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26.1.13
DJANGO LIVRE (Django Unchained, 2012)
Se tem uma coisa que ainda aprecio no cinema do Tarantino, além do seu próprio talento como fazedor de filmes, é a brincadeira de pescar referências, por mais que toda gente já esteja de saco cheio disso! Gosto de perceber as coisas, encontrar o significados de alguns itens espalhados pelos filmes e descobrir de onde vieram a partir da cultura cinematográfica do diretor.
Nesse quesito, DJANGO LIVRE foi um prato cheio. Diverti-me à beça ligando os créditos iniciais e o nome do personagem principal a um spaghetti western de 1966, dirigido por Sergio Corbucci; o mesmo western interpretado por um italiano que atende pelo nome de Franco Nero e que faz uma ótima participação por aqui; ou o tema dos escravos lutadores nos faz lembrar de MANDINGO, de Richard Fleischer; o corcunda que aparece rapidamente por causa do personagem de Klaus Kinski em POR UNS DÓLARES A MAIS, de Sergio Leone; ou que os protagonistas vão para uma região coberta de neve apenas para fazer alusão ao spaghetti IL GRANDE SILENZIO, também do Corbucci; e que Samuel L. Jackson não consegue terminar sua derradeira frase só porque o Tuco (Eli Wallach) também não consegue em TRÊS HOMENS EM CONFLITO, de Leone... etc, etc, etc... não me canso disso.
A trama de DJANGO LIVRE não é preciso comentar, pois vocês já devem saber. Para estarem lendo isso aqui com certeza vocês já devem ter conferido a obra, afinal, é Tarantino... Ninguém vai ler uma resenha de um filme dele antes de assistir, não é? Você meio que já sabe o que esperar, ao mesmo tempo não faz a menor ideia do que vai ser e sabe que vale a pena esperar para descobrir no momento da projeção. Bem, pulemos a descrição do enredo e comecemos com uma rasgação de seda de 90% de DJANGO LIVRE.
O filme tem uma duração total de 2 horas e 45 minutos. Dentro desse tempo, aproximadamente 2h20m passaram voando, achei simplesmente maravilhoso! É o primeiro longa linear do Tarantino, sem tramas paralelas nem personagens que precisam de flashbacks em desenho animado, etc. Da abertura ao desfecho, acompanhamos o mesmo personagem. Tudo sob um domínio de ritmo e visual impressionante que me absorveu completamente, marcado pelos habituais diálogos espertos e afiados; personagens bem construídos; uma trilha sonora eclética que funciona como uma sinfonia; doses cavalares de humor...
A partir do momento em que surgem na tela aquelas rochas amarronzadas e os créditos em vermelho, ao som do tema do DJANGO original, eu abri um sorrisão que durou muito tempo... DJANGO LIVRE é filme pra se ver sorrindo, soltando algumas gargalhadas de vez em quando, como na cena pré-KKK, que parecia mais um esquete do Monty Phyton. Enfim, são duas horas e vinte de cinema grande, da mais pura qualidade.
Méritos também ao elenco. Christoph Waltz e Jamie Foxx são o coração do filme. Não acho Foxx um ator espetacular, mas quando bem dirigido demonstra segurança. E sabe se fazer de badass! Agora, o Waltz, que ator magnífico! Rouba completamente o filme para si e transforma o próprio Django num mero coadjuvante. Mais uma vez Tarantino lhe presenteou com um papel incrível, da mesma forma que em BASTARDOS INGLÓRIOS. Mas bem diferente também. Um caçador de recompensas europeu, nos moldes de outro personagem de Franco Nero, o traficante de armas sueco de VAMOS A MATAR COMPAÑEROS!, outro filme excelente de Sergio Corbucci. Sentimental, humano e correspondido por Waltz com um desempenho de encher os olhos.
A coisa fica melhor ainda quando surge em cena o personagem de Leonardo Di Caprio, que também dá um show. Os dois contracenando é um duelo magnífico de diálogos bem sacados, é um puta tour de force quando estão juntos. São vários momentos marcantes, para entrar no hall de boas cenas da filmografia do Tarantino, como o monólogo do Di Caprio manuseando um crânio. O diálogo final entre ele e o Waltz também é uma coisa linda.
Samuel L. Jackson é outro destaque, está impagável fazendo um personagem sinistro e ao mesmo tempo engraçadíssimo. E como Tarantino é mestre até em reunir atores de alto calibre, temos participações de Don Johnson (que está ótimo), James Remar (em papel duplo), o já citado Franco Nero, James Russo, Don Stroud, Bruce Dern, Jonah Hill, Lee Horsley, Robert Carradine, Tom Savini, Walton Goggins, e vários outros.
DJANGO LIVRE não tem muitas sequências de ação. Claro que não faltam tiros, violência, contagem alta de corpos, cachorros estraçalhando um escravo, uma sangrenta luta entre mandingos... Mas uma sequência de tiroteio bem arquitetada, temos apenas uma. Mas é uma para arregaçar! DJANGO LIVRE, para quem não notou ainda, é um western, um gênero que às vezes a coisa é mais interessante pela maneira na qual os personagens se preparam para sacar um revolver do que realmente atirar. Mas quando James Foxx resolve mandar chumbo grosso para cima dos capangas do Di Caprio, Tarantino devia estar muito inspirado e disposto em criar o tiroteio de faroeste mais definitivo do mundo! Não chegou nem perto, é claro, mas conseguiu criar uma sequência magnífica em termos de ação. Um espetáculo de balas e sangue estilizado jorrando "pra tudo quanté lado", com todos os elementos em cena precisamente coreografados, inclusive o sangue e as balas... A maneira como o ambiente fica pintado de vermelho me fez pensar da mesma forma que o meu amigo, Osvaldo Neto: Tarantino é o Pollock do cinema.
