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1.11.13

ESCAPE PLAN (2013)


Já estamos em novembro e analisando o panorama do cinema de ação em 2013, se por um lado não tivemos uma safra vasta de bons exemplares (o que já é habitual nos últimos anos), por outro tivemos a oportunidade de notar algumas peculiaridades: Arnold Schwarzenegger retornou como protagonista de seu próprio veículo de ação em THE LAST STAND, que marcou também uma ótima estreia do coreano Jee-Woon Kim em Hollywood; já Sylvester Stallone não apenas estrelou o melhor filme de ação do ano até o momento, BULLET IN THE HEAD, como também proporcionou o retorno de Walter Hill à cadeira de diretor depois de dez anos sem lançar nada para cinema. Por essas duas obras já teríamos motivos suficientes para comemorar. No entanto, não satisfeitos, Sly e Arnie ainda tiveram forças para se juntar e lançar ESCAPE PLAN, que já merece destaque só pela ideia de colocar lado a lado esses dois ícones do cinema de ação. O bom é que o filme vai além disso.


ESCAPE PLAN não é exatamente um retorno ao tipo de filme que transformou esses caras no que eles são. Mas me lembra uma época, em meados dos anos 90, em que eles já estavam consolidados como action heroes e realizavam umas coisas como O DEMOLIDOR e QUEIMA DE ARQUIVO, fitas menores em suas carreiras, mas divertidíssimas e muito superiores em relação à grande maioria do que é realizado hoje em termos de ação. Acho até que é neste período que esse crossover deveria ter acontecido... Mas, antes tarde do que nunca. Até porque ambos, apesar da idade avançada, ainda possuem fôlego e truculência suficiente para esmagar qualquer Vin Diesel, The Rock, ou seja lá quem for, vê-los caídos diante do seus olhos e ouvir o lamento de suas mulheres... Não é isso o melhor da vida?

Em ESCAPE PLAN, Stallone é praticamente um McGyver com músculos e precisa utilizar mais a inteligência do que a força bruta em sua profissão, que consiste em procurar brechas nas penitenciárias de segurança máxima. Como deve ser simpatizante do jornalismo gonzo, a maneira como realiza o trabalho é se infiltrando como prisioneiro, estudando o local, percebendo os pontos fracos e arranjando maneiras de escapulir. Depois de vários anos fazendo isso, escreve um livro sobre o assunto. Uma versão casca-grossa de Hunter S. Thompson.


O problema é quando o Sly decide encarar um novo desafio e acaba parando numa prisão construída a partir das informações, conceitos e ideias adquiridas por ele próprio, a partir do seu trabalho. Uma prisão aparentemente impossível de escapar. Para sua sorte, encontra no local o Schwarzenegger, vivendo o seu personagem mais legal desde TRUE LIES, e decidem unir força para traçar uma rota de fuga. Será que uma prisãozinha será suficiente para parar essa dupla? Quem já viu o filme sabe, quem não viu, vai precisar ver, porque eu não vou contar.

Só digo que Arnoldão rouba o filme em cada momento que aparece na tela, muito mais que um sidekick de luxo, compondo um personagem diferente de tudo que já fez. Com cabelos e cavanhaque grisalhos, não deixa de ser o brutamontes badass motherfucker de sempre, mas ao mesmo tempo intercala o tipo engraçadão com variáveis demonstrações de fragilidade diante de algumas situações. A cena em que finge um ataque de desespero para chamar a atenção dos guardas e reza em alemão na solitária já pode entrar na lista dos momentos antológicos da carreira do homem. Stallone também está ótimo, o problema é ter pego Schwarzenegger num dia inspirado e acabou tendo o brilho ofuscado.


O elenco se completa com algumas figuras interessantes: Vincent D'Onofrio, Sam Neil, Jim Caviezel e Vinnie Jones. Estes dois últimos os vilões da parada. 50 Cent não compromete com seu pequeno papel. E a surpresa é a interessante utilização de um personagem árabe, vivido por Faran Tahir, que, numa jogada de muito bom senso do roteiro, consegue quebrar alguns clichês.

O diretor sueco Mikael Hafstrom pode não ser um mestre do cinema de ação, mas parece plenamente consciente do tipo de filme que os fãs de Sly e Arnie estavam esperando. ESCAPE PLAN nem possui tantas sequências de ação assim, é mais focado no thriller com os elementos de filmes de prisão. E a presença dos dois atores em cena, contracenando, já é de encher os olhos, de absorver o espectador com uma incrível sensação de nostalgia. Há um profundo respeito do diretor pelos velhos e isso fica claro na maneira como os filma, como os enquadra, como trabalha a rivalidade dos dois em cena. Há até uma breve luta entre os dois que é praticamente um sonho realizado! Sly vs Arnoldão! Wow!


Quando a ação finalmente explode, a adrenalina toma conta. Não há nada mais, com perdão do meu francês, fodástico que Stallone e Schwarzenegger atirando, esmurrando e explodindo coisas de maneira frenética! Hafstrom nem é muito habilidoso na direção dessas sequências, mas pelo menos evita certos maneirismos do cinema de ação atual, como esconder a incompetência chacoalhando a câmera. Aqui podemos enxergar perfeitamente o que se passa e o sujeito ainda aproveita para homenagear Arnoldão com o momento mais badass de ESCAPE PLAN, quando o austríaco faz pose em câmera lenta e se prepara para cuspir fogo em diversos vilões com uma metralhadora estilo COMANDO PARA MATAR em punho! Para Stallone, o roteiro lhe reserva uma luta franca contra o Vinnie Jones, que é outro ponto alto do filme.


Obviamente, ESCAPE PLAN não é perfeito. Toda vez que o filme volta suas atenções aos personagens fora da prisão corta o ritmo envolvente da trama principal, do foco, que é Stallone e Arnie enjaulados. Mas isso só acontece momentaneamente e não prejudica a narrativa de maneira alguma. Na maior parte do tempo, o filme se assume como diversão pura e de qualidade para os admiradores do bom cinema de ação exagerado e aos fãs de ambos atores. Seria um erro esperar mais do que isso. Só lamento que tanto ESCAPE PLAN quanto LAST STAND e BULLET IN THE HEAD tenham fracassado nas bilheterias. Algo preocupante, porque estou gostando da ideia de ter esses velhotes em atividade no cenário atual. Quando os executivos dos estúdios perceberem que esses caras estão dando prejuizo, o que vai acontecer? E onde estão os fãs  que enchiam as salas de cinema há vinte anos atrás? Ou será que estou sendo muito pessimista?

