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21.10.13

ESPECIAL HALLOWEEN 2013 #4: THE BURNING MOON (1997)


Sempre fui fanático por antologias de horror, filmes compostos por várias pequenas histórias de medo e mistério, como CREEPSHOW (83), de George A. Romero, ou os clássicos da Amicus, como ASILO SINISTRO (72), de Roy Ward Baker. Para incrementar o mês especial de Halloween aqui no blog, resolvi conferir THE BURNING MOON, produção alemã de orçamento minúsculo dirigido pelo mago dos efeitos especiais do cinema extremo Olaf Ittenbach e que tem no currículo alguns exemplares adorados pelos fãs de splatter movies recheado de muito gore. E, não por acaso, este aqui é uma antologia.

São apenas três historinhas em THE BURNING MOON. A primeira é a que serve de base para as outras duas e mostra o dia de um jovem pagando de rebelde, com calças rasgadas no joelho e cabelo bagunçado, vivido pelo próprio diretor. Começando com uma entrevista de emprego na qual não faz a mínima questão de passar, depois, o sujeito se mete numa violenta briga de gangues e, logo, chega em casa tocando o terror pra cima de seus pais, que já não sabem o que fazer. Por fim, o mancebo resolve injetar na veia alguma substância saudável e vai ao quarto da irmã mais nova contar algumas histórias de ninar para fazê-la dormir...


Assim, surgem os dois episódios seguintes. Mas não se preocupem. Não teremos pôneis ou fadas por aqui. A primeira história contada pelo rapaz (ou a segunda do filme, seguindo a ordem) é JULIA'S LOVE, sobre um psicopata apaixonado que até chegar à sua amada vai deixando um rastro de corpos estraçalhados pelo caminho. E quando a encontra, decide passar a faca na família da moça também. A trama se desenrola de maneira boba, mas a quantidade de nojeira, sanguinolência e mutilações - no mais puro gore old school - farão o deleite do espectador. Inclusive com alguns planos bem criativos, como uma barriga sendo perfurada visto de dentro do corpo; um olho enfiado garganta abaixo sob o ponto de vista da goela, e por aí vai. Ao final, um policial chega ao local metendo bala, chateado porque uma cabeça decepada foi jogada em seu carro pelo assassino... Hahaha!

O último segmento de THE BURNING MOON é bem melhor. Chama-se THE PURITY e a premissa é sobre um padre num pequeno vilarejo que costuma realizar a missa ao dia, mas durante as noites resolve estuprar e assassinar aleatoriamente. A culpa cai pra cima de um jovem agricultor que não tem nada a ver com os assassinatos, mas os moradores da região decidem contratar um jagunço para matá-lo. O negócio é que após ser brutalmente assassinado, o sujeito volta do mundo dos mortos para se vingar, levando seus desafetos ao inferno.


É aí que temos a famosa sequência que justifica a reputação e a existência de THE BURNING MOON. São quase dez minutos no inferno de Olaf Ittenbach, um espetáculo visual de brutalidade desenfreada com violência explicitamente detalhada, exagerada e sem qualquer remorso com o espectador. E tudo realizado com os efeitos especiais de fundo de quintal, mas com uma perturbadora eficiência que me deixou hipnotizado. Um final perfeito para esta tranqueira divetidíssima do cinema extremo alemão, que não tenta empurrar lições de moral, nem trata de temas edificantes e filosóficos. Mas também não tem vergonha de se assumir como produto de um sujeito apaixonado por cinema e que descobriu que poderia transformar sangue falso e efeitos hardcore de maquiagem em subversão visual cinematográfica.

15.10.13

ESPECIAL HALLOWEEN 2013 #03: LA LLAMADA DEL VAMPIRO (1972)


Não poderia faltar um Eurohorror obscuro neste especial de Halloween. LA LLAMADA DEL VAMPIRO, dirigido por José María Elorrieta, é uma produção espanhola do período áureo do exploitation daquele país e que combina com muita desenvoltura algumas doses de sexo com o universo dos chupadores de sangue. O filme até pode não ser uma maravilha, uma obra prima do horror (e não é mesmo), mas sexo e vampiros são dois elementos perfeitamente compatíveis quando misturados.


Após uma introdução na qual uma loura vampira tenta atacar um velhote num castelo e tem o peito cravado por uma estaca, somos apresentados a uma jovem doutora e sua bela assistente que chegam a um vilarejo espanhol para substituir o médico local, que acabara de bater as botas. Logo, são instaladas num antigo castelo local para ficarem à disposição especial do Barão que vive por lá, um ancião muito doente, que por coincidência trata-se do mesmo velho e do mesmo castelo do início do filme.

