho Castellari realizou nesse belo período do cinema italiano.

THE NEW BARBARIANS, aka I Nuovi Barbari (Enzo G. Castellari, 1983)


Antes de encarar a continuação de OS GUERREIROS DO BRONX, vamos seguir a ordem do imdb e falar um bocado de outro action movie pós-apocalíptico dirigido pelo Enzo G. Castellari: THE NEW BARBARIANS, também conhecido como THE WARRIORS OF THE WASTELAND (lançado no Brasil como GUERREIROS DO FUTURO). Há até quem diga que, apesar de não fazer parte oficialmente do universo estrelado por Trash (Mark Gregory) e sua turma, este aqui completaria a trilogia de filmes de ação que transcorrem em futuros distópicos que Castellari realizou nos anos 80. É justo...

Estamos no boom do cinema pós-apocalíptico e o cineasta italiano que não entrasse na brincadeira estava por fora. Lucio Fulci, Joe D’Amato, Sergio Martino, Bruno Mattei, etc, etc... Mario Bava só não entrou porque morreu antes do gênero realmente estourar. E Dario Argento, antes de fazer de tudo para destruir sua reputação com abjetos como DRACULA 3D conseguiu permanecer no seu estilo, dirigindo e produzindo horror de qualidade. O resto teve que procurar terrenos baldios no interior da Itália (como é o caso de THE NEW BARBARIANS) para fazer de cenários pós-apocalípticos.


No ano de 2019, após um holocausto nuclear, um grupo intitulado Templários toca o terror para cima dos poucos seres humanos que ainda vagam pelo mundo devastado. Eles se consideram uma raça superior e por onde passam o resultado é morte e destruição. Para nossa sorte, existem ainda algumas pessoas de bom coração, como Scorpion (Giancarlo Prete), Nadir (Fred Williamson) e o moleque de A CASA DO CEMITÉRIO, do Fulci, (Giovanni Frezza) que é um exímio atirador de estilingue e um mecânico de primeira. Os três unem força para lutar contra as forças malignas dos Templários, liderado por One (o grande George Eastman).


E pronto, a trama não passa muito disso. Os roteiristas se preocuparam apenas em criar premissas bem básicas, uns personagens bacanas e deixar o pau comendo solto a torto e a direito. O espírito era “vamos ligar a câmera e ver o que acontece”. O que torna THE NEW BARBARIANS, ao mesmo tempo, um dos filmes mais fracos e mais divertidos do Castellari. Depende do que lhe interessa na sua busca cinematográfica. Pessoalmente, acho sensacional! Diria até que se trata de "bom cinema" sob determinados aspectos.


Libertando-se do roteiro, a criatividade dos realizadores foi toda concentrada na criação de sequências de ação e na concepção dos veículos futuristas, nos figurinos, adereços, penteados, armas... E pelo que pude entender da mensagem que o filme deixa, estilistas não muito chegados na fruta (acho que isso foi um pleonasmo) tem mais chance de sobreviver a uma catástrofe nuclear. Digo isso baseando-me no visual dos Templários. Deve ser extremamente difícil manter esse penteado num mundo devastado e sem um supermercado por perto... será que é esse o objetivo dessas moçoilas de ombreiras? Destruição em massa em busca de produtos de beleza para manter o look?


Enfim, se FUGA DE NOVA YORK e THE WARRIORS eram as fontes de inspiração de OS GUERREIROS DO BRONX e FUGA DO BRONX, em THE NEW BARBARIANS percebe-se claramente que Castellari viu e reviu MAD MAX II um punhado de vezes antes de começar as filmagens. Além dos carros, ambientação e outros detalhes, Scorpion é uma cópia cuspida e escarrada da personalidade do Mad Mel no filme de George Miller.


