30.9.09

VAMOS A MATAR, COMPAÑEROS (1970), de Sergio Corbucci


Eis aqui um belo exemplar comprovando o que muita gente fala, mas poucos acreditam. Sergio Leone merece ser reconhecido como um gênio do spaghetti western, mas não só ele! Existe uma lista de bons nomes que mereciam estar no topo junto com o diretor de ERA UMA VEZ NO OESTE, mas geralmente são esquecidos pela crítica e pelos cinéfilos mais jovens (aliás, os cinéfilos mais jovens se interessam por cinema popular italiano?).

Sergio Corbucci é um desses renegados e VAMOS A MATAR COMPAÑEROS é uma das mais fundamentais obras do gênero! O filme é também um perfeito representante do Zapata Western, uma ramificação dentro do Spaghetti Western, tratando de assuntos mais políticos que exploram a revolução mexicana. Outro bom exemplo deste sub-sub-gênero é QUANDO EXPLODE A VINGANÇA, do Leone.

VAMOS A MATAR COMPAÑEROS apresenta o traficante de armas sueco Yolaf Peterson (Franco Nero!) que chega ao vilarejo de San Bernardino com um vagão de trem lotado de armas e munições para vender aos revolucionários comandados pelo general Mongo (Francisco Bódalo). O problema é que o dinheiro para o pagamento das armas está trancafiado dentro de um cofre de ultima geração impossível de ser aberto sem a combinação correta. Todas as pessoas que sabiam já estão comendo capim pela raiz, a não ser o professor Xantos (Fernando Rey), um outro líder revolucionário, diferente de Mongo, idealista, sempre pregando a paz e que está preso em um forte em território americano. Seus seguidores não utilizam armas e buscam fazer a revolução através de medidas pacíficas, algo que não tem dado muito certo até então.

O sueco propõe "resgatá-lo" em troca de uma boa quantia de dinheiro e conta com a companhia de Vasco (Tomas Milian!), soldado de Mongo, um tanto estúpido, mas bastante afoito e rápido no gatilho. Partindo dessa premissa, Corbucci conduz a incrível jornada destes dois personagens cheia de aventuras, contratempos, tiroteios enfrentando o exército americano, os federais mexicanos e até mesmo um grupo de mercenários liderado pelo insano John (Jack Palance!!!), e que possui contas do passado a serem acertadas com o sueco.

Já dá pra perceber que um dos pontos fortes do filme é o elenco composto de feras do cinema europeu, mas quem merece um destaque a parte é o americano Jack Palance (que teve bastante presença no cinema popular do velho continente) com uma atuação magnífica. O que sobra é um dos vilões mais marcantes do western italiano. O sujeito veste uma capa preta, tem o cabelo bagunçado, é viciado em maconha, possui um falcão altamente treinado e uma mão de madeira (a de carne seu próprio falcão devorou para salvá-lo de uma crucificação causada pela traição do suíço). Coisa de louco!

Milian e Nero também não fazem feio. Os dois possuem uma química estranha que acabou dando certo com um Franco Nero cínico e debochado e Milian fazendo o ignorante meio tresloucado, com um visual que lembra Che Guevara, muito utilizado como alívio cômico em certos momentos. Aliás, o humor aqui é muito peculiar, ridicularizando situações violentas com um tom de humor negro, que é a mesma base do que seria o humor dos filmes de Quentin Tarantino muitos anos depois.

Voltando um pouco à trama, depois de resgatar o professor Xantos, Vasco e o sueco começam a questionar o sentido daquilo tudo que estavam fazendo, em especial Yolaf, que sabe as verdadeiras intenções do coronel Mongo: colocar as mãos no dinheiro do cofre e que se dane o México! Claro que a reflexão dos protagonistas não impede que ao final Franco Nero empunhe uma metralhadora ao estilo visceral de Django e saia atirando num exercito de bandidos, enquanto Tomas Milian faz sua parte, um verdadeiro estrago na carcaça dos meliantes, com um facão. Para aqueles que pensam que filme político é sinônimo de filme chato, provavelmente ainda não conhece o Zapata Western (ou até mesmo o cinema político italiano de uma forma geral, que possui obras brilhantes).

VAMOS A MATAR COMPAÑEROS consegue ser inteligente e ainda apresenta uma boa dose de ação dirigida com muita elegância e maestria pelo Corbucci e pontuada pela excelente trilha sonora de Ennio Morricone, uma das mais marcantes do compositor e estou com ela há dias grudada na cabeça. Muito bem, por enquanto é isso, vamos assistir, companheiros! (não resisti...)