E, bem, essa cena de ação termina justamente ao final das 2h e 20, uma das melhores coisas que o Tarantino já filmou. Os 25 minutos seguintes, um prolongamento do final, tem um propósito bem definido, compreensível, mas infelizmente não consegue ter a força que DJANGO LIVRE tinha até então. Não é questão de ser um final desnecessário. Serve para mostrar que Django evoluiu e agora pode agir e tomar decisões sozinho. O problema, para mim, é a maneira na qual isso tudo é explorada. A sequência que o herói é mantido preso e convence que o libertem em troca de dinheiro, com o papo furado da recompensa, é uma solução muito fácil para um roteirista que tinha construído 90% de um filme extremamente inteligente. Claro que algumas coisas justificam, como ter o próprio Tarantino sendo explodido, mas ao mesmo tempo temos que aguentar Foxx fazendo gracinha em cima do cavalo, que eu achei um troço extremamente ridículo. No fim das contas, meu veredito é que DJANGO LIVRE é mais um filmaço do Taranta. Isso é fato. Mas o sujeito perdeu uma grande chance de deixar o filme ainda melhor, tudo por causa deste final estendido, que não estraga a diversão, não é ruim, mas não consegue manter o nível.
Sobre temas polêmicos de escravidão, política, etc, não esperem nada por aqui. Me dá uma preguiça só de pensar. E sei que muita gente tem tratado o filme por esse lado, o que acho uma besteira. A intenção do Tarantino era de fazer um western com um herói negro, apenas isso. A escravidão é consequência dramática, não tenho porque ficar procurando mensagens, significados e pêlo em ovo...
29.3.12
O DIA DO COBRA, Il Giorno del Cobra (1980)
Outro dia parei para assistir a mais um Castellari, diretor que eu venho tentando fazer uma peregrinação, mas tenho me saído toscamente, já que os textos do diretor têm pintado esporadicamente por aqui. Pretendo consertar isso, porque se tem um diretor que vale a pena conferir toda a filmografia, é esse italiano maluco que eu considero um dos pilares do cinema de ação pós anos 70. E antes de Sylvester Stallone encarnar o marcante personagem Marion Cobretti, o tira casca gossa conhecido como COBRA, no filme de George P. Cosmatos de 1986, Castellari já havia chegado na frente e dirigido O DIA DO COBRA, em que o ator Franco Nero interpreta um policial com o mesmo apelido do “garanhão italiano”.
É a sexta parceria entre ator e diretor e, de alguma maneira, começa a demonstrar sinais de desgastes. O DIA DO COBRA já não possui a mesma energia pulsante de um HIGH CRIME ou VINGADOR ANÔNIMO, belos exemplares que a dupla já havia cometido alguns anos antes. Aliás, algumas cenas, detalhes da trama e até enquadramentos são cópias descaradas de coisas que o diretor já havia feito nos filmes que citei. Sem contar que o excesso de diálogos torna a obra uma experiência enfadonha.
No entanto, Castellari (quase) sempre é Castellari e (quase) tudo que faz dá pra tirar algum proveito. Apesar de insosso, problemático e sem o capricho de outrora, O DIA DO COBRA não deixa de ser um sólido filme policial, com mais um grande desempenho de Franco Nero, trilha sonora bacana e algumas sequências interessantes, como aquela bizarra na qual Nero enfrenta um transexual que luta kung fu! A produção ainda conta com uma femme fatale de resPEITO, a voluptuosa Sybil Danning, que fornece alguma nudez bem vinda, embora filmada de longe, não dando pra ver quase nada… mas tudo bem.
Castellari e Nero deram um tempo na parceria depois deste aqui e só voltariam a trabalhar juntos nos anos 90, no western JONATHAN DEGLI ORSI. O DIA DO COBRA é um filme recomendável. Mas se quiserem algo de qualidade mais certeira, recomendo mesmo HIGH CRIME, O VINGADOR ANÔNIMO, IL GRANDE RACKET e LA VIA DELLA DROGA para apreciar o melhor da maestria de Castellari no delicioso gênero poliziottesco.
21.2.12
O CAÇADOR DE TUBARÕES, aka Il cacciatore di squali (1979)
O máximo que O CAÇADOR DE TUBARÕES conseguiu fazer para me empolgar, foram algumas ceninhas filmadas sob a água, com dublês interagindo com tubarões e que certamente não foram filmadas pelo diretor da bagaça, Enzo G. Castellari. Na verdade, parecem tiradas de um documentário do Discovery Channel. De resto, o filme é uma monótona aventura de caça ao tesouro fazendo pose de filme de tubarão assassino, subgênero tão comum nos anos 70 após o sucesso de TUBARÃO, do Spielberg.