O problema é que uma onda de mortes tem acontecido na região. Os corpos estão sempre secos, sem sangue, e com dois furinhos no pescoço. No diário do falecido médico surge a palavra vampirismo, uma besteira para a cética médica, que tem seus conceitos baseados na ciência e acaba confrontando com as superstições do vilarejo, sem imaginar que a verdade pode não ser aquilo que acredita.


E diferente de outros exemplares do gênero, até que LA LLAMADA DEL VAMPIRO tenta explorar de alguma maneira o mistério das crenças e do ceticismo de alguns personagens. E por isso a trama acaba tendo momentos parados, só de conversa fiada, e isso prejudica o ritmo... Mas não impede de ter também os ingredientes que o tornam um típico exploitation, como a violência, que abusa do sangue fake avermelhado, e umas sequências de, digamos, putaria: espanholas em trajes mínimos, peitos gratuitos, sexo lésbico, essas coisas...

Claro, se você nunca tiver assistido a um Eurotrash na vida, não conhece Jess Franco, Jean Rollin, Joe D'Amato, José Ramon Larraz, não há sangue e mulher pelada que te ajude. A minha recomendação é distância de LA LLAMADA DEL VAMPIRO! Agora, para quem já está familiarizado, vai desfrutar tranquilamente do que o filme tem a oferecer. O visual, por exemplo, não possui a mesma sofisticação de um Mario Bava ou as produções da Hammer, mas há uma certa atmosfera e soluções estéticas interessantes; há pelo menos um detalhe tosquíssimo para servir de humor involuntário: o tal vampiro do título, vivido por Nicholas Ney, que é extremamente ridículo! E nunca é demais lembrar que temos algumas espanholas bem à vontade...


Confesso que não conhecia o realizador José María Elorrieta até por os olhos em LA LLAMADA DEL VAMPIRO. Descobri no imdb que o sujeito já era um veterano na época que dirigiu este aqui e já possuía um currículo de mais de três décadas, incluindo vários exemplares de horror. Talvez algum dia eu explore um pouco mais a filmografia do homem. Este aqui, garanto, foi uma boa surpresa dentro do gênero.

8.11.12

LES DÉMONIAQUES (1974)


Outro dia apareceu no blog de um famoso crítico de cinema, de um famoso jornal, algumas linhas sobre Jean Rollin. Só que o nome do francês vinha acompanhado com um deselegante “Jean quem?”. E o sujeito finalizou com um eloquente veredito sobre o filme que acabara de ver: “Eu achei o ó”. Não estou aqui pra julgar o gosto de ninguém, mas o fato me fez lembrar que pouco antes de sair do Brasil, um dos últimos filmes que assisti foi o suntuoso LES DÉMONIAQUES, de ninguém menos que o dito cujo, Jean Rollin, também conhecido como o poeta do horror.



A trama é sobre um grupo de perversos piratas que, ao saquear um navio naufragado, descobre duas jovem moças sobreviventes no local. Como são os vilões da história, e estamos falando de um filme de horror, os piratas não vão levá-las a um hospital ou algo parecido. A única coisa que lhes vem à mente é estuprá-las, para então, abandoná-las à beira da morte. De volta ao vilarejo onde vivem, na comemoração regada à bebedeiras pelos saques noturnos, o líder da gangue começa a ter alucinações com as duas vestais. Encucado com isso, convence o grupo de voltar ao local para dar cabo das pobres senhoritas. As duas realmente estavam vivas, e dessa vez, conseguem fugir para um mosteiro em ruínas, quase abandonado. Eu disse "quase", porque lá encontram o Diabo, que lhes propõe poderes sobrenaturais para se vingarem em troca de favores sexuais. Já que o Diabo não tem chifres nem rabo por aqui, as duas encaram na boa.



Confesso que vi poucos filmes do diretor até hoje (pelo menos eu conheço Jean Rollin), mas LES DÉMONIAQUES é, sem dúvida, um dos meus favoritos. E uma das principais razões para isso tem um nome: Joëlle Coeur, uma atriz francesa lindíssima, colaboradora de Rollin, que vive aqui o "membro feminino" da gangue pirata, mas na verdade, é ela quem manipula os corações dos facínoras, especialmente do suposto líder. Se calhar, até o do espectador! A mulher é um arraso e é daquele tipo de atriz que só fica de roupa quando o roteiro exige... como o roteiro de LES DÉMONIAQUES é pouco exigente, a sua nudez encanta durante quase todos os momentos em que aparece em cena. No elenco ainda temos alguns nomes interessantes do chamado “eurotrash”, que os fãs do diretor devem reconhecer, como Paul Bisciglia e Louise Dhour.

