31.7.09

INFERNO VERMELHO (Red Heat, 1988), de Walter Hill

Passou outro dia no TCM. É um dos meus filmes preferidos sobre o tema dos choques culturais entre países. Em plena Guerra Fria, um policial russo, vivendo sob o regime comunista obviamente, vai aos Estados Unidos, faz uma involuntária parceira com um policial americano pragmático e cheio dos costumes ocidentais, para tentar capturar um traficante russo. E quem interpreta estas duas figuras são Arnold Schwarzenegger e James Belushi, que estão perfeitos cada um nos seus extremos do estereótipo, bem exagerados, para que o choque cultural salte aos olhos do público de maneira forçada, sem frescuras, fazendo com que o diretor Walter Hill se preocupe com outros detalhes, como criar um filme ação policial ao melhor estilo dos anos 80. No elenco ainda temos Peter Boyle, Lawrence Fishburne e Ed O'Ross. Filmaço!

GET CARTER (1971), de Mike Hodges

Clássico cinema britânico, traz Michael Caine interpretando Jack Carter, um jagunço da máfia londrina que vai a uma pequena cidade do interior para o enterro do seu irmão, mas desconfia que se trata, na verdade, de um assassinato cometido pela organização criminosa que comanda o local. Carter decide botar a cidade de pernas para o ar até que consiga saber o que realmente aconteceu, só que as descobertas são mais desagradáveis do que ele poderia imaginar. A cena em que Carter se depara com a verdade, com direito a uma lágrima escorrendo no rosto de Caine é genial e desencadeia uma violenta reação de vingança. Caine constrói um dos grandes personagens de sua carreira e o, até então, estreante diretor Mike Hodges não tem medo de ser ousado abusando de violência e nudez de suas atrizes. Em 2000 o filme ganhou uma refilmagem cretina quem nem mesmo o Stallone, na pele de Carter, conseguiu salvar.

TERROR FIRMER (1999), de Lloyd Kauffman

Típico filme da Troma, famosa produtora de tosqueiras divertidas classe B. O Enredo se desenrola na produção de mais uma sequencia de TOXIC AVENGER, quando uma série de assassinatos misteriosos e brutais começa a atrapalhar o andamento da realização do filme. E tome seqüências escatológicas, violentas, de muita nudez e um humor negro impagável. TERROR FIRMER não chega ao nível de um TOXIC AVENGER, mas diverte tranquilamente o espectador acostumado com este tipo de produção. Destaque para o diretor Lloyd Kauffman, que interpreta o diretor do filme que estão realizando, mas com a diferença de que é completamente cego e fica dando lições de cinema para sua equipe, citando diretores como Samuel Fuller...

30.7.09

TORNADO (1983), de Antonio Margheriti

Na década de 80, o cinema popular italiano entrava em decadência na mesma intensidade que a picaretagem dos produtores, roteiristas e diretores carcamanos aumentava. Antonio Margheriti, prolífico diretor italiano, foi um dos que mais se aproveitou de reciclar boas idéias, retiradas de produções anteriores de sucesso, para transformá-las em filmes de baixo orçamento filmados onde Judas perdeu as botas, seja lá onde for. Isto, claro, muitos anos depois de ser respeitado como um dos grandes nomes do horror gótico italiano (embora tenha passado por praticamente todos os gêneros do cinema popular de seu país).

Eu avalio TORNADO como uma verdadeira façanha na carreira do diretor, mesmo considerando que eu não sou nenhum especialista na filmografia do Margheriti. Primeiramente porque imita, sem ao menos ter vergonha na cara, temas e idéias de vários outros filmes de guerra já consagrados. Depois, por causa do tempo curto de filmagem e as baixas condições orçamentárias, o diretor teve a brilhante idéia de reaproveitar, literalmente, algumas cenas de outros filmes do gênero que ele mesmo realizou na época. E por último, por transformar toda essa picaretagem absurda num bom filme com 90 minutos de pura diversão.


O enredo se passa nos últimos dias da guerra do Vietnã . Um capitão americano sem coração (Tony Marsina) envia seus soldados do grupo de elite “Boinas Verdes” em missões de alto risco além das linhas inimigas. O sargento Maggio (Giancarlo Prete, aka Timothy Brent) não concorda muito com essas incumbências suicidas e sem sentido. Logo no inicio, durante uma destas missões, um soldado se fere e Maggio retorna para buscá-lo. O capitão ordena aos helicópteros que partam imediatamente, sem esperar o sargento que carrega bravamente seu amigo ferido.


Deixado para trás, Maggio utiliza-se de todas as suas técnicas especiais de combate e sobrevivência na selva para conseguir retornar ao posto americano, e consegue, levando o soldado – e a si próprio – com vida. Isso tudo em apenas 20 minutos de filme, dando uma verdadeira noção do que esperar de TORNADO.

Depois de uma tragédia, finalmente Maggio decide bater de frente com o capitão (e bater de frente significa murro na cara do seu superior). Maggio é preso e escoltado para a corte marcial, mas consegue escapar e agora se encontra em pleno território inimigo tentando chegar à zona neutra, mas não sem antes enfrentar os vietcongs e os próprios soldados americanos! Não é de lascar uma trama como essa?

O script é cortesia de Tito Capri e Gianfranco Couyoumdjian (cujos currículos são repletos de pérolas do cinema popular), apesar da falta de originalidade, conseguem desenrolar um roteiro que bebe da fonte (leia-se: copia na cara dura) de vários filmes de ação e guerra que foram grandes sucessos e influenciaram dezenas de tralhas como esta aqui. O FRANCO ATIRADOR, APOCALYPSE NOW e RAMBO são os principais títulos que vêm em mente enquanto se assiste a TORNADO.

