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1.11.13

ESCAPE PLAN (2013)


Já estamos em novembro e analisando o panorama do cinema de ação em 2013, se por um lado não tivemos uma safra vasta de bons exemplares (o que já é habitual nos últimos anos), por outro tivemos a oportunidade de notar algumas peculiaridades: Arnold Schwarzenegger retornou como protagonista de seu próprio veículo de ação em THE LAST STAND, que marcou também uma ótima estreia do coreano Jee-Woon Kim em Hollywood; já Sylvester Stallone não apenas estrelou o melhor filme de ação do ano até o momento, BULLET IN THE HEAD, como também proporcionou o retorno de Walter Hill à cadeira de diretor depois de dez anos sem lançar nada para cinema. Por essas duas obras já teríamos motivos suficientes para comemorar. No entanto, não satisfeitos, Sly e Arnie ainda tiveram forças para se juntar e lançar ESCAPE PLAN, que já merece destaque só pela ideia de colocar lado a lado esses dois ícones do cinema de ação. O bom é que o filme vai além disso.


ESCAPE PLAN não é exatamente um retorno ao tipo de filme que transformou esses caras no que eles são. Mas me lembra uma época, em meados dos anos 90, em que eles já estavam consolidados como action heroes e realizavam umas coisas como O DEMOLIDOR e QUEIMA DE ARQUIVO, fitas menores em suas carreiras, mas divertidíssimas e muito superiores em relação à grande maioria do que é realizado hoje em termos de ação. Acho até que é neste período que esse crossover deveria ter acontecido... Mas, antes tarde do que nunca. Até porque ambos, apesar da idade avançada, ainda possuem fôlego e truculência suficiente para esmagar qualquer Vin Diesel, The Rock, ou seja lá quem for, vê-los caídos diante do seus olhos e ouvir o lamento de suas mulheres... Não é isso o melhor da vida?

Em ESCAPE PLAN, Stallone é praticamente um McGyver com músculos e precisa utilizar mais a inteligência do que a força bruta em sua profissão, que consiste em procurar brechas nas penitenciárias de segurança máxima. Como deve ser simpatizante do jornalismo gonzo, a maneira como realiza o trabalho é se infiltrando como prisioneiro, estudando o local, percebendo os pontos fracos e arranjando maneiras de escapulir. Depois de vários anos fazendo isso, escreve um livro sobre o assunto. Uma versão casca-grossa de Hunter S. Thompson.


O problema é quando o Sly decide encarar um novo desafio e acaba parando numa prisão construída a partir das informações, conceitos e ideias adquiridas por ele próprio, a partir do seu trabalho. Uma prisão aparentemente impossível de escapar. Para sua sorte, encontra no local o Schwarzenegger, vivendo o seu personagem mais legal desde TRUE LIES, e decidem unir força para traçar uma rota de fuga. Será que uma prisãozinha será suficiente para parar essa dupla? Quem já viu o filme sabe, quem não viu, vai precisar ver, porque eu não vou contar.

Só digo que Arnoldão rouba o filme em cada momento que aparece na tela, muito mais que um sidekick de luxo, compondo um personagem diferente de tudo que já fez. Com cabelos e cavanhaque grisalhos, não deixa de ser o brutamontes badass motherfucker de sempre, mas ao mesmo tempo intercala o tipo engraçadão com variáveis demonstrações de fragilidade diante de algumas situações. A cena em que finge um ataque de desespero para chamar a atenção dos guardas e reza em alemão na solitária já pode entrar na lista dos momentos antológicos da carreira do homem. Stallone também está ótimo, o problema é ter pego Schwarzenegger num dia inspirado e acabou tendo o brilho ofuscado.


O elenco se completa com algumas figuras interessantes: Vincent D'Onofrio, Sam Neil, Jim Caviezel e Vinnie Jones. Estes dois últimos os vilões da parada. 50 Cent não compromete com seu pequeno papel. E a surpresa é a interessante utilização de um personagem árabe, vivido por Faran Tahir, que, numa jogada de muito bom senso do roteiro, consegue quebrar alguns clichês.

O diretor sueco Mikael Hafstrom pode não ser um mestre do cinema de ação, mas parece plenamente consciente do tipo de filme que os fãs de Sly e Arnie estavam esperando. ESCAPE PLAN nem possui tantas sequências de ação assim, é mais focado no thriller com os elementos de filmes de prisão. E a presença dos dois atores em cena, contracenando, já é de encher os olhos, de absorver o espectador com uma incrível sensação de nostalgia. Há um profundo respeito do diretor pelos velhos e isso fica claro na maneira como os filma, como os enquadra, como trabalha a rivalidade dos dois em cena. Há até uma breve luta entre os dois que é praticamente um sonho realizado! Sly vs Arnoldão! Wow!


Quando a ação finalmente explode, a adrenalina toma conta. Não há nada mais, com perdão do meu francês, fodástico que Stallone e Schwarzenegger atirando, esmurrando e explodindo coisas de maneira frenética! Hafstrom nem é muito habilidoso na direção dessas sequências, mas pelo menos evita certos maneirismos do cinema de ação atual, como esconder a incompetência chacoalhando a câmera. Aqui podemos enxergar perfeitamente o que se passa e o sujeito ainda aproveita para homenagear Arnoldão com o momento mais badass de ESCAPE PLAN, quando o austríaco faz pose em câmera lenta e se prepara para cuspir fogo em diversos vilões com uma metralhadora estilo COMANDO PARA MATAR em punho! Para Stallone, o roteiro lhe reserva uma luta franca contra o Vinnie Jones, que é outro ponto alto do filme.