Aqui o roteiro exigia.
Aqui nem tanto.
Aqui já não exigia mais nada.
O que sobra é simplesmente o visual magnífico, as paisagens naturais belíssimas, os castelos, vilarejos, ruínas, que Rollin encontra pela Europa afora para serem filmados e transformados nos autênticos pesadelos que diferenciam o cinema fantástico europeu do americano. LES DÉMONIAQUES foi realizado na Bélgica. As cenas no mosteiro são de prender a respiração pela força pictórica, com ou sem mulheres peladas desfilando. Da mesma maneira as sequências noturnas na praia, com os piratas procurando as duas garotas entre as grandes carcaças de barcos naufragados, uma mistura de tensão atmosférica com as fascinantes imagens captadas pelas câmeras do diretor. O final trágico é antológico e comprova toda a noção precisa da poética de Rollin.



Entretanto, LES DÉMONIAQUES não seria a minha recomendação para se aproximar do cinema de Jean Rollin. Acho AS UVAS DA MORTE um belo ponto de partida. Mas, contanto que não seja ZOMBIE LAKE, qualquer um está valendo... 

25.2.12

FEMALE VAMPIRE (1973)

A abertura de FEMALE VAMPIRE é uma beleza! Lina Romay se revela através de uma densa bruma vestindo apenas uma capa preta, com os seios à mostra, vagando lentamente em direção ao público, hipnotizado pela sua formosura. A câmera do diretor Jess Franco aproveita para dar alguns dos seus zoons característicos, mostrando em planos detalhes os dotes íntimos e robustos da vestal que continua seu trajeto diretamente para a câmera até a imagem escurecer.

É uma bela homenagem do Franco à exuberância de sua atriz, esposa, musa inspiradora, Lina Romay, que faleceu recentemente, vítima de câncer, aos 58 anos… E aqui prestamos a nossa singela homenagem à ela, pelo amor e dedicação que sempre teve ao cinema extremo e por ter inspirado esse prolífico cineasta a fazer mais de 200 obras!

FEMALE VAMPIRE é um dos filmes ideais para homenageá-la, embora não seja um dos meus favoritos do Franco. Na verdade, trata-se uma dessas produções mais discretas do diretor, realizado com pouquíssimo recurso, talvez filmado em três dias no máximo, com várias cenas claramente improvisadas e sem foco (da câmera mesmo!), sem roteiro, sem sentido algum. No entanto, a presença de Romay é um espetáculo. Nunca a considerei uma grande atriz, tecnicamente falando, mas para uma beldade que se vestia apenas quando o roteiro pedisse e praticava felaccios não simulados para as câmeras do marido, o talento pode ficar em segundo plano, não tem problema… hehe! Ela era perfeita naquilo que fazia.


Se há uma trama para ser descrita aqui, seria algo parecido com isso: Lina Romay é uma vampira muda que ao invés de utilizar os convencionais caninos para perfurar o pescoço e chupar o sangue de suas vítimas, prefere fazer um sexo mortal, cujo orgasmo leva o parceiro(a) à morte. E o filme inteiro segue nessa linha, só na sacanagem e mais sacanagem. Mas tanta sacanagem também cansa e é muito comum o Franco perder totalmente a noção de ritmo. Por outro lado, é justamente nesse tipo de filme que Franco ia às favas com a lógica ou a opinião pública, aproveitava de sua liberdade criativa, botava seu lado safado pra funcionar e ainda criava praticamente do nada uma espécie de narrativa de sonho, cheio de imagens oníricas… Talvez não funcione para o espectador comum, mas o autêntico fã de Jess Franco é igual ao sujeito que adora comer jiló, ninguém convence de que aquilo é ruim de doer!




O filme possui três cortes diferentes com graus de erotismo que variam de um para o outro, todas editadas pelo próprio Franco, utilizando pseudônimos. Na versão que eu vi, conhecida como FEMALE VAMPIRE, não há sexo explícito, apesar de uma ceninha rápida na qual Romay se empolga e abocanha o pinto do ator que contracenava. Mas se querem ver a versão mais quente, se não estou enganado, o título é EROTIKILL. Há ainda uma versão que acredito ser mais branda cujo título é LES AVALEUSES.