Nem a presença do ator Franco Nero ajuda a tirar o filme do buraco. O sujeito aqui é um americano que vive tranquilo numa praia paradisíaca em um país qualquer da América Central após perder sua família em um trágico acidente. Um pouco amargurado com isso, e com uma peruca loira ridícula, Nero passa seus dias capturando tubarões, comendo uma nativa, bebendo nos bares e trocando socos com arruaceiros… Um dia, o sujeito descobre um tesouro que foi parar no fundo do mar - no interior de um avião que caíra há algum tempo - e tenta retirar o dinheiro lá de dentro. Não demora muito, começam a aparecer umas figuras estranhas rondando o lugar, como o gangster do local, vivido por Eduardo Fajardo, e seus capangas, também em busca da grana.
Apenas uma desculpa para umas doses de tiroteios, explosões, pancadarias e uma longa perseguição que começa de carro, continua a pé e termina com Nero pilotando um avião atrás de seu alvo, tentando escapar numa lancha. Mas nada que lembre o Castellari de THE BIG RACKET ou INGLORIOUS BASTARDS, tudo filmado sem grandes inspirações e o esforço de inserir todos esses ingredientes apenas contribuem com a chatice que é O CAÇADOR DE TUBARÕES. Já disse que as cenas subaquáticas são interessantes, especialmente no final quando a sangreira rola solta e dá pra ver alguns membros decepados pelos ataques dos tubarões. E Franco Nero até tenta fazer um trabalho competente, embora fique difícil se levar a sério com a peruca! Hehe! Vale uma conferida, mas não esperem grandes coisas.
Nem a presença do ator Franco Nero ajuda a tirar o filme do buraco. O sujeito aqui é um americano que vive tranquilo numa praia paradisíaca em um país qualquer da América Central após perder sua família em um trágico acidente. Um pouco amargurado com isso, e com uma peruca loira ridícula, Nero passa seus dias capturando tubarões, comendo uma nativa, bebendo nos bares e trocando socos com arruaceiros… Um dia, o sujeito descobre um tesouro que foi parar no fundo do mar - no interior de um avião que caíra há algum tempo - e tenta retirar o dinheiro lá de dentro. Não demora muito, começam a aparecer umas figuras estranhas rondando o lugar, como o gangster do local, vivido por Eduardo Fajardo, e seus capangas, também em busca da grana.
Apenas uma desculpa para umas doses de tiroteios, explosões, pancadarias e uma longa perseguição que começa de carro, continua a pé e termina com Nero pilotando um avião atrás de seu alvo, tentando escapar numa lancha. Mas nada que lembre o Castellari de THE BIG RACKET ou INGLORIOUS BASTARDS, tudo filmado sem grandes inspirações e o esforço de inserir todos esses ingredientes apenas contribuem com a chatice que é O CAÇADOR DE TUBARÕES. Já disse que as cenas subaquáticas são interessantes, especialmente no final quando a sangreira rola solta e dá pra ver alguns membros decepados pelos ataques dos tubarões. E Franco Nero até tenta fazer um trabalho competente, embora fique difícil se levar a sério com a peruca! Hehe! Vale uma conferida, mas não esperem grandes coisas.
27.11.11
KEOMA (1976)
KEOMA deve ter sido o meu primeiro Spaghetti… ou será que foi TRÊS HOMENS EM CONFLITO? Não importa, a verdade é que esse filme marca a infância de qualquer moleque com um mínimo de interesse na sétima arte. Não que eu tivesse muita consciência deste interesse na época, mas até hoje me lembro daquela VHS da Poletel que meu velho alugou numa sexta feira no fim dos anos oitenta.
Na época em que KEOMA foi realizado, o spaghetti western já tinha esfriado. O ciclo já não rendia algo interessante há tempos, mas mesmo assim, a dupla Enzo G. Castellari e Franco Nero, que já haviam trabalhado juntos antes em uns três filmes, estavam convictos e centrados em realizar um projeto de faroeste, mas não qualquer faroeste, eles sentiam que KEOMA seria algo maior, e foram em frente na tentativa de arranjar financiadores.
Depois do sinal verde para a produção, o roteiro final só chegou nas mãos de Castellari três dias antes de começarem as filmagens. Ele próprio e Franco Nero não gostaram do que leram. Castellari diz em uma entrevista que jogou tudo fora e sem tempo pra reescrever começou a elaborar as cenas no dia a dia das filmagens, deixando as suas principais inspirações sublinharem a narrativa. De Ingmar Bergman à Sam Peckinpah, as influências foram absorvidas naturalmente e o resultado não poderia ser diferente: KEOMA foi um sucesso e se tornou um símbolo do Spaghetti Westen.
Todo mundo já deve conhecer a história, que é tratada em tons de tragédia clássica. Pra começar, Keoma (Franco Nero) é um mestiço, filho de uma índia com um fazendeiro branco. Após retornar da guerra civil, ele encontra a região onde vivia sendo comandada por Caldwell (Donald O'Brien). Como sabemos que isto aqui é um faroeste, não preciso nem dizer que tipo de sujeito é esse Caldwell, não é mesmo? Mas as coisas pioram quando Keoma descobre que seus três meio-irmãos (que sempre lhe trataram muito mal) estão do lado do facínora, para a desgraça do pai de todos eles, vivido por William Berger.