E o mais legal é que, embora seja assumidamente barato e apresente os defeitos que este tipo de produção possui, o filme consegue passar a sua mensagem anti-bélica com muita clareza e autenticidade, ao invés de simplesmente explorar a violência da guerra sem qualquer tipo de reflexão. E isso fica evidente na presença do repórter vivido por Luciano Pigozzi, que tenta a qualquer custo investigar e denunciar os abusos cometidos pelo capitão.

TORNADO fecha uma espécie de trilogia da guerra do Vietnã que Margheriti realizou no inicio dos anos 80, composta também por THE LAST HUNTER e TIGER JOE, todos rodados nas Filipinas, local que serviu de cenário para centenas de produções italianas naquela época. O trabalho de direção de Margheriti aqui é bem típico ao específico cinema que estava fazendo, rodado às pressas tentando ao máximo usar a criatividade (algo que nem sempre consegue), aproveitando atores, locações, objetos cenográficos e até mesmo seqüências inteiras utilizadas em outros filmes. Várias cenas de ação que aparecem em TORNADO foram, inicialmente, filmadas para THE LAST HUNTER, mas com uma boa edição e muita cara de pau, isso se torna apenas mais um detalhe curioso e um charme a mais para os fãs de tosqueiras como esta aqui.

29.7.09

ALONE IN THE DARK (1982), de Jack Sholder

Antes que algum de vocês me pergunte, eu já adianto que este filme não possui qualquer relação com aquela tranqueira do Uwe Boll de 2004, estrelado por Christian Slater e que nem um fã de bagaceiras classe Z como eu conseguiria agüentar dez minutos assistindo (até hoje não passei daqueles dez minutos – que pareceu uma eternidade – e nem pretendo).

Este ALONE IN THE DARK aqui é algo completamente diferente, um divertido filme de terror do glorioso inicio dos anos 80, dirigido por Jack Sholder, e que nos presenteia pela reunião de três grandes atores do cinema americano: Donald Pleasence, Martin Landau e a “cereja do bolo”, Jack Palance.

Pleasence interpreta o Dr. Leo Bain, diretor de um hospício onde se encontram, além de pacientes comuns, figuras extremamente perigosas sob tratamento psiquiátrico. Dois deles são vividos Landau e Palance. O primeiro é um ex-padre que colocou fogo em sua igreja e o outro é um ex-prisioneiro de guerra e acabou se tornando o líder do grupo de psicopatas do tal manicômio, que ainda possui mais dois malucos para completar o time: um sujeito extremamente obeso e um perigoso assassino conhecido como Bleeder, já que seu nariz sangra toda vez que comete um assassinato.

A trama tem seu inicio quando o psiquiatra Daniel Potter (Dwight Schultz) é contratado pelo Dr. Bain (que é tão louco quanto seus internos) para substituir o Dr. Harry Merton, antigo responsável pelos pacientes mais perigosos que eu citei no parágrafo anterior e que foi transferido para outra clínica. Mas vocês sabem como são os loucos, não é mesmo? Quando colocam alguma idéia na cabeça é difícil tirar. Sendo assim, o personagem de Palance comenta que o Dr. Potter, na verdade, assassinou o Dr. Merton para tomar o seu lugar, então decidem bolar um plano para matar seu novo psiquiatra.

No “campus” do hospício, os pacientes podem vagar tranquilamente, inclusive os quatro psicopatas desvairados, embora sejam muito bem vigiados. À noite, a única circunstância que os mantém é o sistema eletrônico de segurança que depende de energia. Para nossa sorte, acontece um apagão que coloca a pequena cidade do filme num verdadeiro caos (com direito à invasão de lojas e crimes em massa) e os quatro loucos varridos aproveitam para escapar e ir atrás do Dr. e toda sua família.

A trama é bem simples, como podem perceber, mas são vários os pontos que se destacam para uma boa degustação. Uma delas consiste na direção de Jack Sholder, que está longe de ser perfeita, mas passa a impressão de que seja o trabalho de um veterano que dirigiu vários exploitations de terror nos anos setenta, com muita bagagem nas costas, etc. Só que não é nada disso. ALONE IN THE DARK é o primeiro filme do cara, que apresenta ótimo domínio de cena e na criação de atmosfera de terror. Além de saber como utilizar a áurea dos atores envolvidos sem mostrá-los demais.

Jack Palance, por exemplo, aparece em pouquíssimas cenas, mas só de saber que é o sujeito que está cercando a casa do Dr. Potter com toda sua família dentro, no meio da noite, já é suficiente para marcar, mesmo que a câmera do diretor mostre, quase sempre, dentro da casa onde estão as prováveis vítimas dos lunáticos. É o caso de uma forte presença do ator que vai além do “estar” em cena ou não. A mesma coisa acontece com o Martin Landau (que aparece um pouquinho mais).

Palance inclusive se recusou a filmar uma sequencia em que seria visto matando um motorista antes de roubar-lhe o carro. Ele disse que não era necessário expor tanto o personagem desta maneira para mostrar ao publico o quanto ele era perigoso. E estava totalmente certo. Seu personagem é de longe o mais sombrio, assustador e ameaçador e sem precisar de muito esforço. Sem dúvida alguma, seu personagem é o melhor do filme, que ainda conta com efeitos especiais do mestre Tom Savini e várias situações antológicas, como o sonho surrealista do personagem de Martin Landau ou o final com o Palance entrando no Pub punk.