Obviamente, ESCAPE PLAN não é perfeito. Toda vez que o filme volta suas atenções aos personagens fora da prisão corta o ritmo envolvente da trama principal, do foco, que é Stallone e Arnie enjaulados. Mas isso só acontece momentaneamente e não prejudica a narrativa de maneira alguma. Na maior parte do tempo, o filme se assume como diversão pura e de qualidade para os admiradores do bom cinema de ação exagerado e aos fãs de ambos atores. Seria um erro esperar mais do que isso. Só lamento que tanto ESCAPE PLAN quanto LAST STAND e BULLET IN THE HEAD tenham fracassado nas bilheterias. Algo preocupante, porque estou gostando da ideia de ter esses velhotes em atividade no cenário atual. Quando os executivos dos estúdios perceberem que esses caras estão dando prejuizo, o que vai acontecer? E onde estão os fãs  que enchiam as salas de cinema há vinte anos atrás? Ou será que estou sendo muito pessimista?

Para finalizar, outros cinco encontros marcantes de autênticos ícones do cinema de ação em filmes que levam o termo truculência ao extremo realizados nos últimos trinta e poucos anos:

DEATH HUNT (81), de Peter R. Hunt: Lee Marvin e Charles Bronson pertencem a uma geração anterior à do Sly e Arnie, ambos já haviam feitos alguns filmes juntos e dispensam apresentações. É neste aqui que se dá o encontro mais dramático entre eles. Na trama, Marvin promove uma caçada humana pra cima do Bronson pelas terras geladas na fronteira do Canadá. O negócio é que nenhum dos dois é o vilão da história, e muito menos o bonzinho. Enquanto pensamos nesse dilema, a violência explode na tela.

TANGO & CASH (89), de Andrey Konchalovskiy: Rambo encontra Snake Plissken, num buddy movie de ação policial que poderia ser melhor, mas ainda assim possui ingredientes suficientes para os afccionados pelo gênero receberem uma bela dose de explosões, tiros e pancadaria. E ainda tem o Jack Palance como vilão e Robert Z'Dar, o queixo mais discreto do cinema, como desafeto de ambos numa prisão que Sly e Russel precisam fugir. Prisão? Fugir? Opa...

SOLDADO UNIVERSAL (92), de Roland Emmerich: No primeiro filme da saga dos unisoldiers, dois ícones colocados frente a frente como galos numa rinha. O músculos de Bruxelas, Jean-Claude Van Damme, encara o brutamontes sueco, Dolph Lundgren, num dos melhores filmes da carreira de ambos. Super produção na época, o destaque vai para o Dolph, que faz um dos personagens mais insanos que já encarnou: um sargento que pira, extermina todos os soldados do seu pelotão e faz um colar utilizando as orelhas dos defuntos. Verdadeiro artista artesanal...

MASSACRE NO BAIRRO JAPONÊS (93), de Mark L. Lester: Este aqui é simplesmente um dos filmes mais divertidos e brutais do gênero nos anos 90. Perdi a conta de quantas vezes assisti, só sei que é um dos grandes responsáveis por me fazer amar tanto o cinema de ação. Dolph Lundgren dessa vez une forças com o filho de Bruce Lee, Brandon, que consegue a proeza de roubar a cena do sueco com um personagem carismático e excelente na porrada. Uma pena que Lee morreu tão cedo. Teria lugar garantido hoje no hall da fama dos grandes ícones do cinema de ação. Este filme é prioridade para um futuro texto. Aliás, todos dessa lista são...

O DEMOLIDOR (93), de Marco Brambilla: Mais duas figuras nada amigáveis são colocadas em lados diferentes. E o confronto desses caras vai além do limite do espaço e tempo! Stallone é o policial mais casca grossa do mundo e faz de tudo para pegar Wesley Snipes, o terrorista mais perigoso do mundo. Até consegue, mas vários inocentes morrem no caminho. Ambos são presos e congelados. Trinta anos no futuro, Wesley Snipes toca o terror e só Stallone, o policial old school é capaz de pará-lo. Que comece o segundo round! Mas antes, Sly precisa aprender a usar as três conchas...

23.9.13

TRANCERS (1985)


Fazia tempo que eu estava querendo postar alguma coisa sobre este pequeno, mas fantástico, sci-fi movie oitentista que marcou de maneira profunda a minha formação cinéfila, deixando sequelas irreparáveis no meu mau gosto pra filmes quando eu ainda era moleque no fim dos anos oitenta. TRANCERS, que gerou mais cinco filmes depois deste aqui, combina duas das melhores coisas do universo dos filmes B daquele período: o ator Tim Thomerson e o diretor Charles Band com sua produtora Full Moon. Quando esse dois mundos colidem, as possibilidades são infinitas. E nesse caso, o resultado é um pequeno clássico do cinema fantástico independente.

TRANCERS começa em algum lugar no futuro. O herói Jack Deth (Thomerson) adentra uma cafeteria à procura de café e de alguns... Trancers. A cafeteria possui tanto neón que parece tirada de um cenário de BLADE RUNNER. Trancers são pessoas, digamos, possuídas, sob controle mental de um sujeito chamado Martin Whistler (Michael Stefani). Eles agem normalmente até que são descobertos e se revelam como zumbis loucos psicopatas querendo destruir tudo e a todos a sua volta. Bem, é exatamente isso que acontece na cafeteria e Jack precisa agir com seu revólver em punho, pois o sujeito é um policial e seu trabalho é justamente exterminar essas criaturas.


Após uma investigação aprofundada, Jack descobre que o bandido está foragido e o que o separa do herói não é apenas a distância, mas também o tempo. Em outras palavras, o sujeito foi parar em 1985, no passado. O incansável Jack não vê problemas nisso e resolve ir atrás de Whistler antes que os habitantes daquela época sejam transformados em Trancers. Chegando lá, encontra uma Helen Hunt em início de carreira pagando mico nesta produção classe B, que ajuda o pobre Jack em sua busca (aliás, a ganhadora do Óscar de melhor atriz também participou das duas próximas continuação de TRANCERS, já nos anos 90). Isso tudo acontece nos primeiros vinte minutos de duração. O resto é gasto com Jack e sua "parceira" caçando Trancers e Whistler de várias maneiras possíveis...