29.9.09

TOP 10 anos 70

Este aqui foi um tremendo sofrimento. Tanta coisa boa de fora... Mas listas são assim mesmo, amanhã eu já posso olhar com cara feia e querer mudar tudo. Enfim, no mesmo esquema, apenas um filme por diretor, em ordem de preferência:

1. O ESPÍRITO DA COLMÉIA (El Espíritu de la Colmena, 1972), Victor Erice
2. TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA (Bring me the Head of Alfredo Garcia, 1974), Sam Peckinpah
3. TWO-LANE BLACKTOP (1971), Monte Hellman
4. ATO FINAL (Deep End, 1971), Jerzy Skolimowski
5. A MORTE DE UM BOOKMAKER CHINÊS (The Killing of a Chinese Bookie, 1976), John Cassavetes
6. PRELÚDIO PARA MATAR (Profondo Rosso, 1975), Dario Argento
7. QUANDO EXPLODE A VINGANÇA (Giù la testa, 1971), Sergio Leone
8. PROFISSÃO: REPÓRTER (Professione: Reporter, 1975), Michelangelo Antonioni
9. TAXI DRIVER (1976), Martin Scorsese
10. RABID DOGS (Cani arrabbiati, 1974), Mario Bava

26.9.09

FIVE DEADLY VENOMS, aka Five Venoms (Wu Du, 1978), de Chang Cheh


Ainda não sou um expert nos filmes de artes marciais como alguns companheiros, mas aos poucos vou riscando alguns títulos da minha longa lista passando a realmente conhecer algumas pérolas do gênero, como FIVE DEADLY VENOMS, por exemplo, um grande filme de kung fu cujo destaque se deve ao bom roteiro que justifica a maioria das lutas absurdas que ocorrem durante a projeção e cria com enorme cuidado personagens interessantes com muito mais espessura que o habitual neste tipo de filme. Além, é claro, das cenas de luta muito bem realizadas.

Produzido pelos irmãos Shaw, o filme inicia com um velho mestre de artes marciais, já nas últimas, pedindo para que seu último discípulo tente localizar seus cinco ex-alunos, cada um dos quais ele ensinou um estilo único e especial de kung fu: o estilo da serpente, da centopéia, escorpião, lagarto e do sapo. Seu aluno atual conhece todos os cinco estilos, mas não domina nenhum, mesmo assim a sua missão é justamente descobrir se há entre estes ex-alunos algum que esteja usando suas técnicas para o mal e eliminá-lo. Só que a coisa é ainda mais complicada do que parece. Durante o período de treinamento, todos os alunos usavam máscaras. Nem o mestre, nem eles próprios, sabem a identidade um do outro.

À medida que avança, o filme desenvolve um intrincado quebra cabeça com os personagens e o lance das identidades, porém existe um questão que pode não agradar a alguns... mas não foi o meu caso. FIVE DEADLY VENOMS possui poucas cenas de ação devido aos esforços de trabalhar a estória com maior intensidade, mas quando acontece, somos apresentados a sequências de primeiríssima qualidade! A mistura do kung fu com uma discreta porção de wuxia (estilo de luta fantasioso, onde os sujeitos voam e etc) permite algumas cenas de alta potência, principalmente na batalha final onde quase todos os personagens estão presentes demonstrando suas técnicas peculiares. A direção de Chang Cheh é magistral neste sentido, o homem realmente conhece a arte de filmar o corpo em movimento, sabe dar ritmo, enquadrar, usar o slow motion, um verdadeiro mestre!

Filme realmente essencial este aqui. Recomendado a quem deseja experimentar do melhor do gênero e não sabe por onde começar.

25.9.09

TOP 10 anos 80

Não pensei que fosse encontrar tanta dificuldade em escolher apenas 10 filmes para uma lista dos anos 80 (e eu acho que vai piorar na década de 70). Mas depois de sacrificar alguns filmes que eu adoro, a relação acabou refletindo bastante meu gosto atual - principalmente com os três últimos da lista. Apenas um filme por diretor, em ordem de preferencia:

1. ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (Once Upon a Time in America, 1984), Sergio Leone
2. VIDEODROME (1983), David Cronenberg
3. UM TIRO NA NOITE (1981), Brian De Palma
4. O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (The Thing), John Carpenter
5. AMANTES (1984), John Cassavetes
6. AGONIA E GLÓRIA (The Big Red One, 1980), Samuel Fuller
7. PORTAL DO PARAÍSO (Heaven's Gate, 1980), Michael Cimino
8. VIVER E MORRER EM LOS ANGELES (To Live and Die in L.A., 1985), William Friedkin
9. A MARCA DA CORRUPÇÃO (Best Seller, 1987), John Flynn
10. THE KILLER (Dip huet seung hung, 1989), John Woo

