10.9.08

DON'T LOOK NOW (1973)

aka INVERNO DE SANGUE EM VENEZA
direção: Nicholas Roeg
roteiro: Allan Scott, Chris Bryant

Provavelmente, a cena mais interessante do horror UM INVERNO DE SANGUE EM VENEZA não é de suspense, tensão ou algo do tipo. É a sequência onde o casal vivido por Donald Sutherland e Julie Christie fazem amor. O primoroso trabalho de edição intercala planos que mostram o durante e o depois do coito, causando um efeito curioso somado à veracidade sexual que os atores depositam na cena. Na época do lançamento, acreditava-se que os dois efetivamente haviam transado. A cena é um encaixe estranho à narrativa. É o único momento de calmaria pelo qual os protagonistas atravessam durante o filme – embora cause uma sensação nervosa - que é um dos exemplares de horror psicológico que mais me impressionou nos últimos tempos.

Desde o início, quando o restaurador John Baxter (Sutherland) está trabalhando, observando alguns slides de fotos de uma igreja italiana junto com sua esposa Laura (Christie) enquanto seus filhos brincam nos arredores da casa, nas paisagens campestres da Inglaterra, o que aparenta conforto na verdade é uma aula de construção atmosférica de suspense. Tudo é mostrado e montado de uma forma muito intensa e cada detalhe prepara o espectador para o que está por vir. A filha do casal, usando um casaco vermelho, brinca jogando uma bolinha em volta de um lago, seu pai sente que algo ruim está acontecendo e sai em direção ao local encontrando a menina afogada numa sucessão de imagens expressionistas que culmina com o grito angustiado de horror de Donald Sutherland com a filha morta nos braços.

 

O filme é subitamente transportado para Veneza, algum tempo depois. John Baxter está restaurando as imagens sacras de uma igreja e sua mulher o acompanha pela cidade entrecortada pelos canais, com suas ruas estreitas, prédios antigos e a atmosfera natural acinzentada pelo clima de inverno. Perfeito cenário onde se passa o restante do filme, no qual o diretor britânico Nicholas Roeg estabelece com um ritmo lento o desenvolvimento de uma misteriosa história. O suspense é trabalhado cuidadosamente nos ambientes e em elementos estéticos, como a cor vermelha do casaco da filha, que passa a servir de metáfora para acentuar o tom sobrenatural que entra em cena com duas irmãs (uma delas cegas) já senhoras de idade.

A cega é uma médium que diz ter visto o espírito da menina entre o casal num restaurante. Laura começa a se sentir bem com isso e passa a acreditar nas duas senhoras. É o momento nos leva a cena de sexo entre o casal. Mas John é cético e não acredita, “Nossa filha está morta! Morta!”. A atuação de Donald Sutherland dá bastante vigor ao filme, com seus olhos expressivos, enquanto é engolido pelos mistérios de Veneza. Vários acontecimentos estranhos iniciam a partir de então para contribuir com o clima de suspense, como a cena do acidente na igreja, a visão de John do barco fúnebre (que ultrapassa os limites do tempo numa inovadora sacada cronológica) e as aparições de uma figura pequenina usando um capuz vermelho vagando pelas ruas noturnas da cidade.

Existem vários outros momentos que vão desde o aterrorizante até o perturbador que acompanham o espectador até o desfecho de UM INVERNO DE SANGUE EM VENEZA. Um filme realmente fascinante pela construção inspirada de um clima de horror que trabalha o psicológico do publico e pelo estilo visual que influenciou vários diretores. E lógico, como não poderia ser diferente, apesar da forma misteriosa como foi filmada, a cidade de Veneza acaba se tornando um desses lugares obrigatórios para se visitar algum dia...

12 comentários:

  1. Faz tempo que quero ver esse filme... uma vez aluguei a fita e ela não funcionou. Depois acabei esquecendo... obrigado por me lembrar dele!
    Um abraço

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  2. Aê Ronald, passando pra avisar que tá rolando um especial James Dean no Multiplot!. 32 textos, de 9 a 30 de setembro, sobre como a juventude vem sendo abordada através das décadas, sobre outros jovens talentos mortos prematuramente e, é claro, sobre o eterno rebelde sem causa. Tá só começando, Passem lá!

    http://multiplot.wordpress.com/2008/09/09/especial-james-dean/

    Um abraço!

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  3. Aê Ronald, passando pra avisar que tá rolando um especial James Dean no Multiplot!. 32 textos, de 9 a 30 de setembro, sobre como a juventude vem sendo abordada através das décadas, sobre outros jovens talentos mortos prematuramente e, é claro, sobre o eterno rebelde sem causa. Tá só começando, Passem lá!

    http://multiplot.wordpress.com/2008/09/09/especial-james-dean/

    Um abraço!

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  4. Ih caramba, achei que tinha travado aqui e acabei clicando umas quinze vezes, hahaha, foi mal

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  5. Hehe, tudo bem...
    Pode deixar que vou acompanhar o especial James Dean, com certeza!

    Abraço!

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  6. Esse é obra-prima.

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  7. A bom, por isso q tem varios comentarios aqui! Um cara comenta 3 vezes a mesma coisa!
    hauhauhauahuahuahuahuah
    E nao tenho vontade nenhuma de ver esse filme!

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  8. Vi na semana passada. Muito bom, é inteiramente bem-construido. P desfecho é de arrepiar, aquela cena final não me sai da cabeça...

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  9. Um de meus muitos pecados como cinéfilo é nunca ter visto esse filme. Meu favorito do Roeg é O HOMEM QUE CAIU NA TERRA. Estou aqui com WALKABOUT, BAD TIMING e MALÍCIA ATÔMICA pra ver. ;)

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  10. E esse foi o único que eu vi dele, Osvaldo... mas depois de Inverno de Sangue, pretendo ver mais coisas.

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  11. fodao esse filme.

    O outro filme q eu vi do Roeg é o CLASSICO, CONVENÇÃO DAS BRUXAS! QUEM NAO VIU ESSE PORRA!

    Cena de sexo é linda.

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