6.1.11

TRON: LEGACY (2010), de Joseph Kosinski

TEXTO COM SPOILERS
Chegando em casa, após a sessão, meu primeiro ato foi baixar a trilha sonora da dupla  francesa Daft Punk criada para TRON: LEGACY. É simplesmente a coisa mais legal do filme, me lembrou Vangelis, e quando incorporadas às imagens do filme, que possuem um visual magnífico, cuja estrutura básica remete diretamente à estética do primeiro, cria uma experiência sensorial bem interessante... mas falando assim fica a impressão de que eu achei o novo TRON o máximo! Não é bem assim, mas está longe de ser ruim. Suas principais virtudes são essas que já apontei, um visual caprichado de encher os olhos, embora não traga nenhuma novidade para o cinemão de hoje, e a trilha sonora de encher as orelhas. Existem outras qualidades, claro, assim como existem alguns problemas...

Mas antes de entrarmos nos detalhes, vamos ao momento nostalgia! TRON, de 1982, foi um dos filmes mais impressionantes que meus olhos de menino contemplaram na época em que ainda se tomava Biotonico Fontoura. Era desses eventos no qual eu parava tudo que estivesse fazendo e sentava em frente à TV nos tempos áureos da Sessão da Tarde. E ficava ali acompanhando a história do sujeito que foi sugado para dentro de um computador e os programas, vírus e etc são figuras humanas, vivas, se comunicam e lutam entre si participando de jogos mortais como frisbee e “corrida” de moto, fora o visual sensacional de luzes de néon...

A trama era de uma ingenuidade deliciosa. Mais tarde, quando revi, é que percebi que a pretensão do filme era com o pioneirismo em efeitos de computação gráfica (que ainda hoje me surpreende) e que algumas seqüências são bem chatas e mal resolvidas por não ter um enredo mais elaborado, no entanto, isso não teve a menor importância pra mim naquela época e nem hoje. Adoro o filme ainda pela sua importância tecnológica e a sensação nostálgica que ele me proporciona, mesmo com a premissa bobinha de um cara que entra num computador (e que na época não era tão boninha assim...).

28 anos depois chega aos cinemas TRON: LEGACY, que os realizadores tiveram o bom senso de fazer como uma continuação do filme de 82, ao invés de refilmar, algo que Hollywood vem  se especializando nos últimos anos. Desta vez, o herói é Sam Flynn, retratado logo no início do filme como uma criança da minha geração (o personagem tem a minha idade, pra ser exato), que viveu a essência do anos 80 como uma criança e ainda muito cedo viu surgir todas aquelas novidades tecnológicas da época, hoje obsoleta para quem nasceu depois de 89 ou 90. Seu pai é ninguém menos que Kevin Flynn, o protagonista do primeiro filme, vivido por Jeff Bridges, que na trama está desaparecido há 20 anos.

Então temos aqui um protagonista inédito, muito original... um jovem muito rico, que não precisa de trabalhar, herdeiro de uma empresa multimilionária e de repente acaba tendo que lutar contra o mal. Ok, não é nada original... aliás, durante todo o decorrer do filme, tive a sensação de estar vendo uma mistura muito louca de várias coisas, como BATMAN, MATRIX, STAR WARS, BLADE RUNNER, 2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO e o próprio TRON de 1982, algo inevitável, eu sei, mas não esperava tão chupado. Várias seqüências e situações ocorrem da mesmíssima maneira que no primeiro filme e não demora para este aqui se ficar tão cansativo e chato quanto o outro em alguns momentos.

Mas TRON é único por um determinado motivo. Em filmes como MATRIX, A ORIGEM, SURROGATES, e outros, a pessoa física fica parada, deitada ou sentada em determinado lugar “controlando” esse outro “eu” feito de seja lá o que for e que se encontra dentro de um espaço virtual, sonho ou até mesmo no mundo físico. Em TRON, a pessoa é literalmente transportada em carne e osso para dentro do computador!!!