24.9.09

GIALLO (2009), de Dario Argento


Se fosse realizado nos anos 70, GIALLO não teria nada de especial, seria apenas um bom suspense policial em meio às tantas obras primas que o cinema italiano apresentou no período. Mas no contexto atual, o novo filme de Dario Argento é tudo aquilo que se espera da discreta proposta de retornar às origens de um gênero estuprado por jovens cineastas – americanos, na grande maioria – e que atualmente vem tentando se revitalizar com alguns bons exemplos aqui e ali. O filme continua não tendo muito de original, mas Argento consegue provar que é possível fazer um excelente trabalho, à moda antiga, sem a frescurada de montagens espertinhas ou efeitos especiais em CGI (como o próprio Argento havia errado a mão em A MÃE DAS LÁGRIMAS).

Apesar do nome, GIALLO não possui os elementos necessários para fazer parte do subgênero que o diretor ajudou a consolidar na Itália nos anos 70 e 80, e qualquer um com o mínimo de desconfiança sabe que é praticamente impossível fazer um legítimo giallo nos dias de hoje. Mas nem era essa a pretensão de Argento. Ele simplesmente dirige uma trama policial onde temos Adrien Brody encarnando um detetive à procura de um serial killer que seqüestra belas mulheres para desforrar seus traumas em cima delas. O "amarelo" do título (que em italiano é giallo) , se deve a uma peculiaridade do bandido. No elenco, ainda temos Emmanuelle Seigner vivendo a irmã de uma vítima do assassino e que resolve se meter no caso...

O filme serve também para provar que Argento permanece como um dos grandes nomes do horror e um artista único na condução e no controle de todos os elementos que tem em mãos, como a estética das cores, a movimentação da câmera desvencilhada, a mise en scène, a violência gráfica com direito à baldes de sangue, como nos velhos tempos de TENEBRE e PROFONDO ROSSO. O conteúdo pode ser simples (embora tenha boas sacadas com o passado do personagem de Brody), mas na forma Argento continua genial. Cada detalhe de cena, planos memoráveis (como a do final quando Brody se afasta do local do crime), a fotografia, tudo é valorizado ao máximo para trazer um novo frescor ao gênero e colocar o nome de Dario Argento de volta ao panteão, de onde nunca deveria ter saído. Uma pena que a distribuidora daqui fez o favor de nos poupar de ir ao cinema assistir a esta belíssima obra na tela grande.

23.9.09

TRÊS HOMENS, UMA LEI (Il bianco, il giallo, il nero, 1975), de Sergio Corbucci


Arrumei este aqui em VHS por 0,99 mangos numa locadora cuja promoção dizia o seguinte: “alugue e não devolva nunca mais!”. Então beleza! Acabei descobrindo depois que TRÊS HOMENS, UMA LEI é o mesmo filme lançado em DVD no Brasil pela Ocean Pictures com o título O ÚLTIMO SAMURAI DO OESTE.

Para quem não conhece nada sobre o filme, o básico do enredo trata de três personagens completamente diferentes que se unem em uma aventura em busca de um raro pônei japonês que fora sequestrado por um bando de malfeitores exigindo uma gorda quantia para o resgate.

Temos então o policial Black Jack Gideon, vivido pelo grande Eli Wallach, o eterno Tuco de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, o bandido bonzinho na pele do astro do faroeste spaghetti Giuliano Gemma e Sakura, o assistente de um samurai que faz de tudo para honrar o nome de seu mestre tentando recuperar o pônei sequestrado. E quem encarna a figura é ninguém menos que o cubano Tomas Milian, de longe o melhor em cena, engraçadíssimo.

O filme não é dos melhores trabalhos do diretor Sergio Corbucci, autor de alguns spaghetti westerns de primeiríssima qualidade, como O VINGADOR SILÊNCIOSO e DJANGO, mas não deixa de ser uma pequena homenagem ao gênero, já bastante enfraquecido na época, além de ser divertido, com alta dose de humor e ótimas atuações do trio principal, que é, na verdade, o grande destaque de TRÊS HOMENS, UMA LEI.

22.9.09

Reaproveitamento...

Dois textinhos antigos, que foram utilizados numa outra oportunidade, achei jogado num canto do meu computador, resolvi reaproveitá-los...

IMAGENS DE UM CONVENTO (Immagini di un Convento, 1979), de Joe D'Amato

Joe D’Amato é um cara legal. Quem já viu ou ouviu falar de seus filmes, sabe muito bem a razão (lógico, funciona se você for fã de cinema extremo, se não, nem se arrisque). Seus filmes normalmente são recheados do que há de mais pervertido, sádico e violento que o cinema teve a ousadia de mostrar.