Outra coisa legal é o fato do personagem Bleeder nunca mostrar seu rosto. Em determinado momento, ele utiliza uma mascara de hockey que lembra a mesma que outro famoso assassino viria a usar algum tempo depois, mas que surgiu na mesma época deste aqui... seria alguma coincidência?

Não importa, o que vale mesmo é a diversão, e é o que ALONE IN THE DARK concede com garantia. Dificilmente vou ver um filme sobre louco(s) psicopata(s) sem antes pensar nesta belezinha.

27.7.09

INIMIGOS PÚBLICOS (Public Enemies, 2009), de Michael Mann

Primeiramente eu gostaria de pedir desculpas pela falta de atualização. Prestes a completar um ano de blogue, é a primeira vez que fico mais de uma semana sem postar um texto, imagem ou até mesmo uma mísera notícia, por mais cretina que seja. A última semana foi bem corrida e por isso não deu para atualizar, mas agora chega e vamos ao que interessa, vamos falar de cinema. Porque aqui em Vitória temos somente quatro cinemas. Dentre estes, apenas um não é de Shopping, para vocês terem uma noção de como a vida é algo deprimente por estas bandas. Arrisco a dizer que temos um dos piores circuitos do Brasil, considerando que o Espírito Santo pertence ao Sudeste, com suas capitais (excluindo Vitória) culturais e cheias de amor para dar. Se atualmente eu vejo um blogueiro de São Paulo ou Rio reclamando do circuito, queria saber como ele iria se virar por aqui...

Embromei vocês apenas para dizer que INIMIGOS PÚBLICOS estreou por estes lados junto com a moçada no restante do Brasil, na data certa, na última sexta feira. E lá estava eu, levei a patroa, claro, pois também é fã de Michael Mann (embora confunda Mann com Scorsese, ou De Palma, ou Coppola, mas o importante é que assiste aos filmes), demorei uns 5 segundos na difícil escolha de qual cinema ir, já que são tantas opções de salas, optei por um cinema de Shopping e záz!

Ficar diante de um monumento como este aqui numa sala escura de cinema é uma experiência impar, sem dúvida alguma, assim como também aconteceu com COLATERAL e MIAMI VICE (claro que os outros trabalhos do diretor também dão o mesmo impacto, mas infelizmente eu não os vi na tela grande). INIMIGOS PUBLICOS é absolutamente extraordinário. Mais uma vez Michael Mann chega para mostrar como é que se faz cinema de verdade, puro, mesmo utilizando-se de tecnologia digital, que não faz mal a ninguém, principalmente nas mãos de um mestre como este cabra aqui. É perfeito o domínio que o sujeito tem de espaços, de movimentação de câmera, da criação atmosférica dos ambientes, controle sobre os atores. É impressionante a que nível o cinema de Mann atingiu (e que já havia atingido desde a época de FOGO CONTRA FOGO e O INFORMANTE, mas permanece amadurecendo e nos surpreendendo).

E depois temos Johnny Depp de corpo presente vivendo um Dillinger de carne e osso, apenas atuando, sem precisar de suas transfigurações exóticas que alguns críticos acham necessárias para que tenha um bom desempenho. Da mesma forma, comedida e sem exageros, está a performance de Christian Bale, que convence como o policial sangue frio que mantém um certo código moral injetado na veia. Ainda temos Marion Cotillard, que é um pitel (e boa atriz também) e é peça chave na trama como par romântico do protagonista. O resto do elenco é recheado de bons atores que merecem destaque nas mínimas participações, como James Russo, um dos grandes atores subestimados da história do cinema, que não tem nem 5 minutos em cena. Além dele, Stephen Dorff, Billy Crudup, Giovanni Ribisi, Stephen Lang e vários outros, possuem presenças marcantes.

Creio que a trama todo mundo já deve saber, aborda a figura de John Dillinger e transcorre no último ano de vida deste lendário assaltante de bancos que causou o terror nos Estados Unidos no período da grande depressão e ficou conhecido como o inimigo público número 1 da América. Mas como se trata de Michael Mann, não vamos esperar apenas um filme policial/assalto comum, mas um épico definitivo sobre o próprio cinema de Mann e suas obsessões. Portanto, a preocupação profunda pelos personagens, seus conflitos morais e psicológicos, suas relações, vidas que vão muito além do que é simplesmente visto na tela, tudo se torna evidente dentro do fio condutor da trama, que está longe da estrutura habitual dos filmes policiais. É, na verdade, um autêntico exemplar de gangster movie de construção clássica. Além disso, não são poucas as situações deste aqui que podem ser observadas em outros filmes de sua carreira; pequenas releituras e reinvenções de seus próprios trabalhos.

Trilha bacana com a Billie Hollyday, edição de som sensacional (Tommy Guns cuspindo fogo à vontade), fotografia caprichada, várias cenas antológicas, enfim, um primor. INIMIGOS PÚBLICOS é filme para ser revisitado várias e várias vezes, captando a cada revisão uma riquezas de novos detalhes. E é exatamente isso que farei. Mas já tenho certeza absoluta que se trata de um dos grandes filmes de 2009.