No elenco, ainda temos Woody Strode, Olga Karlatos, e uma série de figuras sempre presente nas produções populares do cinema italiano. Mas o grande nome do filme não poderia ser outro: Franco Nero, com uma atuação sólida e expressiva, provavelmetne a minha favorita de sua longa carreira.
Um dos grandes méritos de KEOMA é conseguir agradar tranquilamente os fãs do Western bruto, mais movimentado, e também aqueles que procuram algo com mais substância, e o que não falta por aqui são elementos filosoficamente dramáticos. E como de costume, a direção de Castellari constitui de algo absurdamente magistral. É de fazer chorar qualquer amante do cinema, desde os enquadramentos expressivos, as sacadas de montagem e, claro, as sequências de ação e tiroteios fazendo uso da câmera lenta ao melhor estilo Peckinpah.
Agora, vocês podem não concordar, até porque é apenas a minha opinião e estou aberto à boa e velha discussão, mas que KEOMA merecia uma música tema mais decente, eu acho que merecia. Não que eu não goste da que está lá, é muito marcante e até funciona. Mas se o visual colhe com êxitos momentos notáveis durante todo o filme, onde será que estava o Morricone pra fechar este spaghetti western crepuscular de forma sonoramente brilhante?
Na época em que KEOMA foi realizado, o spaghetti western já tinha esfriado. O ciclo já não rendia algo interessante há tempos, mas mesmo assim, a dupla Enzo G. Castellari e Franco Nero, que já haviam trabalhado juntos antes em uns três filmes, estavam convictos e centrados em realizar um projeto de faroeste, mas não qualquer faroeste, eles sentiam que KEOMA seria algo maior, e foram em frente na tentativa de arranjar financiadores.
Depois do sinal verde para a produção, o roteiro final só chegou nas mãos de Castellari três dias antes de começarem as filmagens. Ele próprio e Franco Nero não gostaram do que leram. Castellari diz em uma entrevista que jogou tudo fora e sem tempo pra reescrever começou a elaborar as cenas no dia a dia das filmagens, deixando as suas principais inspirações sublinharem a narrativa. De Ingmar Bergman à Sam Peckinpah, as influências foram absorvidas naturalmente e o resultado não poderia ser diferente: KEOMA foi um sucesso e se tornou um símbolo do Spaghetti Westen.
Todo mundo já deve conhecer a história, que é tratada em tons de tragédia clássica. Pra começar, Keoma (Franco Nero) é um mestiço, filho de uma índia com um fazendeiro branco. Após retornar da guerra civil, ele encontra a região onde vivia sendo comandada por Caldwell (Donald O'Brien). Como sabemos que isto aqui é um faroeste, não preciso nem dizer que tipo de sujeito é esse Caldwell, não é mesmo? Mas as coisas pioram quando Keoma descobre que seus três meio-irmãos (que sempre lhe trataram muito mal) estão do lado do facínora, para a desgraça do pai de todos eles, vivido por William Berger.
No elenco, ainda temos Woody Strode, Olga Karlatos, e uma série de figuras sempre presente nas produções populares do cinema italiano. Mas o grande nome do filme não poderia ser outro: Franco Nero, com uma atuação sólida e expressiva, provavelmetne a minha favorita de sua longa carreira.
Um dos grandes méritos de KEOMA é conseguir agradar tranquilamente os fãs do Western bruto, mais movimentado, e também aqueles que procuram algo com mais substância, e o que não falta por aqui são elementos filosoficamente dramáticos. E como de costume, a direção de Castellari constitui de algo absurdamente magistral. É de fazer chorar qualquer amante do cinema, desde os enquadramentos expressivos, as sacadas de montagem e, claro, as sequências de ação e tiroteios fazendo uso da câmera lenta ao melhor estilo Peckinpah.
18.11.11
O VINGADOR ANÔNIMO, aka Street Law (Il cittadino si ribella, 1974)
Franco Nero marca presença como protagonista pela segunda vez num filme de Enzo G. Castellari, encarnando o engenheiro Carlo, sujeito pacato numa cidade onde o crime e a violência reinam desenfreadamente, como é mostrado nos créditos de abertura de STREET LAW. Assassinatos, roubos, vandalismo, os bandidos fazem a festa neste magnífico poliziottesco. E se no filme anterior do diretor o título italiano dizia que “a policia incrimina e a lei absolve”, neste aqui a situação fica ainda pior. A policia é tão corrupta quanto um deputado em Brasília, a lei não serve pra porra nenhuma e o nosso herói, cidadão comum, precisa botar a mão na massa por justiça.
O problema é que Carlo vai ao banco depositar seu dinheiro suado no mesmo horário que três bandidos decidem assaltar o local. Na fuga, escolhem o protagonista como refém, que após o acontecimento fica traumatizado e tremendamente decepcionado com a forma pela qual a polícia cuida do caso. Aos poucos, e contando com a ajuda de um ladrãozinho, localiza os bandidos e planeja sua vingança.