IMAGENS DE UM CONVENTO não fica atrás, além de ter todos os elementos perturbadores que fazem parte do catálogo de D’Amato, ainda possui um roteiro interessante e uma fotografia trabalhada, obviamente dentro dos padrões financeiros da produção, já que seria difícil arranjar alguma grande companhia para financiar um filme que profana os conceitos da igreja católica, mostrando freiras sedentas de sexo, muita sacanagem e uma cena de estupro com sexo explícito.

Como de costume em um nunsploitation, a trama se passa num convento. A paz e a serenidade são quebradas com a chegada de um rapaz, que é uma espécie de encarnação do mal, e basta sua presença para que comece a safadeza e as freiras coloquem as "aranhas pra brigar”, até chegar num ponto alucinante de erotismo explícito com várias cenas interessantes como a do padre que caminha pelo corredor enquanto todas as freiras tentam seduzi-lo, mostrando as “periquitas” e se masturbando. Uma estátua do demo torna-se um dos personagens principais sempre simbolizando a presença do tinhoso e influenciando as perversões das freiras.

Tudo isso e mais um pouco, tornam IMANGENS DE UM CONVENTO um dos nunsploitation's dos mais subversivos e um dos melhores trabalhos do diretor italiano que nunca se preocupou em criar o choque visual, nem que seja pela violência extrema como em BUIO OMEGA, ANTROPOPHAGUS, ou pelo erotismo e sexo explícito como PORNÔ HOLOCAUSTO, EMANUELLE NA AMÉRICA, e muitos outros.

MACUMBA SEXUAL (1983), de Jess Franco

Após vários anos no exílio, Jess Franco retornou a Espanha no inicio dos anos 80 e encontrou liberdade total para realizar MACUMBA SEXUAL. O filme é estrelado pela esposa e musa do diretor, a exuberante Lina Romay, interpretando a namorada do bigodudo Antonio Mayans numa viagem de férias pelas Ilhas Canárias. Franco explora muito bem as belezas naturais do local, suas praias, paisagens bucólicas e o deserto. E é em toda essa ambientação que Romay começa a ter sonhos alucinantes e delírios lisérgicos quando é possuída por uma Rainha Negra, encarnada pela transexual Ajita Wilson.

A experiência de assistir MACUMBA SEXUAL é das mais interessantes pra quem já curte o trabalho do diretor. A trama não importa tanto, mas a elaboração visual das imagens oníricas e o surrealismo dos delírios e sonhos da protagonista são deslumbrantes, além do acompanhamento musical totalmente insólito. E como de praxe, todas as situações que Lina Romay se encontra tornam-se motivos pra tirar a roupa. Franco adora homenagear sua atriz/esposa explorando cada detalhe de seu corpo, as vezes a sensação é a de que ele quer entrar dentro dela com a câmera. Mas o grande destaque entre os protagonistas fica a cargo de Ajita Wilson, a transex negra de beleza exótica, com uma atuação bastante expressionista.

21.9.09

Leitura obrigatória recomendada

TOP 10 anos 90

Há um ano, mais ou menos, fizemos (eu, Vlademir e Daniel) uma série de listas de filmes preferidos por década. Não sei, mas acho que já chegou a hora de dar uma atualizada. De qualquer forma aí vai o meu top 10 da década passada, em ordem de preferência, um filme por diretor:

1. CRASH (1996), David Cronenberg
2. OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven, 1992), Clint Eastwood
3. FOGO CONTRA FOGO (Heat, 1995), Michael Mann
4. CURE (1997), Kiyoshi Kurosawa
5. O PAGAMENTO FINAL (Calisto’s Way, 1993), Brian de Palma
6. VÍCIO FRENÉTICO (Bad Lieutenant, 1992), Abel Ferrara
7. FERVURA MÁXIMA (Hard Boiled, 1992), John Woo
8. DEAD MAN (1995), Jim Jarmusch
9. PULP FICTION (1994), Quentin Tarantino
10. OS BONS COMPANHEIROS (The Goodfellas, 1990), Martin Scorsese

Ainda nesta semana eu jogo por aqui a dos anos 80. E se os dois companheiros que eu citei quiserem me acompanhar novamente, fiquem a vontade.