Para finalizar, outros cinco encontros marcantes de autênticos ícones do cinema de ação em filmes que levam o termo truculência ao extremo realizados nos últimos trinta e poucos anos:

DEATH HUNT (81), de Peter R. Hunt: Lee Marvin e Charles Bronson pertencem a uma geração anterior à do Sly e Arnie, ambos já haviam feitos alguns filmes juntos e dispensam apresentações. É neste aqui que se dá o encontro mais dramático entre eles. Na trama, Marvin promove uma caçada humana pra cima do Bronson pelas terras geladas na fronteira do Canadá. O negócio é que nenhum dos dois é o vilão da história, e muito menos o bonzinho. Enquanto pensamos nesse dilema, a violência explode na tela.

TANGO & CASH (89), de Andrey Konchalovskiy: Rambo encontra Snake Plissken, num buddy movie de ação policial que poderia ser melhor, mas ainda assim possui ingredientes suficientes para os afccionados pelo gênero receberem uma bela dose de explosões, tiros e pancadaria. E ainda tem o Jack Palance como vilão e Robert Z'Dar, o queixo mais discreto do cinema, como desafeto de ambos numa prisão que Sly e Russel precisam fugir. Prisão? Fugir? Opa...

SOLDADO UNIVERSAL (92), de Roland Emmerich: No primeiro filme da saga dos unisoldiers, dois ícones colocados frente a frente como galos numa rinha. O músculos de Bruxelas, Jean-Claude Van Damme, encara o brutamontes sueco, Dolph Lundgren, num dos melhores filmes da carreira de ambos. Super produção na época, o destaque vai para o Dolph, que faz um dos personagens mais insanos que já encarnou: um sargento que pira, extermina todos os soldados do seu pelotão e faz um colar utilizando as orelhas dos defuntos. Verdadeiro artista artesanal...

MASSACRE NO BAIRRO JAPONÊS (93), de Mark L. Lester: Este aqui é simplesmente um dos filmes mais divertidos e brutais do gênero nos anos 90. Perdi a conta de quantas vezes assisti, só sei que é um dos grandes responsáveis por me fazer amar tanto o cinema de ação. Dolph Lundgren dessa vez une forças com o filho de Bruce Lee, Brandon, que consegue a proeza de roubar a cena do sueco com um personagem carismático e excelente na porrada. Uma pena que Lee morreu tão cedo. Teria lugar garantido hoje no hall da fama dos grandes ícones do cinema de ação. Este filme é prioridade para um futuro texto. Aliás, todos dessa lista são...

O DEMOLIDOR (93), de Marco Brambilla: Mais duas figuras nada amigáveis são colocadas em lados diferentes. E o confronto desses caras vai além do limite do espaço e tempo! Stallone é o policial mais casca grossa do mundo e faz de tudo para pegar Wesley Snipes, o terrorista mais perigoso do mundo. Até consegue, mas vários inocentes morrem no caminho. Ambos são presos e congelados. Trinta anos no futuro, Wesley Snipes toca o terror e só Stallone, o policial old school é capaz de pará-lo. Que comece o segundo round! Mas antes, Sly precisa aprender a usar as três conchas...

23.3.13

BULLET TO THE HEAD (2012)


BULLET TO THE HEAD é exatamente o que eu estava esperando. Simples, violento, objetivo e sem frescuras. E, de algum modo, um retorno aos velhos tempos dos filmes de ação casca-grossa. Baseado numa história em quadrinhos, marca o retorno de Walter Hill à cadeira de diretor para um trabalho feito pra cinema e tem Sylvester Stallone como Jimmy Bobo, um assassino profissional em busca de vingança. Mas isso vocês já estão carecas de saber pelas sinopses e trailers que rolam por aí. O que vocês realmente precisam saber é que Stallone passa o filme inteiro esmurrando, explodindo e atirando na cabeça de bandido, mesmo os desarmados, na covardia, e sem qualquer remorso! E nem passa pela cabeça do sujeito o chato clichê da crise de consciência por causa do seu tipo de trabalho e modo de vida. “Buah! preciso sair dessa vida de matança”, como dizem os pseudos action heroes desta geração politicamente correta.

E Stallone está perfeito por aqui. Chega até emocionar vê-lo construindo um personagem carismático, engraçado e badass, para entrar na sua galeria de papéis marcantes, como Rocky, Rambo, Marion Cobretti e outros. O Barney Ross, de MERCENÁRIOS, por exemplo, que eu adoro, parece uma compilação de um monte de personalidades que o Stallone já interpretou, inclusive a dele própria. Jimmy Bobo é algo novo na carreira do Sly, que parece ter se divertido bastante ao encarnar um assassino sangue frio e sarcástico ao extremo. Sem contar que na sua idade atual entram alguns conflitos pelo fato de ser um dinossauro anacrônico diante do mundo moderno, da mesma maneira que o Schwarzenegger de xerife em THE LAST STAND...


Acho até que acertaram na escolha de substituir Aaron Eckhart pelo Sung Kang, que não é lá tão conhecido. Eckhart tem personalidade e presença, tiraria um pouco o foco do Stallone. Kang é apenas um bom acompanhamento. Um contraponto interessante do protagonista, até pelo fato de ser um policial que faz parceria com um assassino, apesar de não ser daqueles coadjuvantes cools, como Brandon Lee em MASSACRE NO BAIRRO JAPONÊS, ou Steve James em AMERICAN NINJA. Dá uns tiros e aplica umas artes marciais em dois ou três meliantes, além de sempre descobrir umas coisas relevantes para o caso que investigam através de celular, algo que desnorteia um pouco o Jimmy, que não é muito ligado à tecnologia... Mas o resto do filme é Stallone em ação puríssimo! Apesar disso, a química entre os dois é ótima e Kang não se torna nunca pedante. Algumas das melhores sequências de BULLET TO THE HEAD são justamente aquelas que os dois dialogam, trocam desaforos e piadinhas, lembrando os bons e velhos buddy movies dos anos 70 e 80. Gosto de uma cena em que o personagem de Kang pergunta a Jimmy Bobo quem é a mãe de sua filha. O sujeito responde que ela era "uma puta drogada que morreu há quinze anos". E pronto, só essa frase basta para destroçar mais de uma década de cinema de ação hollywoodiano politicamente correto (com as raras exceções).


