Já não me lembrava de muita coisa da trama, a não ser algumas sequências de ação lá do final, que era o que prendia minha atenção, mas ainda vamos chegar lá. A idéia para COMANDO DELTA do Sr. Menahem Golan, o grande nome por trás da extinta Cannon, é muito boa. Uma combinação bem divertida de filme de sequestro de avião com o cinema de ação exagerado dos anos 80, cuja representação encontra força no personagem de Chuck.
O enredo se resume a um avião que parte para os Estados Unidos e é seqüestrado por dois terroristas libaneses. Ao mesmo tempo, é acionado um esquadrão de elite para casos de sequestros, liderado por Lee Marvin, que parte ao encontro da situação para resolvê-la a qualquer custo, nem que seja à base de tiro de bazuca!
A primeira hora do filme se concentra no seqüestro, toda a sua burocracia e uma dose acima da média de dramaticidade para este tipo de filme. Que porcaria de filme de ação oitentista é esse em que os tiroteios e explosões só iniciam depois de uma hora? Dá pra acompanhar tranquilamente, mas não deixa de ser truncado demais. O bom é que quando a ação começa, segue frenética até o fim! Além disso, a bordo do avião temos de tudo um pouco para a alegria daqueles que adoram um clichezão: crianças choronas, uma mulher grávida, freiras suplicantes, um padre, a vítima indefesa que é espancada e até a aeromoça valentona. Mas o destaque mesmo fica por conta do elenco que desfila diante da tela. E isso me surpreendeu bastante, pois não lembrava dessa seleção de atores.
O piloto do avião é ninguém menos que Bo Svenson. Não seria uma surpresa pra mim se ele levantasse da cadeira e resolvesse a situação por conta própria, como um homem de ação que sempre foi, mas ele satisfaz apenas como comandante de vôo mesmo. George Kennedy é o padre; Martin Balsan e Shelley Winters vivem um casal de judeus e Robert Forster tem a complicada missão de tentar convencer o público que é um terrorista libanês!!! E até consegue bons resultados. Fora do avião, Robert Vaugh aparece discretamente como homem do governo e Steve James é um dos integrantes do esquadrão.
Lee Marvin tem aqui a sua última atuação. É até um pouco melancólico pra mim, vê-lo nesse personagem, porque além de ser o meu ator favorito, talvez tenha notado em sua honesta interpretação o arrependimento em estar terminando sua carreira numa produção B de ação que não se leva a sério. Claro que ele é um dos elementos essenciais de COMANDO DELTA e eu adoro o filme, mas pra ele que esteve sob a direção de grandes nomes como Fritz Lang, Sam Fuller, Robert Aldrich, John Boorman, Yves Boisset e muitos outros, não sei se ele estava lá muito satisfeito com isso. Os outros atores mais velhos como Balsan e Kennedy estavam ali pra se divertir e pegar um cheque para garantir que as contas do mês fossem pagas.
Assim como a ação final, outro detalhe praticamente ininterrupto é a trilha sonora patriótica de Alan Silvestre. Anos 80 puríssimo, embora fosse bem melhor aproveitada como música de abertura de programa esportivo, mas dá aquele tom tosco que o filme precisa pra divertir ainda mais os assíduos fãs deste tipo de produção.
Mas o melhor de COMANDO DELTA fica por conta mesmo de Chuck Norris, quando lá pelas tantas o filme se transforma num autêntico exemplar de ação desenfreada! E o ator fica muito mais à vontade para demonstrar todo seu talento e desenvoltura soltando frases de efeito, metralhando bandidos e fazendo pose ao mesmo tempo, distribuindo pancadas em terroristas, etc. Uma cena muito boa é a perseguição em alta velocidade pelas ruas de Beirute. Norris demonstrando boa pontaria dentro de uma combi em movimento, enquanto seus perseguidores aparentemente não conseguiriam acertá-lo nem se ele estivesse sentado no colo deles. Na sequência final o sujeito esbanja criatividade em cima de uma moto cheia de parafernálias bélicas, como metralhadoras e lança mísseis. Os terroristas devem ter pesadelos com Chuck Norris até hoje... aqueles que sobrviveram.
Mas vamos ser francos, o esquadrão Delta Force na verdade é bem problemático. O filme abre com uma missão fracassada e termina com o grupo especial triste por um dos integrantes ter perdido a vida em ação, embora os reféns do avião tenham sido libertados. No meio do filme, o próprio Lee Marvin põe tudo a perder atrapalhando uma movimentação para invadir enquanto o avião era abastecido em terra. Lógico que havia um motivo para a trapalhada, mas isso acarretou na morte de um dos reféns. Na hora de entrar em ação, os caras mandam bem, mas um pouco de organização tática ajudaria a não cometerem tantos erros.
Isso é pra mostrar quem nem tudo na vida é como gente gostaria que fosse, mas nem por isso devemos ficar abalados, não é mesmo? Que lição de moral mais cretina que eu arranjei aqui... Enfim, o esquadrão Delta Force ganhou outro filme poucos anos depois, mesmo com seu modo torto de agir: COMANDO DELTA 2, dirigido por Aaron Norris, irmão caçula de Chuck, agora sem o Lee Marvin no elenco, que morreu um ano depois de ter trabalhado neste aqui. Comentaremos sobre ele depois. Adiós!