Hoje estréia o novo filme de Scorsese, mas não sei se vou assistir. É um dos filmes mais aguardados por mim este ano e estou muito ansioso para vê-lo, ao mesmo tempo em que me bateu uma preguiça danada de ir ao cinema lotado, cheio de adolescentes irritantes. Enfim, mas não é sobre isso que eu gostaria de falar, tendo em vista o título do post, mas sobre este belíssimo filme do australiano John Hillcoat. Em A PROPOSTA, western poético e existencialista, o estilo lúcido e ousado do diretor demonstra que o sujeito possui uma veia para temas não muito comuns relativos ao gênero pelo qual estava subjugado. O western era apenas um palco para tratar de assuntos mais profundos, embora fosse um autêntico western de primeira qualidade com todos os seus elementos definidos. Cheguei a mencioná-lo na minha lista de filmes notáveis da década passada. Em seu novo trabalho, THE ROAD, Hillcoat ataca novamente seguindo à risca sua cartilha própria, contextualizando a estória num cenário pós-apocalíptico, com a mesma poesia visual de seu filme anterior. O roteiro foi adaptado a partir da obra de Cormac McCarthy, o mesmo que escreveu ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, e narra a trajetória de um homem (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) tentando sobreviver ao mundo devastado por catástrofes naturais e à grande maioria da população remanescente que driblou a falta de alimento tornando-se adepta a antropofagia. A possível superficialização dessa trama não ia deixar de ir ao encontro de elementos bem mais densos para expor o estado de espírito dos personagens tendo um diretor como Hillcoat no comando. O trailer vendia o filme como uma aventura de ficção, mas não é esse tipo que teremos aqui. Numa das minhas definições mais cretinas, THE ROAD pode ser alguma coisa entre MAD MAX 2, de George Miller e STALKER, do Tarkovsky. Embora o diretor fuja da ação mesmo com a iminência constante dos protagonistas se depararem com o mal (e que até rendem boas sequências), Hillcoat não deixa de buscar a emoção de outras maneiras, como na bela relação entre pai e filho. Depois que começou a trabalhar com o Cronenberg, Viggo Mortensen vem conseguindo performances bem interessantes e o garotinho é um achado. Ainda no elenco, participações da Charlize Theron, Robert Duvall e Guy Pearce. Muito ajudam na concepção da atmosfera a fotografia acinzentada do espanhol Javier Aguirresarobe, a trilha sonora dos “Bad Seed’s” Nick Cave (que escreveu o roteiro de A PROPOSTA) e Warren Ellis, e claro, a lenta e sublime direção de Hillcoat, contando uma estória à moda antiga, sem precisar apelar para efeitos especiais, com uma força cinematográfica impressionante.
pô, que maravilha, provavelmente vou gostar muito desse filme!
ResponderExcluirPelo visto é coisa fina. Preciso rever " A Proposta", não tinha curtido muito quando vi.
ResponderExcluirFilmaço, no top fácil dos melhores de 2010. é o filme underated de 2010. Vai acontecer o mesmo que rolou com Filhos da Esperança. Pouca gente viu, ninguém distribuiu direito e as pessoas foram gostando pelo boca a boca.
ResponderExcluirPreciso fazer uma sessão dupla com o A Proposta e The Road, ambos parecem excelentes!
ResponderExcluirSobre o "Filhos da Esperança" é um filme que gostei muito e realmente pouca gente conhece.
Um filme que rola um lance de canibalismo para o pessoal sobreviver é o Ravenous (1999), um horror ambientado na guerra civil, não vi ainda, mas me parece interessante.
Também gosto muito de Filhos da Esperança e daqueles impressionantes planos longos...
ResponderExcluirO lance do canibalismo em The Road não é tão explorado quanto em Ravenous, aqui surge apenas como ameaça, mais um elemento para criar tensão. Mas é uma boa lembrança, com certeza.