Uma das grandes provilégios de assistir a TRANCERS é poder acompanhar o ator Tim Thomerson como  protagonista de um filme só seu - algo relativamente raro - agindo, atirando, fazendo caras de poucos amigos, soltando frases de efeito a cada cinco minutos, numa espécie de "Dirty" Harry do futuro... É o melhor trabalho da carreira de Thomerson, junto, claro, com DOLLMAN, geralmente marcada por papéis menores. Uma pena que seja tão subestimado, nunca teve muita oportunidade de demonstrar seu talento em filmes maiores. Acabou se dedicando - com extrema competência, diga-se de passagem - a fazer filmes dirigidos pelo Albert Pyun e produzidos pela Full Moon... Sorte nossa e azar do público "normal", que não preza pelas verdadeiras obras de arte do cinema. Como TRANCERS, por exemplo... hehehe!


Mas, atenção! O filme é todo perdido na sua lógica de viagem do tempo, o roteiro é tão imprudente com isso que Jack Deth teria feito o Doc Brown de DE VOLTA PARA O FUTURO ter um ataque cardíaco em menos de dez minutos. E quem ficar se preocupando com esse tipo de detalhe corre sérios riscos de ganhar uma úlcera no estômago. O negócio é relaxar e aproveitar os vários outros atrativos que o decorrer da aventura nos apresenta. Os efeitos especiais, por exemplo, totalmente retrôs, com raios lases e luzes brilhantes, um espetáculo de efeitos old school e muito brega. O que nos faz amar ainda mais essa belezinha!

TRANCERS é altamente recomendado. O ritmo de aventura não pára nem um minuto, a ação é exagerada e engraçada, a trilha sonora oitentista é incrível e a atitude bad ass de Thomerson nunca cessa... e há ainda viagens no tempo! Quer mais diversão que isso?

18.9.13

ENTREGA MORTAL (The Package, 2013)


Quando temos um filme de ação estrelado por Dolph Lundgren e Steve Austin não é preciso dizer mais nada para me convencer a assistir. Principalmente se o diretor for o britânico Jesse V. Johnson, um dos mais talentosos quando se trata do cinema de ação direct to video, ao lado de uns cabras da pesada como Isaac Florentine e John Hyams. Seria difícil, portanto, THE PACKAGE, que possui todos esses requisitos, dar errado, certo? Pois bem, o que temos aqui passa longe de ser um filme ruim, mas infelizmente não consegue atingir todo o potencial que se espera.

O roteiro de THE PACKAGE não é nenhum primor, nem pretende ganhar um Óscar, mas é efetivo naquilo que se propõe. Tommy Wick (Austin) trabalha como cobrador para uma agiota e de vez em quando precisa utilizar a força bruta para lidar com a clientela. Wick não vê a hora de largar esse tipo de serviço, mas todo seu trabalho serve para compensar uma divida que seu irmão (Lochlyn Munro) possui com o patrão. Uma missão diferente e derradeira lhe espera dessa vez. Seu chefe lhe pede para que leve um pacote a um mafioso de outra cidade conhecido como the German, ou "o Alemão", traduzindo para o nosso querido português, encarnado pelo Dolph Lundgren. O problema é que outras pessoas nada amigáveis (e armadas até os dentes) também querem o tal pacote.


Para quem acompanha os últimos trabalhos do diretor dublê Jesse V. Johnson, vai perceber pelo enredo que este tipo de filme não é o seu habitual. Tanto THE BUTCHER quanto CHARLIE VALENTINE são exemplares mais pessoais, sérios e intimistas, focados nos conflitos dos personagens, filmados com uma elegância à moda antiga. Já THE PACKAGE está mais para um genérico filmeco de ação que não passa de entretenimento descartável. Para nós, fãs desse tipo de material, a diversão é garantida, mas por ser dirigido por sujeito do calibre do Johnson, fica a sensação de que faltou a classe e expressividade que se imaginava... É óbvio que com uma trama dessas não dá pra exigir muito. Não é um projeto que o Johnson morreria de amores e com certeza só o fez para pegar o cheque e pagar as contas do mês. Agora, como já disse, é entretenimento dos bons para os ávidos fãs de um action movie bad ass de baixo orçamento e poucas pretensões.

Especialmente com a dupla de brutamontes que temos aqui. Steve Austin ganha mais destaque, é por ele que acompanhamos grande parte da narrativa. Austin vem construindo uma boa carreira como herói de ação, embora não seja lá um talento para a dramaticidade. O sujeito conquista é pelo carisma e pela presença em cenas mais movimentadas. Aqui não é diferente. No entanto, quando a história passa para o lado do Dolph, o filme cresce absurdamente. Ele é o cara e seu personagem, o Alemão, é tão destruidor que ficamos frustrados por tê-lo menos em cena que o Steve Austin. Não aproveitar tanto o Dolph e sua persona acaba sendo outro equivoco de THE PACKAGE...


Mas vamos falar das sequências de ação, para não parecer que eu estou detonando THE PACKAGE. Porque é neste departamento que o filme diz a que veio e reserva alguns dos seus melhores momentos, com boa dose de tiroteios e algumas sequências de luta interessantes. Nada de encher os olhos, mas funcionam bem para o que temos aqui. A cena em que Dolph detona uma gangue inteira com uma Tommy Gunn é um prato cheio para os fãs do ator. É preciso destacar também o confronto brutal entre Austin e Jerry Trimble, que tem um pequeno papel como capanga de luxo. E claro, há ainda o aguardado final Austin vs Dolph, depois de umas reviravoltas cretinas do roteiro que coloca um contra o outro. Esse embate poderia ser mais elaborado, mas aposto que o orçamento estava apertando e tiveram que correr com as filmagens... O resultado dá pro gasto, mas mais uma vez fica a pontinha de desapontamento.

O roteiro foi escrito por Derek Kolstad, que concebeu também ONE IN THE CHAMBER, de William Kaufman, veículo de ação do Cuba Gooding Jr e que também possui o bom e velho Dolph marcando presença. Preciso comentar sobre este em algum momento, mas adianto que sofre do mesmo mal de THE PACKAGE. Dolph aparece bem menos em cena e mesmo assim está lá em cima, num patamar que Gooding Jr. não consegue atingir. A diferença é que em THE PACKAGE o personagem de Steve Austin também é casca grossa, algo que o Gooding Jr não consegue ser, embora eu goste do trabalho dele em outras produções do gênero. Ambos, no fim das contas, acabam sendo sólidos filmes de ação direct to video, mas este aqui é bem melhor. Foi lançado no Brasil com o título ENTREGA MORTAL.

