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10.11.09

DIFÍCIL DE MATAR (Hard to Kill, 1990), de Bruce Malmuth

Digamos que para nós, fãs do astro Steven Seagal, o homem entrou no mundo do cinema com pé direito em NICO – ACIMA DA LEI, um puta filme policial de ação, sensacional, que a grande maioria tem preconceito justamente porque é estrelado pelo ator de rabinho de cavalo. E olha que ele nem usava ainda o rabinho em sua estréia! DIFÍCIL DE MATAR é o seu segundo trabalho e confirma que o sujeito veio para ficar, detonar com muitos bandidos e fazer a alegria da moçada!

DIFÍCIL DE MATAR pode até não ser melhor que NICO, mas para quem quer apenas sentar no sofá e assistir ao nosso herói distribuindo bala, quebrando alguns braços e jogando os malandros por vidraças, este aqui é o filme ideal, principalmente pela simplicidade do tema, sem a ênfase política de seu trabalho anterior (embora não deixe de ter). Quer apenas divertir seu público e faz isso muitíssimo bem.

Para quem não se lembra (o que eu acho improvável, já que o filme passava toda semana nas tardes do SBT), a trama é uma variação da estória do sujeito que quase morre depois de ter a carcaça perfurada a balas, entra em coma, depois de vários anos acorda, descobre que sua mulher e seu filho foram mortos, treina para ficar forte de novo e sai para vingar-se dos responsáveis que estragaram sua vida. Lembrando que KILL BILL veio muito tempo depois deste aqui...

Steven Seagal vive o policial Mason Storm que, já na cena de abertura, aparece espreitando por entre os becos escuros de uma doca com uma câmera para tentar registrar a reunião de um grupo de suspeitos. Acaba descobrindo um plano para matar o senador, mas sua presença é logo descoberta, mesmo assim consegue escapar sem precisar partir para a violência. Como ninguém viu seu rosto, segue tranquilo seu caminho, passa numa loja de licores para comprar um champanhe para estourar com a patroa, mesmo tendo em mãos uma verdadeira bomba prestes a explodir. A organização, que conta com policiais corruptos já sabe muito bem quem era o abelhudo das docas.

A cena que se passa na loja de licores é interessante porque serve para explorar um pouco quem é o nosso herói, o que se significa que vamos ter uma sequência de luta!!! Totalmente à parte da trama principal, um grupo de ladrõezinhos de quinta categoria invade o local para assaltar, mas acaba deparando-se com Storm, que utiliza todo seu conhecimento em artes marciais par quebrar a cara dos malandros. Depois disso, leva o champanhe pra casa, porque ninguém é de ferro...

Chegando, encontra a esposa em trajes íntimos o esperando para estourar o inebriante. Mas os bandidos empatam a foda atirando pra tudo "quanté" lado, matando a esposa e alvejando o sujeito, que não morre, entra em coma e só vai acordar daqui a sete anos com sede de vingança porque como o título auto explicativo informa, ele é DIFÍCIL DE MATAR!!! O filho do casal acaba se safando pela janela deixando os meliantes putos da vida. Estes espalham cocaína pelo quanto pra dar a impressão de que se tratava de um dirty cop... não basta matar, tem que amaldiçoar as próximas gerações também.

No hospital, o médico informa o que ninguém nem imagina. Mason Storm ainda está vivo, mas em coma. Kevin O'Malley, um dos poucos policiais confiáveis do distrito e amigo do protagonista, pede ao médico que não deixe vazar a informação, ou Storm estaria correndo risco de vida. E assim, nosso herói passa sete anos sossegado, tendo a bundinha limpa por enfermeiros. Aliás, por uma enfermeira que eu faria questão de me machucar feio só pra ficar sob seus cuidados. Estou falando de Kelly Le Brock, a mulher nota 1000, e esposa do Seagal na época.

Resumo da ópera: Storm acorda com uma barba extremamente engraçada, de pijamas e já precisa fugir do hospital, onde um assassino deseja terminar o serviço mal feito realizado sete anos antes. Le Brock ajuda o protagonista a escapar e o leva para a casa de um médico que está na China. Lá, Storm se recupera, treina como dar socos novamente, conta suas histórias de vida, de como aprendeu a lutar, etc, claro que vai aproveitar para apagar o fogo da enfermeira, que desde quando estava em coma, já elogiava a manjuba do sujeito. Porque além de fodão, o sujeito tem que ser o kid Bengala...