19.9.09

ATÉ A MORTE (Until Death, 2007), de Simon Fellows


Para quem se surpreendeu com a atuação de Van Damme em JCVD, a recomendação é o drama policial ATÉ A MORTE, de Simon Fellows. E desta vez ele não tem a desculpa de estar interpretando a si mesmo. aqui o sujeito encarna um personagem de verdade, de construção sólida que depende tão somente de um bom desempenho do homem, e consegue resultados muito acima do nível de seus companheiros da estirpe direct to video, como Steven Seagal, Dolph Lundgren, Wesley Snipes...

ATÉ A MORTE tem todo aquele climão da boa safra de filme policial dos anos 80, com um tom de tragédia e um protagonista absurdamente subversivo. Imaginem um Dirty Harry viciado em heroína, adúltero, dedo duro, um autêntico mau elemento do distrito, e aí já dá pra ter uma noção de quem é Anthony Stowe na pele de Van Damme. Mesmo sendo um usuário de drogas a grande missão de Stowe é capturar seu ex-parceiro (vivido pelo grande Stephen Rea), que agora é um dos maiores traficantes de New Orleans. Mas as tentativas de prisão sempre resultam em frustrantes fracassos. Numa delas, Stowe é baleado na cabeça e milagrosamente não morre. Após meses em coma, ele acorda, percebe o tipo de homem que era antes do atentado e tenta se redimir dos erros do passado.

Complexo demais para um Van Damme? E como eu disse, o cara manda muito bem no personagem, inclusive trabalhando as transformações do personagem, num desempenho digno de antologia na carreira do belga. É o grande destaque de ATÉ A MORTE. Mas é preciso ainda frisar o bom roteiro de Dan Harris e James Portolese, embora não possua nada de original, cria uma história sem frescuras que prende a atenção. Nem mesmo a edição e a direção, com seus momentos afetados e moderninhos, conseguem estragar a diversão.

18.9.09

FUGA ALUCINADA (Dirty Mary, Crazy Larry, EUA, 1974), de John Hough


Cinco anos após se consagrar como um dos ícones dos anos 60, com o filme SEM DESTINO, Peter Fonda retorna às estradas em FUGA ALUCINADA na pele de Larry, um piloto de corrida que sonha disputar as provas da Nascar, mas não tem dinheiro necessário para isso. Contando com a ajuda de seu mecânico, Deke (Adam Roarke), Larry furta o cofre de um supermercado de uma pequena cidade e parte em retirada com um Chevy Caprice, pensando que acabou de realizar o roubo perfeito, mas os planos da dupla começam a escorregar quando Mary, uma garota que Larry deu uma bimbada na noite anterior ao assalto, insiste em ir com eles.

O que se segue a partir daí é uma jornada em alta velocidade pelas longas rodovias americanas em perseguições de carro contra a polícia da região. Mas mesmo quando não estão em fuga iminente, crazy Larry faz jus ao seu nome do título original, realizando manobras desnecessariamente perigosas, como passar entre dois caminhões num espaço apertado ou saltar entra o vão de uma ponte elevadiça. Durante o trajeto, Mary e Larry discutem como se fossem um velho casal, enquanto o pobre Deke tem de ouvir tudo no banco de trás.

Depois de trocar o Chevy por um Dodge Charger, a coisa esquenta ainda mais. Larry sempre afunda o pé no acelerador, seja com vários carros de polícia na sua cola ou apenas um policial, que turbinou seu carro para ir atrás do trio, e até mesmo ao se livrar de um helicóptero Larry comprova ser um grande piloto. Claro que o final niilista típico dos anos 70 os espera num belíssimo desfecho.

Peter Fonda e Susan George têm bastante química em cena, enquanto Roarke trabalha muito bem seu papel. Mas meu destaque vai para o grande Vic Morrow que interpreta o policial que comanda a captura dos três fugitivos. Morrow está excelente como sempre encarnando seu típico personagem durão disposto a fazer de tudo para realizar seu trabalho.

As sequências de perseguições em alta velocidade são rápidas e bem realistas e a direção de John Hough é muito boa nesse sentido, escolhendo com cautela onde colocar sua câmera. Quentin Tarantino é um dos apreciadores do filme e não esqueceu de homenagear FUGA ALUCINADA em seu DEATH PROOF, trabalho que reverencia este tipo de produção, como por exemplo VANISHING POINT e GONE IN 60 SECONDS... FUGA ALUCINADA não fica abaixo de nenhum desses.

