Outro dia me peguei pensando no Mickey Rourke e naquela fase negra da sua carreira nos anos 90, quando, além de outras coisas, chegou a ser vilão de A COLÔNIA, veículo de ação do Van Damme. Digo fase negra quando me refiro a esse momento do Rourke porque o sujeito teve um início realmente brilhante, entregando atuações magistrais como em O SELVAGEM DA MOTOCICLETA e O ANO DO DRAGÃO, e aqui resolveu "abraçar o capeta". Em outras palavras, estava na merda. Em 1997, ano de A COLÔNIA, até os filmes do Van Damme já estavam entrando em declínio após o ator ficar por algum tempo no auge, como herói de ação de produtos hollywoodianos, em TIMECOP, MORTE SÚBITA, SOLDADO UNIVERSAL, etc...
De qualquer maneira, eu gosto de A COLÔNIA. Sim, estamos falando de um suposto fundo do poço para o Rourke e um início de declínio para o Van Damme. No entanto, trata-se de um bom exemplar de ação dos anos 90. Eletrizante e exagerado na medida certa, com boa proporção de tiroteios, pancadaria e explosões muito bem distribuídas durante a narrativa. Quem comanda tudo isso é o mestre do cinema de ação oriental Tsui Hark, que trabalhou com Van Damme em GOLPE FULMINANTE. Temos uma história besta, mas sem muita frescura; um dos meus heróis de ação da infância distribuindo porrada em bandidos e um grande vilão interpretado por um grande ator. Além da ridícula, mas inesquecível, presença do ex-astro da NBA Dennis Rodman como sidekick do herói... Um elemento excêntrico que garante, no mínimo, boas risadas.
O título brasileiro se refere à uma prisão de segurança máxima que o personagem do Van Damme acaba indo parar. Cheio de aparatos tecnológicos, a prisão dá ao filme um caráter de ficção científica. Mas a trama estaciona neste cenário apenas por uns vinte minutos no máximo. Ou seja, A COLÔNIA não é sobre a Colônia. O resto é um jogo de gato e rato entre Van Damme, um agente secreto que acaba incriminado por conta de uma missão mal sucedida, e Rourke, um terrorista badass que perde o filho recém-nascido durante a tal missão. O vilão realmente tem bons motivos para encher o saco do herói...
O diretor Tsui Hark usa de toda a sua habilidade na construção de sequências de ação para criar cenas empolgantes por aqui. O meu destaque vai para a fuga da Colônia e toda a preparação para o ato; ou a porradaria no quarto de hotel, que é um dos pontos altos. Esta cena aliás, apesar de curta, é uma das que comprova uma teoria de que Van Damme sabe realizar movimentos bem coreografados de alto nível quando dirigido por orientais.
Outra sequência de ação que fica sempre na memória é a do gran finale. Menos pelo confronto entre os personagens e mais pelos exageros do cenário em volta. Vejamos: Van Damme encara Rourke sobre um terreno minado em pleno Coliseu de Roma com um tigre os rodeando e o filho recém-nascido do protagonista dentro de um cesto no meio disso tudo. A luta entre os dois nem é grandes coisas, mas a composição do ambiente é que eleva a cena a outro patamar! E o desfecho explosivo não poderia ser melhor. Coroa o cinema do absurdo que esse tipo de filme era capaz de proporcionar.
Mas voltando a falar do Rourke, digamos que A COLÔNIA não é das melhores vitrines para mostrar seus talentos dramáticos. Mas eles são bem utilizados pelo ator na medida do possível, até porque seu personagem possui um lado trágico bem definido, e ele consegue construir um vilão bem interessante, para entrar na galeria de destaque dos adversários do belga. Aliás, Van Damme também vai além da pancadaria neste aqui e demonstra segurança com seu personagem. Mas o grande destaque é a presença singular de Dennis Rodman, com suas roupas excêntricas e cabelos coloridos, que de tão ridículo acaba sendo um parceiro agradável e engraçado. Arrisca ainda uns golpes numas cenas de luta e não se sai tão mal. Hehehe!