Eu não como jiló, mas sou fã de Jess Franco e por mais que FEMALE VAMPIRE tenha seus problemas, é um belo conto erótico sobre vampirismo que cresce a cada revisão, graças, especialmente, ao brilho da musa Lina Romay. Requiescat in pace, bella…

1.11.10

CANNIBAL APOCALYPSE (1980), de Antonio Margheriti,

Não era exatamente o filme que eu esperava para um domingão de Halloween, mas valeu muito a pena. CANNIBAL APOCALYPSE não deixa de ser terror, embora também seja uma bizarra combinação de gêneros, com um roteiro deliciosamente desconexo que começa na selva do Vietnã, passa pelo drama de veteranos com trauma de guerra, desemboca num horror canibal cujo desejo pela carne humana é transmitida por vírus, até virar um filme de ação policial! Mesmo sem pé nem cabeça, o filme aposta na sua originalidade. Só a idéia de haver um vírus que “transmite canibalismo” através de mordidas e arranhões dos infectados é suficiente pra tirar o filme do lugar comum. Mas não poderia faltar também uma boa dose de violência e todo o tipo de efeito gore criado pelo genial Giannetto De Rossi. Margheriti (que assina o filme como Anthony M. Dawson) não tem a virtuose de um Bava ou Argento, mas já transitou em todos os gêneros do cinema popular italiano e conduz com firmeza e bom senso rítmico para comportar toda essa confusão. O fato é que Margheriti não está nada preocupado com a lógica narrativa de seu filme, e é isso que dá a ele a liberdade em tornar cada situação um momento único.

27.8.10

A CATEDRAL (La Chiesa, 1989), de Michele Soavi

O excesso de trabalho e a preguiça me consomem de vez em quando. Fico até sem ânimo de parar para assistir a filmes e comentar algo interessante aqui no recinto. Mas é só me deparar com uma obra prima do horror europeu do calibre de A CATEDRAL, do genial Michele Soavi, para voltar a sentir prazer pelo cinema.

Produzido e co-roteirizado por outro mestre italiano, Dario Argento, o filme possui uma visão muito original para tratar dos temas de bruxaria e satanismo. O prólogo ambienta o enredo no período da Idade Média numa sequência onde cavaleiros teutônicos massacram um vilarejo cujos habitantes são acusados de bruxaria. No local onde os corpos são enterrados é construido uma gigantesca catedral. Muitos anos depois, a trama se desloca para o período “atual” onde vários personagens interagem com os cenários góticos da catedral e liberam um mal adormecido durante séculos. Praticamente toda a ação se passa dentro da tal catedral. A direção de arte explora muito bem os seus interiores e a condução de Soavi é uma verdadeira aula de composição e arquitetura cinematográfica, com movimentos de câmera impressionantes. O climão fantástico e onírico que toma conta de toda narrativa é constantemente sublinhado por uma trilha sonora inusitada composta por Philip Glass e Goblin.

No elenco, algumas figurinhas típicas do horror europeu. Mas o nome mais famosinho hoje em dia é o de Asia Argento, que tinha apenas 14 anos na época, em um de seus primeiros trabalhos.

Algumas sequências possuem imagens belas e ao mesmo tempo aterradoras, como o gárgula demoníaco praticando o coito com uma moça à luz de velas ou a recriação de uma pintura de Boris Vallejo onde uma mulher nua abraça uma sinistra figura. Grande filme esse A CATEDRAL, que comprova porque tanta gente venera o Soavi, mesmo tendo realizado poucos filmes. Eu só havia assistido DELLAMORTE DELLAMORE e ARRIVEDERCI AMORE CIAO, o suficiente pra notar o talento do diretor. A CATEDRAL apenas confirma e o coloca agora entre os meus favoritos. E ainda preciso ver STAGE FRIGHT, LA SETTA, etc…

Em tempo, A CATEDRAL, a princípio, seria mais um episódio da série de filmes de terror da dupla Argento/Bava (filho), DEMONS, mas Soavi conseguiu intervir para que seu filme ficasse de fora. Mas no Japão chegou a ser lançado com o título DEMONS 3.

5.8.10

CHEGA DE ENROLAÇÃO E VAMOS AOS FILMES

A BLADE IN THE DARK (La casa con la scala nel buio, 1983), de Lamberto Bava

A idéia inicial dos produtores era de fazer uma série televisiva de suspense, dividida em quatro partes, onde um assassinato aconteceria sempre ao final de cada episódio. Mas felizmente abandonaram a proposta porque acharam que seria muito violento para se passar na TV. Eu digo felizmente porque como um filme de 110 minutos, a narrativa já é leeeeeenta o bastante, imagina dividida em quatro partes. O que não quer dizer que seja uma obra ruim, pelo contrário, é um baita filme de terror. E se não foi adiante na idéia da série por causa da violência, ao menos para o cinema, o filhote de Mario Bava não teve preocupação alguma na quantidade de sangue!