Divagando um bocado sobre o gênero, eu acho que o poliziottesco poderia ser dividido em três categorias: os exemplares protagonizados por policiais, como HIGH CRIME, NAPOLI VIOLENTA, etc; Temos também os estrelados por bandidos/mafiosos, abordando esse universo do crime organizado, como MILANO CALIBRO 9 e LA MALA ORDINA; e teríamos a categoria que STREET LAW se encaixa, a do sujeito comum, que por determinado motivo resolve pegar uma arma e mandar chumbo nos meliantes, como é o caso também de MANHUNT IN THE CITY, do Umberto Lenzi.
E novamente é preciso destacar o belíssimo desempenho de Franco Nero. Diferente de um vingador como Charles Bronson em DESEJO MATAR, Nero constrói um civil repleto de fraquezas, todo desajeitado nessa busca por vingança, e ganha muita veracidade nas expressões do ator. Aliás, o motivo para ir atrás dos bandidos nem é tão grave como vemos em outros filmes. Tudo bem que o cara foi levado como refém, levou umas cacetadas, mas é só… até a namoradinha, vivida por Barbara Bach, sai ilesa. Paul Kersey saiu às ruas empunhando um revolver para vingar a filha estuprada e a esposa assassinada por uns malucos que invadiram sua casa. Um motivo bem mais contundente.
STREET LAW não tem muita ação, é mais focado nas investigações de Marco e as burradas que faz pelo caminho. O tiroteio final, por exemplo, é filmado de maneira que remete à natureza do protagonista… o cara fica escondido o tempo todo atrás de umas caixas e atira a esmo sem saber direito o que faz. Mas é sensacional! É uma ação intencionalmente feia, mas brilhantemente conduzida por Castellari, que novamente destrói com mais uma aula de enquadramento, movimentos de câmera, câmera lenta, utilização de trilha sonora…
Engraçado que o diretor William Lustig, nos comentários em áudio do DVD lançado pelo seu selo, a Blue Underground, comenta com Castellari que STREET LAW serviu de inspiração para o seu VIGILANTE. O curioso é que STREET LAW foi lançado em video na Inglaterra como VIGILANTE 2. O filme que serviu de inspiração para a produção de Lustig acabou tornando-se também a sua continuação.
Outra curiosidade interessante é em relação ao poster de STREET LAW na Turquia, cuja arte recebeu uma imagem adicional de uma mulher nua com uns peitões de fora, algo que não havia no cartaz original e de outros países, muito menos no próprio filme! Esses turcos são picaretas até nisso! Hahaha!
O problema é que Carlo vai ao banco depositar seu dinheiro suado no mesmo horário que três bandidos decidem assaltar o local. Na fuga, escolhem o protagonista como refém, que após o acontecimento fica traumatizado e tremendamente decepcionado com a forma pela qual a polícia cuida do caso. Aos poucos, e contando com a ajuda de um ladrãozinho, localiza os bandidos e planeja sua vingança.
Divagando um bocado sobre o gênero, eu acho que o poliziottesco poderia ser dividido em três categorias: os exemplares protagonizados por policiais, como HIGH CRIME, NAPOLI VIOLENTA, etc; Temos também os estrelados por bandidos/mafiosos, abordando esse universo do crime organizado, como MILANO CALIBRO 9 e LA MALA ORDINA; e teríamos a categoria que STREET LAW se encaixa, a do sujeito comum, que por determinado motivo resolve pegar uma arma e mandar chumbo nos meliantes, como é o caso também de MANHUNT IN THE CITY, do Umberto Lenzi.
E novamente é preciso destacar o belíssimo desempenho de Franco Nero. Diferente de um vingador como Charles Bronson em DESEJO MATAR, Nero constrói um civil repleto de fraquezas, todo desajeitado nessa busca por vingança, e ganha muita veracidade nas expressões do ator. Aliás, o motivo para ir atrás dos bandidos nem é tão grave como vemos em outros filmes. Tudo bem que o cara foi levado como refém, levou umas cacetadas, mas é só… até a namoradinha, vivida por Barbara Bach, sai ilesa. Paul Kersey saiu às ruas empunhando um revolver para vingar a filha estuprada e a esposa assassinada por uns malucos que invadiram sua casa. Um motivo bem mais contundente.
STREET LAW não tem muita ação, é mais focado nas investigações de Marco e as burradas que faz pelo caminho. O tiroteio final, por exemplo, é filmado de maneira que remete à natureza do protagonista… o cara fica escondido o tempo todo atrás de umas caixas e atira a esmo sem saber direito o que faz. Mas é sensacional! É uma ação intencionalmente feia, mas brilhantemente conduzida por Castellari, que novamente destrói com mais uma aula de enquadramento, movimentos de câmera, câmera lenta, utilização de trilha sonora…
Engraçado que o diretor William Lustig, nos comentários em áudio do DVD lançado pelo seu selo, a Blue Underground, comenta com Castellari que STREET LAW serviu de inspiração para o seu VIGILANTE. O curioso é que STREET LAW foi lançado em video na Inglaterra como VIGILANTE 2. O filme que serviu de inspiração para a produção de Lustig acabou tornando-se também a sua continuação.
Outra curiosidade interessante é em relação ao poster de STREET LAW na Turquia, cuja arte recebeu uma imagem adicional de uma mulher nua com uns peitões de fora, algo que não havia no cartaz original e de outros países, muito menos no próprio filme! Esses turcos são picaretas até nisso! Hahaha!