No elenco ainda temos Christian Slater, num pequeno papel de advogado do vilão. E é bacana poder vê-lo na telona. É desses atores que em algum momento deixou a carreira desandar e foi parar em produções direct to video, como o Cuba Gooding Jr. e o Val Kilmer. Temos também Adewale Akinnuoye-Agbaje encarnando um vilão inescrupuloso e Jason Momoa, seu principal capanga responsável pelos serviços sujos. Pausa para falar do Momoa. Tomei certa antipatia pelo sujeito depois da refilmagem de CONAN, mas ele está perdoado por este papel em BULLET TO THE HEAD (e também pelo GAME OF THRONES, que nunca acompanhei, mas já cheguei a ver alguns episódios). Momoa faz aqui o típico vilão old school, que se fosse nos anos 80, seria interpretado por um Vernon Wells ou Brian Thompson. Um mercenário filho da puta que realiza seus serviços pelo prazer de matar e não pelo dinheiro que entra na conta. E ainda contracena com Stallone uma luta de machados que, putz, é de encher os olhos de qualquer fã de "cinema de macho". Para finalizar, apresentando Sara Shahi, uma belezinha tatuada que encarna a filha do Stallone. E podem comemorar, é possível ver algumas tattoos, digamos, mais intimas da moça...


Sobre a direção do Hill, que substituiu o Wayne Kramer (desistiu por diferenças de opiniões entre o Stallone), é preciso apontar algumas coisas. Definitivamente dá para perceber o estilo do homem impresso no modo de filmar a cidade, no excelente domínio na direção de atores, a maneira de trabalhar os elementos do gênero com a essência dos anos 80, etc... Mas de vez em quando parece que estamos diante de um direct to video mais classudo, mais elegante. Há até alguns efeitos moderninhos de pós produção que eu nunca pensei em ver num filme de um sujeito do calibre do Hill. Não chega a incomodar, mas poderia ser evitado.

Em termos de ação, o sujeito ainda manda muito bem. Só não esperem algo tão old school, com o charme de um EXTREME PREJUDICE, INFERNO VERMELHO ou 48 HORAS. Em vários momentos Hill chacoalha a câmera, picota na edição, especialmente em cenas de luta, o que não quer dizer que seja mal feito, pelo contrário, é tudo muito bem orquestrado por alguém que conhece profundamente a gramática do cinema de ação. E mesmo adotando esses artifícios modernos, o diretor demonstra que é possível fazer ação de qualidade nos nossos dias.

Tenho lido algumas resenhas gringas depois de conferir e confesso que não esperava encontrar tantas críticas negativas, dizendo que o roteiro faz juz ao segundo nome do protagonista (na verdade, é Bonomo, Bobo é um apelido carinhoso que o personagem possui). Será que só eu fiquei empolgado? Ok, o roteiro não é nenhum primor e possui alguns furos. Mas a quantidade de Stallone dando tiro na cabeça de bandidos compensou qualquer equívoco pra mim. Comparado ao vasto número de obras primas que o gênero concebeu nos anos 70 e 80, BULLET TO THE HEAD não deixa de ser mesmo apenas um filme genérico, uma gota no oceano de truculência fílmica, que ora remete ao cinema de ação daquele período, ora parece que realmente estamos vendo um exemplar da época. Agora, dentro do panorama atual, é um frescor, objeto de rara honestidade, um baita filmaço de ação.

4.9.12

OS MERCENÁRIOS 2 (The Expendables 2, 2012)


CUIDADO - TEXTO COM SPOILERS
Até mesmo aqueles que criticaram o primeiro filme tem-se rendido aos encantos de OS MERCENÁRIOS 2. São poucas as exceções. Mas não é para menos, este aqui é realmente superior e vai muito além do anterior em vários aspectos. É FILME DE AÇÃO com todas as letras maiúsculas, desses que trabalham um estilo narrativo com pouquíssimos momentos de alívio e o fiapo de enredo é todo subordinado à necessidade de ação. Não era isso que queriam no filme anterior? Pois então se preparem! Ignore a história simplória, o McGuffin boboca, o negócio é se deixar levar pelas figuras mal encaradas que protagonizam sequências cuja única pretensão é elevar a adrenalina do espectador num nível acima do normal. Vamos celebrar o festival de testosterona, o espetáculo pirotécnico, tiroteios dos mais variados calibres, perseguições, facadas, chutes, socos, uma motocicleta arremessada contra um helicóptero, tudo filmado da maneira mais brutal e old school possível!

Tudo em OS MERCENÁRIOS 2 é tão maravilhosamente besta, clichê e previsível, exatamente como nos filmes que assistíamos há 25 anos na Sessão da Tarde. É como se houvesse uma linha bem fina separando a intenção de ser apenas uma homenagem ou, de fato, ser um exemplar. Em outras palavras, OS MERCENÁRIOS 2 remete com precisão o cinema de ação exagerado dos anos oitenta, mas em certos momentos parece que estamos realmente diante de um autêntico filme da Cannon! Golan & Globus devem estar orgulhosos.


Mas vamos confessar uma coisa, todo mundo ficou preocupado quando anunciaram o Simon West no comando da bagaça. O mais legal é que já na ação inicial, que é de uma truculência subversiva, somos completamente tranquilizados sobre a possível inaptidão do sujeito. Não tenho nada do que reclamar da ação do primeiro filme, ao contrário de vário de vocês, mesmo com a shakycam e a edição picotada, mas como é bom poder vislumbrar uma ação clássica, fundamentada nos enquadramentos e elegantes movimentos de câmeras. Vai saber de onde West tirou inspiração para orquestrar tais cenas. OS MERCENÁRIOS 2 é, sem dúvida, o ápice de sua carreira e espero que nos próximos trabalhos (sem a “supervisão” do Stallone) consiga resultados semelhantes.

Deram uma boa caprichada também nas coreografias, montagem e direção das cenas de luta. Dessa vez os atores encenam a trocação de porrada e... voilà, enxergamos todos os seus movimentos. Uma ceninha rápida do Jet Li derrubando uns meliantes, que não dura nem 20 segundos, é melhor que todas as cenas de luta do primeiro filme. O aguardado combate entre Stallone e Van Damme mantém o nível, além de ser agressivo à beça, com os dois atores encenando de forma convincente, o belga desferindo seus icônicos chutes rodados na cara do Stallone, etc. A única reclamação que tenho a fazer é quanto à duração. Stallone havia dito que seria a luta do século, blá blá blá... E eu acreditei. Ninguém avisou a ele que uma luta desse porte deveria ser um pouco mais longa para ser épica? Nada que estrague a diversão, é um mano-a-mano ótimo, com muita carga dramática, além de ter um significado maior para os fãs do gênero, a oportunidade de assistir o Rocky trocando socos com o Grande Dragão Branco. No entanto, o confronto que realmente me fez remexer na poltrona, um dos grandes momentos de OS MERCENÁRIOS 2, foi a luta entre Jason Statham e Scott Adkins. Também é curta, mas faz todo sentido ser assim, acontece no calor da ação, é urgente, enquanto a do Stallone e Van Damme possui toda a vibe grandiosa de clímax final. Podia ter durado mais um pouco… Bah!