Steve Austin e Jerry Trimble após as filmagens de porradaria...

28.8.13

MAIS "DIRTY" HARRY

THE ENFORCER (1976)


A trama principal é sobre um grupo terrorista que rouba uma carga de armamento pesado, incluindo lança mísseis e explosivos para fazer um tremendo estrago, e passa a chantagear os responsáveis pela cidade de São Francisco por alguns milhões de dólares. Novamente cabe a "Dirty" Harry Callahan a missão de investigar e parar os meliantes antes que uma merda muito grande aconteça. Mas isso tudo apenas serve de pretexto para outros propósitos. A ideia essencial de THE ENFORCER é fazer com que Harry trabalhe com um parceiro do sexo feminino. E aqui começam as chateações do protagonista... E também do filme. Ok, era algo relevante àquela altura ressaltar o poder feminino e etc, mas não precisavam fazer a tal parceira, interpretada por Tyne Daly, ser tão inútil e impertinente. Acaba prejudicando um bocado o andamento da história.

Por outro lado, THE ENFORCER é, de longe, o episódio da série com mais cenas de nudez. Não, Daly não mostra nada, mas dentre as várias cenas que acontecem durante o filme, há uma sequência de perseguição sobre os terraços de alguns prédios na qual o bandido cai numa clarabóia e acaba no meio de uma filmagem de um pornô! E tome pêlos pubianos na tela... Dá até prá ver a benga de um sujeito antes de Harry continuar a perseguição. Embora eu considere o capítulo mais fraco da série, THE ENFORCER, dirigido pelo batedor de estaca James Fargo, ainda consegue ser melhor que a grande maioria dos filmes de ação policial realizados nos últimos quinze anos. Temos Clint Eastwood, mais uma vez vivendo um de seus personagens mais marcantes, um elenco bacana, diálogos bem elaborados e algumas boas cenas de ação que ajudam a manter o padrão dos dois exemplares anteriores. Infelizmente, sem nunca atingir o mesmo nível no geral... Saiu no Brasil com o título SEM MEDO DA MORTE.

IMPACTO FULMINANTE (Sudden Impact, 1983)  


Harry Callahan adentra os anos oitenta. Em THE ENFORCER a série já era toda do Clint, o roteiro passou pela sua aprovação, quase chegou a dirigir, mas desistiu pouco antes das filmagens começarem e ele mesmo escolheu James Fargo para substituí-lo. Em IMPACTO FULMINANTE não teve jeito. Mais maduro como cineasta, resolveu assumir o cargo de diretor. E deu certo,  o filme é bem melhor que o terceiro e o quinto, só perde mesmo para os dois primeiros (imbatíveis), apesar de ser o capítulo mais deslocado da série.

Na trama, Harry novamente torra a paciência dos seus superiores por causa dos seus métodos nada ortodoxos. Mas dessa vez é afastado de São Francisco e enviado a uma cidade pequena para tentar resolver uma série de assassinatos que vem acontecendo. Só essa mudança de ambientação acaba tornando IMPACTO FULMINANTE o mais singular dentre os exemplares da franquia. Mas o filme vai além. É também o mais sombrio da série e praticamente não possui sequências de ação. Mas confesso que nem senti muita falta deste detalhe. A fórmula do gênero policial mais focada na investigação e no quebra-cabeça muito bem bolado do roteiro é interessante na medida certa. O suficiente para prender a atenção e não me importar com a falta de uns tiros calibre 44.

DEAD POOL (1988)



Sempre ouvi dizer como este último filme da série era ruim prá cacete e constrangedor para o velho Clintão. Fui esperando uma porcaria e acabei encontrando um exagerado filme de ação tão divertido quanto aos vários exemplares do gênero que surgiam naquele período. As pessoas são muito chatas ou eu que sou tolerante demais prá esse tipo de coisa? Tá certo que a trama repete a mesma fórmula dos três primeiros filmes: um serial killer a solta pelas ruas de São Francisco e Callahan precisa resolver a situação mais uma vez à sua maneira, para o desespero dos seus superiores. Mas o filme tem bom ritmo, é divertido e possui boa dose de suspense e tensão. Há também a diferença de uma lista negra rolando com os nomes das vítimas numa espécie de jogo e Harry Callahan faz parte dela.

O elenco é um atrativo a parte. Temos uma Patricia Clarkson no auge da beleza; Liam Neeson fazendo um diretor de filmes de horror todo afetado; e um Jim Carey numa participação especial extremamente ridícula, fazendo back vocal de Welcome to the Jungle, do Guns, que por si já pagaria o ingresso do filme. Dirigido pelo coordenador de dublês e assistente de Clint Eastwood, Buddy Van Horn, DEAD POOL traz bons momentos de ação. Nada muito especiais, mas os vários tiroteios são bem secos e classudos... A exceção é uma sequência inacreditável que só poderia ter surgido num filme de ação dos anos oitenta: uma perseguição em alta velocidade pelas ruas de São Francisco na qual um carrinho de controle remoto explosivo bota o velho Clint à pisar fundo no acelerador! Ok, DEAD POOL também possui seus problemas, está longe de ser um MAGNUM 44, tá mais um passatempo que um grande filme. Mas, convenhamos, essa sequência é GENIAL!

DIRTY HARRY NA LISTA NEGRA é o título nacional da bagaça.