16.9.09

MCQUADE - O LOBO SOLITÁRIO (Lone Wolf McQuade, EUA, 1983), de Steve Carver


MCQUADE, O LOBO SOLITÁRIO não é somente um dos melhores filmes estrelados pelo Chuck Norris, é também uma das mais eficazes misturas de spaghetti western com kung fu antes de KILL BILL! Assisti a esta belezinha há muitos anos e não me lembrava de nada, mas fiquei bastante satisfeito, e com um sorrisão durante toda a revisão que fiz recentemente, quando percebi que ele continua tão divertido quanto antes, na época em que este tipo de filme fazia sucesso nas locadoras de vídeos nos anos 80.

O filme apresenta J.J. McQuade (Norris), uma espécie de Dirty Harry do texas, um ranger solitário de uma pequena cidade que procura defender a lei sem seguir as normas, sempre enfurecendo seus superiores, resolvendo os casos à base de chumbo grosso ou de golpes de kung fu. Possui uma filha adolescente que vive com a ex-mulher e um lobo de estimação que serve de companhia nas horas de folga, quando pratica tiro ao alvo. Na trama, McQuade investiga a misteriosa aparição de armamento pesado nas mãos de simples ladrões de cavalos e descobre que está se metendo onde não deve... num grande caso de tráfico de armas.

O problema maior começa quando sua filha vai com o namorado a um lugar isolado para fazer bobiças, mas testemunham um roubo de armas do exército americano e acabam descobertos pelos bandidos, que metralham o pobre rapaz e jogam o carro numa ribanceira com a moça dentro, sobrevivendo por um milagre. Quem lidera a ação é Rawley Wilkes, vivido pelo eterno gafanhoto David Carradine, que se esconde atrás da máscara de homem de negócios e do título de campeão mundial de karatê. Decidido a encontrar os culpados a qualquer custo, McQuade vai em busca de justiça com as próprias mãos, mesmo sendo afastado pelos seus superiores, chegando até Wilkes, que possui um verdadeiro exército a sua disposição.

Eu sei que é difícil de ouvir/ler sobre boas atuações de Chuck Norris; seus filmes ganhavam o publico por causa da ação e pancadaria desenfreada, geralmente não estamos nem aí quanto à capacidade dramática do ator. Ao contrário, o jeitão grosseiro de atuar é que faz o seu charme. Não vou dizer que aqui o sujeito merecia um prêmio de interpretação, mas é na pele de McQuade que ele demonstra que pode (ou poderia) construir um personagem com sentimento e expressividade sem perder a pose de durão. O sujeito realmente tem uma bom desempenho!

O diretor Steve Carver, além de fazer um ótimo filme de ação, acaba realizando uma autentica aula de metalinguagem com os elementos do spaghetti western. Os créditos iniciais e a trilha sonora de Francesco De Masi (compositor de vários filmes deste gênero popular italiano) poderiam passar por um filme dirigido por um Leone ou Corbucci na década de 60. Tanto que meu velho – que assistiu ao filme comigo – nem acreditou quando eu disse que o filme era contemporâneo, até que aparece um helicóptero, logo no inicio, comprovando que eu estava certo. Isso tudo sem contar os enquadramentos e detalhes típicos do western italiano que Carver sempre procura trabalhar.

As sequências de tiroteio, em especial, se revelam muito bem executadas e poderiam ter saído de um bang-bang, não fossem as metralhadoras e as granadas. Já no final, o estilo western é meio que deixado de lado e Chuck Norris se transforma em Braddock, personagem que viveu em MISSION IN ACTION e em outras duas continuações. É nesta sequência que, depois de um tiroteio frenético contra os capangas de Wilkes, temos o clássico e épico confronto entre Norris e Carradine. Ah, bons tempos em que os filmes de ação ainda prezavam por uma boa luta final entre o mocinho e o vilão. E tendo essas duas figuras de respeito encenando socos, pontapés e outros movimentos, a coisa fica ainda mais genial.

Claro que este é aquele tipo de produção onde existem os mesmos clichês de sempre, várias falhas técnicas, os bandidos são péssimos atiradores e só os mocinhos acertam e sobrevivem mesmo estando em menor número, surge de vez em quando alguma situação altamente absurda, como ser enterrado vivo dentro de um carro e conseguir se desenterrar "engatando a primeira", mas para quem quer 90 minutos de diversão inofensiva, MCQUADE, O LOBO SOLITÁRIO é uma ótima pedida, sem dúvida.