12.11.11
HIGH CRIME (La polizia incrimina la legge assolve, 1973)
Já tinha escrito um textinho pequeno e superficial sobre este filme tempos atrás, mas como estão me cobrando mais Castellari – e com razão – resolvi rever para postar algo tão superficial quanto o texto anterior, mas um pouquinho mais detalhado e condizente com o especial Enzo Castellari que iniciei aqui no blog há alguns meses e dei uma parada, mas estou retomando a partir de agora. E só um detalhe para os mais aficcionados no homem: pulei dois filmes, ETORE, O MACHÃO e TEDEUM. O primeiro não encontrei em lugar algum e o segundo só achei com uma qualidade horrível e fiquei com preguiça de ver. Prefiro prosseguir com os filmes que me dão vontade ver do que ficar adiando… e no caso do ótimo HIGH CRIME valeu a revisão.
Na época em que foi lançado, o cinema policial italiano, conhecido também como poliziottesco, caminhava para a consolidação que aconteceria no decorrer da década de 70. O comissionário Stefano Belli, personagem encarnado pelo Franco Nero, já havia surgido em UN DETECTIVE, de 1969, comandado pelo Romolo Guerrieri, tio de Enzo G. Castellari.
Assim como no filme de 1969, Franco Nero volta à pele de Belli em HIGH CRIME. Logo na abertura, temos uma operação policial para prender um bandido que culmina numa longa perseguição em alta velocidade pelas estradas italianas filmada com a agilidade e o talento preciso de Castellari. O filme começa bem pra cacete, não tenham dúvidas, e mantém o alto nível até o fim, com boas sequências de ação, dosado com uma carga emocional muito forte na figura do policial protagonista em sua encruzilhada contra o tráfico de drogas e corrupção... alvos frenquentemente vistos no gênero.
E Franco Nero aguenta a pressão de carregar tanta dramaticidade. Entrega uma performance magnífica com seu personagem romântico, lutando por aquilo que acredita com todas as suas forças, absorvendo a figura do action man setentista ao mesmo tempo em que precisa encarar de frente as tragédias e perdas pessoais que são consequências de seu empenho conta o crime (Fernando Rey surge aqui como vilão, sempre ótimo).
É difícil tirar da cabeça o olhar desolado e expressivo de Belli no desfecho… resultado de um belo trabalho combinado entre o gigante talento de Nero com uma sensibilidade fora do comum na direção de Castellari. Mas é claro que não poderia deixar de destacar mais uma vez o trabalho enérgico nas cenas de ação deste mestre italiano. Talvez seja o primeiro filme de Castellari com todas as características que marcam sua assinatura como diretor de ação. Os tiroteios sangrentos filmados em câmera lenta ao estilo Peckinpah, a perseguição do início, sequências explosivas de tirar o fôlego. A ação final é uma aula de enquadramentos e movimentos de câmera.
HIGH CRIME é a primeira colaboração entre Nero e Castellari, o filme seguinte do diretor, STREET LAW, já repete a parceria. Os dois ainda fizeram juntos o maravilhoso e crepuscular KEOMA, CIPOLLA COLT, O CAÇADOR DE TUBARÕES e O DIA DO COBRA… Estes três últimos eu nunca vi. Nem STREET LAW, que já está engatilhado aqui e trago minhas impressões em breve.
Na época em que foi lançado, o cinema policial italiano, conhecido também como poliziottesco, caminhava para a consolidação que aconteceria no decorrer da década de 70. O comissionário Stefano Belli, personagem encarnado pelo Franco Nero, já havia surgido em UN DETECTIVE, de 1969, comandado pelo Romolo Guerrieri, tio de Enzo G. Castellari.
Assim como no filme de 1969, Franco Nero volta à pele de Belli em HIGH CRIME. Logo na abertura, temos uma operação policial para prender um bandido que culmina numa longa perseguição em alta velocidade pelas estradas italianas filmada com a agilidade e o talento preciso de Castellari. O filme começa bem pra cacete, não tenham dúvidas, e mantém o alto nível até o fim, com boas sequências de ação, dosado com uma carga emocional muito forte na figura do policial protagonista em sua encruzilhada contra o tráfico de drogas e corrupção... alvos frenquentemente vistos no gênero.
E Franco Nero aguenta a pressão de carregar tanta dramaticidade. Entrega uma performance magnífica com seu personagem romântico, lutando por aquilo que acredita com todas as suas forças, absorvendo a figura do action man setentista ao mesmo tempo em que precisa encarar de frente as tragédias e perdas pessoais que são consequências de seu empenho conta o crime (Fernando Rey surge aqui como vilão, sempre ótimo).
É difícil tirar da cabeça o olhar desolado e expressivo de Belli no desfecho… resultado de um belo trabalho combinado entre o gigante talento de Nero com uma sensibilidade fora do comum na direção de Castellari. Mas é claro que não poderia deixar de destacar mais uma vez o trabalho enérgico nas cenas de ação deste mestre italiano. Talvez seja o primeiro filme de Castellari com todas as características que marcam sua assinatura como diretor de ação. Os tiroteios sangrentos filmados em câmera lenta ao estilo Peckinpah, a perseguição do início, sequências explosivas de tirar o fôlego. A ação final é uma aula de enquadramentos e movimentos de câmera.