18.7.09

A BUCKET OF BLOOD (1959) & PREMATURE BURIAL (1962), de Roger Corman

No post anterior, antes do top 10 oscarizados, eu escrevi sobre um filme que o grande mestre dos filmes B's americano, Roger Corman, produziu para um dos seus incontáveis pupilos, Jim Wynorsky. Mas acabei me lembrando que nos últimos dias eu assisti a estes dois ótimos filmes que o sujeito trabalhou diretamente atrás das câmeras, sentado na cadeira de diretor.

O primeiro foi A BUCKET OF BLOOD, uma pequena obra prima; dos melhores filmes do Corman que eu já tive o prazer de assistir. Trata-se de uma comédia de humor negro inteligente numa trama de terror, muito bem elaborada para o tipo de produção, e conta com a presença de Dick Miller, o eterno coadjuvante de centenas de filmes, vivendo aqui o seu grande momento como protagonista.

Miller interpreta Walter Paisley, um infeliz garçom do bar The Yellow Door, local onde frequentemente se reúnem músicos, poetas, escritores, artistas de baixa categoria, mas que se acham o máximo, a nata cultural. O próprio Paisley os considera seres geniais e nutre o desejo de se tornar um artista famoso, respeitado, ser exatamente como aqueles pseudos-intelectuais a sua volta que ele tanto admira.

Na busca pelo reconhecimento artístico, Paisley consegue chamar a atenção do grupo quando aparece com uma escultura de argila com o formato de um gato morto. O que acontece, na verdade, é que ele matou, involuntariamente, o gato do vizinho e teve a idéia de revesti-lo com argila. A obra é um sucesso, mas para manter o status conquistado, Paisley terá que continuar criando e mostrando outras obras. O problema é quando sugerem que ele faça figuras humanas... e em tamanho real... creio que já deu pra sacar qual é do filme, né?

A BUCKET OF BLOOD marcou um ponto alto na carreira de Roger Corman. Não chegou a ser um estrondoso sucesso comercial, mas teve um feito duradouro e influente no gênero do horror em alguns elementos. Poderíamos até dizer que o filme é um dos precursores do subgênero Slasher, quase vinte anos antes de HALLOWEEN. O personagem de Dick Miller, que está magnífico, um dos primeiros e mais memoráveis serial killer’s do estilo.

A direção do Corman é, no mínimo, uma aula de como realizar um grande filme com tão pouco. O público nunca sente que está diante de uma produção de baixo orçamento, filmado na correria habitual dos pequenos estúdios de onde saiam vários filmes B em um curto espaço de tempo. Corman filma apenas o essencial, cada plano, corte, sequencia, não poderia ter ficado melhor do que aquilo que é visto na tela. Sem dúvida, um dos filmes mais divertidos que vi nos últimos tempos.

O outro foi PREMATURE BURIAL. Filmado à cores, é um trabalho mais sério do diretor, com uma fotografia caprichada, carregada de elementos atmosféricos e tons fortes bem ao estilo que o Mario Bava fazia em seus filmes nos anos 60, como em BLACK SABBATH, KILL BABY KILL, THE WHIP AND THE BODY, etc.

Baseando-se em mais uma obra de um dos meus escritores favoritos, Edgar Allan Poe – li, recentemente, O RELATO DE ARTHUR GORDON PYNN, que é um dos relatos mais geniais do sujeito – Corman aposta desta vez num terror psicológico, cuja trama apresenta Ray Milland, ao invés de Vincent Price, seu colaborador habitual em adaptações de Poe, interpretando um pintor que tem pavor da situação de ser enterrado vivo por engano.

PREMATURE BURIAL é bacana e também demonstra a desenvoltura de Corman na direção de produções com orçamentos apertados, além do resultado da beleza visual e atmosférica que consegue alcançar. Mas o grande deleite está na presença de Milland, um ator soberbo que ganhou um oscar pelo seu desempenho em FARRAPO HUMANO, de Billy Wilder, mas depois, não me pergunte como, acabou parando nos sets de produções de filmes B. Sua performance aqui é extraordinária e já paga o ingresso.

Os dois filmes, A BUCKET OF BLOOD e este aqui, são perfeitos para um double feature do diretor. São curtos, divertidos, provam o talento do sujeito em duas vertentes e estilo visuais diferenciados, uma maravilha! Apenas com a ressalva de que A BUCKET OF BLOOD é bem superior, marcante, um clássico do terror/humor, enquanto PREMATURE BURIAL é apenas mais um filme da série de adaptações de Poe, mas em se tratando de Roger Corman, é diversão garantida de qualquer jeito.

16.7.09

Meus oscarizados favoritos...

Post meio bobo este aqui, mas já que o Oscar 2010 de melhor filme será disputado por dez filmes, segue uma lista dos meus dez vencedores favoritos (em ordem cronológica):

COMO ERA VERDE O MEU VALE (How Green Was My Valley, 1941), John Ford:
Longe de ser um dos melhores filmes do diretor, mas foi o único trabalho de Ford que abocanhou o prêmio principal, e justamente no mesmo ano em que CIDADÃO KANE participava. Claro que não é só por isso que o filme entra na lista; realmente é uma obra danada de bonita e comovente, repleto do que há de melhor no cinema fordiano em grande proporção, contando o drama de uma família numa vila de mineradores de carvão em tempos árduos.