Uma explicação lógica pra isso? Não existe e o filme não faz a mínima questão de tentar explicar... quero dizer, no primeiro filme tentam sim, mas não convence. Ninguém vai me fazer acreditar que um raio laser vai me transportar pra dentro do meu computador onde eu vou ter que me virar lutando com os vírus e programas em forma humana. Mas num filme sem qualquer compromisso com a realidade, isso é muito bacana! Especialmente quando tudo isso é mostrado de forma visual, com cenas de ação empolgantes, mesmo quando voltam a repetir as mesmas batalhas de frisbee e motoca do primeiro filme. A partir de certo ponto, muita coisa começa a ficar repetitiva na própria estrutura narrativa. A missão novamente é chegar até o portal para que eles possam sair do computador e atravessam vários caminhos que já assistimos no original. Claro que há novas idéias, como Clu, programa criado por Flynn e que é a sua própria versão com rostinho de 20 anos atrás e é também o grande vilão da história. Mas basicamente, a trama é tão ingênua quanto aquela de 28 anos atrás, só que sem a surpresa visual. É bem bonito esteticamente, sem dúvida, respeitando o visual original com o mesmo padrão de luzes de néon pra todoso os lados, só que de forma mais sofisticada, mas não vai revolucionar o mundo dos efeitos visuais, então podiam dar uma trabalhada no roteiro. Né? Ou eu estou sendo chato demais?

Bom, se estiver sendo, vou ser mais um pouco. E aqui está um dos principais motivos por eu ter me decepcionado: que participação de merda essa a do personagem que dá seu nome ao título do filme?!?! Tron era o verdadeiro herói do original! Enquanto Flynn tentava chegar ao portal improvisando, já que se gabava por ser usuário e não um programa, era Tron quem dobrava as mangas e caía matando em cima dos inimigos. E era demais vê-lo lutando e estraçalhando seus oponentes com seu disco de frisbee... o que fizeram com ele aqui? Transformam num vilão controlado por Clu com um capacete que esconde o rosto. Até aí tudo bem, tirando que eu já tinha matado que este sujeito de capacete era Tron bem antes da revelação definitiva, passei o filme inteiro achando que em algum momento ele voltaria ao normal e desceria o cacete nos bandidos à moda antiga! Mas não... o grande herói do primeiro filme tem um destino dos mais frustrantes que eu já vi. 

Mas voltemos a falar de coisas legais. Clu é uma delas. Além de ser um ótimo vilão, com um momento “Hitler”, é impressionante o trabalho de recriação das expressões do ator Jeff Bridges há vinte anos atrás... ainda percebe-se que se trata de um boneco digital em vários momentos, mas estamos caminhando... prevejo um filme estrelado por Charles Bronson ou Lee Marvin em um futuro próximo. Brincadeira, não gostaria que isso acontecesse... embora a possibilidade já seja evidente. Já o Jeff Bridges atual, o verdadeiro, está bem repetindo seu papel, puxando umas frases meio lebowskianas que dão um toque de humor inesperado.

Apesar de reclamar de alguns pontos, principalmente ligados à trama e algumas escolhas do roteiro, preciso admitir que essa estupidez toda foi um experiência bem divertida de assistir. Já percebi que acabei gostando mais do que a grande maioria do amigos... de novo, como aconteceu com OS MERCENÁRIOS... mas fazer o que se eu sou tolerante pra burro e me divirto com quase tudo? Tá certo que TRON: LEGACY realmente não tem o suficiente para receber uma chuva de elogios (nem mesmo um texto desse tamanho), mas gostei.

E voltando ao primeiro parágrafo, talvez a grande sacada do filme seja mesmo a trilha sonora do Daft Punk, com suas composições eletrônicas e orquestradas que praticamente regem o ritmo do filme, não apenas acompanham as imagens, mas realmente elevam o nível da obra a um patamar mais alto do que seria se tivessem utilizado uma trilha genérica qualquer... As melhores sequencias de TRON: LEGACY são aquelas soltas e curtas, que não tem nada a ver com a trama, quando as palavras são abandonadas e apenas se coloca na tela algumas imagens, às vezes abstratas, com a música da dupla... Essas cenas me deixavam mais ligados do que as próprias sequências de ação.

E não escrevo isso tentando fazer alguém mudar de opinião, mas cenrtos momentos realmente mexem com os meus sentidos e eu preciso deixar isso registrado. TRON: LEGACY passa raspando acima da média como um sci-fi de ação, é melhor do que muita coisa lançada no ano passado e nao passa vergonha pela responsabilidade de ser uma continuação de TRON. Já como experiência sensorial, tem seus momentos de brilhantismo... literalmente.

3 comentários:

  1. ótimo texto !

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  2. É o que eu penso do filme. Não passa de um cartoon dos anos 80, burro e movimentado, nada mais, nada menos. Como no orignal, não existe a menor preocupação em tentyar explicar a lógica daquele mundo. Não perca tempo com esses detalhes e divirta-se.

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  3. Não é nem sombra do original, mas vale como entretenimento e pelo carisma do Jeff Bridges. Teve gente reclamando no cinema quando eu fui ver o filme que nem a Olivia Wilde nua o diretor usou pra salvar o filme. Pra você ver o que o público achou da película!

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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