HIGH CRIME é a primeira colaboração entre Nero e Castellari, o filme seguinte do diretor, STREET LAW, já repete a parceria. Os dois ainda fizeram juntos o maravilhoso e crepuscular KEOMA, CIPOLLA COLT, O CAÇADOR DE TUBARÕES e O DIA DO COBRA… Estes três últimos eu nunca vi. Nem STREET LAW, que já está engatilhado aqui e trago minhas impressões em breve.
16.10.09
A POLÍCIA INCRIMINA, A LEI ABSOLVE (High Crime, 1973), de Enzo G. Castellari
Tempo cada vez curto para colocar as idéias em forma de texto, mas pra não deixar o blog parado em relação ao que tenho assistido ultimamente, vamos de resenhas curtinhas mesmo, na correria e do jeito que ficar, ficou. E na verdade são poucos os títulos que ando vendo. O último foi no domingo passado, este sensacional exemplar de policial italiano, dirigido pelo grande Enzo G. Castellari. Não sou tão especialista no gênero quanto o amigo Rogério Ferraz, e outros compañeros de guerra, mas o sujeito, sem dúvida alguma, é um dos maiores nomes dos polizieschi, e justamente HIGH CRIME é considerado a inauguração do estilo, claramente inspirado em OPERAÇÃO FRANÇA, de Friedkin. Se foi mesmo o primeiro filme, os amigos com mais conteúdo podem confirmar e acrescentar mais informações nos comentários.
Sobre o filme, é cinema de primeira linha, inovador e ousado, ao mesmo tempo grosseiro, brutal, rude, Franco Nero inspirado com uma atuação marcante que me chamou muito a atenção. O ator Fernando Rey (que também está em OPERAÇÃO FRANÇA) faz uma bela participação. Castellari tem uma baita personalidade na tela, independente de recursos financeiros, filma como poucos e merece muito mais respeito do que geralmente dão a ele.
Não é a toa que Dia da Fúria está preparando um especial dedicado a ele no ano que vem. Estraguei a surpresa, mas fiquem ligados!
30.9.09
VAMOS A MATAR, COMPAÑEROS (1970), de Sergio Corbucci
Eis aqui um belo exemplar comprovando o que muita gente fala, mas poucos acreditam. Sergio Leone merece ser reconhecido como um gênio do spaghetti western, mas não só ele! Existe uma lista de bons nomes que mereciam estar no topo junto com o diretor de ERA UMA VEZ NO OESTE, mas geralmente são esquecidos pela crítica e pelos cinéfilos mais jovens (aliás, os cinéfilos mais jovens se interessam por cinema popular italiano?).
Sergio Corbucci é um desses renegados e VAMOS A MATAR COMPAÑEROS é uma das mais fundamentais obras do gênero! O filme é também um perfeito representante do Zapata Western, uma ramificação dentro do Spaghetti Western, tratando de assuntos mais políticos que exploram a revolução mexicana. Outro bom exemplo deste sub-sub-gênero é QUANDO EXPLODE A VINGANÇA, do Leone.
VAMOS A MATAR COMPAÑEROS apresenta o traficante de armas sueco Yolaf Peterson (Franco Nero!) que chega ao vilarejo de San Bernardino com um vagão de trem lotado de armas e munições para vender aos revolucionários comandados pelo general Mongo (Francisco Bódalo). O problema é que o dinheiro para o pagamento das armas está trancafiado dentro de um cofre de ultima geração impossível de ser aberto sem a combinação correta. Todas as pessoas que sabiam já estão comendo capim pela raiz, a não ser o professor Xantos (Fernando Rey), um outro líder revolucionário, diferente de Mongo, idealista, sempre pregando a paz e que está preso em um forte em território americano. Seus seguidores não utilizam armas e buscam fazer a revolução através de medidas pacíficas, algo que não tem dado muito certo até então.
O sueco propõe "resgatá-lo" em troca de uma boa quantia de dinheiro e conta com a companhia de Vasco (Tomas Milian!), soldado de Mongo, um tanto estúpido, mas bastante afoito e rápido no gatilho. Partindo dessa premissa, Corbucci conduz a incrível jornada destes dois personagens cheia de aventuras, contratempos, tiroteios enfrentando o exército americano, os federais mexicanos e até mesmo um grupo de mercenários liderado pelo insano John (Jack Palance!!!), e que possui contas do passado a serem acertadas com o sueco.
Já dá pra perceber que um dos pontos fortes do filme é o elenco composto de feras do cinema europeu, mas quem merece um destaque a parte é o americano Jack Palance (que teve bastante presença no cinema popular do velho continente) com uma atuação magnífica. O que sobra é um dos vilões mais marcantes do western italiano. O sujeito veste uma capa preta, tem o cabelo bagunçado, é viciado em maconha, possui um falcão altamente treinado e uma mão de madeira (a de carne seu próprio falcão devorou para salvá-lo de uma crucificação causada pela traição do suíço). Coisa de louco!
Milian e Nero também não fazem feio. Os dois possuem uma química estranha que acabou dando certo com um Franco Nero cínico e debochado e Milian fazendo o ignorante meio tresloucado, com um visual que lembra Che Guevara, muito utilizado como alívio cômico em certos momentos. Aliás, o humor aqui é muito peculiar, ridicularizando situações violentas com um tom de humor negro, que é a mesma base do que seria o humor dos filmes de Quentin Tarantino muitos anos depois.