SINDICATO DE LADRÕES (On the Waterfront, 1954), Elia Kazan:
O primeiro Oscar de melhor ator que Marlon Brando recebeu foi interpretando Terry Malloy, um ex-boxeador ingênuo usado pelo sindicato das docas para fazer serviços sujos. Clássico absoluto que denuncia a corrupção na cara dura, além de ser uma justificativa pessoal do diretor a respeito das delações que fez à Comissão de Inquérito do Congresso contra seus colegas do Partido Comunista. Conta ainda com um elenco dos mais interessantes: Lee J. Cobb, Karl Malden (que morreu recentemente), Rod Steiger, Eva Marie Saint. A cena do carro onde Terry põe para fora todas suas amarguras, apesar das palhaçadas de Brando nos sets de filmagem, demonstra o potencial de um dos melhores atores que o cinema conheceu.

LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia, 1962), David Lean:
Se eu pedir para vocês pensarem num filme que transcorra num deserto, aposto que o primeiro que surge em mente é este belíssimo trabalho de Sir David Lean. Se isso não acontece, provavelmente é porque você ainda não assistiu, pois é difícil de esquecer as imagens hipnóticas tão bem filmadas das paisagens desérticas, a fotografia de Freddie Young, o acompanhamento sonoro de Maurice Jarre, e muitos outros aspectos interessantes de LAWRECE DA ARÁBIA. Peter O’Toole deu sangue (literalmente) para dar vida a T.E. Lawrence, oficial inglês de grande importância na Primeira Guerra Mundial lidando com os árabes, além de ser um personagem extremamente ambíguo e complexo. O elenco ainda se destaca por grandes momentos de Omar Sharif, Alec Guinness, Anthony Quinn, Claude Rains e José Ferrer.

PERDIDOS NA NOITE (Midnight Cowboy, 1969), John Schlesinger:
Começando com o velho clichê: este aqui é o primeiro filme com classificação X a ganhar o prêmio principal no Oscar. Era o período de grandes mudanças no cinema americano e PERDIDOS NA NOITE é um dos mais significativos. A trama já parte de uma premissa ousada sobre um sujeito do interior do Texas (Jon Voight) que vai à cidade grande com o objetivo de se tornar gigolô. Não tem muita sorte, mas acaba fazendo amizade com Ratso Rizzo (Dustin Hoffman), um típico vagabundo do submundo que alimenta o sonho de morar na Flórida. O filme concentra a atenção na relação destes dois seres estranhos, solitários e perdidos e Hoffman e Voight contracenando é uma das grandes maravilhas do cinema. Mas a ótima direção de John Schlesinger também merece destaque pelos momentos visuais incríveis e realistas, em alguns momentos dialogando com os drugsploitations da época. Até hoje me impressiona o fato ter levado o prêmio.

OPERAÇÃO FRANÇA (The French Connection, 1971), William Friedkin:
Outro filme nada convencional que recebeu o Oscar de melhor filme. E um filmaço de grande importância, diga-se de passagem! Um dos principais exemplares que definiu o cinema policial americano que buscava realismo e crueza, influenciou os poliziotteschi italianos e apontou William Friedkin como um dos grandes mestres na arte da direção. A trama gira em torno de dois detetives, Popeye Doyle (Gene Hackman) e Buddy Russo (Roy Scheider), que investigam um esquema de tráfico de drogas que envolve uma quadrilha francesa, cujo líder é interpretado por ninguém menos que o grande ator espanhol Fernando Rey. A trama é bem simples, mas é a direção magistral, a construção atmosférica, a fotografia granulada de Owen Roizman, as atuações perfeitas de Hackman e Scheider que tornam OPERAÇÃO FRANÇA um dos meus preferidos da lista.

O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather, 1972), Francis Ford Coppola:
Nem gosto muito de comentar sobre este. O que dizer? É um filme tecnicamente perfeito em todos os sentidos, anacrônico, com atuações marcantes de um elenco notável e possui incontáveis cenas antológicas e inesquecíveis. Embora meu filme de máfia preferido ainda seja ERA UMA VEZ NA AMÉRCA, é inegável a sua importância e totalmente justa a reverência que quase todos fazem ao filme. Queria colocar a segunda parte na lista, mas aí seria exagero e teria que tirar algum outro desses que tanto adoro, mas fica a consideração de ser um grande filme também.

NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (Annie Hall, 1977), Woody Allen:
Para quem não sabe, sou um tremendo fã de Woody Allen, principalmente da fase do final dos anos 70 e inicio dos 80, quando o sujeito realizou alguns de seus melhores filmes em um curto espaço de tempo, como este aqui, MANHATTAN e sua obra prima máxima: MEMÓRIAS. Dificilmente teremos comédias entre os vencedores do Oscar. Allen conseguiu esta façanha com um roteiro genial sobre um comediante neurótico, interpretado por ele mesmo, claro, que se apaixona por uma cantora de night club, a Annie do título, interpretada por Diane Keaton, uma moça muito mais problemática que ele. Daí se desenrola situações que vão do humor negro às mais hilariantes passagens, recheadas com suas frases impagáveis.

O FRANCO ATIRADOR (The Deer Hunter, 1978), Michael Cimino
Belezura de filme de um dos diretores americanos mais visionários que já colocou os pés num set de cinema. É o meu filme preferido da lista e que me abriu os olhos para um específico cinema americano e as suas possibilidades (e que poucos diretores conseguiram atingir), eu poderia gastar uns dez parágrafos falando das qualidades do filme, mas não é o objetivo agora. Só destaco a cena em que Robert de Niro e Christopher Walken, prisioneiros de guerra no Vietnã, praticam roleta russa sob a mira das metralhadoras dos vietcongs. Existe alguma cena mais tensa do que esta no cinema americano? Alguém se arrisca?

OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven, 1992), Clint Eastwood:
Clintão já havia botado respeito com filmes mais sérios que mudaram a cara de sua carreira como diretor com filmes como BIRD e CORAÇÃO DE CAÇADOR, até que fez este magnífico trabalho, um western de construção clássica no qual homenageia seus mestres, Sergio Leone e Don Siegel, além de ser a obra definitiva sobre a desmistificação do herói do faroeste americano. No elenco, além do próprio Clint, Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris dão um espetáculo de interpretações. Poucas vezes o Oscar fez uma escolha tão acertada ao premiar um filme.

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (No Country for Old Men, 2007), Joel e Ethan Coen:
Depois de dois fiascos lamentáveis, os irmãos Coen demonstraram que ainda estão no páreo entre os grandes diretores americanos atuais. Este aqui é um monumento, contém todos os elementos que fizeram o cinema dos irmãos e muito mais. Personagens brilhantemente construídos, uma secura totalmente inesperada, direção puramente cinematográfica com domínio total do tempo, dos espaços, do valor de cada corte... E nem precisava, mas vamos lá: Javier Barden como o assassino psicopata já está se tornando um clássico!

SORORITY HOUSE MASSACRE II (1990), de Jim Wynorski

Não se preocupem com aquele “II” do título, apenas um pequeno detalhe que não vai fazer diferença alguma na hora de apreciar esta tosqueira em forma de slasher, dirigido por Jim Wynorski, por dois motivos básicos. Primeiro porque é possível acompanhar os eventos tranquilamente, independente dos acontecimentos do filme original (que na verdade eu não vi, trata-se de SORORITY HOUSE MASSACRE, claro, de 1986, dirigido por Carol Frank). O outro motivo é que estes eventos não passam de pretextos para vários assassinatos, como um bom slasher tem de ser, e uma generosa dose de mulheres nuas. Ou seja, a diversão é garantida.

A trama de SORORITY HOUSE MASSACRE II inicia quando um grupo de cinco garotas chega a uma casa recém comprada onde pretendem formar uma sociedade de não sei o que exatamente, mas tanto faz. A casa é a mesma em que há cinco anos atrás ocorreram os assassinatos do primeiro filme (e é esta a única ligação direta com o original). Um vizinho, o estranho Orville, chega ao local e narra os fatos macabros que aconteceram no passado naquela casa às garotas, fala como o assassino morreu (tudo mostrado num flashback com cenas do primeiro filme) e deixa a chave do sótão com elas.

A casa se encontra sem energia, telefone, móveis, tudo será resolvido no dia seguinte e, além disso, uma tempestade se aproxima. Mesmo assim, elas decidem dormir no local e para passar o tempo, nada melhor do que todas trocarem de roupas em frente à câmera, colocarem seus baby dolls e utilizarem aquele tabuleiro com as letras do alfabeto que serve para invocar espíritos e essas coisas do cão! Claro que com isso não se brinca, principalmente num filme terror, pior ainda se tiverem a idéia genial de invocar justamente o assassino de cinco anos atrás.

A partir daí, coisas estranhas começam a acontecer, e não demora muito para os assassinatos misteriosos iniciarem. Existe ainda uma trama paralela onde um casal de policiais investiga uma possível ligação do vizinho bizarro com o assassino, mas não passa de baboseiras do roteiro para encher lingüiça, porque essa investigação não faz sentido algum, a não ser tornar o filme um pouco mais longo. O filme tem uma duração total de 1 hora e pouco, sem essas seqüências seria um média metragem...

Jim Wynorski, juntamente com o Fred Olen Ray, é praticamente um Jess Franco ou Joe D’Amato da sua geração. Passeia pelos diversos gêneros com facilidade realizando centenas de filmes de baixo orçamento e bastante apelativos. Teve como mentor o pai do cinema B americano, Roger Corman, que produziu vários filmes no inicio de sua carreira (este aqui, por exemplo). Mas assim como Franco e D’Amato, a qualidade técnica de Wynorski como diretor em SORORITY HOUSE MASSACRE II é totalmente desleixada. Erros básicos de continuidade, microfones aparecendo nos cantos do quadro, um espetáculo de falhas que fazem a alegria dos fãs deste tipo de material e dá um charme a mais na obra.

Mas o mais legal do filme é o personagem Orville, interpretado pelo ator Peter Spellos, uma figura insólita que não morre de forma alguma. Pancadas na cabeça, facadas, tiros de escopeta, estrangulamento, o sujeito sempre se levanta. E depois de tudo isso, apesar da aparência bizarra, começamos a nos afeiçoar pelo sujeito. Já no plano feminino, não adianta analisar atuações, seria perda de tempo. Elas não estão ali para atuar, mas simplesmente exibir os atributos físicos para alegria dos cuecas de plantão e ficarem desfilando com o mínimo de roupa durante o filme inteiro.

E aqui vai o meu agradecimento ao grande Osvaldo Neto, do blog Vá e Veja (esperamos ansiosamente pelo retorno) que me forneceu essa maravilha. Já faz um tempinho que ele me enviou, mas só agora parei para assistir. Se eu soubesse que teria momentos tão divertidos, teria visto antes.

15.7.09

SOYLENT GREEN (1973), de Richard Fleischer

Ah! Os bons tempos em que a ficção científica era tratada no cinema de forma simples, criativa, reflexiva... pena que eu não era nem nascido na época, ou era muito novo já nos anos 80, mas tudo bem. Boa vontade para resgatar estes filmes é o que não falta.