Até porque o Van Damme está excelente como o cara vil, terrorista, assassino frio, sem coração! É um ser desprezível... e pra melhorar, o nome do personagem é... Vilain. Não escondo a admiração pelos filmes do sujeito, mesmo assim fiquei bastante surpreso com a sua personificação vilanesca. Parece até habituado a esse tipo de papel, mas se não estou enganado, o único bandido que ele havia feito antes foi o clone malvado em REPLICANTE*. Além disso, seu personagem é uma autêntica abordagem clássica de filmes de ação oitentista, cujas habilidades como lutador são tão boas quanto a dos heróis, diferente do Eric Roberts no anterior, que dependia de seus capangas. O belga rouba o filme sempre que surge em cena, a sorte dos outros atores é que sua participação é bastante limitada. Já o britânico Scott Adkins, apesar de ainda não estar em evidência no cinema mainstream, é outro nome a se destacar, interpretando o braço direito sádico de Van Damme. Fiquei extremamente feliz de vê-lo na tela grande, distribuindo alguns tiros e chutes, tendo uma morte horrível, digna de CAÇADORES DA ARCA PERDIDA. Tomara que consiga chamar a atenção de pessoas mais competentes do que os realizadores de EL GRINGO, último trabalho do sujeito que eu conferi e que é um total desperdício.


E o que dizer da pequena participação de Chuck Norris? Era um mistério o que eterno Braddock iria aprontar por aqui. Digamos que sua entrada triunfal, em câmera lenta, com o tema de Ennio Morricone em TRÊS HOMENS EM CONFLITO, seja uma bela homenagem a este sujeito que fez a alegria de toda uma geração de pré-adolescentes nos anos 80 e 90. Seu personagem é quase um ser sobrenatural e as tiradas sobre a áurea mitológica adquirida na era da internet é simplesmente genial. Aliás, acertaram em cheio no humor de OS MERCENÁRIOS 2. Se vocês acharam o primeiro filme engraçadinho o bastante, ainda não viram nada! É praticamente metalinguagem em forma de piadas auto-referenciais. Schwarzenegger e Bruce Willis, por exemplo, finalmente entram na ação, ótimo, mas ambos funcionam mais como alívio cômico, soltando frases clássicas que marcaram suas carreiras. Quem também arrisca o papel de comediante é o Dolph. Gunner é o meu mercenário favorito do filme anterior, o herói maluco psicopata que se transforma em bandido, depois morre - mas na verdade não morre - e ressurge no final arrependido, de volta ao time dos mocinhos. Não me lembro de nenhum momento especial do Gunner em termos de ação neste aqui, no entanto, não faltam situações engraçadíssimas com o sujeito, especialmente quando tocam no lado biográfico do próprio ator. Para quem não sabe, Dolph possui um QI altíssimo e as piadas que surgem a partir disso são hilárias. Continua sendo o meu favorito da série.


Sem se preocupar tanto com a direção, Stallone tem mais tempo para se dedicar a Barney Ross, seu personagem, o manda-chuva dos mercenários. Dentre todos os action heroes saídos da gloriosa década de 80, Sly talvez seja o único com formação dramática, que sabe realmente construir tipos de personagem e trabalhar suas transformações. Basta vê-lo em ROCKY, F.I.S.T., o primeiro RAMBO e vários outros, para notar como o sujeito é um puta ATOR e não apenas um ícone ligado à ação. Uma pena que poucos conseguem reconhecer isso. Gosto da cena do enterro, uma demonstração de como ser sentimental, sem ser piegas, e Sly ainda finaliza com a máxima bad-assTrack 'em, find 'em, kill 'em!" No resto do filme ele entra na onda junto com o elenco e se diverte. Está cada vez mais com a aparência cansada, mas não impede de fazer boas piadas sobre suas condições físicas ao mesmo tempo em que entra na ação como um garoto, correndo, pulando e aplicando murros violentos no Van Damme. E o Jason Statham recebe novamente um pouco mais de destaque, pois funciona como espécie de elo para a nova geração de admiradores do cinema de ação, embora seus filmes nem se comparem com os clássicos do gênero dos anos 80. Até que se sai bem quando lhe é requisitado pelas suas habilidades físicas. A cena na igreja, disfarçado de padre, é um primor! Sobre os demais atores, o roteiro pode não ser perfeito, mas uma das grandes virtudes de OS MERCENÁRIOS 2 é conseguir, na medida do possível, fazer uma boa divisão para que cada figura tenha o seu momento de brilho. Dessa forma, até os personagens que acabam não tendo tanto destaque, também tenham ocasiões dignas para ganhar a simpatia do público, como Terry Crews, Randy Couture, Liam Hemsworth, Nan Yu, Jet Li (que sai de cena com 10 minutos de filme).

Mas o que realmente faz de OS MERCENÁRIOS 2 um acontecimento tão extraordinário é que em momento algum tem medo de se assumir como uma homenagem anacrônica do cinema de ação casca grossa e exagerado dos anos oitenta, cujo objetivo é apenas entregar ao espectador sequências de ação da maneira mais eletrizante possível, reunindo os velhos heróis daquele período tão marcante! Missão cumprida. O que eu realmente gostaria de abordar neste primeiro momento é isso, por enquanto. Já estou com vontade de rever! Proponho discutirmos mais assuntos relacionados ao filme na caixa de comentários, afinal, é pra isso que eu exponho minha opinião por aqui, pô!

PS: Já fico no aguardo do terceiro filme da série, que poderia ter Steven Seagal como vilão e Danny Trejo como seu capanga. E penso também que poderiam dar uma atenção na equipe do Trench (Arnoldão), trazendo de volta os mesmos atores que faziam parte da equipe do filme PREDADOR. Carl Weathers, Bill Duke, Jesse Ventura, Shane Black, Sonny Landham… os que estiverem vivos, claro. Fica a dica, Stallone!

*Atualização importante: O Gélikom me lembrou na caixa de comentários que o Van Damme foi vilão em NO RETREAT, NO SURRENDER. Caramba! Isso que dá escrever durante a madrugada, com sono... já até postei sobre a série inteira aqui no blog e não consegui me lembrar deste detalhe. 