Voltando um pouco à trama, depois de resgatar o professor Xantos, Vasco e o sueco começam a questionar o sentido daquilo tudo que estavam fazendo, em especial Yolaf, que sabe as verdadeiras intenções do coronel Mongo: colocar as mãos no dinheiro do cofre e que se dane o México! Claro que a reflexão dos protagonistas não impede que ao final Franco Nero empunhe uma metralhadora ao estilo visceral de Django e saia atirando num exercito de bandidos, enquanto Tomas Milian faz sua parte, um verdadeiro estrago na carcaça dos meliantes, com um facão. Para aqueles que pensam que filme político é sinônimo de filme chato, provavelmente ainda não conhece o Zapata Western (ou até mesmo o cinema político italiano de uma forma geral, que possui obras brilhantes).
VAMOS A MATAR COMPAÑEROS consegue ser inteligente e ainda apresenta uma boa dose de ação dirigida com muita elegância e maestria pelo Corbucci e pontuada pela excelente trilha sonora de Ennio Morricone, uma das mais marcantes do compositor e estou com ela há dias grudada na cabeça. Muito bem, por enquanto é isso, vamos assistir, companheiros! (não resisti...)
Sergio Corbucci é um desses renegados e VAMOS A MATAR COMPAÑEROS é uma das mais fundamentais obras do gênero! O filme é também um perfeito representante do Zapata Western, uma ramificação dentro do Spaghetti Western, tratando de assuntos mais políticos que exploram a revolução mexicana. Outro bom exemplo deste sub-sub-gênero é QUANDO EXPLODE A VINGANÇA, do Leone.
VAMOS A MATAR COMPAÑEROS apresenta o traficante de armas sueco Yolaf Peterson (Franco Nero!) que chega ao vilarejo de San Bernardino com um vagão de trem lotado de armas e munições para vender aos revolucionários comandados pelo general Mongo (Francisco Bódalo). O problema é que o dinheiro para o pagamento das armas está trancafiado dentro de um cofre de ultima geração impossível de ser aberto sem a combinação correta. Todas as pessoas que sabiam já estão comendo capim pela raiz, a não ser o professor Xantos (Fernando Rey), um outro líder revolucionário, diferente de Mongo, idealista, sempre pregando a paz e que está preso em um forte em território americano. Seus seguidores não utilizam armas e buscam fazer a revolução através de medidas pacíficas, algo que não tem dado muito certo até então.
O sueco propõe "resgatá-lo" em troca de uma boa quantia de dinheiro e conta com a companhia de Vasco (Tomas Milian!), soldado de Mongo, um tanto estúpido, mas bastante afoito e rápido no gatilho. Partindo dessa premissa, Corbucci conduz a incrível jornada destes dois personagens cheia de aventuras, contratempos, tiroteios enfrentando o exército americano, os federais mexicanos e até mesmo um grupo de mercenários liderado pelo insano John (Jack Palance!!!), e que possui contas do passado a serem acertadas com o sueco.
Já dá pra perceber que um dos pontos fortes do filme é o elenco composto de feras do cinema europeu, mas quem merece um destaque a parte é o americano Jack Palance (que teve bastante presença no cinema popular do velho continente) com uma atuação magnífica. O que sobra é um dos vilões mais marcantes do western italiano. O sujeito veste uma capa preta, tem o cabelo bagunçado, é viciado em maconha, possui um falcão altamente treinado e uma mão de madeira (a de carne seu próprio falcão devorou para salvá-lo de uma crucificação causada pela traição do suíço). Coisa de louco!
Milian e Nero também não fazem feio. Os dois possuem uma química estranha que acabou dando certo com um Franco Nero cínico e debochado e Milian fazendo o ignorante meio tresloucado, com um visual que lembra Che Guevara, muito utilizado como alívio cômico em certos momentos. Aliás, o humor aqui é muito peculiar, ridicularizando situações violentas com um tom de humor negro, que é a mesma base do que seria o humor dos filmes de Quentin Tarantino muitos anos depois.
Voltando um pouco à trama, depois de resgatar o professor Xantos, Vasco e o sueco começam a questionar o sentido daquilo tudo que estavam fazendo, em especial Yolaf, que sabe as verdadeiras intenções do coronel Mongo: colocar as mãos no dinheiro do cofre e que se dane o México! Claro que a reflexão dos protagonistas não impede que ao final Franco Nero empunhe uma metralhadora ao estilo visceral de Django e saia atirando num exercito de bandidos, enquanto Tomas Milian faz sua parte, um verdadeiro estrago na carcaça dos meliantes, com um facão. Para aqueles que pensam que filme político é sinônimo de filme chato, provavelmente ainda não conhece o Zapata Western (ou até mesmo o cinema político italiano de uma forma geral, que possui obras brilhantes).
VAMOS A MATAR COMPAÑEROS consegue ser inteligente e ainda apresenta uma boa dose de ação dirigida com muita elegância e maestria pelo Corbucci e pontuada pela excelente trilha sonora de Ennio Morricone, uma das mais marcantes do compositor e estou com ela há dias grudada na cabeça. Muito bem, por enquanto é isso, vamos assistir, companheiros! (não resisti...)
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