Então, só para deixar claro, TOP 5 DIRTY HARRY:

5. THE ENFORCER (1976), James Fargo
4. DEAD POOL (1988), Buddy Van Horn
3. IMPACTO FULMINANTE (1983), Clint Eastwood
2. DIRTY HARRY (1971), Don Siegel
1. MAGNUN 44 (1973), de Ted Post



23.8.13

THE LOST EMPIRE (1985)


Antes de se tornar um dos diretores mais conspícuos do cinema classe B pós-80's, Jim Wynorski ganhava experiência e bagagem cinematográfica trabalhando como roteirista, escrevendo artigos sobre filmes de gênero em publicações como a Fangoria e estando sempre envolvido em várias produções do mestre Roger Corman. Quando chegou o momento de realizar seu primeiro trabalho como diretor, pegou os clichês de seus filmes favoritos e juntou com as suas obsessões próprias. O resultado é THE LOST EMPIRE, um sci-fi muito louco que mistura ninjas assassinos, artefatos mitsticos, um feiticeiro decano, terras desconhecidas, mulheres peitudas com figurinos provocantes e um elenco bem batuta!


O enredo é tão divertido quanto bagunçado e acho que não valeria a pena ficar explicando. Mas só prá dar um gostinho, digo que três beldades vão parar numa ilha comandada por um feiticeiro chamado Dr. Sin Do para descobrir porque o irmão de uma delas foi assassinado por um bando de ninjas. Lá acontece um torneio de artes marciais, ao mesmo tempo mulheres são mantidas escravas e, por fim, o Dr. possui planos diabólicos de combinar algumas pedras preciosas antigas que lhe darão poder para conquistar o mundo!



É Jim Wynorski prestando homenagem às coisas que tanto ele quanto nós adoramos no cinema grind house e exploitation. Percebe-se em THE LOST EMPIRE influências do próprio Corman, mentor de Wynorski e produtor de vários de seus filmes (incluindo este aqui), Jack Hill, Russ Meyer (pelas várias cenas de peitos de fora), e até filmes de espionagem estilo 007. Jim nunca foi um diretor estiloso, mas sempre demonstrou habilidade para filmar cenas marcantes, sexys e engraçadas, além de muita personalidade para trabalhar com vários rostos famosos dos filmes B. Analisando a carreira do sujeito, percebe-se um sutil amadurecimento no trabalho de direção, mas é incrível como Jim já tinha pulso firme pra fazer o que queria já nesta primeira experiência atrás das câmeras.


Outro detalhe que salta aos olhos neste debut é a quantidade de celebridades do cinema independente que conseguiram juntar em THE LOST EMPIRE. Isso é que dá ter Roger Corman como padrinho. Do lado feminino, várias musas do cinema classe B que nunca tiveram receio de tirar a blusa, como Melanie Vincz, Raven De La Croix (que trabalhou com Russ Meyer), Angela Aames, Linda Shayne e a deusa exuberante Angelique Pettyjohn. Na ala carrancuda temos Blackie Dammett (também conhecido por ser pai de Anthony Kiedis, vocalista da banda Red Hot Chilli Peppers), o fortão Robert Tessier e o grande Angus Scrimm, que faz o vilão Dr. Sin Do.

Hoje, Jim Wynorski já possui computada uma filmografia com mais de noventa títulos. Nem todos são bons, muito menos obrigatórios. Mas para quem se interessa por cinema independente de gênero, THE LOST EMPIRE é imperdível.

Mais alguns screenshots:






16.8.13

MAGNUM 44, aka Magnum Force (1973)


Pelo visto, o fato do policial Harry Callahan ter jogado fora seu distintivo ao final de DIRTY HARRY, não valeu absolutamente de nada. O filme ganhou esta primeira continuação dois anos depois e logo no início o personagem de Clint Eastwood já aparece de volta agindo como homem da lei. E seguindo ainda os seus princípios anti-sistema, algo que os críticos de cinema na época acusaram de fascismo. Bando de chatos politicamente corretos...

Em MAGNUM 44 não temos um mestre como Don Siegel na direção. Calhou de ser o pau-pra-toda-obra Ted Post no comando, mas tendo John Milius e Michael Cimino assinando o roteiro fica fácil. Até o Uwe Boll e o Albert Pyun conseguiriam fazer um bom filme.


Basicamente, o que temos em MAGNUM 44 é uma série de assassinatos inusitados acontecendo, colocando a força policial e "Dirty" Harry para esquentar os miolos. As vítimas são sempre pessoas do mundo do crime. Mafiosos, cafetões, procurados pela polícia, e o assassino é sempre um policial fardado com o uniforme da polícia de trânsito. Portanto já podemos perceber uma diferença crucial entre DIRTY HARRY e este aqui. Os bandidos não são serial killers com motivos banais, mas justiceiros que decidem iniciar um trabalho de execução para limpar as ruas de São Francisco.             


É difícil alguém ter simpatia pelo Scorpio, vilão do primeiro filme, mas com esses caras de MAGNUM 44 você pode pensar "bem, eles agem mais ou menos como o Harry, não? Possuem a mesma ideologia". E essa é a beleza da coisa. Nós já conhecemos o personagem de Harry, podemos confiar nele, sabemos que só vai atirar em meliantes armados e ainda soltar uma frase cool logo depois. Mas e esse bando de motoqueiros fardados? Quão fina é a linha traçada que separa Dirty Harry desses justiceiros? É algo a se pensar, mas parece que o personagem de Clint Eastwood já sabe a resposta e não quer perder muito tempo com estudos sociológicos. Seu negócio é ação.


E neste quesito MAGNUM 44 se sai realmente muito bem. O diretor Ted Post segue a linha dos cineastas artesãos que sabem fazer a coisa muita bem feita, embora lhes falte o talento de um Peckinpah. Há boas ideias sendo aproveitadas aqui com muita eficiência, como a sequência de perseguição ao final que culmina numa embarcação abandonada e toda a tensão que é construída para deixar o espectador vidrado. Ajuda bastante a presença de Clint Eastwood em cena acrescentando um toque de classe a mais.

Os assassinatos e o modo de agir dos justiceiros também são destaques. Lembro que foi o que mais me marcou quando era moleque e assisti de uma fita VHS que meu velho gravou da Globo no final dos anos oitenta. A sensação era de estar vendo um filme de horror... Me dava arrepio como tudo era conduzido de forma seca e brutal, o policial pedindo a carteira de motorista do indivíduo e do nada puxava o revolver e mandava chumbo na cabeça. Agora que já sou grandinho a sensação se perde, fica a lembrança. Mas essas cenas ainda possuem muita força.