Numa entrevista nos anos 90 para a European Trash Cinema, Castellari diz que o orçamento de THE NEW BARBARIANS foi um dos mais risíveis com o qual já trabalhou e por isso se orgulha muito das sequências de ação que conseguiu realizar por aqui. Há uma abundância de tiroteios com efeitos sonoros de lasers (e que quando acertam o alvo fazem um estrago danado, especialmente no corpo humano), perseguições de carro, explosões, pancadaria, cabeças rolando, uma coisa linda.


Nessa mesma entrevista, o diretor declara o seu amor ao cinema de Peckinpah e a maneira como este utiliza o slow motion em cenas de ação. E aqui Castellari usa e abusa desse mesmo artifício. Visualmente, a ação de THE NEW BARBARIANS é um espetáculo dos bons, apesar do orçamento baixíssimo.


É preciso destacar ainda alguns momentos realmente interessantes e inusitados por aqui, como a participação limitada, mas muito bem utilizada do personagem de Williamson e seu arco e flecha destruidor, com um conjunto de explosivos coloridos de fazer o Rambo ficar com invejinha. Ui! E já que voltamos a falar de boiolice, THE NEW BARBARIANS deveria ser lembrado por ser o melhor (e provavelmente o único) exemplar do ciclo de filmes pós-apocalípticos italianos no qual o herói é capturado e literalmente currado, violado, estuprado, arrombado pelo lider dos vilões... Geez, esses italianos eram mesmo insanos!

Para se aprofundar ainda mais no filme, recomendo este texto, do Felipe M. Guerra. Garantia de boas risadas.

5.7.13

1990 - OS GUERREIROS DO BRONX (Enzo G. Castellari, 1982)


De volta ao Brasil para umas férias, passemos às atividades por aqui. Pelo menos nos próximos dois meses espero ter muito assunto para compartilhar antes de voltar à luta. Um deles é o já anunciado retorno do ciclo Castellari que iniciei ano passado e por diversos motivos acabei abandonando. Retomemos de onde paramos: 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX, um dos melhores trabalhos do diretor de KEOMA.

A essa altura do campeonato, é provável que quase todo mundo saiba que certa parcela do cinema italiano no início dos anos 80 era formada por alguns dos principais picaretas da indústria cinematográfica mundial. Choviam filmes que se aproveitavam do sucesso comercial de outras produções mais abastadas. MAD MAX, por exemplo, foi responsável por gerar uma penca de filmes pós-apocalípticos carcamanos. OS GUERREIROS DO BRONX é um belo exemplar do gênero, embora não tenha nada a ver com o filme estrelado pelo Mel Gibson. Na verdade, é uma mixagem inspirada de outras duas obras de imensa influência na época: FUGA DE NOVA YORK, de John Carpenter, e THE WARRIORS, de Walter Hill.


Mas o que interessa mesmo é que apesar das óbvias referências o filme consegue ter vida própria, com toda a personalidade de Castellari impressa na tela. No entanto, OS GUERREIROS DO BRONX não ficou livre de alguns problemas que constantemente eram encontrados nestas específicas produções. É o caso do roteiro fraquíssimo, cheio de buracos e diálogos pífios, apesar da trama e do universo criado aqui serem notáveis. Cortesia do grande Dardano Sacchetti, responsável por vários roteiros clássicos do cinema italiano dos anos 70 e 80.

Além disso, tenho um bocado de problemas em levar a sério o personagem principal, Trash, supostamente o cabra durão do pedaço, interpretado pelo italiano Marco di Gregorio (aqui creditado como Mark Gregory), que não possui carisma algum. É lógico que o resultado acaba sendo mais divertido por ser um elemento de humor involuntário. Mas perto de um Kurt Russel, no filme do Carpenter, não dá nem para o cheiro.