17.8.12

BULLET TO THE HEAD - Trailer


Agradecimentos ao leitor Danilo Carvalho que compartilhou essa beleza de trailer na timeline do Dementia 13 no Facebook. Valeu!

4.5.12

MISSÃO PERIGOSA, aka Avenging Angelo (2002)

Quem olha esse cartaz com o Stalone fazendo cara feia e apontando uma arma, corre o risco de pensar que se trata de um pequeno filme de ação obscuro e pouco comentado, que talvez mereça uma redescoberta ou algo do tipo. Na verdade, MISSÃO PERIGOSA  está longe disso e se não foi redescoberto, espero que continue assim! O filme não passa de uma comediazinha romântica das mais cretinas, não muito diferente dessas coisas horrorosas estreladas pela Sandra Bullock ou Jennifer Aniston e algum galã da atualidade… argh! Ou talvez seja pior!

Lembro quando chegou nas locadoras e, na época, não tive a mínima vontade de ver, mas como admirador do Stallone, quero conferir TUDO que o sujeito já fez. O problema são essas bagaceiras realizadas numa certa fase negra, início da década passada, e que antecede o maravilhoso ROCKY 6 (que colocou o Stallone de volta nos eixos). São três ou quatro exemplares, no máximo, mas cada um de dar vergonha alheia... alguém se lembra daquela produção no qual o Sly é piloto de corrida?! Aquilo é o cúmulo do ridículo para quem é ícone de toda uma geração fanática pelo cinema de ação oitentista.

E já que perdi meu tempo vendo essa baboseira, vou perder mais ainda escrevendo algumas palavras que deve servir de alerta ao fiel amigo leitor que ainda não assistiu a porcaria que temos aqui. A trama é centrada na personagem da Madeleine Stowe, uma ricaça meio maluca que descobre que é filha de um mafioso (Anthony Quinn) assassinado recentemente e agora possui um guarda costa (Stallone) 24 horas na sua cola para protegê-la de outros mafiosos. Aos poucos, ele se apaixona por ela e… putz, o sujeito devia estar realmente precisando de dinheiro pra entrar numa dessa.


MISSÃO PERIGOSA aposta exatamente na interação e química dos protagonistas, que passam o filme inteiro dentro de uma mansão conversando bobagem, tentando criar situações engraçadas e falhando enormemente nesse sentido. Todas as fórmulas patéticas das comédias românticas “água com a açúcar” estão lá, só que com um ator do calibre do Stallone marcando presença pra enganar a moçada, atrair marmanjos que esperavam algo totalmente diferente. O cartaz e o título nacional não ajudam em nada.


E o pobre Anthony Quinn, coitado, décadas de dedicação ao cinema, entregando memoráveis atuações em clássicos de grande importância, acabando a carreira nessa fita vagabunda. As filmagens ainda aconteciam quando o ator morreu. Lastimável… Depois dessa, só revendo algum RAMBO, ROCKY ou COBRA para me desintoxicar… e pensar que ainda não assisti a refilmagem de GET CARTER, estrelada pelo Sly! Ui!

16.6.11

SIMON WEST e divagações...

CON AIR foi um filme que me deixou de queixo caído no calor do momento, na ingenuidade da adolescência, com aquelas explosões, um puta elenco e o cabelo ridículo do Nicholas Cage. Hoje, eu não sei como desceria, mas depois da notícia de que o seu diretor, Simon West, foi o escolhido pelo Stallone para comandar a continuação de OS MERCENÁRIOS, vou ter que rever para lembrar o que esse diretor é capaz. Porque se depender do último filme de ação que West realizou, THE MECHANIC, ou de TOMB RAIDER, entramos realmente numa fria!

E estou tentando buscar algo positivo nisso tudo, mas fica difícil. West já tem uma carreira de mais de 15 anos, basicamente voltada ao cinema de ação / aventura e, pelo menos pra mim, já demonstrou de tudo, menos que é capaz de “resolver” o “problema” das cenas de ação que tanta gente detonou em OS MERCENÁRIOS. E não acredito que vá aprender a dirigir ação de uma hora pra outra…

Pior, se a direção do Stallone falha na ação (eu não acho isso, mas muita gente acha), sobra a ele talento e sensibilidade para momentos como o monólogo do Mickey Rourke, uma cena mil vezes melhor que toda a carreira do Simon West junta. Estou descontente com a escolha, quero deixar bem claro. Ainda espero e torço por um bom filme, gosto demais de OS MERCENÁRIOS, mas fico com meu pé atrás de agora em diante.

Alguns nomes que eu gostaria de ver sentado na cadeira de diretor de OS MERCENÁRIOS 2 (sem pensar muito e sem ordem de preferência):

Isaac Florentine
John Hyams
Estes dois seriam escolhas perfeitas e mais realistas (os outros também são escolhas perfeitas, mas só um milagre os faria entrar nessa)
Walter Hill; John Millius; Sylvester Stallone*; Paul Verhoeven; Werner Herzog (!!!); William Friedkin; John Woo; Ji-Woon Kim; Corey Yuen; Tsui Hark; George Miller.

E já que vamos ter Simon West mesmo, qualquer um desses aqui já seria melhor também:

Uwe Boll; Jesse V. Johnson; Dolph Lundgren; Pierre Morel; Wilson Yip; Justin Lin; Scott Mann; Martin Campbell; Jonathan Mostow; José Padilha; Wayne Kramer; Neil Marshall; Michael Bay; Mel Gibson (!!!); Mark L. Lester; Craig R. Baxley; Vic Armstrong...e Albert Pyun!


* Sim, prefiro que ele dirija de novo! Não é por causa de umas ceninhas de lutas mal filmadas que eu vou deixar de considerá-lo um dos maiores diretores de ação do cinema americano da atualidade!

12.4.11

STALLONE confirma WALTER HILL no comando de HEADSHOT!

Uma das melhores notícias relacionada a cinema de ação badass, sem dúvida alguma! Já faz alguns dias que Sylvester Stallone se encontrou com o mestre Walter Hill para convidá-lo a dirigir HEADSHOT, filme de ação policial estrelado pelo eterno ROCKY/RAMBO; mas hoje, tudo indica que é oficial: Walter Hill realmente vai retornar à cadeira de diretor para comandar a produção. Desde O IMBATÍVEL (2002) Hill não filmava para cinema.

Segundo as palavras do próprio Stallone: It’s official. We’ve got Walter Hill on board so would love for you to let the world know. We’ve been on the same track since THE DRIVER, then 48 Hrs didn’t happen so here we are almost 35 years later, I’m finally driving with Walter Hill.

