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10.7.12

O IMPERADOR DO NORTE (Emperor of the North, 1973)


Sou da mesma opinião do velho amigo Osvaldo Neto, meu filme favorito estrelado pelo Ernest Borgnine, que faleceu essa semana aos 95 anos, é O IMPERADOR DO NORTE, do mestre Robert Aldrich. Mas não tinha como ser diferente. Borgnine sempre cativou o público com seus personagens simpáticos e sorridentes, mesmo em exemplares mais duros, como MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA, de Sam Peckinpah (que seria o diretor deste aqui, após Martin Ritt desistir, mas acabou não concordando com o orçamento).

“O que aquele gordinho de cara engraçada está fazendo no meio dessa corja?!” Era essa a tônica de Borgnine… Mas aqui não! Em O IMPERADOR DO NORTE essa áurea de bonzinho vai às favas, num dos personagens mais brutais e sádicos que alguém poderia imaginar sob a figura de Ernest Borgnine! Ele vive o condutor responsável de um trem de carga, durante o climax da depressão americana, que ganhou fama por não dar moleza aos viajantes clandestinos que resolvem pegar “carona” em sua preciosa locomotiva. Apesar disso, outra grande figura surge em cena para o confronto, Lee Marvin, cujo persoangem também possui um reputação a zelar: a de maior caronista clandestino de trem que existe!



Sem perder tempo com estudos sociológidos do período em questão (embora as classes estejam obviamente demarcadas nas duas figuras centrais), O IMPERADOR DO NORTE é um filme solto, mais em clima de aventura do que um recorte fiel e chato da depressão americana, e se desenvolve em cima do duelo físico e psicológico desses gigantes, o “vagabundo” liberto e o durão empregado da ferrovia. E Aldrich é de uma inteligência impressionante, conduzindo todas as situações de modo que o confronto seja inevitável, intensamente dramático... E quando finalmente ocorre, é como duas núvens carregadas que se chocam, causando estrondos ensurdecedores!

Belo filme, cinematograficamente potente, ótima recriação do clima da época, os traços da miséria, os programas de rádio, as roupas velhas e rasgadas, um sentimento que parece saído de um livro de John Steinbeck (apesar de inspirado em Jack London). E aqui vai o meu adeus ao velho Borgnine. O bom é que o sujeito deixou alguns duzentos filmes para estarmos sempre nos reencontrando...

3.9.11

BAD DAY AT BLACK ROCK (1955)

 

aka CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO
direção: John Sturges
roteiro: Millard Kaufman, Don McGuire, Howard Breslin 

Entrei numa de tentar me aprofundar nos clássicos do cinema físico de ação. Acho que já não deve ser mistério pra ninguém que o gênero ação é o meu predileto, então nada mais justo que conferir as raizes de tudo, não? O problema é que são tantos títulos que fica difícil escolher por onde começar… que tal então BAD DAY AT BLACK ROCK (adoro o título original), um dos grandes precursores do cinema badass, dirigido pelo casca grossa John Sturges (FUGINDO DO INFERNO, SETE HOMENS E UM DESTINO) e com um puta elenco formado por vários monstros consagrados do cinema americano?!


Começando pelo protagonista, Spencer Tracy, fazendo um tipo misterioso que chega de trem em uma minúscula cidade no meio do nada! O visual do filme é de encher os olhos desde os primeiros segundos, com um largo CinemaScope sendo preenchido com planos abertos, riqueza de detalhes, formas, cores e segue assim até o fim. A trama se passa nos anos 50 mesmo, mas o local parece que não acompanhou o decorrer do tempo e ficou preso no século anterior, com sua aparência de velho oeste. Há quatro anos o trem não para na estação local, então esta simples chegada do personagem ao local equivale à Copa do Mundo para aqueles habitantes.

Do mesmo modo que o objetivo de Tracy é totalmente desconhecido para os moradores, ao espectador a coisa não muda de figura. A princípio, Tracy parece um detetive da cidade grande, todo engomadinho, com chapéu, maleta e… apenas um braço! Aos poucos, percebemos que algo naquele lugar realmente não cheira muito bem, e Robert Ryan logo surge em cena como o cínico dono da cidade e seus capangas, Lee Marvin e Ernest Borgnine tentam transformar a vida de Tracy num inferno, intimidando o visitante, fazendo perguntas de um jeito não muito agradável sobre as intenções dele no local… obviamente, não gostam da presença dele ali.