A trama de A BLADE IN THE DARK bem simples, mas é recheada de metalinguagem, sobre um músico contratado para compor a trilha sonora de um filme de terror e se instala numa mansão isolada para se concentrar no trabalho. Durante esse processo de criação, coisas estranhas começam a ocorrer. Não demora muito para uma bela jovem ser brutalmente assassinada e o protagonista passa a ter uma obsessão em tentar resolver os crimes por conta própria.

Uma cena é especialmente marcante, a do assassinato no banheiro. A faca fincada na mão, o saco plástico sufocando a vítima, um corte final na jugular e sangue pra tudo “quanté” lado. Uma coisa linda! A direção de Bavinha (como chama carinhosamente o Leandro Caraça) é muito boa, cadenciada, o filme tem climão dos bons! Não chega a ter a genialidade do pai, mas imaginem a pressão de um sujeito que resolve virar diretor sendo filho de quem é. Não deve ser fácil. E mesmo assim se sai muito bem. E teve como assistente de direção o Michele Soavi, ainda em fase de aprendizagem...

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MURDER OBSESSION (Follia omicida, 1981), de Riccardo Freda

Freda tinha “apenas” 72 anos quando dirigiu MURDER OBSESSION. Então não sei se ele estava pouco se lixando para alguns detalhes do filme ou se já estava caduco. O fato é que o homem foi genial e não precisava provar mais nada a ninguém e aqui o resultado está mais para um Jess Franco ou Joe D'Amato. Foi o último filme que dirigiu por completo. Em seu trabalho seguinte, já na década de 1990, e com mais 80 anos, acabou despedido, dizem as lendas, por ter agredido a estrela do filme, Sophie Marceau, depois de ficar com o saco cheio das frescuras da atriz.

Mas voltando a MURDER OBSESSION, a trama é sobre um famoso ator de filmes de terror (de novo!) que possui um trauma infantil e resolve visitar a mãe, que não vê há muito tempo, em sua mansão isolada (de novo!). Resolve levar consigo alguns amigos, que trabalham com ele no cinema, mas aos poucos começa a boa, velha e misteriosa matança. E que a verossimilhança se exploda! Sabe-se que o cinema italiano de gênero nem sempre prezou pela qualidade dos roteiros, então é normal situações meio bizonhas para forçar a barra, mas o que importa mesmo, e Freda era expert neste aspecto, são as imagens que se formam na tela.

Por mais que houvesse um desleixo em alguns detalhes, na elaboração do roteiro, ritmo, ou que os atores não fossem grandes coisas (menos Laura Gemser, sempre belíssima e dedicada), é inegável a capacidade de Freda na direção, na construção de suspense e ambientações atmosféricas. Há uma longa sequência de sonho que é uma das coisas mais interessantes que eu tenho visto nos últimos meses, com direito a aranha gigante, ataque de morcegos e um ritual satânico, tudo isso ostentado sob um visual gótico que remete ao melhor do cinema de horror italiano dos anos 60 e que Freda foi um dos principais representantes. Só essa sequência já vale o filme todo!

E há um bocado de violência gráfica também, embora não seja realizada pelos artistas mais competentes do ramo, já dá um sabor a mais. A medida que o filme caminha para o final, vai ficando cada vez mais emblemático e surreal, até chegar num desfecho inacreditável, cujos enquadramentos lembram quadros renascentistas. Tudo isso sem perder o charme do desleixo inicial, pra espantar o público comum e deixar apenas os verdadeiros fãs curtirem essa obra esquisita.

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LA MALA ORDINA (1972), Fernando di Leo

Teria como ser ruim um filme que começa com Henry Silva e Woody Strode, interpretando dois assassinos, sendo contratados pela máfia para matar um cafetão italiano, vivido por Mario Adorf?! Claro que não! Ainda mais dirigido pelo grande mestre do gênero, Fernando di Leo. Pois é exatamente essa a premissa de LA MALA ORDINA, a segunda parte de uma espécie de trilogia realizada pelo diretor envolvendo o subgênero. Os outros filmes são MILANO CALIBRO 9, que é um dos meus favoritos, e IL BOSS, que eu não vi ainda, mas parece ser do grande cacete também.

Silva e Strode são um deslumbre, mas quem rouba a cena é Adorf que ganha maior destaque tentando entender a sua situação hitchcockiana, versão subversiva, ao ser caçado pela máfia por um "crime" que não cometeu. No elenco, Adolfo Celi marca presença na pele de um chefão. Temos ainda pancadaria, tiroteios lindamente filmados, uma perseguição de carro frenética, truculência até a alma. Poucos gêneros são tão estimulantes como o poliziotesco. Este aqui é um dos melhores exemplares que eu já vi.