À principio, o filme seria dirigido por Wayne Kramer (NO RASTRO DA BALA), mas por diferenças criativas com Stallone o sujeito pulou do barco. Com Kramer na direção, a coisa já era animadora, na minha opinião. Mas agora com Walter Hill no comando, já se torna um dos filmes mais esperados dos próximos anos.

No entanto, apesar da excelente notícia, o mais importante pra mim é ficar na espectativa de duas coisas: a) Já que decidiu voltar atrás e vai dirigir OS MERCENÁRIOS 2, espero que o Stallone aprenda algumas dicas de como filmar sequências de ação (especialmente cenas de luta, algo que não deve ter em HEADSHOT, mas que o Hill sabe filmar muito bem; e acho o Stallone um puta talendo pra cenas de ação, tendo em vista RAMBO 4 e as cenas de tiroteio de OS MERCENÁRIOS; meu problema são as cenas de luta), ou b) Que o Stallone dê uma bajulada e convença o próprio Walter Hill de realizar OS MERCENÁRIOS 2! Por que não, oras? Aí sim poderiamos aguardar com segurança a obra prima que o primeiro não foi (mas não preciso dizer de novo que eu sou fã de OS MERCENÁRIOS, né?!).

14.8.10

OS MERCENÁRIOS (The Expendables, 2010), de Sylvester Stallone

OS MERCENÁRIOS não é simplesmente um filme de ação. Representa muito mais que isso para uma geração que cresceu assistindo aos exemplares do gênero nos anos 80, os bons e velhos anos 80, como os RAMBO’s, COMANDO PARA MATAR, INVASÃO USA, DURO DE MATAR, e milhares de outros títulos onde reinava o exagero, a violência e a truculência de personagens valentões e politicamente incorretos, que matavam e torturavam sem piedade, sem se importar com a quantidade de inimigos que enfrentavam. E ainda por cima, fazendo pose pra câmera... afinal, eles eram os “good guys” que nunca seriam alvejados e suas balas não iriam acabar.

Essa mesma geração acompanhou de perto o que o gênero se tornou com o passar do tempo. O cinema de ação feito hoje para a moçada é vergonhoso, feito por gente sem o mínimo de talento e bom senso em comparação com os diretores de saco roxo de 25 anos atrás. Ainda há um grupo remanescente que de vez em quando apresenta algumas pérolas, quase sempre no cenário independente, lançados diretamente em DVD, como Isaac Florentine, John Hyams e Jesse V. Johnson.


Até ontem, meu filme de ação preferido de 2010, era o pequeno THE BUTCHER, do citado Johnson, um excelente exemplar feito à moda antiga estrelado pelo Eric Roberts. Disse até ontem porque após o monumental OS MERCENÁRIOS fica difícil a disputa pelo posto de primeiro lugar. O filme de Stallone come a concorrência no café da manhã com rosquinhas e leite! Fazendo um papel de porta voz em nome dos fãs do cinema de ação da minha geração, não tenho medo de arriscar ao dizer que OS MERCENÁRIOS é um acontecimento histórico, um retorno ao coração dos anos oitenta, ao exagero frenético e explosivo da mais pura ação, onde a trama não importa, as atuações muito menos, apenas o efeito catártico sobre o espectador obtido através do espetáculo visual e sonoro é o que realmente conta. E é o que temos de sobra por aqui.


Além, é claro, da reunião “aldrichiana” do elenco formado por alguns personagens ícones do cinema de ação e que serviu de isca para a campanha promocional do filme. Alguns atores nem chegam a ter tanto status, mas estão tão bem inseridos nesse universo, que a impressão é a de que sempre estiveram lá, participando daquele período mágico. E apesar de toda brutalidade, a contagem de corpos e violência exacerbada, é preciso muita sensibilidade para realizar um filme como este. Stallone não é nenhum ignorante e sabe muito bem o que o cinema de ação mainstream tem se tornado ao longo do tempo. Em RAMBO 4, por exemplo, ele já tinha jogado na tela: “FILME DE AÇÃO É ISSO AQUI, CA@#$LHO!!!”. A segunda aula de cinema é agora, com OS MERCENÁRIOS.


Não se trata de um filme perfeito. Estou prevendo muita gente apontando o dedo em alguns problemas, alguns excessos... normal. Mas quem entrar no cinema disposto a ver muita, mas muita explosão, tiros e alta contagem de corpos, vai ser muito bem recompensado. Eu me senti como se tivesse doze anos. Foi uma experiência única. Nunca vi tanta pirotecnia numa sala de cinema em toda minha vida!


E Stallone provavelmente se estabelece agora como o grande nome do cinema de ação americano da atualidade. Mais por manter o espírito do gênero da maneira que deve ser: anacrônico, sem firulas e bem exagerado. É até curiosa as sequências de ação, pois são filmadas e montadas como uma máquina de costura, com excesso de planos e cortes acelerados, da maneira que nós acostumamos a criticar, mas o espectador consegue perfeitamente ver o que se passa na tela. Domínio total da gramática da ação do velho Stallone mesmo chacoalhando a câmera. A única cena que esse tipo de recurso estético deveria ter sido modificado para uma montagem menos acelerada e enquadramentos mais clássicos é na luta do Jet Li contra o Dolph. O resultado não favorece o oriental, que poderia ter suas habilidades e a beleza dos seus movimentos melhor aproveitadas.

A trama básica que já estamos carecas de saber permanece com poucas surpresas. Grupo de mercenários contratado para derrubar um ditador num país sul americano. Até na premissa Stallone foi buscar lá atrás, em filmes como CÃES DE GUERRA e MCBAIN. A história pode até ser bem simples, mas é com as situações cheia de testosterona e os personagens carismáticos que OS MERCENÁRIOS realmente ganha um corpo.


Não vou falar de cada ator, mas todos eles mereceriam um parágrafo só pra eles. Todos têm a sua peculiaridade muito bem trabalhada, ainda que de forma sutil. TODOS estão muito bem, com a impressão de que se divertiram muito fazendo esse filme. Isso fica claro na encenação, nos diálogos, alguns parecem improvisados, mesmo que a atuação de alguns não seja grande coisa, mas cumpriram muito bem seus papéis.