E eu já vou soltar logo o maior spoiler de BAD BAY! Não, não estou falando do segredo que aquela pequena cidade esconde. Quero dizer algo que realmente me surpreendeu: o personagem de Spencer Tracy luta karatê neste filme! Há uma cena que é o paroxismo do cinema badass, no qual Tracy está tomando qualquer coisa no bar e Borgnine chega para atazanar a sua vida sem ter a mínima idéia que está diante de um especialista em artes marciais maneta… mas quem poderia saber? Tracy lhe aplica vários golpes com uma facilidade de fazer Steven Seagal se morder de inveja!

 


Apesar disso, o ritmo é bem lento para os padrões do cinema de ação moderno. E não estou criticando o trabalho do Sturges, pelo contrário, acho que o que falta na maioria dos filmes atuais, não só de ação, é justamente um ritmo mais lento, uma narrativa mais elaborada e cadenciada, com diálogos e situações “estáticas” tão tensas e emocionantes quanto explosões e tiroteios frenéticos! Uma das melhores coisas em BAD DAY, por exemplo, é a maneira como Sturges lentamente conduz o mistério da trama e o revela gradativamente. Isso sem contar que a descoberta aborda um assunto que nunca sai de moda.

Não é a toa que o diretor Don Siegel disse que o roteiro de BAD DAY AT BLACK ROCK foi o melhor que ele já leu! O filme consegue ser divertido, cheio de mistério e ação, mas com substância inesperada por trás de tudo. E se você ainda curte karatê com pessoas de apenas um braço, então este filme é pefeito pra você.

22.3.11

OS FILMES QUE LEE MARVIN NÃO FEZ

Lee Marvin tem uma das carreiras mais respeitáveis do cinema. Fora que dedicou boa parte de sua filmografia a alguns dos gêneros que eu adoro e, não foi a toa que acabou se tornando o meu ator favorito.

Trabalhou em noir’s, como OS CORRUPTOS, de Fritz Lang, protagonizando o famoso cafezinho quente no rosto de Gloria Grahame.

Ação e policial! THE KILLERS, PRIME CUT, POINT BLANK, CANICULE, etc... até COMANDO DELTA, seu último filme, dividindo a tela com Chuck Norris.

Fez um bocado de westerns sendo dirigido pelos melhores do ramo, como John Ford e Budd Boetticher. Inclusive ganhou o oscar de melhor ator de 1965, com CAT BALLOU, quando encarnou dois personagens no mesmo filme.

Não faltam produções de guerra também. OS DOZE CONDENADOS, de Robert Aldrich, AGONIA E GLÓRIA, de Samuel Fuller, a lista é longa e vou parar por aqui... até porque não são dos filmes que ele participou que eu gostaria de falar, mas sim dos filmes que ele NÃO participou.

Fiquei impressionado com a quantidade de papéis importantes que Lee Marvin recusou!

Não quis interpretar, por exemplo, o General George S. Patton em PATTON – REBELDE OU HERÓI. Acabou nas mãos de George C. Scott, que venceu o Oscar daquele ano.

Lee Van Cleef ficou com o papel do Coronel Douglas Mortmer, em POR UNS DÓLARES A MAIS, de Sergio Leone, após Lee Marvin ter rejeitado pra fazer CAT BALLOU.

Recusou até Sam Peckinpah, com quem teve alguns desentendimentos, no personagem que viria  a ser de William Holden em MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA.

As escolhas iniciais de John Boorman em AMARGO PESADELO eram Marlon Brando e Lee Marvin, mas o nosso ator favorito alegou que estavam velhos demais para aquilo e os papéis foram para Burt Reynolds e Jon Voight.

Também resolveu deixar de lado o Coronel Trautman no primeiro filme da série RAMBO.

Nem quis saber de trabalhar com o diretor William Friedkin e recusou OPERAÇÃO FRANÇA e COMBOIO DO MEDO.

Não consigo imaginar Dirty Harry sem a face de Clint Eastwood em PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL, mas por pouco teríamos o rosto carrancudo de Lee Marvin.

A mesmíssima coisa o Paul Kersey de Charles Bronson em DESEJO DE MATAR.

Ainda teve TUBARÃO, de Steven Spielberg, onde deveria ter feito Quint, personagem que acabou com Robert Shaw, e o GUERRA DOS MUNDOS original, onde faria o protagonista.

Francis Ford Coppola chegou a escrever um bilhetinho pedindo ao Marvin para que atuasse em APOCALYPSE NOW na pele do Coronel Kurtz (quando ainda era Coronel Karnage):


clique na imagem para não forçar demais as vistas.
Com um bilhetinho desses, até o David Caruso teria recusado.

