5.10.09

ANTICRISTO (Antichrist, 2009), de Lars Von Trier


Taí o novo filme do Lars Von Trier, esse dinamarquês maluco que sempre divide as opiniões do público diante de suas obras. Infelizmente não estreou nos cinemas daqui, então tive de apelar mesmo para os meus recursos do submundo, mas tudo bem. E se minhas expectativas estavam lá em cima com todo o bafafá que quase sempre rola com seus filmes, tudo se superou! Las Von Trier só confirma que ainda é o grande diretor que eu enxergava em seus filmes anteriores e ainda possui a mesma facilidade de me surpreender com poder de suas imagens.

Segundo o diretor, o roteiro de ANTICRISTO foi desenvolvido apenas como um exercício de escrita, depois de ter passado por uma forte crise de depressão. A influencia de seu estado de espírito no processo criativo é muito forte: ele explora o gênero do terror psicológico para narrar a estória de um casal que fica arrasado com a morte do filho pequeno e acaba se refugiando em sua cabana isolada no meio da floresta, a qual é chamada de Éden, como tentativa de curar as dores da perda, principalmente a mulher, extremamente traumatizada e com sentimento de culpa pelo ocorrido.

É meio complicado, pra mim, falar sobre ANTICRISTO e com certeza eu não vou ter nada a acrescentar sobre tudo que já foi dito. É um desses filmes extremamente rico em metáforas, aberto a interpretações, onde cada elemento em cena serve de alegoria para algo mais profundo e reflexivo. O tom de pesadelo é constante na floresta onde grande parte da trama se passa – filmada com a impressão de que a qualquer momento os personagens serão destroçados pela força da natureza. É um cenário de vida própria que participa como um personagem, com uma atmosfera carregada de simbolismos que me deixou arrepiado do inicio ao fim.

É até curioso que Trier dedique o filme ao diretor russo Andrei Tarkovsky. Em O ELEMENTO DO CRIME, primeiro longa do dinamarquês, eu já havia suspeitado que a principal influência dele seria mesmo o diretor de STALKER. Este último filme, aliás, parece ser a maior referência do diretor em ANTICRISTO com a psicologia e metafísica do embate entre o homem e a força da natureza.

Esqueçam totalmente a câmera que treme mais que vara de bambu de seus filmes anteriores. A direção do homem aqui é ótima, com pleno cuidado dos planos, sóbrios movimentos de câmera e um rigor estético impressionante. A câmera só treme em certos momentos, quando há a necessidade. Engraçado que este seja o primeiro filme que ele realizou sem tocar na câmera, pois, segundo ele afirma, ainda não se sentia preparado. Então tomara que continue despreparado sempre, porque é o trabalho de direção mais criativo de sua carreira.

Também chama a atenção a maneira como os atores se entregam ao projeto. A narrativa acompanha apenas Willen Dafoe e Charlotte Gainsbourg em seus personagens sem nomes, fazendo alusão a Adão e Eva no jardim do Éden, e eles mandam muito bem. Como é bom ver o Dafoe sendo bem aproveitado! Já Gainsbourg está perfeita! É incrível como o diretor consegue extrair atuações poderosas de suas atrizes, basta lembrar de Emily Watson em ONDAS DO DESTINO, Bjork em DANÇANDO NO ESCURO, ou até mesmo a Nicole Kidman no seu melhor momento em DOGVILLE. E Gainsbourg não fica atrás de nenhuma delas. A carga dramática que o Lars Von Trier coloca sobre o casal é muito pesada e não é qualquer ator que deve aguentar...

E muito se falou das cenas de violência gráfica, sexo explícito, detalhes que os críticos desaprovam acusando o filme de polêmico. Tais cenas são muito bem inseridas no contexto visceral das últimas conseqüências do enredo e não possuem nada de gratuito. Mas servem pra causar o choque também, oras! O que há de mal em um choque visual de vez em quando? Lars Von Trier é subversivo, um provocador. No epílogo de ANTICRISTO, por exemplo, todo mostrado em câmera lenta, lindamente fotografado num preto e branco, ele quer mesmo que os puritanos abandonem as salas e que permaneçam apenas seus admiradores e aqueles com a mente mais aberta para este tipo de experiência visual. Pode até ser que ache o filme uma merda, mas indiferente não dá pra ficar. Eu adorei.

8 comentários:

  1. Eu gostei do filme, mas não fiquei encantado. Até já comentei isso no meu blog e talvez seja uma comparação torpe, mas eu acho o Audition do Takashi Miike levemente semelhante em alguns aspectos, porém muito melhor.

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  2. Eu não gostei tanto quanto eu esperava, mas , como bem disseste, o filme é muito, muitíssimo VÁLIDO! Os traços trierianos estão lá, o elenco está ótimo, tudo lindo e o final é , de fato, impactante, mas... Eu tenho uma relação pessoalmente complicada com as (des)crenças psicanáliticas, por isso, achei insossas algumas seqüências irônicas. Mas, repito: o cara é um gênio descarado e o filme fica na cabeça... Mesmo que o bafafá sobre ele, como quase sempre, esteja inocrrendo nos motivos errados... Chuif, chuif!

    PS: teu blog é divino! Ou satânico, sei lá!
    WPC>

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  3. Ronald achei que você não ia gostar lendo o seu blog todo (coisa que eu fiz rsrs).

    Interessante essa diversidade de idéias que o Von Trier consegue passar.

    Pessoalmente não gosto dos trabalhos do cara, mais esse eu "desgostei" menos digamos assim.

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  4. Eu adoro os filmes dele. Mas este aqui é o melhor.

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  5. Tenho uma relação de amor e ódio com Von Trier (com os filmes dele, bem entendido hehehe). Alguns eu detesto, casos de Os Idiotas e Dogville, outros adoro, como Ondas do Destino e Manderlay. Deste gostei bastante. Belo texto!

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  6. Ja eu achei terrivel, haha. É aquela coisa da metafora em detrimento da imagem que eu sei que muitos nao concordam, mas que é só o que o Von Trier consegue me passar, fazer o que. (e ja que citaram filmes por associaçao, pra mim Anticristo se aproxima bastante de A Hora do Lobo, embora eu ache que vou pro inferno por coloca-los na mesma frase)

    Escrevi umas bobagens a respeito, pra quem quiser perder tempo pus o link direto no meu nome.

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  7. Defendo minha posição: esse filme entrou pra História!

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  8. Dos jogos criados em seus filmes, esse parece ser o mais bem resolvido. Os filmes dele sempre parecem orbitar em três planos: a estória contada, o jogo criado para formatar o filme e os conceitos de relatividade comportamental e social dele. Esse por ser criado num momento de depressão é o melhor resolvido na minha opinião. Assisti duas vezes(pois perdi o prólogo) e como as coisas estão encaixadas dentro da história. Nada é gratuito e a abertura para conceitos é quase infinito. Está tudo na cabeça ou é a natureza (humana?).É bom quem incomode ainda.

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