Neste segundo trabalho como diretor, Paul Schrader volta o seu olhar novamente para a sociedade underground urbana, assim como já fizera em alguns de seus melhores roteiros para outros diretores, como TAXI DRIVER, de Scorsese, e ROLLING THUNDER, de John Flynn. Particularmente, prefiro estes dois citados, mas HARDCORE é um esforço notável, tem momentos de grande força e é controverso na medida certa.
Uma questão negativa - que vou comentar a seguir - reside justamente em um de seus grandes trunfos: George C. Scott. O ator entrega uma puta interpretação na pele de um calvinista que vive em uma pequena cidade do centro-oeste americano com sua filha adolescente. Em determinado momento, ela sai a um encontro religioso aos arredores de Los Angeles. Poucos dias depois, Scott recebe uma ligação informando que sua filha desapareceu.
Sem saber muito que fazer, o protagonista vai até Los Angeles, fala com a polícia, o qual não oferece muita ajuda, mas sugere que ele contrate um investigador particular. Entra em cena o ótimo Peter Boyle, vivendo um detetive maluco que diz que vai encontrar fácil a filha. Em pouco tempo, Boyle aparece com um rolo de filme 8mm que contém um curta pornô vagabundo no qual a filhotinha do calvinista desempenha o papel de protagonista contracenando com dois rapazes ao mesmo tempo.
Pela reação de George C. Scott, dá pra perceber que ele não curtiu a estréia da filha em Hollywood. Essa cena aliás, constitui algo de magistral na atuação de Scott. O detetive informa que é praticamente impossível rastrear este tipo de filme, que seria passado em cabines por 25 centavos. Mas o velho não quer nem saber e desce sozinho ao submundo para encontrar a filha. Veste-se como um diretor de filme pornô, faz conexões com prostitutas e figuras estranhas, circula pelos cantos mais obscuros dos centros urbanos, assiste a snuff movies, etc...
A "questão" que eu disse ali em cima em relação ao George C. Scott seria as diversas brigas e diferenças de opiniões entre o ator e o diretor. Este último havia planejado um filme ainda mais pesado e pessimista e teve de mudar o roteiro para fazer a vontade de Scott, este sob a ameaça de abandonar a produção. Mas isso não tira o brilho de HARDCORE, que deveria ter feito o Joel Schumacher sentir vergonha na cara com o seu 8MM se comparado com a magnitude deste trabalho do Schrader.
Além disso, HARDCORE tem caráter pessoal para o diretor, que recebeu educação calvinista e sofreu barbaridades por conta disso. Nada melhor que expressar suas experiências colocando um personagem calvinista (reflexo de seu pai) que desafia suas crenças e compromete seu lugar no paraíso em busca de sua filha.Visualmente, Schrader permanece influenciado pelas composições estéticas cruas e realista do cinema de Martin Scorsese daquele período. A fotografia do competente Michael Chapman, que já havia feito TAXI DRIVER, o que ajuda bastante nessa semelhança, colhe com êxito alguns instantes expressivos.
Depois da ótima estréia na direção em VIVENDO NA CORDA BAMBA, nada melhor que um verdadeiro Filmaço com F maiúsculo para assegurar Schrader na carreira de diretor. E que venha AMERICAN GIGOLO.
Conseguiste chamar a minha atenção. Vou procura-lo.
ResponderExcluirPela sua descrição parece ser um filmaço. Teve distribuição nacional ou só por download mesmo?
ResponderExcluirLembro que foi lançado em VHS... não sei se chegou em DVD por aqui.
ResponderExcluirNão sabia desta divergência entre Scott e Schrader, mas mesmo assim é um ótimo filme que vai fundo no mundo da pornografia e do hardocore em Hollywood.
ResponderExcluirAbraço
American gigolo tbm é um filmaço!!eu o assisti no tele cine cult faz algum tempo.
ResponderExcluir"Gigolô Americano" tem os melhores travellings do cinema, ao lado de alguns do Öphuls.
ResponderExcluirRonald, bem off topic:
ResponderExcluirRecém vi Police Story com Jackie Chan, logo no início do filme tem uma cena de perseguição em uma favela onde os caras atravessam os barracos com os carros fazendo a maior destruição...
Certamente foi uma "inspiração" para o ato final de Bad Boys II, onde tem uma cena chupada com uma perseguição dentro de uma favela, onde os carros atravessam os barracos causando a maior destruição também.
Só que muito mais destruição e explosões (graças a um orçamento obeso), mas é praticamente a mesma cena.
Fica aí a dica.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirValeu a dica, mas eu já vi Police Story e Police Story 2, que é tão excelente quanto o primeiro. Preciso ver agora o terceiro...
ResponderExcluirAssisti ontem. Gostei demais, só que poderia ser menos casto, limpinho.
ResponderExcluirAssisti sábado filmaço!!
ResponderExcluirDeixa o 8mm no chinelo!!
ótimo e recomendado!!