Meus destaques ficam por conta de 1) Mickey Rourke. Há uma cena belíssima onde ele relembra os velhos tempos com as lágrimas nos olhos que me deixou arrepiado. Dessas cenas que tornam um filme desses em algo muito maior do que aparentemente deveria ser. 2) Eric Roberts como vilão está sensacional. Bem caricato e eficiente. Como é bom vê-lo na tela grande tão a vontade. 3) Outro que me surpreendeu foi o velho Dolph!!! Quase todos os atores que se envolvem na ação tiveram o trabalho de interpretar a eles mesmos ou as representações que os transformaram em ícones. Dolph não. Foi um dos únicos que precisou encarnar um personagem bem diferente do que faz, na pele de um abobalhado alucinado, louco, psicopata! É meu personagem favorito.



E há ainda o encontro dos ícones máximos! Não vou entrar em detalhes para não estragar o prazer de quem ainda não viu, mas Stallone, Bruce Willis e Arnoldão juntos é antológico! Um dos melhores momentos do filme.

JET LI x DOLPH LUNDGREN

Como já disse, um detalhe que eu encrenquei foram as lutas do Jet Li filmadas de maneiras picotadas. Não sei, mas acho que Stallone busca realismo com esse tipo de edição. Mas cada personagem é apresentado com uma habilidade especial e várias delas com o pé no exagero. Stallone rápido no gatilho com um revólver à moda antiga, Stathan é hábil com facas e por aí vai. Não custava nada o Jet Li demonstrar suas habilidades da maneira correta de se filmar kung fu. Enfim, acho que o grande e esperado duelo entre ele e o Dolph ficou um pouco prejudicado por conta disso, mas ainda assim achei bacana e muito bem contextualizado.

SYLVESTER STALLONE x STEVE AUSTIN

Essa aqui foi melhor. No calor da ação final, Stallone atraca com Austin num quebra pau pra lá de truculento num túnel. Aí sim, quando dois brutamontes trocam murros, o resultado na tela é bem melhor da forma que ficou. E Stallone dando golpes de MMA é sensacional! Aliás, toda a sequência que acontece dentro dos túneis nos subterrâneos da mansão do ditador é de deixar qualquer fã do gênero com um sorriso de orelha a orelha durante muito tempo. Gary Daniels levando uma surra de Jet Li e Stathan é uma coisa linda e Terry Crews destruido com sua metralhadora é a cena mais "puta que pariu" do filme.


GISELE ITIÉ

Delícia!


OS MERCENÁRIOS se confirma como o filme de ação absurdo, violento e oitentista que eu esperava ansiosamente. E Stallone é dos poucos diretores americanos que devolve o prazer por este gênero que eu tanto aprecio. Seu trabalho aqui é bem mais que uma homenagem aos bons tempos do gênero. É quase um autêntico exemplar daquele período, mas calhou de aparecer na hora errada, só que deveria servir de paradigma para todo e qualquer cidadão que resolvesse se aventurar com o cinema de ação na atualidade.

12.7.09

FALCÕES DA NOITE (Nighthawks. 1981), Bruce Malmuth


Já faz um tempinho que namorava este filme na Americanas, especialmente pelo precinho, mas como não tinha visto ainda, hesitava. Depois que o Daniel me recomendou, deixei de frescura e comprei FALCÕES DA NOITE, e agora recomendo a vocês, porque realmente vale a pena. É assumidamente um filme menor na carreira do Stallone, fica ali na meiuca entre o Sucesso da série ROCKY e RAMBO, nunca teve a atenção que merece, mas no fim das contas é um interessante filme policial.

FALCÕES DA NOITE apresenta Wulfgar (Rutger Hauer), um terrorista europeu que acaba perdendo a linha nos seus negócios, que se resume em explodir lugares e pessoas, e precisa sair de cena por uns tempos, antes que seus ex-companheiros o traia ou a polícia o prenda. Então decide ir para Nova York, lugar perfeito para se abrigar terrorista sem ser incomodado, principalmente depois de uma plástica facial.

O que Wulfgar ainda não sabe é que um especialista anti-terrorismo, Peter Hartman (Nigel Davenport) antecipou seus movimentos e já está em Nova York planejando uma forma de capturá-lo, e para isso conta com uma ajudinha extra formada por alguns dos melhores homens do departamento de polícia. Deke DaSilva (Stallone) e Matthew Fox (Billy Dee Williams), por exemplo, são perfeitos para essa missão. Extremamente capacitados e conhecem cada canto do submundo nova-iorquino, mas antes, passam por um treinamento anti-terrorismo que martela na cabeça dos policiais a necessidade de matar o Wulfgar de qualquer maneira, nem que coloque em risco a vida de inocentes, algo que DaSilva é totalmente contra, mas decide permanecer no grupo assim mesmo, depois de refletir profundamente.

Stallone e Williams estão muito bem, em ótima fase, e possuem uma química que funciona legal como parceiros policiais. O que chama a atenção é Stallone estar longe do seu habitual estereótipo do policial que se acha acima da lei, embora seja de fibra, mas se apresenta em FALCÕES DA NOITE um pouco mais comedido, introspectivo, demonstrando uma faceta diferente do ator como action man dos anos oitenta. Mas o melhor do filme é definitivamente Rutger Hauer (neste que é seu primeiro filme americano), muito convincente, com um olhar expressivo, louco, fazendo o terrorista sangue frio que mata sem piedade. É impressionante como hoje ele seja tão mal aproveitado no cinema.

Indo do "tema policial urbano" à "trama de terrorismo internacional", o filme oferece alguns ótimos momentos de ação e outros em que o rendimento cai um bocado, mas nada que estrague a diversão, longe disso, principalmente porque o “tema policial urbano” (que eu adoro) prevalece em cima da “trama internacional” (que às vezes pode soar bem chatinha) – a cena do bondinho com os reféns, por exemplo, é uma que acho muito longa, muito embromada, embora mostre o quão sádico Wulfgar pode ser. Mas é um filmaço, sem dúvida.

14.6.09

Top 10 STALLONE

Atendendo ao pedido do Daniell Oliveira feito nos comentários do último post. Coloquei apenas os filmes que eu já vi (óbvio) e aqueles que o Stallone é protagonista ou tem uma participação considerável. O top é formado de acordo com os melhores filmes de uma forma geral e não considerando apenas o desempeho do ator, e, claro, segundo meu gosto pessoal. Podem discutir à vontade:

1. RAMBO: FIRST BLOOD (1982), de Ted Kotcheff
2. RAMBO IV (2008), de Sylvester Stallone
3. ROCKY (1976), de John G. Avildsen
4. COP LAND (1997), de James Mangold
5. CONDENAÇÃO BRUTAL (Lock Up, 1989), de John Flynn
6. ROCKY BALBOA (2006), de Sylvester Stallone
7. COBRA (1986), de George P. Cosmatos
8. O DEMOLIDOR (Demolition Man, 1993), de Marco Brambilla
9. DEATH RACE 2000 (1975), de Paul Bartel
10. RISCO TOTAL (Cliffhanger, 1993), de Renny Harlin

3.6.09

COBRA (1986), de George P. Cosmatos

Escrever sobre um filme como COBRA pode ser uma perda de tempo – todo mundo já viu e já está careca de saber do que o filme se trata – mas como eu não estou tendo muito tempo pra ver a quantidade de filmes que eu gostaria (o último que eu vi foi justamente este aqui e já faz uns quatro ou cinco dias), vou tentar alguma coisa pra não deixar o blog paradão.