Lista sci-fi inusitada

No post sobre DISTRICT 9, logo abaixo, acabou rolando um pequeno bate papo entre o editor deste blog e os companheiros Herax e Leandro Caraça sobre um gosto cinematográfico bem específico. Herax instigou o Leandro que fizesse um post em seu blog com os seus 10 melhores filmes de alienígenas preferidos, já que de acordo com o Herax, o Leandro já assistiu a todos os filmes que existem no mundo. Como a resposta veio parar na própria caixa de comentários deste blog, resolvi publicar a lista aqui por conter alguns títulos bem interessantes e que merecem uma divulgação:

THE GREEN SLIME (1968), de Kinji Fukasaku;
INVASÃO SINISTRA (The Incredible Invasion, 1971), de José Luis González de Leon; Jack Hill e Juan Ibáñez. No elenco: Boris Karloff;
WHAM BAM THANK YOU SPACEMAN (1975), de William A. Levey;
LASERBLAST (1978), de Michael Rae;
THE DARK (1979), John 'Bud' Cardos e Tobe Hooper (não creditado);

WITHOUT WARNING (1980), de Greydon Clark;
NIGHTBEAST (1982), de Don Dohler;
UM COMILÃO DE OUTRO MUNDO (Eat and Run, 1986), de Christopher Hart;
O DEMÔNIO DO ESPAÇO (Demonwarp, 1988), de Emmett Alston;
LOBSTER MAN FROM MARS (1989), de Stanley Sheff;
E de grunja, o Leandro ainda deixou alguns links de trailers interessantíssimos como forma de resposta por ter deixado de fora o clássico italiano PLANETA DOS VAMPIROS. Segundo ele, o filme do Mario Bava não tem isso:





14.9.09

Patrick Swayze

RIP
1952-2009

DISTRICT 9 (2009), de Neill Blomkamp

Apenas algumas impressões, já que um bando de amigos já iniciou o trabalho de elogiar este filme que deve estrear nos cinemas brasileiros em outubro. Eu só peço licença para me juntar ao bando: DISTRICT 9 é um FILMAÇO!

O estreante Neill Blomkamp pegou a brilhante premissa de seu curta ALIVE IN JOBURG, de 2005, e transformou neste longa que tem o neo-zeolandês Peter Jackson na produção. A trama transcorre vinte anos após a chegada de alienígenas no nosso planeta, mas a invasão é tratada de uma maneira inusitada em DISTRICT 9. Os seres do espaço chegam numa nave que bateu o motor, na cidade de Johannesburg, África do Sul, e a sua população, milhares de extraterrestres, estão fracos, doentes e desnutridos. A solução encontrada pelos governos é a criação de um espaço para que os visitantes possam habitar. Passado os vinte anos, o local virou uma verdadeira favela, com direito a tráfico de drogas (comida de gato é que deixa os ET’s chapados) e esconderijo de armas espaciais!

Oprimidos e rejeitados por nós, humanos, o governo resolve transferir os milhares de alienígenas para uma área mais afastada da cidade e é nesta situação que o filme é narrado, com uns 80 % em forma de pseudo documentário, com entrevistas e câmeras de reportagens buscando o maior realismo possível. Os mais ortodoxos não se preocupem com o formato. Poucas vezes vi, nos últimos anos, certos cacoetes do cinema moderninho usados com tanta eficiência e inteligência, e isso não inclui somente a direção, mas também a utilização sóbria dos efeitos em CGI, enfim, tudo bem amarrado, ótimo roteiro, personagens, bons atores, não somos poupados de uma boa dose de violência extrema, crítica social muito bem inserida, etc... FILMAÇO!

E finalmente temos um exemplar cuja trama envolve um acontecimento de tamanha magnitude, típica de um filme de verão americano, com um impacto de proporções globais, e nada da intervenção dos Estados Unidos na qual estamos acostumados a ver em quase todos os casos deste tipo. Nada de Casa Branca explodindo ou Estátua da Liberdade indo a baixo, muito menos aquele patriotismo babaca de sempre. É algo a se estranhar, no melhor sentido possível.

10.9.09

mais dois filmes do feriadão...

RATOS - A NOITE DO TERROR (Rats - Notte di Terrore, 1984), de Bruno Mattei

Sempre ouvi dizer que RATOS é um dos piores filmes que existe e, realmente, ao assistir a esta bagaceira, tudo ali reforçava a fama de tralha velha que a obra havia conquistado. Mas é fácil driblar a problemática. Primeiro: o diretor é o Bruno Mattei, também considerado um dos piores diretores de todos os tempos. Então já conhecemos o terreno onde estamos pisando, ninguém vai sentar para assistir ao filme pensando que vai ver algo do nível de um Mario Bava ou Dario Argento, certo? Esqueça qualquer tipo de virtuose cinematográfica. Segundo: arranje algumas bebidas, uns petiscos, chame uns dois amigos que tenham bom humor e que gostem pelo menos um pouco de filmes de terror sem grandes pretensões.

