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1.7.11

I SAW THE DEVIL (2010)

Demorei tanto pra escrever sobre este filme, que acabei assistindo de novo para relembrar alguns detalhes. Mas, valeu a pena, já que se trata do meu filme favorito de 2011 até o momento! É também o último trabalho de Ji-Woon Kim, diretor do magistral A BITTERSWEET LIFE, um dos meus prediletos deste século, e seu astro, Byung-hun Lee, repete a parceria com o diretor aqui, uma combinação que vem dando certo. O próximo filme de Kim, parece que será produzido sob a batuta de um estúdio americano. Se derem total liberdade ao sujeito, o que é difícil, pode até sair algumas belezinhas para o nosso lado ocidental… mas antes que isso aconteça, vamos com o coreano I SAW THE DEVIL!

O filme é um puta soco no estômago de quem acha que no cinema de ação, a vingança é o melhor remédio. Bom, talvez seja, já que garante a diversão do espectador ávido por banhos de sangue, mas quem tem o mínimo de sensibilidade, encontra em I SAW THE DEVIL uma realidade um pouco diferente dos típicos filmes mergulhados sob o mote da vingança.

Na verdade, é mais um filme de horror com ação, mas isso não importa tanto pra mim. E é óbvio que para mostrar o efeito da "mensagem" que o filme tem sobre quem o assiste, já rende doses cavalares de sequências extremamente viscerais, independente de gênero, mas com vários toques especiais, cortesia do olhar poético, brutal e pessimista do diretor sobre o tema e, claro, no aspecto técnico e visual, é uma autêntica aula de cinema.

Tudo é lindamente filmado, de uma precisão impressionante na forma como utiliza de vários recursos para deixar tudo mais impactante, especialmente nas cenas de ação e porradaria mano a mano que pontuam o filme, sem precisar chacoalhar a câmera ou editar frenéticamente a cena. É tudo na base da decupagem e boa encenação, pura e simples.

Basicamente, sem entregar demais, já que isso pode estragar a diversão, a trama segue dois sujeitos, interpretados por Byung-hun Lee e Min-sik Choi (mais conhecido por ser o protagonista do sensacional OLDBOY), num violentíssimo jogo de gato e rato que deixa profundas marcas, físicas e psicológicas, em cada um, sedentos por vingança. E as suas transformações que ocorrem no decorrer dessa jornada ao inferno elevam o filme a um grau de subversão que incomoda, e me deixou destruído. Qual o limite onde o suposto herói pode ir antes de se transformar no monstro que ele persegue? É mais ou menos por esse caminho que o filme te leva e acaba com você!

I SAW THE DEVIL é longo, poderia ser um pouquinho enxuto e o roteiro, em alguns momentos, força a barra para facilitar certos entraves da trama, mas nada que possa atrapalhar a experiência que é esta belezinha monumental. Espécie rara nos nossos dias, talvez umas duas ou três vezes por temporada temos algo deste nível… é muito pouco para o tanto de filme que produzem a cada ano.

27.8.09

O GOSTO DA VINGANÇA (A Bittersweet Life, aka Dalkomhan insaeng, 2005), de Ji-woon Kim

Revi O GOSTO DA VINGANÇA ontem. Sempre gostei do filme, mas não lembrava de muitas coisas, por exemplo de como Ji-woon Kim faz um trabalho poético muito convincente que mistura neo noir com filme de ação em um profundo estudo de personagem. Ah, mas eu me lembrava da pancadaria e da violência que rola solta, pontuando a narrativa com ótimas sequências. Não sei porque acabei não escrevendo sobre o filme quando vi na época. Não posso perder esta oportunidade agora. E se você ainda não viu, não sei o que está esperando...

Ji-woon Kim, que dirigiu o ótimo filme de terror A TALE OF TWO SISTERS (aqui no Brasil recebeu o título de MEDO) e THE GOOD, THE BAD AND THE WEIRD (que eu não sei se passou aqui no Brasil, mas é bem legal), também roteiriza O GOSTO DA VINGANÇA, um filmaço cuja trama é bastante simples, mas transcende para questões humanas muito interessantes que fogem do senso comum do tema de vingança. O inicio dá o tom sublime que permeia ao longo da estória, mostrando em preto e branco as folhas de uma árvore se movendo com o vento. Aos poucos, a imagem ganha cor e uma voz começa a narrar uma parábola sobre um discípulo que pergunta ao mestre se são os galhos que se movem por si só ou se o vento soprando é traz o movimento, o mestre lhe responde através de uma esfinge curiosa dizendo que o que se move na verdade é o seu coração e sua mente.

Acho que a grande maioria ainda se lembra, mas O GOSTO DA VINGANÇA trata de Sun-Woo, um sujeito sério e de passado misterioso que tem servido o seu patrão, o presidente Kang, fielmente nos últimos sete anos, tanto como gerente de hotel quanto realizando o serviço sujo da organização mafiosa da qual fazem parte. Seu chefe mantém um caso com uma jovem garota e suspeita que ela esteja lhe traindo. Prestes a fazer uma viagem, Kang pede a Sun-woo que vigie a moça e tente descobrir se, de fato, estão lhe crescendo galhos na cabeça. Caso se comprove esta situação, Sun-woo tem de matar o casal de pombinhos. O problema se inicia quando o protagonista se apaixona pela tal, desencadeando um erro crucial, que faz Sun-woo realizar uma verdadeira descida ao inferno.

De um lado temos um dos chefes da máfia local, com um exército de guarda costas o protegendo, do outro, o solitário Sun-woo que acabou espancado, torturado, humilhado e enterrado vivo pelo erro que cometeu e agora deseja se vingar.

A ação do filme é visceral! A sequencia em que Sun-woo escapa dos capangas que o enterraram é absurda, extrema, violenta e realista na mesma medida que é inverossímil. Puta direção do Ji-woon Kim, que vai do mais puro enquadramento simétrico, poético e cinematográfico à brutalidade da câmera nervosa da ação frenética. O filme em toda sua totalidade é muito sofisticado na direção. Cada plano possui seu cuidado estético e a narrativa é tratada com a paciência necessária, sem as afetações da grande maioria dos filmes atuais de ação que pensam que é requisito obrigatório contar uma estória em ritmo de vídeoclip. Ji-woon Kim tem um estilo visual próprio muito interessante, mas em alguns momento de O SABOR DA VINGANÇA eu reparei uma certa semelhança com o cinema de Michael Mann... ou estou ficando doido?

Mas é difícil não deixar de destacar a performance arrebatadora de Byung-hun Lee no papel de Sun-woo, que não só desempenha cenas de lutas como um autêntico ator de filmes de ação como tem uma presença muito interessante em cena, com rosto inexpressivo, bem ao estilo do Alain Delon de LE SAMOURAI (bem apontado pelo Osvaldo Neto em sua resenha há uns dois anos atrás).

Às vezes o prazer do cinema não está em assistir um grande número de filmes, mas ter a capacidade de rever os filmes no momento certo. O GOSTO DA VINGANÇA cresceu muito com esta revisão e sem dúvida alguma, é um dos meus filmes de ação preferidos desta década.