Como disse o meu amigo Luiz Alexandre, seria interessante fazer um filme com um personagem fodão, mas que sofre por ter o membro mal desenvolvido... seria bem dramático. Algo que um casca grossa como Steven Seagal nunca aceitaria fazer. Além disso, DIFÍCIL DE MATAR é o único filme da carreira de Seagal que ele tem relações sexuais com duas mulheres diferentes na trama. Algo inadmissível em filmes posteriores quando seus personagens vão se tornando cada vez mais solitários e nem família possui, diferente dos primeiros filmes. É nesses filmes solitários que ele deveria fazer o filme sugerido pelo Luiz... mas enfim.

Depois de descobrir que seu filho não morreu e está muito bem sob os cuidados de O'Malley, é hora de limpar seu nome e vingar-se. O legal é que ele nem precisou ir atrás da bandidagem. Os próprios malfeitores o encontram na casa do médico que está na China, e vai levar um susto daqueles quando retornar e notar o estado de sua sala, cheio das decorações orientais estraçalhadas... sem contar os corpos que Seagal deixou antes de fugir com seu jipe à prova de balas. A sequência da fuga é bem bacana, com Seagal revezando tiros e golpes de Aikido em seus inimigos, cada vez mais convencidos de que o sujeito é realmente difícil de matar!

O filme tem muita ação, todas trabalhadas organicamente, servindo muito bem a narrativa. Onde quer que Storm passe, sempre há um engraçadinho pronto pra levar um pontapé, ou ser jogado através de uma vidraça. O principal alvo do nosso herói é o atual senador, o mesmo de sete anos antes, quando ainda era o vereador, que planejava a morte do então senador. Quem encarna o vilão é ninguém menos que o William Sadler, ator subestimado pelo grande publico, mas sempre marcando presença com ótimas performances. A cena em que mostra seu personagem numa banheira de hidromassagem em sua mansão, com uma gatinha de topless, recebendo a notícia de que Storm poderia chegar a qualquer momento é impagável! “Listen, We’re not gonna make the ballet tonight. GET LOST!

O grande mérito de DIFÍCIL DE MATAR é o roteiro escrito por Steven McKay, na qual teve a sabedoria de contar um estória simples, com todos aqueles clichês que sabemos previamente que vamos encontrar, mas que é justamente o que buscamos ao assistir a um filme como esse. Ou alguém aí vai parar para assistir a um trabalho de Steven Seagal tentando encontrar reflexões humanistas que vão te inspirar a escrever um texto de uns 15 parágrafos? Claro que não! Aqui, o máximo de humanismo que você encontra é o personagem de Seagal gritando “NOOOOO” no momento em que sua esposa leva um balaço de escopeta!

O roteiro ainda é responsável por colocar bastante situações de ação acompanhadas de várias frases para os fãs de cinema Bad Ass se deliciarem, como quando Storm reconhece quem é o verdadeiro vilão da estória, o atual senador, comentando na TV que não acrescentaria novas taxas, impostos, etc, e que levassem isso para os bancos, e o protagonista diz para si mesmo, mas em voz alta, “I’m gonna take you to the bank, senator. To the blood bank”!!! Demais!

A direção é por conta de Bruce Malmuth, que não chega a ser um Andrew Davis, muito menos John Flynn, mas cumpre bem o papel com seriedade e eficiência como um bom artesão, algo meio difícil de se encontrar no cinema de ação americano atual. É o responsável por outro filme bem legal que eu comentei por aqui há algum tempo, FALCÕES DA NOITE, com Sylvester Stallone.

DIFÍCIL DE MATAR é um filme que eu realmente adoro e representa muito todo um cinema de ação dos anos 80 e 90 em sua essência non sense de exageros e falta de pretensão, a não ser a de divertir seu público, com muita liberdade criativa, elementos feitos sob medida, sem qualquer obrigação com a realidade. É isso que importa e por isso dou muito mais valor a este tipo de cinema do que essas frescuradas de hoje, com raríssimas exceções! E se preparem que vem mais Steven Seagal por aí! E também mais Van Damme, Stallone, Arnoldão, Bruce Willis, Dolph Lundgren, etc, etc...

Outros textos de Steven Seagal: NICO - ACIMA DA LEI e FÚRIA MORTAL.
E o texto sobre FALCÕES DA NOITE, do Bruce Malmuth