Um fato interessante é que há rumores de que Mark Gregory é, ou tenha sido (não sei se ainda está vivo), gay. Não que isso interesse. A sexualidade de cada um pouco me importa. Mas é curioso quando isso influencia no filme. Porque há duas cenas específicas em que personagens morrem nos braços de Trash. Quando é um membro masculino de sua gangue percebe-se claramente a intesidade de sua atuação, parece que ele deu tudo de si (aliás, o falecido tem até um bigode estilo Freddie Mercury). Quando ocorrido é com uma importante personagem feminina a encenação já não é tão convincente. E a calça jeans que ele usa durante o filme deve ser a mais apertada da história do cinema e quando anda dá a impressão de que há um caroço de milho enfiado no rabo...


Er... Bom, OS GUERREIROS DO BRONX conta ainda no elenco com Vic Morrow (em seu último papel antes de morrer de forma trágica no set de THE TWILIGHT ZONE), Fred Williamson, George Eastman, Christopher Connelly, Joshua Sinclair e o próprio Castellari em um pequeno papel. Mas sua função atrás das câmeras, como criador de imagens, é que chama a atenção, especialmente nas sequências de ação, com direito a uma bela contagem de cadáveres e vários slow motions peckinpanianos. A cena em que Vic Morrow invade o esconderijo dos Riders (cujo lider é a figura que eu comentei nos dois últimos parágrafos) distribuindo bala é um primor. As cenas de luta também não são más, principalmente quando acontece um quebra pau entre Williamson e Eastman.



A diversão continua também nas situações precárias da produção que rendem algumas risadas curiosas. Um bom exemplo refere-se a um dos principais argumentos da trama: o bairro do Bronx tornou-se uma terra sem lei e sem ordem comandada por diversas gangues em disputa por territórios, mas a produção não teve permissão de fechar as ruas da região para as filmagens. Portanto, é hilário notar no fundo os carros passeando e as pessoas andando normalmente nesta suposta "terra de ninguém", violenta, sem lei e ordem. Mas o que importa é a essência, não é mesmo? É o que torna OS GUERREIROS DO BRONX tão magnífico. Fiz uma revisão recente e é bacana notar como ainda se mantém em ótima forma em comparação com um punhado de outras produções similares daquele período de glória do cinema italiano de gênero.

29.5.13

CASTELLARI WILL BE BACK!

Estou em dívida com vocês. Se clicarem neste link, vão lembrar que comecei a dissecar a filmografia do diretor italiano Enzo G. Castellari e, de repente, há mais de um ano, simplesmente larguei mão. E justamente quando entrava na fase dos anos 80, em que o rebuscamento magistral de filmes como KEOMA, JOHNNY HAMLET e O VINGADOR ANÔNIMO, dava lugar ao estilo mais vulgar e bagaceiro tão característico do cinema popular italiano do período, com O ÚLTIMO TUBARÃO (que cheguei a escrever), THE NEW BARBARIANS, LIGHTBLAST, HAMMERHEAD, mas ainda com alguns exemplares de classe, afinal, Castellari foi um dos maiores entre a italianada: OS GUERREIROS DO BRONX, FUGA DO BRONX e TUAREG.

Bem, o post foi só pra avisar que vamos retomar com a peregrinação em breve. E aqui vai um aperitivo do que vem por aí:


Mistura de THE WARRIORS, de Walter Hill, com FUGA DE NOVA YORK, do Carpenter, OS GUERREIROS DO BRONX (1982) acaba por ser também um autêntico clássico, de personalidade própria! Fiz uns comentários aqui no blog há alguns anos, mas já está na hora de rever.


Belíssimo esse cartaz alemão de FUGA DO BRONX (1983), não? O filme também é uma belezinha, um dos melhores do Castellari deste período.


Esses alemães sabiam mesmo fazer cartazes! Este aqui é do THE NEW BARBARIANS (1983). Quero um desse na parede da minha casa!


TUAREG (1984), também conhecido como RAMBO do deserto! Filmaço que também já fiz breves comentários aqui no blog.


LIGHTBLAST (1985) é inédito pra mim e não sei bem do que se trata, a não ser o fato de possuir umas armas de lasers e ser protagonizado pelo Erik Estrada! Hahaha!


