
Os títulos mais engraçados e inusitados da história do cinema pertencem ao faroeste italiano.
VOU, MATO E VOLTO é um dos mais inspirados, uma pena que o filme não seja tanto, embora não deixe de ser um bom exemplar do gênero e vale como curiosidade, já que se trata de um dos primeiros filmes com a assinatura do diretor Enzo G. Castellari.
O inicio é excelente e abre com três sujeitos mal encarados adentrando uma pequena cidade – enquanto a população olha desconfiada através das janelas e cortinas. Do outro lado da cidade uma carroça carrega três caixões que segue na direção dos meliantes. Quando se encontram, um dos bandidos indaga sobre quem estariam naqueles caixões; um outro sujeito que vinha logo atrás da carroça responde justamente o nome dos vagabundos à sua frente e aí já tarde demais: o forasteiro é mais rápido e os três acabam comendo capim pela raiz.

Pena que o restante do filme não consegue manter a mesma intensidade da abertura, mas vale a pena continuar acompanhar a trama que prossegue agora num trem carregando 300 mil dólares em ouro. Monetero e sua gangue roubam o carregamento, mas um dos seus comparsas o trai e coloca o valioso metal num esconderijo e pouco tempo depois é assassinado antes de revelar o segredo. O único objeto que pode conduzir ao ouro é um medalhão.
A partir daqui,
VOU, MATO E VOLTO se estabelece com certas semelhansas, ainda que superficiais, a TRÊS HOMENS EM CONFLITO, de Sergio Leone. Ora, temos três personagens, rivais entre si, em busca da fortuna. George Hilton é um caçador de recompensas, o mesmo que apaga os três do inicio, temos também Gilbert Roland vivendo o perigoso bandido Monetero e Edd Byrnes como um empregado do banco cuja responsabilidade era manter o dinheiro seguro durante a viagem no trem.

O medalhão acaba sendo cortado ao meio e ambas as partes são necessárias para encontrar o local secreto. Durante essa “jornada” muita coisa acontece e por conta de um roteiro muito mal escrito o filme acaba decaindo. O principal problema é o excesso de reviravoltas envolvendo traições sem sentido entre o trio principal. É tanta picaretagem que nem o espectador consegue definir pra quem torcer nesta busca pelo ouro. E ainda em certos momentos, o filme vira um verdadeiro pastelão, com um dos personagens dando piruetas no ar com canções de circo ao fundo.
Mas vamos falar das qualidades do filme também: o elenco até que é muito bom, principalmente o uruguaio George Hilton, que está muito carismático como o caçador de recompensas misterioso e é de longe o melhor do filme. Roland e Byrns também não deixam a desejar, principalmente o primeiro que possui um rosto bem expressivo, perfeito para o papel de vilão. A trilha sonora de Francesco De Masi não chega aos pés de um Morricone, mas é boa também, com exceção das musiquinhas de circo que aparecem nas cenas de pastelão totalmente desnecessárias.

Castellari ainda não havia desenvolvido seu estilo de dirigir seqüências de ação em câmera lenta vista em vários filmes ao longo de sua carreira como ASSALTO AO TREM BLINDADO, THE BRONX WARRIORS, KEOMA, etc. Mesmo assim, as cenas de tiroteio e de luta ajudam pra quebrar o marasmo das cenas irregulares do filme, filmadas bem ao estilo padrão do Western Spaghetti que Castellari aprendeu em seus estágios como diretor de segunda unidade em filmes de baixo orçamento no início dos anos 60.