24.7.10

JEAN ROLLIN - POETA DO HORROR

Confesso que preciso dar muita atenção ainda ao francês Jean Rollin. Meu primeiro contato com ele havia sido com o terrível ZOMBIE LAKE (1981), que na minha ingênua ignorância, coloquei a culpa pelo fracasso e cretinice do filme no diretor. Ainda continuo ingênuo e ignorante, mas melhorei um pouco de lá pra cá. Já considero o filme divertido, só que pelos motivos errados. Tem algumas das piores cenas de zumbis em ação que eu já vi, as maquiagens parecem ter sido feitas por uma criança, a trama é ridícula e chega a dar pena dos atores. Mas o negócio é não levar a sério, entrar no clima e dar boas risadas.

Só para dar mais informação, ZOMBIE LAKE era um projeto de outro diretor maluco, o Jess Franco, com todos os elementos característicos que só ele sabia trabalhar. O filme seria uma bomba de qualquer jeito, mas talvez não fosse tão ruim, já que Franco é mestre nesse tipo de coisa. Mas o sujeito desapareceu na véspera das filmagens e Jean Rollin foi chamado pelos produtores 6 horas antes de começar a rodar o filme!!! Acabou assinando como A. J. Lazer e ficou por isso mesmo.

Enfim, venho acumulando alguns filmes do Rollin por aqui, mas nada de parar para assistir. Ontem resolvi ver THE GRAPES OF DEATH (1978) e agora sim, pude contemplar o que o diretor é capaz. Trata-se de um poético zombie movie, filmado, creio eu, no interior da França, onde os contaminados surgem por causa de um novo pesticida utilizado em uma vinícola.

Quase não há diálogos e a trama pouco importa. Parece mais um sonho, que vai ficando cada vez mais denso. Uma jovem foge do trem por causa de um zumbi e vaga até seu destino enfrentando situações de puro terror com essas criaturas, percorrendo o belíssimo cenário. Em uma cena surreal, ela encontra a grande Brigitte Lahaie, e o que se segue a partir daí é simplesmente do cacete! O plano do zumbi beijando a cabeça decepada de uma mulher é apenas um dos pontos altos deste espetáculo grotesco. Muito bom mesmo!

Portanto, se alguém tiver interesse em iniciar a obra de Rollin, acho que THE GRAPES OF DEATH seria bem mais recondável que ZOMBIE LAKE...

17.6.10

Assisti algumas coisas bem interessantes, mas tenho andado um pouco sem tempo ultimamente para escrever e postar com boa frequência, mas valem ao menos alguns comentários rápidos. Um dos melhores foi o clássico esquecido de 1965, do americano exilado na Inglaterra, vítima do Marcartismo, Cy Endfield, PERDIDOS NO KALAHARI (Sands of Kalahari). É um belíssimo trabalho, uma verdadeira aula de cinema na questão dos espaços. Difícil de acreditar que nunca tenha recebido o reconhecimento que merece. O filme começa devagar quase parando, apresentando aos poucos os personagens que embarcam num avião clandestino por causa do preço camarada que o piloto arranjou. Mas como o barato sai caro em quase todos os filmes, a tripulação acaba vítima de um pouso forçado em pleno deserto sul-africano. A cena da queda com a nuvem de gafanhotos é sensacional! A partir desta situação extrema é que o filme vai crescendo cada vez mais até chegar a um dos finais mais aterradores que eu já vi!


Conferi pela primeira vez também o clássico considerado a pedra fundamental do cinema de horror europeu, I VAMPIRI (1956), de Riccardo Freda e Mario Bava. Sempre houve uma discussão sobre o que cada um havia dirigido. O que eu sei sobre o assunto é que Freda era o diretor e Bava o responsável pela fotografia. Freda deveria realizar todo o filme em doze dias. Quando chegou no décimo, só havia filmado a metade, pediu mais tempo, os produtores não deram e ele pulou fora do projeto deixando a bomba explodir nas mãos do seu diretor de fotografia, que conseguiu se virar e terminar o restante nos dois dias que restava. A bem verdade é que essa transição toda não interfere em absolutamente nada a grandeza desta obra. Claro que é um filme torto, possui alguns defeitos principalmente no ritmo e estrutura narrativa, mas tecnicamente é perfeito, com uma atmosfera de horror que envolve o espectador, em especial no último ato, recheado de elementos que seriam melhor utilizados futuramente. Obrigatório.

Depois eu comento mais filmes!