No fim dos anos 60 e inicio dos 70 o cinemão americano ainda ia muito além do que uma simples diversão de fim de semana. Nesta mesma época as produções Sci Fi começaram a apostar com mais intensidade na vertente dos futuros sombrios, pessimistas e apocalípticos pós-nuclear com fortes mensagens políticas/sociais referente às possíveis conseqüências da Guerra Fria. Filmes como PLANETA DOS MACACOS e THE OMEGA MAN são bons exemplos que ilustram a maneira de recriar sem frescura estes universos. SOYLENT GREEN também entra na dança. E Todos que citei foram estrelados por Charlton Heston.
Após interpretar Moisés em OS 10 MANDAMENTOS, ganhar o Oscar por BEN HUR, interpretar o pintor renascentista Michelangelo em AGONIA E EXTASE e trabalhar com grandes diretores nos anos 60 como Sam Peckinpah, Anthony Man e Nicholas Ray, Charlton Heston decidiu mudar um pouco o tom de sua carreira, tornando, nos anos 70, um autêntico action man em filmes de ação, western, ficção científica e até em uma das superproduções que iniciaram o filão “filme catástrofe”, TERREMOTO. Mas principalmente as produções mais modestas deram ao sujeito uma brecha para que explorasse personagens curiosos e estranhos, como o Thorn de SOYLENT GREEN.

Baseado no romance Make Room! Make Room! de Harry Harrison, o filme transcorre no ano de 2022, em Nova York, onde 40 milhões de pessoas vivem abarrotadas pelas ruas como animais. Para piorar, o aquecimento global já atinge proporções absurdas e a escassez de alimentos e objetos comuns do dia a dia permeia sobre a população; o único alimento disponível é provido pela corporação Soylent, que distribui tabletinhos com cores e sabores diferentes. Mas o que faz mais sucesso com a moçada é o Soylent Verde, com seu sabor indefinido, mas com um valor nutritivo suficiente para a sobrevivência desta raça que conhecemos como humanos.
O problema é que até mesmo os produtos Soylent estão começando a faltar para a população, e estes, insatisfeitos, iniciam frequentes motins contra o sistema a cada distribuição mal feita. Em uma dessas sequências, é mostrado como a polícia resolve este pequeno probleminha habitual. Basta alguns caminhões com carregadores de areia de trator acoplados à frente para retirar as pessoas da multidão enfurecida como se fossem, realmente, grãos de areia. Sensacional!
E onde o Charlton Heston entra nessa estória toda? Bom, a trama de SOYLENT GREEN é estruturada como um filme policial, com direito a investigações e etc, apenas enquadrada neste contexto futurista. Thorn é um oficial da lei que, com a ajuda de seu velho amigo Sol (Edward G. Robinson em seu ultimo papel no cinema) com quem divide o apartamento, tenta resolver o caso do brutal assassinato de um alto executivo da multinacional Soylent, mas a cada descoberta, o sujeito se depara com um segredo terrível envolvendo a fórmula de fabricação do Soylent Verde... qual será o segredo da receita? Eu não vou contar, mas depois que eu descobri, perdi o apetite...
Umas dos melhores detalhes do filme é a composição de Thorn. Ele é praticamente um policial meio depravado pelas circunstancias da qual o mundo se encontra. Quando entra na casa do milionário assassinado, no local do crime, Thorn começa a ver objetos simples que nunca havia visto antes – e aproveita para roubá-los e levar para o seu amigo Sol (que chora ao ver alguns itens que imaginava nunca ver novamente) – como sabonete, whisky, um pedaço de bife, extremamente raro, entre outras coisas. É preciso ver a expressão de prazer de Heston quando seu personagem lava o rosto numa torneira de água corrente e quentinha. Algo praticamente impossível de se fazer em condições cotidianas. São vários os detalhes que ajudam a compor o personagem e definem o futuro apresentado.
Além de Heston e Robinson, temos no elenco o veterano Joseph Cotten em uma pequena participação como o milionário assassinado e Chuck Connors como seu guarda costa e uma pedra no sapato de Thorn. Mas Robinson, bastante velhinho e ciente que a morte se aproximava (morreu pouco tempo depois que as filmagens foram finalizadas), é quem rouba o filme. A cena onde ele vai para “A Casa”, uma espécie de clínica onde as pessoas desfrutam de alguns minutos de paz e logo depois recebem uma morte boa e tranqüila é belíssima e impossível não se emocionar. Uma despedida à altura do grande trabalho que Robinson prestou ao cinema como ator.
A direção é de Richard Fleischer, legítimo autor do cinema de gênero americano e não um empregado de estúdio como muitos o subestimam, infelizmente. SOYLENT GREEN é um dos seus maiores exercícios de criatividade. Com poucos elementos e a decoração retrô dos anos setenta, deu uma visão de futuro apocalíptico muito mais convincente que a maioria dos filmes atuais cujos executivos dos estúdios preferem gastar rios de dinheiro para criar universos artificiais em computação gráfica (claro que naquela época não existia CGI, então os realizadores tinham que botar a cuca pra funcionar mesmo).

E para deixar a coisa ainda mais interessante, porque eu não sou de ferro, Fleischer arruma uma forma de relacionar toda o pensamento sobre o futuro da humanidade com boas doses de cenas de ação ao estilo seco e sem firulas da época.
Mas quanto a “mensagem” geral e profundamente reflexiva de SOYLENT GREEN sobre este futuro negro que o filme apresenta, eu parei para pensar e interpretar todos os elementos e acabei chegando na seguinte conclusão (e estou aberto a discussão): contanto que eu seja um dos milionários que come filé mignon em uma cobertura de luxo, a humanidade pode seguir comendo seus tabletinhos tranquilamente. Caso contrário, a vida seria uma merda!