No post sobre DIRTY HARRY de outro dia, vários fiéis leitores expressaram admiração por MAGNUM 44, dizendo que se tratava do melhor capítulo da saga do policial mais durão de São Francisco. Ok, o filme que originou a série é um autêntico clássico, isso não tenho dúvida alguma, mas preciso confessar que concordo que este aqui supere seu antecessor, é um baita filmaço! Agora vamos ver como se sai THE ENFORCER...

12.8.13

DIRTY HARRY (1971)


Este fim de semana revi dois filmaços que geraram franquias. Revi para refrescar a memória porque o que me interessa mesmo são as continuações, já que nunca assisti, por exemplo, THE ENFORCER e nem DEAD POOL, terceira e quinta continuações, respectivamente, de DIRTY HARRY. Vou aproveitar para rever também MAGNUM FORCE e IMPACTO FULMINANTE e assim, tentar postar a série inteira do policial mais durão de São Francisco, vivido por Clint Eastwood, aqui no blog.

O outro que revi, foi o western SETE HOMENS E UM DESTINO, de John Sturges, cujas continuações ainda não vi... Mais tarde escrevo sobre o primeiro e, durante a semana, vou postando as sequências à medida em que vou conferindo. Por enquanto, vamos ficar com DIRTY HARRY.


Mas se pudesse, eu pulava este e partia logo para o segundo. Fico meio desconfortável, sem algo novo para se dizer sobre DIRTY HARRY... É um clássico, todos sabem. Um dos filmes policiais mais influentes, ao lado de BULLIT e OPERAÇÃO FRANÇA, na renovação do policial americano (como THE STONE KILLER, do post anterior), tendo inspirado a italianada a desenvolver o poliziesco; além de criar um dos personagens mais controversos do gênero, “Dirty” Harry Callahan, que age de acordo com suas próprias leis, cujos ideais nem sempre vão de acordo com os burocráticos métodos da policia e blá, blá, blá...

Pode ser que alguém ainda não saiba que DIRTY HARRY foi baseado na série de assassinatos reais cometidos pelo serial killer chamado Zodíaco, no qual acabou virando um filme mais realista nas mãos do David Fincher em 2007. Uma diferença crucial, obviamente, é que por aqui não há moleza para um assassino tendo um policial casca grossa como “Dirty” Harry Callahan em seu encalço.


DIRTY HARRY foi originalmente anunciado tendo Frank Sinatra no papel título, que vinha fazendo personagens interessantes no fim dos anos sessenta em thrillers policiais e de ação. Mas antes de ser o escolhido, John Wayne, Steve McQueen e Paul Newman também estavam brigando pelo papel. Mas quando Sinatra desistiu, quem acabou encarnando Harry Callahan foi Clint Eastwood.

Com Sinatra pulando fora, o diretor Irvin Kershner também não quis mais saber do projeto. Melhor prá nós, pois Don Siegel, o intelectual da ação, que já havia dirigido Clintão antes, acabou assumindo o posto e fez bonito como sempre. Não faltam por aqui sequências de ação bem orquestradas, tensas e classudas, como a do início, na qual Callahan impede um roubo a banco e aproveita para soltar um de seus discursos mais celebrados:
I know what you're thinking, punk. You're thinking "did he fire six shots or only five?" Now to tell you the truth I forgot myself in all this excitement. But being this is a .44 Magnum, the most powerful handgun in the world and will blow you head clean off, you've gotta ask yourself a question: "Do I feel lucky?" Well, do ya, punk?
Cortesia de alguns bons roteiristas daquele período do cinema americano, incluindo John Milius, que trabalhou numa das primeiras versões do script.


Clint Eastwood tem aqui uma magnífica atuação, daquelas que dá pra perceber que o sujeito realmente entende o personagem. E que presença! A cena na qual o bandido manté,m um ônibus escolar como refém e avista de longe a figura de Dirty Harry estática, fria, esperando tranquilamente em cima de uma ponte, pronto para fazer sua magnum 44 cuspir chumbo grosso, é algo que não dá para esquecer facilmente.

Não por acaso, foi com DIRTY HARRY que o sujeito atingiu o status de grande astro de Hollywood naquele período por parte do público, que encarou o filme como um thriller de ação, dos bons, e não como o produto fascista que alguns críticos apontavam. Sim, Dirty Harry tortura e mata bandido sem qualquer remorço... Mas, repito exatamente as minhas palavras do post anterior: me chamem de reacionário, mas no cinema isso é bom demais!

Fascista ou não, prefiro ressaltar a importância que DIRTY HARRY teve para o gênero, a direção magistral de Don Siegel, a atuação de Clint e de Andrew Robinson como Scorpion, o tal serial killer, as sequências de ação pelas ruas de São Francisco e a sensacional trilha de Lalo Schifrin. O resto é resto. No Brasil o filme é conhecido como PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL.

2.8.13

A COLÔNIA, aka Double Team (Tsui Hark, 1997)


Outro dia me peguei pensando no Mickey Rourke e naquela fase negra da sua carreira nos anos 90, quando, além de outras coisas, chegou a ser vilão de A COLÔNIA, veículo de ação do Van Damme. Digo fase negra quando me refiro a esse momento do Rourke porque o sujeito teve um início realmente brilhante, entregando atuações magistrais como em O SELVAGEM DA MOTOCICLETA e O ANO DO DRAGÃO, e aqui resolveu "abraçar o capeta". Em outras palavras, estava na merda. Em 1997, ano de A COLÔNIA, até os filmes do Van Damme já estavam entrando em declínio após o ator ficar por algum tempo no auge, como herói de ação de produtos hollywoodianos, em TIMECOP, MORTE SÚBITA, SOLDADO UNIVERSAL, etc...