1.3.10

LA RAGAZZA CHE SAPEVA TROPPO, aka The Girl Who Knew Too Much (1963), de Mario Bava

Mario Bava dirgiu tantos filmes sem receber o devido crédito como diretor que só mesmo tendo em mãos o livro do Tim Lucas pra ter certeza o que ele realmente realizou ou não (e eu não tenho), mas é provável que este aqui seja o primeiro filme contemporâneo do diretor. Bava foi um gênio de grande influência no cinema italiano e até então só havia recriado outras épocas em seus filmes, como o terror gótico LA MASCHERA DEL DEMONIO e o peplum ERCOLE AL CENTRO DELLA TERRA.

O roteiro escrito pelo próprio Bava e outras cinco pessoas (!) para LA RAGAZZA CHE SAPEVA TROPPO é bem simples, mas consegue segurar o espectador até o último minuto com um suspense de primeira qualidade. Conta a estória de Nora Davis (Letícia Román), uma jovem america que viaja à Roma e fica hospedada na casa de uma senhora doente. Em certa noite chuvosa, após ter sua bolsa furtada, Nora bate a cabeça no chão e ainda atordoada testemunha (ou não) o assassinato de uma mulher. Com a ajuda do Dr. Marcello (John Saxon), ela tenta investigar por conta própria o mistério, sem ter a certeza se tudo não passou de uma simples ilusão, o que é mais provável para todos ao redor.

Mesmo trabalhando com algo mais próximo da realidade, LA RAGAZZA CHE SAPEVA TROPPO carrega todas as características que marcaram o cinema de Bava. É um filme que apresenta, especialmente, grande poder visual. Emoldurado por um preto e branco expressionista e de atmosfera densa, o diretor abusa de grande inventividade nos movimentos de câmera, esbanja criatividade no uso da luz e cria vários elementos que serviram de matéria prima para a criação do famigerado subgênero conhecido como giallo. Algo que seria amadurecido no ano seguinte em seu SEI DONNE PER L'ASSASSINO.

A cena em que Nora testemunha o assassinato possui uma sutileza experimental muito interessante, com a câmera distorcida e ótima edição, mostrando o delírio visual da protagonista interpretada de forma bastante segura pela bela italiana Letícia Román. Outro destaque do elenco é o grande ator americano John Saxon, sujeito subestimado em seu país e que fez mais sucesso em território europeu.

O título original e em inglês faz referência ao clássico de Alfred Hitchcock, O HOMEM QUE SABIA DEMAIS. No Brasil ficou conhecido como OLHOS DIABÓLICOS.

23.11.09

BURIAL GROUND (Le Notti del Terrore, 1981), de Andrea Bianchi

Dos filmes do fim de semana, um dos mais legais foi este clássico zombie movie carcamano, BURIAL GROUND, dirigido por Andrea Biachi, considerado um dos piores profissionais em sua área ao lado de Bruno Mattei... Mas não se preocupem com essas classificações, os verdadeiros fãs das bagaceiras à italiana vão adorar este aqui, nem que seja para dar boas risadas das situações que acabam gerando humor involuntário.

BURIAL GROUND é uma coisa linda, já está entre os meus zombie movies favoritos! A estória é bem tola, sobre três casais e um adolescente que visitam um cientista que trabalha em sua propriedade escavando e estudando alguma coisa que, pra falar a verdade, nem me recordo o que era... Só lembro que no início ele diz algo como “Sou o único que conhece o segredo!”. Mas acho que este detalhe não chega a ser muito importante na trama, já que 2 minutos depois, de volta às suas escavações, o cientista é atacado por um bando de zumbis e o tal segredo nunca é revelado no decorrer da estória . Enfim, seus convidados chegam ao local e sem muita enrolação (a não ser pra mostrar algumas cenas de sexo, o que eu chamo de uma boa enrolação) os zumbis põem-se a perseguir os personagens.

Claramente inspirado em ZOMBIE 2 de Lucio Fulci, o filme acabou recebendo o título ZOMBIE 3 em alguns lugares da Europa. Tirando várias cenas que o Bianchi chupou sem vergonha alguma do filme de Fulci, os dois filmes não possuem qualquer ligação. Inclusive, alguns anos mais tarde, o próprio Fulci deu inicio às filmagens do verdadeiro ZOMBIE 3, mas acabou finalizado pelo Bruno Mattei.

Dois detalhes geniais sobre BURIAL GROUND: primeiro, os zumbis, que possuem as maquiagens mais bizarras e mal feitas que eu já vi em algum filme do gênero. Claro que isso concede um charme muito legal ao filme, principalmente porque Bianchi faz questão de filmar com orgulho os seus zumbis em closes de uma maneira de fazer inveja ao Sergio Leone, acentuando todas as falhas das maquiagens. É bem engraçado. Os zumbis de Bianchi seguem a mesma linha de locomoção das criaturas de George Romero e Lucio Fulci, lentos e fáceis de escapar, mas possuem um nível de inteligência um pouco acima. São capazes de usar ferramentas, subir em lugares difíceis para conseguir “alimento” e em certo momento um zumbi utiliza um prego como se fosse uma arma ninja! Coisa de louco...

