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15.7.10

OS CÃES DE GUERRA (The Dogs of War, 1980), de John Irvin

Julgar um filme pelo poster não é bom. Mas no caso de THE DOGS OF WAR, o cartaz aí em cima realmente conseguiu me enganar. Na minha cabeça tratava-se de mais uma daquelas produções de guerra recheadas de ação exagerada, tiroteios intermináveis, alta contagem de corpos e explosões a cada cinco minutos. Não é nada disso. Se quiserem algo do nível, também estrelado pelo Christophen Walken, recomendo este aqui. Ou se quiserem mais ação do diretor John Irvin, recomendo este outro aqui.

O mais próximo deste tom que THE DOGS OF WAR chega é nos último 15 minutos, e mesmo assim o diretor, que fazia sua estréia na direção para cinema, tenta manter a ação de seu filme dentro dos limites da realidade, sem os exageros habituais do gênero naquele período. Irvin dizia que pela sua experiência em filmar batalhas reais para a televisão nos anos sessenta, durante a guerra do Vietnã, possibilitou uma visão apurada de como as coisas aconteciam. E realmente, as cenas de combate são muito bem filmadas. A do final é mais voltada à ação mesmo, mas logo no início temos um belíssimo plano de um avião decolando com um bombardeio muito perto... uma visão e tanto (claro que com a fotografia genial de Jack Cardiff a coisa fica bem mais fácil)!

Mas o que sobra de filme até que chegue a ação final está muito longe de ser tempo desperdiçado. Muito pelo contrário. Estamos diante de um filmaço, autêntico representante do subgênero "Men in a Mission" com elementos de espionagem. Baseado numa obra de Frederick Forsythe, THE DOGS OF WAR conta a estória de um grupo de mercenários contratado para derrubar um ditador num pequeno país fictício africano. No elenco temos o já citado Christopher Walken como o protagonista e alguns nomes ainda desconhecidos àquela altura, como Tom Berenger, Paul Freeman e até Ed O'Neill, da série MARRIED... WITH CHILDREN.

Quando uma grande corporação decide investir em diamantes na pequena Zangaro, na África, eles enviam o ex-combatente de guerra Shannon (Walken) para fazer um reconhecimento de campo, saber a real situação do país sob o comando de um maluco que pode muito bem servir de reflexo de muitos governantes que já estiveram, e ainda estão, no poder em vários países africanos, americanos, asiáticos, etc.

Como a situação por lá anda de mal a pior, o relatório de Shannon conclui que fazer negócio com aquele país é sujeira. Aí que surge a brilhante idéia da companhia, juntamente com um outro representante político daquele país, que se encontra exilado, tão maluco quanto o que já está no poder, em pagar um grupo de mercenários, liderado por Shannon, para invadir o país e derrubar o atual presidente.

A parte burocrática do filme começa a partir daí: reuniões do grupo de mercenários, planos de guerra, compras de armamento, barco para a invasão, etc, etc, tudo detalhado de maneira bem esquemática. Algo que provavelmente no novo filme do Stallone deve acontecer em 5 minutos. Aqui ocupa quase metade da duração. Além disso, o roteiro encaixa um problema matrimonial na vida de Shannon para dar mais complexidade ao personagem.

Tudo isso torna THE DOGS OF WAR interessante, poderia ser um pouco mais enxuto, na minha opinião, mas não deixa de ser bacana a forma como Irvin faz um orgânico jogo de espionagem durante o planejamento dos mercenários, enquanto a ação não explode. O filme não deixa de ser também um inteligente retrato do poder e ditadura, se visto com mais calma. além do mais, é sempre um prazer acompanhar o desempenho de Christopher Walken, já esbanjando talento e presença em qualquer produção que encarava.

5.11.09

JOGO BRUTO (Raw Deal, 1986), de John Irvin

Dos filmes do Arnold Schwarzenegger que sempre estiveram presentes, me acompanhando durante a pré-adolescência, o único que eu ainda não havia revisto era JOGO BRUTO, um filme considerado menor na carreira do Arnoldão, mas ainda muito bom como veículo de ação para o ator. E somente este ano fui rever esta pequena pérola dos anos 80, que foi realizada entre dois filmes que obtiveram um sucesso bem maior que este aqui, COMANDO PARA MATAR e PREDADOR.