De qualquer maneira, eu gosto de A COLÔNIA. Sim, estamos falando de um suposto fundo do poço para o Rourke e um início de declínio para o Van Damme. No entanto, trata-se de um bom exemplar de ação dos anos 90. Eletrizante e exagerado na medida certa, com boa proporção de tiroteios, pancadaria e explosões muito bem distribuídas durante a narrativa. Quem comanda tudo isso é o mestre do cinema de ação oriental Tsui Hark, que trabalhou com Van Damme em GOLPE FULMINANTE. Temos uma história besta, mas sem muita frescura; um dos meus heróis de ação da infância distribuindo porrada em bandidos e um grande vilão interpretado por um grande ator. Além da ridícula, mas inesquecível, presença do ex-astro da NBA Dennis Rodman como sidekick do herói... Um elemento excêntrico que garante, no mínimo, boas risadas.



O título brasileiro se refere à uma prisão de segurança máxima que o personagem do Van Damme acaba indo parar. Cheio de aparatos tecnológicos, a prisão dá ao filme um caráter de ficção científica. Mas a trama estaciona neste cenário apenas por uns vinte minutos no máximo. Ou seja, A COLÔNIA não é sobre a Colônia. O resto é um jogo de gato e rato entre Van Damme, um agente secreto que acaba incriminado por conta de uma missão mal sucedida, e Rourke, um terrorista badass que perde o filho recém-nascido durante a tal missão. O vilão realmente tem bons motivos para encher o saco do herói...


O diretor Tsui Hark usa de toda a sua habilidade na construção de sequências de ação para criar cenas empolgantes por aqui. O meu destaque vai para a fuga da Colônia e toda a preparação para o ato; ou a porradaria no quarto de hotel, que é um dos pontos altos. Esta cena aliás, apesar de curta, é uma das que comprova uma teoria de que Van Damme sabe realizar movimentos bem coreografados de alto nível quando dirigido por orientais.

Outra sequência de ação que fica sempre na memória é a do gran finale. Menos pelo confronto entre os personagens e mais pelos exageros do cenário em volta. Vejamos: Van Damme encara Rourke sobre um terreno minado em pleno Coliseu de Roma com um tigre os rodeando e o filho recém-nascido do protagonista dentro de um cesto no meio disso tudo. A luta entre os dois nem é grandes coisas, mas a composição do ambiente é que eleva a cena a outro patamar! E o desfecho explosivo não poderia ser melhor. Coroa o cinema do absurdo que esse tipo de filme era capaz de proporcionar.



Mas voltando a falar do Rourke, digamos que A COLÔNIA não é das melhores vitrines para mostrar seus talentos dramáticos. Mas eles são bem utilizados pelo ator na medida do possível, até porque seu personagem possui um lado trágico bem definido, e ele consegue construir um vilão bem interessante, para entrar na galeria de destaque dos adversários do belga. Aliás, Van Damme também vai além da pancadaria neste aqui e demonstra segurança com seu personagem. Mas o grande destaque é a presença singular de Dennis Rodman, com suas roupas excêntricas e cabelos coloridos, que de tão ridículo acaba sendo um parceiro agradável e engraçado. Arrisca ainda uns golpes numas cenas de luta e não se sai tão mal. Hehehe!

Há falhas em A COLÔNIA? Sim, há muitas e está longe de ser dos melhores veículos de Van Damme. Mas isso não me importa nem um pouco. Por isso recomendo sem medo para quem quer um pouco de estupidez em forma de filme, mas que não dispensa um bom espetáculo de ação beeem exagerado!

1.8.13

LIGHT BLAST, aka Colpi di Luce (Enzo G. Castellari, 1985)


Depois de ser campeões da Libertadores o Galo já perdeu duas seguidas, então é melhor eu atualizar isto aqui e tirar logo o escudo do clube do topo. Vamos, então, de mais um Castellari, o divertido LIGHT BLAST, um dos exemplares que oferece o que há de mais absurdo e impagável em termos de ação no cinema italiano daquele período. Além disso, numa história básica e bastante funcional, temos umas três ou quatro perseguições de carro em alta velocidade, um punhado de tiroteios espalhados pela narrativa, algumas cenas de pancadaria e boas doses de explosões. Sem contar os cenários e rostos derretidos ao estilo CAÇADORES DA ARCA PERDIDA por causa de uma super arma que o vilão utiliza. Ou seja, pra que serve um roteiro mesmo?


Erik Estrada (acima) é o protagonista e encarna um policial casca grossa que não tem receio de mandar chumbo grosso pra cima dos bandidos. A trama gira em torno do seu trabalho, junto com a força policial, para impedir o tal vilão de utilizar a poderosa arma que derrete seus alvos com extrema facilidade, incluindo edifícios, veículos e pessoas. Seu plano é fazer chantagens aos governantes para ganhar uma grana fácil. O habitual colaborador de Castellari (e também seu irmão), Ennio Girolami, é quem dá vida ao personagem maquiavélico.  


E é isso. Depois de realizar um trabalho introspectivo, sério e poético como TUAREG, Castellari resolveu voltar a fazer algo bem mais leve com LIGHT BLAST, seguindo a linha dos seus exemplares do início da década de 80. Um filme cuja única pretensão é divertir o público com o máximo de sequências de ação que puder colocar na tela.


E comparado com outros filmes italianos do gênero produzidos naquele período, este aqui aparenta ter um bom orçamento, o que acho muito difícil, já que neste período os italianos trabalhavam cada vez mais com dinheiro reduzido. Não sei quanto foi gasto, mas a sequência final, por exemplo, uma perseguição de carros filmada em São Francisco, me parece muito bem produzida... digo, eles precisam de licença, dublês, carros para batidas, fechar algumas ruas para filmar esse tipo de sequência, etc. Não tenho ideia de como fizeram para pagar tudo isso (ou se realmente pagaram), mas o resultado é ótimo!


No entanto, para quem tem acompanhado o ciclo Castellari por aqui já sabe que falar bem de sequências de ação filmadas pelo diretor é chover no molhado. Nem preciso dizer, portanto, que os tiroteios são bem coreografados e as situações que colocam o protagonista em movimento são criativas, o que é sempre habitual na carreira do italiano. O fator novidade que aparece na por aqui é a tal super arma e as imagens de pessoas sendo derretidas, com efeitos especiais toscos pra cacete! Mas muito legais!