Fico imaginando o que Lee Marvin teria aprontado com todos esses personagens... talvez um dia chegasse aos pés desse mestre da interpretação aqui:

11.7.10

COMANDO DELTA (The Delta Force, 1986), de Menahem Golan

Em tempos pós 11 de setembro de 2001, dificilmente veremos um filme novo utilizando terroristas árabes que sequestram um avião cheio de americanos como forma de entretenimento. Não quero iniciar discussões políticas, mas houve uma época que isso era muito comum. COMANDO DELTA, estrelado por dois machões do cinema de diferentes gerações, Lee Marvin e Chuck Norris, é um ótimo exemplo. Eu costumava assistir a esta belezinha diversas vezes quando era criança. Pra ser sincero, eu fui batizado com este tipo de filme... Saudades da boa época da TV aberta... mas foi uma experiência interessante revê-lo depois de tantos anos.

Já não me lembrava de muita coisa da trama, a não ser algumas sequências de ação lá do final, que era o que prendia minha atenção, mas ainda vamos chegar lá. A idéia para COMANDO DELTA do Sr. Menahem Golan, o grande nome por trás da extinta Cannon, é muito boa. Uma combinação bem divertida de filme de sequestro de avião com o cinema de ação exagerado dos anos 80, cuja representação encontra força no personagem de Chuck.

O enredo se resume a um avião que parte para os Estados Unidos e é seqüestrado por dois terroristas libaneses. Ao mesmo tempo, é acionado um esquadrão de elite para casos de sequestros, liderado por Lee Marvin, que parte ao encontro da situação para resolvê-la a qualquer custo, nem que seja à base de tiro de bazuca!

A primeira hora do filme se concentra no seqüestro, toda a sua burocracia e uma dose acima da média de dramaticidade para este tipo de filme. Que porcaria de filme de ação oitentista é esse em que os tiroteios e explosões só iniciam depois de uma hora? Dá pra acompanhar tranquilamente, mas não deixa de ser truncado demais. O bom é que quando a ação começa, segue frenética até o fim! Além disso, a bordo do avião temos de tudo um pouco para a alegria daqueles que adoram um clichezão: crianças choronas, uma mulher grávida, freiras suplicantes, um padre, a vítima indefesa que é espancada e até a aeromoça valentona. Mas o destaque mesmo fica por conta do elenco que desfila diante da tela. E isso me surpreendeu bastante, pois não lembrava dessa seleção de atores.

O piloto do avião é ninguém menos que Bo Svenson. Não seria uma surpresa pra mim se ele levantasse da cadeira e resolvesse a situação por conta própria, como um homem de ação que sempre foi, mas ele satisfaz apenas como comandante de vôo mesmo. George Kennedy é o padre; Martin Balsan e Shelley Winters vivem um casal de judeus e Robert Forster tem a complicada missão de tentar convencer o público que é um terrorista libanês!!! E até consegue bons resultados. Fora do avião, Robert Vaugh aparece discretamente como homem do governo e Steve James é um dos integrantes do esquadrão.

Lee Marvin tem aqui a sua última atuação. É até um pouco melancólico pra mim, vê-lo nesse personagem, porque além de ser o meu ator favorito, talvez tenha notado em sua honesta interpretação o arrependimento em estar terminando sua carreira numa produção B de ação que não se leva a sério. Claro que ele é um dos elementos essenciais de COMANDO DELTA e eu adoro o filme, mas pra ele que esteve sob a direção de grandes nomes como Fritz Lang, Sam Fuller, Robert Aldrich, John Boorman, Yves Boisset e muitos outros, não sei se ele estava lá muito satisfeito com isso. Os outros atores mais velhos como Balsan e Kennedy estavam ali pra se divertir e pegar um cheque para garantir que as contas do mês fossem pagas.

Assim como a ação final, outro detalhe praticamente ininterrupto é a trilha sonora patriótica de Alan Silvestre. Anos 80 puríssimo, embora fosse bem melhor aproveitada como música de abertura de programa esportivo, mas dá aquele tom tosco que o filme precisa pra divertir ainda mais os assíduos fãs deste tipo de produção.

Mas o melhor de COMANDO DELTA fica por conta mesmo de Chuck Norris, quando lá pelas tantas o filme se transforma num autêntico exemplar de ação desenfreada! E o ator fica muito mais à vontade para demonstrar todo seu talento e desenvoltura soltando frases de efeito, metralhando bandidos e fazendo pose ao mesmo tempo, distribuindo pancadas em terroristas, etc. Uma cena muito boa é a perseguição em alta velocidade pelas ruas de Beirute. Norris demonstrando boa pontaria dentro de uma combi em movimento, enquanto seus perseguidores aparentemente não conseguiriam acertá-lo nem se ele estivesse sentado no colo deles. Na sequência final o sujeito esbanja criatividade em cima de uma moto cheia de parafernálias bélicas, como metralhadoras e lança mísseis. Os terroristas devem ter pesadelos com Chuck Norris até hoje... aqueles que sobrviveram.

