Dois filmes que me agradaram bastante este ano foram essas produções estreladas pelo
Michael Jai White, ator que desde o início da década de 1990 busca seu espaço no mercado de filmes de ação, artes marciais e até adaptações de quadrinhos, mas sem grandes resultados. Foi ele quem encarnou Al Simmons, aka Spawn, criação do Todd McFarlane, o qual eu admiro bastante mais como desenhista, na adaptação para o cinema. Pena que o filme é ruim de doer. Dava pra render algo bem interessante com o personagem, embora não faça muito o meu gênero... Ainda nas adaptações, White teve uma pequena participação no último filme do Batman.
Enfim, White finalmente vem acertando em suas escolhas nos últimos anos.
BLACK DYNAMITE é um achado que merece ao menos um comentariozinho aqui no blog. Assisti em janeiro deste ano e acabei deixando passar, mas como nesta semana me deparei com o
BLOOD AND BONE, lançado logo depois de
BD, resolvi consertar. O filme é uma brilhante homenagem/paródia dos
blaxploitations setentistas. Fotografia, edição, direção, trilha sonora, personagens, tudo funciona nesta brincadeira que consiste em dar ao filme uma roupagem de outra época, mesmo que para isso seja necessário exagerar na maquinação dos elementos, forjar de maneira escrachada este universo tão pertencente a um estilo enraizado nos anos setenta.
Aparentemente, o resultado pode parecer mais uma zoação do que homenagem, aliás, é algo bem mais fácil de fazer e que já existem aos montes por aí. Mas, olhando mais de perto, percebe-se claramente que os realizadores de
BLACK DYNAMITE sabem exatamente onde estão se metendo. Nas mãos de algum sujeitinho que pensa que é diretor, financiado por um grande estúdio, sem dúvida alguma teríamos mais uma comédia explorando futilidades superficiais, roupas e penteados da época, como se fossem muito engraçados. Já o trio de roteiristas, Byron Minns, Scott Sanders (que é o diretor) e o próprio Jai White, demonstram uma paixão fetichista pelo tema e um conhecimento notável pelo cinema blaxploitation.
Tarantino e Rodriguez bem que tentaram algo parecido no projeto
Grindhouse, mas não chegam nem perto do resultado de
BLACK DYNAMITE. Vejam bem que não estou discutindo a qualidade das obras. Adoro tanto PLANETA TERROR quanto DEATH PROOF, mas no quesito “resgate histórico” não passam de tentativas falhas. PLANETA TERROR é uma delícia, o problema é que se perde no meio de tantos efeitos especiais em CGI e resgata mais os filmes anos 80 do que a década anterior. Já DEATH PROOF é um típico filme de Tarantino, com aquele estilo bem anos 90 que ele ajudou a desenvolver no cinema americano, com bastante diálogos e diálogos e diálogos, por favor, que
exploitation tem uma linguagem como esta? O único lampejo setentista são os últimos 30 segundos até surgir o THE END. Mas é bom pra cacete, adoro o personagem do Kurt Russel no filme!
No entanto, se querem assistir a um belo exemplar o qual realmente captou a essência de um subgênero
exploitation dos anos 70, assistam
BLACK DYNAMITE! Os realizadores pegaram o espírito da coisa com tudo no seu devido lugar. Se você for fã de
blaxploitation então, este aqui é obrigatório. Michael Jai White está absolutamente perfeito no papel do policial casca grossa que faria Shaft tremer na base. O sujeito não tem expressão alguma no rosto e carrega o filme nas costas mesmo assim, fora que tem uma puta presença em cenas de ação, especialmente nas seqüências de luta! Fortemente recomendado.
E luta é o que não falta em
BLOOD AND BONE, que assisti recentemente. Foi lançado direto em DVD, inclusive no Brasil, com o título
LUTADOR DE RUA. Não possui a mesma qualidade criativa de
BD, mas cumpre perfeitamente a promessa de ser um ótimo passatempo, além de colocar o White oficialmente como uma das mais promissoras figuras do cinema de ação de baixo orçamento, o que não é pouco para um sujeito que possui esse gosto duvidoso como eu.
BLOOD AND BONE é um filme de luta por excelência, à moda antiga e sem frescuras (estou cansando de usar essa expressão, ela aparece em 90% dos meus textos). Parece ter saído do início dos anos 90. Me lembrou o LEÃO BRANCO, com o Van Damme, a febre dos
kickboxer movies e vários outros sobre lutas clandestinas. E que se dane se o roteiro elabora uma trama besta que serve apenas como desculpa para que Jai White caia na porrada com um bando de brutamontes, ou que as atuações são ruins pacas e as cenas de lutas exageradas.
Um bom sinal de que esse filme é capaz de proporcionar 90 minutos do mais puro cinema
badass acontece logo na abertura. Bone (Michael Jay White) é apresentado no banheiro de uma prisão fazendo suas necessidades tranquilamente, mesmo sabendo que uma gangue de estupradores vem em sua direção com intenções que eu, particularmente, daria tudo para não estar na pele do infeliz. O líder da gangue é ninguém menos que Kimbo, um lutador profissional na vida real que dá medo só de olhar. Mas como não sou eu quem está lá para ser arrombado, Bone consegue se safar simplesmente nocauteando a gangue inteira com socos, voadoras e
tchan, surge o título do filme explodindo na tela. Isso é bom pra cacete!
O resto da estória se passa fora da prisão, quando Bone volta à liberdade e tenta se restabelecer perante a sociedade, certo? Errado! Na primeira noite já procura uma luta clandestina para socar alguns sujeitos e ganhar uma boa grana. Aos poucos vamos descobrindo que tudo não passa de um plano de vingança bem elaborado, mas até que suas atitudes fiquem bem esclarecidas, teremos visto Jai White desferindo golpes em muito vagabundo.
Eamonn Walker é um ator do qual eu nunca tinha ouvido falar, mas seu personagem é inesquecível para quem curte um bom vilão. Ele vive uma espécie de cafetão para lutadores de brigas de ruas. Sádico até o talo, mata a sangue frio, solta
pitbulls em velhos bisbilhoteiros, mantém sua mulher sob drogas para controlá-la e possui uma coleção interessante de espadas. Anda com ternos caros e um acessório muito
cool, uma bengala falsa que esconde uma espada bem afiada. Pena que no confronto físico com Bone ele sairia em pedacinhos. Outro personagem interessante é o do esquecido Julian Sands, mas ele aparece bem pouco, o suficiente pra faturar um cheque e pagar as contas.
Já o herói do filme é um caso estranho. Ele age o filme inteiro de forma ética, praticando o bem (mesmo entrando em lutas clandestinas, já que a finalidade justifica a sua atitude), mas várias perguntas sobre seu passado ficam sem respostas... Apenas sabe-se que ele não era “flor que se cheira”, tanto que inicia o filme como prisioneiro (até o motivo exato da prisão não tomamos conhecimento). Ao final, ficamos sem saber direito quem ele era, apenas que lutou bastante, literalmente, com um objetivo nobre em vista. E logo depois, parte em rumo ao por do sol...
Simples, classudo, brutal e eficiente, recomendo com uma sessão dupla com o
BLACK DYNAMITE. Aposto que vão virar fãs de Michael Jai White!