HAMMERHEAD (1990), bom filme policial, com imensa dose de ação. Sem o brilho dos polizieschi que o Castellari fez nos anos 70, mas com diversão garantida. É outro que já cheguei a fazer uns comentários aqui no blog há alguns anos.

22.4.12

O ÚLTIMO TUBARÃO, aka L'ultimo Squalo (1981)

Todos conhecem bem a fama de picaretas de uma certa parcela de realizadores no cinema italiano, com seus rip-offs baratos e populares, imitando na cara dura produções abastadas e celebradas. E o nosso estimado Enzo G. Castellari não foi exceção com O ÚLTIMO TUBARÃO, uma cópia tão descarada do filme do Spielberg de 1975 que até uma vítima de Alzheimer poderia apontar as similaridade entre as obras.

Um grande tubarão branco aparece para desfrutar o menu recheado de banhistas de todo tipo em uma cidade costeira. O ótimo e subestimado ator James Franciscus interpreta um escritor e não um policial como Roy Scheider, mas age da mesmíssima maneira tentando avisar a todos sobre a ameaça, impedindo que as pessoas entrem na água; Vic Morrow é o especialista em tubarões e faz uma boa imitação de Robert Shaw; temos também o político ganancioso que resolve manter um evento esportivo sem se importar com as consequências de ter um tubarão branco à solta… Só não duplicaram o Richard Dreyfuss! Fora os personagens, existe ainda muita coisa em comum entre os dois filmes que nem vale a pena ficar descrevendo.

Mas esse xerox todo não significa que o filme seja ruim… bom, pelo menos pra mim. As duas produções podem ser idênticas na essência – com a visível diferença no orçamento deste aqui – mas até que Castellari consegue se sair bem. Quem já viu alguns dos principais trabalhos do homem nos anos setenta sabe que o cara tem estilo. O ÚLTIMO TUBARÃO é muito divertido, possui momentos de pura tensão e consegue até emular algumas características “spielberguianas”, como a relação pai e filha. Mas estamos falando de Castellari aqui, então mesmo num filme de tubarão assassino, o sujeito consegue encaixar alguns planos em eu habitual slow motion... Castellari é mestre até filmando tralhas!



Mas voltando a falar do elenco, é curiosa a presença do ator Vic Morrow por aqui, pois logo após o lançamento nos cinemas americanos, O ÚLTIMO TUBARÃO precisou ser retirado, pois a Universal (e lógico, o Spielberg) não gostou nada da cópia cara de pau que a italianada aprontara. Dois anos depois, Morrow aceitou trabalhar numa produção de… Steven Spielberg, NO LIMITE DA REALIDADE. E o que acontece? Simplesmente a morte mais trágica que um set de filmagem já presenciou. Pra quem não sabe, Vic Morrow foi decapitado por uma hélice de helicóptero enquanto segurava no colo duas crianças (que obviamente tiveram o mesmo fim) e tudo com as câmeras ligadas, filmando todo o ocorrido. Seria uma vingança de Spielberg?!?! Muahahaha!


Humor negro à parte, falemos então de humor de verdade. O que são as cenas dos ataques de tubarão?! Sei que não era a intenção do Castellari, mas são de rachar o bico! Exageraram no uso de stock footage, parecem tiradas de um documentário qualquer da “Semana do Tubarão” do Discovery Channel e foram editadas de qualquer jeito, nunca se encaixam com as cenas realmente filmadas… é ridículamente constragedor, mas ao mesmo tempo muito cômico! E quando surge em cena o tubarão “real” a coisa fica ainda mais hilária! Mas eu acho muito legal. A cena que o tubarão derruba um helicóptero é simplesmente o máximo! Percebe-se que o material do tubarão não é dos melhores, todo duro, mas algumas sequências são tão boas que você até releva esse tipo de detalhe.