Mas vamos ser francos, o esquadrão Delta Force na verdade é bem problemático. O filme abre com uma missão fracassada e termina com o grupo especial triste por um dos integrantes ter perdido a vida em ação, embora os reféns do avião tenham sido libertados. No meio do filme, o próprio Lee Marvin põe tudo a perder atrapalhando uma movimentação para invadir enquanto o avião era abastecido em terra. Lógico que havia um motivo para a trapalhada, mas isso acarretou na morte de um dos reféns. Na hora de entrar em ação, os caras mandam bem, mas um pouco de organização tática ajudaria a não cometerem tantos erros.

Isso é pra mostrar quem nem tudo na vida é como gente gostaria que fosse, mas nem por isso devemos ficar abalados, não é mesmo? Que lição de moral mais cretina que eu arranjei aqui... Enfim, o esquadrão Delta Force ganhou outro filme poucos anos depois, mesmo com seu modo torto de agir: COMANDO DELTA 2, dirigido por Aaron Norris, irmão caçula de Chuck, agora sem o Lee Marvin no elenco, que morreu um ano depois de ter trabalhado neste aqui. Comentaremos sobre ele depois. Adiós!

8.1.10

THE KLANSMAN (1974), de Terrence Young

Para começar bem o ano, revi essa preciosidade dos anos 70, estrelado pelo meu ator favorito, Lee Marvin, o qual vive um xerife casca grossa de uma pequena cidade americana que precisa tomar certas atitudes quando um grupo da Ku Klux Klan resolve botar pra quebrar em cima dos negros.

THE KLANSMAN é um filme interessante, desses que ninguém teria coragem de realizar hoje dentro de um estúdio americano, uma fábula cruel e violenta sobre racismo.

Naquele período o politicamente incorreto não era visto com o rabo de olho como é hoje (na verdade, era, só que os produtores ainda tinham audácia para financiar certas coisas). Brancos estuprando negras, castrando e assassinando negros à sangue frio, são pequenos detalhes presentes aqui, entre outras coisas, inimagináveis na Hollywood atual.

A primeira versão do roteiro, baseado num romance de William Bradford Huie, foi escrita pelo mestre Samuel Fuller – ele também seria o diretor do projeto – mas muito pouco do que fora filmado estava realmente nos manuscritos do diretor de CÃO BRANCO. O personagem de Marvin, por exemplo, não era um xerife, mas um membro da KKK cujo ponto de vista sobre o racismo se transformaria durante a trama. Havia também outros detalhes que provocaram os executivos da Paramount e fizeram com que fossem impostas as modificações, o que deixou Fuller puto da vida ao ponto de chutar o balde e pular fora. Mesmo assim, ele recebeu crédito pelo roteiro. Marvin pensou em fazer a mesma coisa, mas como já havia assinado o contrato acabou ficando.

Para o lugar de Fuller na direção, contrataram o veterano Terence Young, um nome raramente lembrado, mas possui no currículo alguns bons filmes de ação dos anos 60 e 70 realizados em sua maioria na Europa. Era um artesão de fato, mas sabia posicionar e movimentar muito bem a câmera com segurança, sabia contar uma boa estória. Foi ele quem dirigiu os dois primeiros filmes da série estrelada pelo espião 007, com Sean Connery.

Além de Lee Marvin, que está sempre perfeito em tudo que faz, temos também o britânico Richard Burton encabeçando o elenco. Dizem as colunas de fofocas que os dois bebiam todo tempo enquanto filmavam. Burton teve que parar em uma clínica para tratar do alcoolismo assim que as filmagens terminaram. O elenco se completa com o grande Cameron Mitchell, outro ator subestimado, e O.J. Simpson, aquele ex-jogador de futebol americano acusado de ter assassinado sua ex-mulher. Mas muitos se lembram dele como o policial Nordberg de CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ.

O tema de THE KLANSMAN é tratado de maneira muito clara durante a trama e não possui muitas pretensões reflexivas, algo com o qual o roteiro de Fuller provavelmente proporcionaria. Tampouco é um filme de muita ação. Temos o final quando o grupo de KKK, fantasiados à caráter, encurrala o Xerife e seus amigos – estes respondem com chumbo grosso sem piedade, e só.