O personagem de Arnoldão é apresentado de uma forma bizarra, mas muito criativa e bem agitada, numa perseguição em alta velocidade onde dirige um jipe atrás de um policial de motocicleta! Quantas vezes você já viu um protagonista sendo introduzido ao filme perseguindo um policial? Pois então, é uma coisa linda de se ver. Mas logo depois, tudo acaba sendo bem explicado. Arnoldo interpreta um xerife de uma pequena cidade e o tal policial é apenas um sujeito que se passa por oficial para subornar os cidadãos indefesos. Uma excelente maneira de começar um filme...

Aos poucos vamos conhecendo mais a fundo a história do personagem de Arnoldão, que se chama Mark Kaminsky. Os roteiristas do filme devem ter suado um bocado para construir um personagem tão complexo: Kaminsky é um ex-policial de Nova York que quase acabou expulso da corporação por certos atos que julgou ser ético de sua parte, mas seus superiores classificaram como acima da lei. Graças a um amigo, conseguiu esse trabalho de xerife nessa cidadezinha do interior que sua mulher odeia e passa o dia inteiro bebendo e resmungando. Pobre Arnold...

Enfim, esse mesmo amigo que o ajudou num momento difícil, agora volta a entrar em contato com Kaminsky para que lhe retribua o favor. O filho desse velho amigo, que também era policial, foi morto enquanto protegia uma testemunha de um processo judicial na qual prejudicaria uma organização mafiosa, então ele oferece ao personagem de Arnoldo uma chance de ter seu velho emprego na cidade grande de volta. Basta que ele se disfarce de bandido, se infiltre entre os mafiosos e descubra os responsáveis pela morte do filho do amigão. Claro que isso é mais uma missão de vingança do velho do que qualquer outra coisa, mas também é uma oportunidade para que o protagonista dê um novo rumo à sua vida.

Kamisnky aceita, claro, mas antes ajeita alguns pequenos detalhes: finge sua morte, pinta o cabelo e muda o penteado, cria uma nova identidade, etc, essas coisas todas que sempre vemos nos filmes. Adota o nome falso de Joseph P. Brenner e voilà, temos aí um infiltrado na máfia pra nenhum defensor de CONFLITOS INTERNOS botar defeito! E o sujeito vira um casca grossa, chama a atenção ao brigar no cassino da gangue rival, é contratado e logo passa a conquistar a confiança de seus chefes. Só pra ter uma noção de como o sujeito é graúdo, em uma cena um sujeito desconfiado lhe pergunta “Josheph P. Brenner... What’s the “P” stand for?” e eis a resposta: “Pussy”.

Er… é um diálogo realmente muito bem bolado!

Um dos roteiristas de JOGO BRUTO se chama Norman Wexler. É interessante conhecer um pouco sobre esses caras pra tentar entender o gênio que existe na cabeça deles. Wexler, por exemplo, foi considerado promissor entre os roteiristas americanos no inicio da década de 70. Em 1972 foi preso por ameaçar matar Richard Nixon (!!!) e em 1974 quase recebeu um Oscar pelo roteiro de SERPICO. Enfim, são curiosidades fúteis, mas ajudam a conhecer os responsáveis por um diálogo como aquele ali em cima.

O diretor John Irvin, hoje praticamente esquecido (e com razão, já que não faz nada muito interessante há um bom tempo) deu sua contribuição para o cinema de ação dos anos oitenta em filmes como DOGS OF WAR, com o Christopher Walken. Faz um bom trabalho por aqui também, sem dúvida, mas convenhamos, o grande destaque é o Arnoldão (outra grande figura que aparece em cena é o Robert Davi, como o mafioso desconfiado, sempre tentando atrapalhar o disfarce de Kaminsky).

O Arnoldo foi um sujeito que conseguiu fazer umas boas escolhas durante a carreira (tirando algumas comédias chatas dos anos 90 e alguns dos últimos filmes que fez) e um sujeito que tem no currículo CONAN – O BÁRBARO, os dois EXTERMINADORES, O VINGADOR DO FUTURO, COMANDO PARA MATAR, O SOBREVIVENTE e PREDADOR, merece mais respeito daqueles que dizem que ele é apenas uma montanha de músculo que não sabe atuar (ok, ele não sabe, mas pelo menos é um gênio na escolha de seus personagens). JOGO BRUTO também merece mais destaque. Não é tão consistente quanto seus outros filmes do mesmo período, mas a diversão é garantida.