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aka BLINDNESS
direção: Fernando Meirelles
roteiro: Don McKellar
Resolvi falar alguma coisa sobre Ensaio Sobre a Cegueira antes que eu deixe o tempo passar demais e perca qualquer condição de escrever sobre o filme que, aliás, está sendo meio massacrado injustamente por um grupo de críticos. Não sou lá um grande entusiasta de Meirelles, mas achei a sua adaptação da obra de Saramago bastante correta, segura, respeitando fielmente o material que tinha em mãos e que dialoga um bocado com o cinema fantástico. As escolhas estéticas conseguem transmitir muito bem a sensação de caos que a história apresenta, principalmente a fotografia de César Charlone, colaborador habitual de Meirelles, que trabalha o branco e a luminosidade das imagens para recriar a cegueira branca descrita por Saramago em seu livro.
O elenco composto por atores de Hollywood e de outras partes do globo é muito bom, com exceção de Julianne Moore que está a um nível acima, maravilhosa em uma de suas melhores atuações. Mas nem só de estética e boas atuações vive um filme. E por mais que eu tenha gostado, Ensaio Sobre a Cegueira não passa de um rascunho de algo que poderia ser muito mais interessante, provocador e perturbador. Ao suavizar as situações e os momentos que no livro causam repugnância e o choque, Meirelles impede a descida ao inferno que o livro proporciona deixando o filme mais acessível e comercial. Sendo assim, prefiro rever Saló de Pasolini que eu ganho muito mais...