O mesmo pode ser dito sobre Erik Estrada. Até que Castellari conseguiu transformá-lo, pelo menos aqui em LIGHT BLAST, num homem de ação competente, capaz de convencer empunhando uma escopeta ou dirigindo velozmente pelas ruas perseguindo os meliantes. E são acontecimentos dessa espécie que definem a obra, mais uma divertida sandice italiana que merecia ser redescoberta por mais cinéfilos de “bom” gosto!

18.7.13

BLASTFIGHTER (Lamberto Bava, 1984)


O ator americano Michael Sopkiw é um caso curioso. Atuou em apenas quatro filmes italianos nos anos 80, demonstrou características de um autêntico herói de ação da época e, de repente, simplesmente resolveu largar mão do cinema. Foi estudar e trabalhar com remédios naturais, montou uma empresa e hoje importa e distribui nos Estados Unidos um tipo de garrafa de vidro que protege o conteúdo (os tais remédios) dos raios solares... Talvez dê para entender um bocado essa atitude lendo essa entrevista com o homem.

Um dos filmes que Sopkiw fez foi BLASTFIGHTER, que revi esta semana e descobri que não lembrava de nada! Inclusive que se tratava de um baita filmaço de ação! E Sopkiw dá um show como action heroe, o que me fez ficar ainda mais encucado pelo sujeito abandonar a carreira tão precocemente. Até porque dos quatro filmes que fez, vi três, e são ótimos! Primeiro foi 2019: AFTER THE FALL OF NEW YORK (1983), um divertido rip-off de FUGA DE NOVA YORK dirigido pelo Sergio Martino; depois foi trabalhar com Lamberto Bava num filme de tubarão, SHARK: ROSSO NELL’OCEANO (1984), que eu não vi ainda; repetiu a parceria com o Bava filho neste aqui e finalizou a carreira com o clássico filmado no Brasil PERDIDOS NO VALE DOS DINOSSAUROS (1985), de Michele Massimo Tarantini, completando cerca de três anos trabalhando no cinema.


Mas no momento vamos focar no BLASTFIGHTER. E no seu diretor, Lamberto Bava, que assina por aqui como John Old Jr.. Aqui temos um outro caso interessante de abandono. Confesso que não sei quantos filmes de ação ele fez, mas um sujeito que realiza BLASTFIGHTER deveria ter se dedicado e se tornado um mestre do gênero, do mesmo nível que um Castellari! Ok, nem tanto. Mas aposto que se daria bem melhor do que na carreira de diretor de horror movies. Bavinha tem alguns filmes excelentes, como DEMONS, mas de uma maneira geral sua carreira não tem tanta expressividade como a de um Fulci, Soavi, Argento, Freda, Deodato, e, claro, o papai. Acho que carregar esse sobrenome não deve ter sido mole...

Li em algum lugar que o projeto inicial de BLASTFIGHTER era de um sci-fi pós-apocalíptico, gênero que pintava aos montes naquele período, e a direção estava nas mãos do Lucio Fulci. Mas em algum momento da pré-produção acabou virando um filme de ação florestal, rip-off de FIRST BLOOD.


E não se trata daquelas produções carcamanas com roteiro meia boca, que vale mais pelo visual, o humor involuntário e cenas de ação. A história e os personagens de BLASTFIGHTER são muito bem escritos e a produção, cujas filmagens aconteceram nas belas paisagens da Geórgia, EUA, é bem caprichada. Sopkiw, com um bigode estilo Mauricio Merli e Franco Nero, interpreta Tiger Sharp, um ex-policial que acabou de sair da prisão por ter agido por vingança ao invés de fazer seu trabalho direito. Agora retorna à pequena cidade onde cresceu para tentar viver a vida de forma pacata. Sem procurar muito contato social, acaba tendo que reencontrar a sua filha, que não vê há muitos anos e agora já é uma moça adulta; além do seu velho amigo de infância, vivido por George Eastman.  


Não demora muito o jeitão fechado de Tiger acaba atraindo alguns jovens da cidade, que começam a implicar com o sujeito. O problema é que a coisa foge do controle e ultrapassa todos os limites do respeito pela vida humana. De repente estamos assistindo a um exército de caipiras armados com rifles de caça em punho perseguindo o protagonista e sua filha pela floresta adentro. E após uma tragédia, Tiger se vê na posição de revidar, e seu contra-ataque é simplesmente brutal!


Há toda uma preparação para a ação do personagem, uma lenta construção do inferno que ele cria para cima de seus inimigos. Vale comentar também que o herói possui uma arma avançada tecnologicamente (essa das imagens), com munição especial, que deve ser remanescente do projeto inicial de ficção científica e que é interessante vê-la em ação. Confesso que fiquei impressionado com a sequência final de ação, um tiroteio explosivo daqueles de encher os olhos! Com direito a ossos quebrados, facadas sangrentas, carros e corpos explodindo, membros decepados, uma boa dose de gore. E é por isso que dá uma pena saber que Sopkiw fez uma quantidade risível de filmes e que o Bavinha retornou ao horror ao invés de aprontar outros exemplares no estilo de BLASTFIGHTER.


Algumas curiosidades para finalizar. Há uma versão do cartaz de BLASTFIGHTER que parece demais com as artes feitas para os filmes pós-apocalípticos daquele período. Imagino que seja uma arte conceitual ainda da fase em que o projeto seria um sci-fi. Além disso, utilizaram essa figura (abaixo) que representa o Sopkiw para copiar no cartaz brasileiro de outro filme estrelado por ele, PERDIDO NO VALE DOS DINOSSAUROS. E para mostrar que picaretagem não tem limite, a ótima trilha sonora de BLASTFIGHTER também foi reaproveitada no filme de Tarantini (Valeu pelas curiosidades, Felipe, você deveria escrever sobre BLASTFIGHTER qualquer dia desses).