Mas é um bom filme que valoriza seus personagens e suas excelentes atuações, como os grandes momentos de Marvin contracenando com Burton, além da brutalidade habitual do cinema americano dos anos setenta. Um charme cultuado hoje, mas o filme pagou um preço sendo colocado no mesmo patamar das produções do cinema de exploração e, como acontece com quase todo esse tipo de filme, acabou encalhado e esquecido.

13.5.09

INFERNO NO PACÍFICO (Hell in the Pacific, 1968), de John Boorman

Não sei justificar porque enrolei tanto pra assistir a este filme tão obrigatório na minha lista de pendências. Talvez por negligência mesmo, mas a verdade é que o Lee Marvin é o meu ator favorito, então quem já viu INFERNO NO PACÍFICO deve saber que era praticamente uma questão de honra conferir este aqui.

Quem ainda não conhece o filme, vai ter uma boa referencia se já tiver assistido o clássico da sessão da tarde, INIMIGO MEU, estrelado por Dennis Quaid e Louis Gossett Jr, dirigido por Wolfgang Petersen em tempos áureos e inspirados. Agora, quem não conhece nenhum dos dois, pode mudar de área, vá ler um livro, jogar video game, etc, porque cinema não é pra você mesmo!

Mas se ainda quiser continuar a ler o texto, tudo bem, então vamos a história: Já perto do fim da Segunda Guerra Mundial, um piloto norte americano (Marvin) e um oficial japonês (Toshiro Mifune), acabam presos numa pequena ilha deserta. Espero que aqueles que não conheciam ambos os filmes – e mesmo assim insistiram em continuar lendo – tenham pelo menos uma noção de história pra saber que soldados americanos e japoneses eram inimigos mortais neste período, então já dá pra sacar qual é a do filme.

Principalmente porque eu não tenho muito mais a acrescentar sobre a trama sem estragar o prazer de ver pela primeira vez, ainda mais que INFERNO NO PACÍFICO, tirando o básico do plot, não tem nada a ver com INIMIGO MEU. Não esperem aqui naves espaciais, equipamentos futuristas e nem o Toshiro Mifune ficar grávido... seria no mínimo, ridículo. Além do mais, o número de diálogos é risível e os únicos seres humanos que veremos em cena são os dois personagens citados.

Lee Marvin, como sempre, está perfeito, expressivo e com muita presença, vivendo o americano que confia demais na esperteza pra conseguir as coisas, mas não possui os conhecimentos básicos do manual de sobrevivência para casos do tipo, então, a principio, passa fome e sede, enquanto o "colega" japonês sabe pescar e arranja água a vontade. E vale destacar o desempenho de Mifune, como não? O sujeito foi um dos maiores atores orientais, trabalhando em vários clássicos de Akira Kurosawa, o que não é pouco. É impossível dizer quem está melhor por aqui e o poder do filme concentra-se justamente na atuação dos dois indivíduos.

Mas por mais que o filme necessite da expressividade corporal dos atores, John Boorman nunca deixa a sua direção pender para um tom teatral. O roteiro, liberto de diálogos, se resume em situações puramente visuais, e um diretor do calibre de Boorman não iria desperdiçar a oportunidade de dar uma aula de linguagem cinematográfica. A fotografia é belíssima e o uso do som também é uma coisa de louco. No final das contas, temos belo filme de aventura, reflexivo sobre as diferenças de costumes e culturas, que é um tema já esgotado hoje em dia, mas muito bem trabalhado pelo diretor naquela época.

18.2.09

SEVEN MEN FROM NOW (1956), de Budd Boetticher

Primeiro contato com o cinema de Budd Boetticher neste western inteligente, puramente cinematográfico e alegoricamente interessante. O elenco é encabeçado por Randolph Scott e, se não me engano, inicia aqui uma pareceria com o diretor que rendeu alguns clássicos famigerados (aliás, os outros filmes desta parceria eu já tenho e vou comentando na medida em que for assistindo). Scott interpreta um ex-xerife atrelado numa caçada por sete sujeitos que assassinaram sua esposa em um assalto; ao longo do caminho ele encontra algumas pessoas que o acompanha, como um casal que ruma para Califórnia numa carroça e um antigo desafeto do protagonista, vivido por Lee Marvin (fazendo um belo contraste Marvin, sempre robusto x Scott e seu jeitão lacônico). Boetticher é bem seguro narrativamente e sabe utilizar as simbologias do gênero, a paisagem, o espaço, as cores, tudo em favor de um estilo simples e respeitador dos princípios da linguagem cinematográfica, o que torna cada plano um espetáculo visual único.