Além do mais, estamos falando de COBRA, sim, aquele filme que marcou a sua infância e a de muita gente que neste momento deve estar relembrando os tempos em que Stallone, Arnoldão, Van Damme e Steven Seagal (!) eram vistos semanalmente na TV aberta. E olha que eu nem preciso ir tão longe (também não sou tão velho, peguei o final dos anos 80 adiante e nesta época, estes caras aí foram os responsáveis pela minha formação em cinema de ação). Mas este tom nostálgico que envolve filmes e televisão eu deixo para o Leandro Caraça, que realmente consegue transmitir essa sensação com muito mais emoção em seu blog.

Para quem não sabe, Sylvester Stallone, inicialmente, seria o homem que daria vida ao policial Axel Foley em UM TIRA DA PESADA, de Martin Brest, tanto como protagonista quanto palpiteiro de roteiro, mas depois que o script acabou virando um banho de sangue, a Universal resolveu botar Stallone para enscanteio, contratando outros roteiristas e escalando Eddie Murphy que se consagrou justamente com este papel. A falecida, infelizmente, Cannon se interessou pelo material do “Garanhão Italiano” e começou a produzir, graças ao bom Deus, essa maravilha que hoje conhecemos.

Naquela época, Stallone não precisaria sair mendigando trabalho ou implorando para que algum estúdio comprasse seus roteiros. Ele já havia se firmado como um modelo de herói de ação dos anos oitenta desde RAMBO e o diretor do segundo filme da franquia, George P. Cosmatos, reuniu-se novamente com o ator pra realizar esta espécie de Rambo urbano, numa das minhas definições mais cretinas...

COBRA é um filme brutal e tem aquele tom fascista que compõe sua óbvia inspiração no filme de Don Siegel, DIRTY HARRY, com Clint Eastwood. A abertura é um delírio quando ouvimos a voz de Stallone relatando o número de assassinatos, estupros e etc por dia nos Estados Unidos, enquanto vira o trabuco em direção a câmera. Logo depois mostra um bando de motoqueiros que se reúne para ficar batucando com machados e outros objetos enquanto os créditos iniciais são apresentados.

Engraçado que no meio dos malucos batucando, eu reparei um tiozinho careca, usando um terno, segurando dois machados. Fiquei imaginando o porquê daquilo e que tipo de ser humano seria aquele de entrar num lugar desses vestido assim pra ficar batucando machados. Vai entender...

A primeira cena de COBRA mostra um psicopata adentrando um supermercado e fazendo todos os clientes de refém. A policia cerca o local, mas logo percebem que é preciso chamar o homem! Cobra chega em seu carro retrô, com óculos espelhados, luvas pretas, barba por fazer e mastigando um fósforo. Entra no supermercado com um ar totalmente cool, para na prateleira da cerveja e dá um gole. Em determinado momento, o bandido ameaça: “Vou explodir todo o lugar”, “Vá em frente, eu não faço compras aqui”, responde Cobra. Logo depois, outra pérola: “Você é a doença, eu sou a cura”. É uma ótima maneira de demonstrar o nível de pretensão esperado por aqui.

Aquele grupo de motoqueiros que eu citei ali em cima, do qual um dos membros é o tiozinho de blazer, na verdade, trata-se de uma seita que comete assassinatos que até agora não consegui entender os motivos. O filme não explica, mas apenas mulheres sozinhas, à noite, no escuro são assassinadas em prol da seita. Mas que seita é essa que mata mulheres indefesas? E pra que? Só se for uma seita gay com o objetivo de exterminar o sexo feminino. E quem diabos é aquele velhinho de terno batendo dois machados numa seita de motoqueiros??? Enfim, o roteiro é do Stallone, vamos relevar. O fato é que a história deve prosseguir e para isso, entra em cena a modelo fotográfica (a dinamarquesa Brigitte Nielsen) que testemunha um dos crimes e passa a ser alvo dos malfeitores. Cobra fica incumbido de proteger a moça dos malucos.

Mas isso também é só um pretexto pra cenas de ação, frases de efeito e muito suspense. Aliás, este é um tópico importante, porque para um filme de ação, as cenas em que “assassino principal” (Brian Thompson) tenta eliminar suas vítimas são de uma atmosfera intensa de terror e alguns elementos como luvas e objeto pontiagudos ajudam a reforçar o clima de giallo em determinados momentos. Só faltou mesmo sangue em abundância partindo dessas situações, detalhe que o filme resolve não mostrar.

Mas ainda temos muitas sequencias de ação como a perseguição de carro em alta velocidade, com Stallone em seu carro retrô, dando cavalo de pau no meio do transito pra poder atirar pra trás enquanto o carro realiza o giro completo e volta para a posição inicial sem diminuir a velocidade!

Assim como vários filme que acabam, de alguma forma, analisando a aplicação da lei de uma forma subvertida, COBRA, com o roteiro de Stallone, também faz a sua contribuição. Mas é um ponto que não se deve levar muito a sério por aqui, ou até deve. O ator/roteirista parece mais preocupado em criar uma figura que vomita frases como “nós os prendemos, os juízes os soltam”, sem que haja uma profundidade temática sobre o assunto, mas a falta de pretensão de Stallone às vezes é muito mais significativa do que milhares de exemplares com essa ambição.

Um dos momentos mais interessantes é no final, no confronto entre Cobra e o psicopata de Brian Thompson, que provoca o homem da lei dizendo que ele não pode matá-lo, mas quando for preso, será liberado, ou coisas do tipo. Claro que Stallone, em toda sua ética fascista, vai soltar uma frase de efeito como “Aqui é onde a lei termina... e inicia a minha”! Genial.

Sabemos que COBRA não é um filme perfeito e está longe de ser um dos melhores filmes ação ou policial dos anos 80 em termos de qualidade técnica. Mas com toda certeza você deve ter um lugarzinho especial dentro de você pra guardar a cobra. Eu não, eu guardo na prateleira, juntos com meus outros DVD’s!