É, a pirraça que o Ferrara fez quando o Herzog anunciou seu novo filme foi mesmo desnecessária. Mas quem ia adivinhar que o filme do alemão seria tão diferente da versão do diretor de O REI DE NOVA YORK? Ok, talvez muita gente tivesse adivinhado; o próprio Herzog afirmou que nunca havia assistido ao original, então o novo BAD LIEUTENANT não deveria mesmo ser encarado como um remake ou algo parecido. O único ponto em comum entre os dois filmes é o protagonista, um tenente da polícia corrupto, viciado em drogas, em jogos, etc, e as semelhanças acabam aqui.
Sendo a disparidade entre os dois filmes tão evidente, não é justo fazer comparações entre as versões, mas como filmes policiais, ainda prefiro o do Ferrara, uma das experiências mais deprimentes que já tive com um filme, aquela atmosfera e a atuação do Keitel são elementos difíceis de igualar. Ah, e aquele desfecho niilista! Demais!
Mas quero deixar bem claro que Herzog não faz feio; não vamos esquecer que é o HERZOG, pô! O sujeito que dirigiu AGUIRRE, FITZCARRALDO, NOSFERATU e tantos outros clássicos do cinema alemão. Não é de se surpreender que tenha feito um filmaço com este material.
Seu retrato do personagem central é extremo, politicamente incorreto, construido no limite, à beira de um ataque de nervos numa New Orleans suja e devastada pelo furacão Katrina. Deve-se tirar também o chapéu para Nicholas Cage, com uma performance de respeito, compondo um protagonista nos mínimos detalhes. É sua melhor atuação desde... er, quando mesmo? Enfim, o que importa é que o homem está genial e protagoniza um dos momentos mais bad ass do ano, na cena em que ele tenta tirar informações de duas velhinhas!!! Grande Cage...
BAD LIEUTENANT ainda possui alguns coadjuvantes de peso, como Eva Mendes, que demonstra porque os grandes diretores sempre querem tê-la no elenco (e não é somente pela beleza), Val Kilmer, praticamente numa ponta com diálogos, mas o faz com competência, e Brad Douriff, também aparece pouco, mas é bem aproveitado.
Portanto, para quem ainda estava com o pé atrás com este novo trabalho do alemão maluco só por causa da ligação com o filme do Ferrara, pode conferir sem medo, porque além de ser um filmaço policial bem acima da média atual, consegue ter substância suficiente para trabalhar com autoridade a dramaticidade e profundidade de seu protagonista, que é a verdadeira pretensão do enredo. E Herzog tem atitude e moral pra isso! Está em crédito comigo e totalmente perdoado pelos 10 minutos finais de O SOBREVIVENTE...