Apesar de tudo isso, o segundo detalhe é o que mais chama atenção em termos de bizarrice! E não tem nada a ver com os pobres zumbis. Estamos falando do adolescente do filme. Pra começar, o relacionamento no qual mantém com sua mãe é um tanto estranho, já que não é todo dia que vemos alguém com 14 anos querendo tomar leitinho quente direto do peito da mãe. Depois, o ator que interpreta o papel é Pietro Barcella (creditado aqui como Peter Bark), um sujeito muito estranho, meio anão, na época com seus 25 anos, dando a impressão de que alguém colocou a cabeça de um homem no corpo de um adolescente de 14 anos. Somando a isso a coisa do incesto, temos aí algo tão peculiar quanto os próprios zumbis do filme...

E é por essas e outras que fica impossível não adorar o cinema popular italiano!

21.11.09

CUT AND RUN (Inferno in Diretta, 1985), de Ruggero Deodato

CUT AND RUN fecha uma espécie de trilogia da selva do diretor Ruggero Deodato, se considerarmos ULTIMO MONDO CANNIBALE e CANNIBAL HOLOCAUST como trabalhos da mesma natureza. Embora este último seja o mais notório da carreira do diretor, CUT AND RUN consegue ser ainda bem mais bizarro pela miscigenação de gêneros e estilos colocados num único filme. Deodato consegue equilibrar terror, ação e aventura com a mesma atmosfera de seus cannibal movies, e ainda encontra inspiração em APOCALYPSE NOW, com direito a um coronel maluco comandando os nativos no meio da selva.

Se funciona essa mistureba? Depende muito de cada um, mas ajuda bastante se você for fã do diretor. O negócio é que é impossível ficar indiferente tendo um sujeito como Ruggero Deodato atrás das câmeras. Nunca vai ser uma simples aventura na selva e o diretor possui criatividade suficiente para realizar um filme singular, e não mais um rip off de CANNIBAL HOLOCAUST como surgiam aos montes na época. Embora tenhamos aqui um menu bem recheado para satisfazer os apreciadores de um bom cinema extremo: violência explícita, decapitações, corpos abertos ao meio, torturas, crocodilos devorando cadáveres, nudez gratuita e claro, a mídia sem muito escrúpulos... da mesma forma que em CANNIBAL HOLOCAUST.

Após uma abertura chocante, a estória inicia com uma repórter e seu cameraman em meio a uma investigação jornalística sobre tráfico de drogas em Miami. Em um dos locais investigados, todos os traficantes foram mortos misteriosamente e quando a dupla chega, encontra os corpos, o quarto revirado, e uma foto onde aparece Tommy, o filho do editor do programa para quem os dois repórteres trabalham e que estava desaparecido! Que puta coincidência! Na foto ele se está no meio da selva amazônica junto com o coronel Horne, sujeito dado como morto há anos.

Um pouco de enrolação e záz, a dupla parte para o coração das trevas da floresta Amazônica em busca de Tommy e de uma boa matéria sobre o lance das drogas. Chegando lá, dão de cara com o terror que só mesmo o mestre Ruggero Deodato sabe proporcionar. Além da grande variedade de elementos que o diretor dispõem para manter o público ligado do início ao fim, outro grande destaque é o elenco formado com alguns nomes americanos como Karen Black, Richard Lynch (interpretando o coronel) e o grande Michael Barryman, protagonizando algumas sequências com muita dose de violência. Também vale mencionar a excelente trilha sonora do brasileiro Cláudio Simonetti, que auxilia na ambientação com seus sintetizadores, além da fotografia caprichada da selva venezuelana (local onde o filme foi rodado).

Mas a grande sacada dos roteiristas é a referencia a APOCALYPSE NOW, ou melhor, a O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, representado no papel do coronel Horne e magnificamente interpretado por Richard Lynch. A cena em que o ator discursa deitado na rede tem a mesma força que as sequências de Marlon Brando no filme de Coppola, guardando as devidas proporções, obviamente, pelo amor de Deus!!!

Deodato estava atualmente com um novo projeto envolvendo canibais, selva, etc, que eu não sei exatamente que fim levou, mas parece que não vai ser levado adiante... e não sei também se isso é bom ou ruim. Por enquanto, fico com as dezenas de filmes que o sujeito realizou ao longo da carreira e que eu ainda não vi, mas já adianto que uma das experiências mais divertidas concebidas por ele é, sem dúvida alguma, CUT AND RUN!