Bom, foi assim que eu me deparei com RATOS. A diversão é garantida e é impossível não ficar tirando sarro das situações risíveis criadas pelo roteirista Claudio Fragasso, as atuações ridículas do elenco e de todo trabalho técnico da produção que parecia não ter dinheiro nem pra bancar um lanchinho para a equipe depois das filmagens. A trama se passa num futuro pós apocalíptico, quando um grupo de personagens que parecem ter saído dos filmes MAD MAX acaba numa cidade abandonada onde resolve passar a noite, mas algo terrível acontece: eles são atacados por ratos!!!

E tome baldes de ratos de borracha pra cima dos atores! Está certo que o Bruno Mattei não queria que sua obra virasse motivo de chacota, mas é bem melhor que tenha se tornado essa comédia involuntária divertidíssima que virou do que uma simples porcaria sem degustação que não serve para nada.

INFERNO CARNAL (1977), José Mojica Marins


Belo filme do Mojica este INFERNO CARNAL, mas que funcionaria bem melhor se fosse um curta, ou até mesmo um média, mas que não tivesse a encheção de linguiça durante a metade do filme. Ou talvez seja mais um exemplar que deveria ser assistido sob as condições que eu citei acima sobre RATOS. Mas ainda assim gostei bastante deste trabalho meio esquecido do diretor brasileiro.

O próprio Mojica interpreta um cientista ricaço que dá mais atenção aos seus experimentos do que para sua esposa que o trai com seu melhor amigo. Os dois pombinhos então resolvem assassinar o marido para ficarem com sua fortuna. Mas em vez de matar de uma vez, o casal apenas joga um ácido na cara do sujeito e coloca fogo em seu laboratório. O cientista acaba sobrevivendo e prepara uma lenta e dolorosa vingança!

INFERNO CARNAL não chega nem aos pés de algum filme da série estrelada pelo Zé do Caixão ou alguns dos trabalhos do Mojica anterior a este, mas ainda assim possui bons momentos, como as cenas de Helena Ramos toda desinibida mostrando sua nudez ou o desfecho sádico que faz a alegria dos fãs do homem.

9.9.09

ALGUÉM ATRÁS DA PORTA (Quelqu'un derrière la porte, aka Someone Behind the Door, 1971), Nicolas Gessner

Assisti a vários filmes durante o feriadão (o meu feriado foi mais prolongado, começou na quinta passada e só hoje voltei a trabalhar), mas dentre os vistos, o que mais me impressionou foi este suspense psicológico, que eu achei num sebo em BH por 10 mangos, no qual temos Charles Bronson dividindo a tela com Anthony Perkins e Jill Ireland (na época, esposa do Bronson). Na verdade, o protagonista de ALGUÉM ATRÁS DA PORTA é Perkins, que interpreta um médico que resolve levar um paciente amnésico (Bronson) para sua casa, isolada nas montanhas de algum lugar litorâneo da Inglaterra, para lhe fazer uma terapia mais intensiva.

Mas o andamento da estória nunca deixa muito claro quais são as verdadeiras intenções do médico, inclusive, a principio, eu cheguei a pensar que o personagem de Perkins fosse homossexual (e era, na vida real), mas logo o próprio enredo descarta essa possibilidade mostrando a esposa do sujeito (Ireland) que se prepara para sair em uma viagem habitual. Então os planos são outros, e a coisa é intrigante, isso eu garanto. Mas não digo mais nada para não estragar a surpresa.

O diretor húngaro Nicolas Gessner mantém um suspense legal até determinado ponto, quando finalmente a motivação do protagonista começa a clarear-se. Nada que possua uma originalidade estupenda no objetivo do médico, e que já foi abordada milhares de vezes no cinema sob a batuta da busca do "crime perfeito", mas compensa tranquilamente toda a ambiguidade da trama, principalmente quando temos dois grandes atores contracenando com uma firmeza interessante.

Perkins está estranho e ótimo como sempre, mas a grande maioria vai se surpreender é com a atuação do velho Bronson, em plena fase européia (o filme é uma produção francesa), numa performance de verdade, convencendo como um homem que sofre de amnésia. É um filme perfeito para calar a boca de qualquer um que só viu as tralhas da Cannon que o Bronson fez nos anos 80 e pensa que ele só fez aquele tipo de filme / personagem (e que eu também adoro, diga-se de passagem, por pior que sejam).

Outros filmes que vi no feriado incluem A ILHA DOS HOMENS PEIXES, do Sergio Martino; RATOS: A NOITE DO TERROR, do Bruno Mattei; INFERNO CARNAL, do Mojica e uma revisão de THE TOXIC AVENGER, do Lloyd Kauffman.