13.7.09

BLOOD FOR DRACULA (Dracula cerca sangue di vergine... e morì di sete!!!, 1974), de Paul Morrissey

Sem muito tempo para escrever, dei uma atualizada neste meu texto antigo, publicado em outro blog que eu tinha. Trata-se do meu filme de vampiros favoritos...

O cinema de Andy Warhol

Na verdade, o Warhol apenas produziu. Acho que título do texto deveria ser “O cinema de Paul Morrissey”, que foi o roteirista e diretor do dito cujo aqui. Mas com certeza o nome do famoso artista plástico chama mais a atenção. Warhol e Morrissey fizeram outras parcerias, incluindo FLESH FOR FRANKENSTEIN, uma releitura bizarra do clássico de Mary Shelley. BLOOD FOR DRACULA também é uma variação atípica, mas da criação de Bram Stoker. Apresenta um Drácula que sai durante o dia, embora seja um tanto frágil à luz; não tem problema em pegar ou ver cruzes, mas não gosta delas; o seu problema com alho consiste em come-los apenas; e o único sangue que bebe é de moças virgens.

O filme inicia na Romênia dos anos 30 com Udo Kier, ainda novo, vivendo um Conde Drácula exótico, moribundo, fraco e necessitado de sangue já que não consegue arranjar mais virgens para chupar o cangote. É, então, convencido pelo seu criado, Anton, o estranho Arno Juerging, para ir à Itália, país religioso que preza pelo cabaço de suas filhas, onde, teoricamente, seria mais fácil de arranjar o "alimento", diferente da Romênia onde a virgindade é algo escasso.

Chegando ao país da bota, é recebido pelo Marquês di Fiore e sua esposa, que possuem quatro filhas. O Marquês é interpretado pelo grande diretor italiano Vittorio de Sica e seu personagem, falido financeiramente, aproveita para beneficiar-se das intenções do Conde que anuncia o desejo de se casar com uma de suas filhas. O grande problema é o criado da família (Joe Dallesandro), um sujeito de pensamentos socialistas que acredita na queda da classe dominadora enquanto pratica o coito com duas das filhas do Marquês... e ao mesmo tempo.

Morrissey subverte a história para um estudo visual-erótico-sanguinário e até político (na visão do criado). O conflito entre ele e o conde é símbolo de lutas entre classes, sendo que os dois, dentro do contexto de cada um, têm o mesmo objetivo de ter nos braços as filhas do Marquês. Uma dialética ambiciosa para um filme de terror aparentemente oportunista e apelativo para sangreira e mulher pelada.

A busca pela virgem prossegue dentro da mansão do Marquês, embora já se saiba, duas das filhas, Rubinia e Saphiria, são bem sapequinhas. Também são lindas e protagonizam várias cenas de nudez com direito a petecas cabeludas e encenações de sexo soft-core com o pobre criado socialista. Logo, o vampirão abre olho em cima delas, já que as outras duas filhas são, inicialmente, rejeitadas. Esmeralda, a mais velha, é desprovida de beleza e Perla, a mais linda entre todas, é muito nova.

O Conde rapidamente descobre que as duas beldades não são virgens, e de uma maneira muitoo visceral. Após chupar o pescoço de suas vítimas para retomar suas forças, seu corpo rejeita o sangue impuro criando seqüências que fazem valer a excelente performance de Kier, que vomita sangue em expressões angustiadas. Kier possui muita presença, com uma linguagem corporal que lembra os atores do cinema mudo, como no início, se maquiando em frente ao espelho (sem ver seu reflexo, lógico).

Morrissey parece ter uma afinidade em criar o choque no publico. Seja no catártico e sangrento desfecho ou na forma como apresenta os costumes de uma época a fim de expandir os limites do que era aceitável dentro do comportamento de uma sociedade com relação à sexualidade, que é um dos pontos principais explorados aqui. A direção é bem característica dos exploitations da época, com zoons e closes enfocando os exageros e os excessos. Desde o olhar expressivo de Kier até mesmo os litros de xarope derramados.

Ainda há a participação especial de Roman Polanski como um italiano espetinho que sacaneia Anton com um jogo bobo. Polanski estava realizando WHAT? em um set de filmagens na Itália perto do local onde Morrissey filmava BLOOD FOR DRACULA, um filme que quase não vejo ser comentado por essas bandas, mas extremamente recomendável para os amantes dos verdadeiros filmes de terror e que estão cansados de ver sempre a mesma porcaria nos filmes atuais.

12.7.09

FALCÕES DA NOITE (Nighthawks. 1981), Bruce Malmuth


Já faz um tempinho que namorava este filme na Americanas, especialmente pelo precinho, mas como não tinha visto ainda, hesitava. Depois que o Daniel me recomendou, deixei de frescura e comprei FALCÕES DA NOITE, e agora recomendo a vocês, porque realmente vale a pena. É assumidamente um filme menor na carreira do Stallone, fica ali na meiuca entre o Sucesso da série ROCKY e RAMBO, nunca teve a atenção que merece, mas no fim das contas é um interessante filme policial.

FALCÕES DA NOITE apresenta Wulfgar (Rutger Hauer), um terrorista europeu que acaba perdendo a linha nos seus negócios, que se resume em explodir lugares e pessoas, e precisa sair de cena por uns tempos, antes que seus ex-companheiros o traia ou a polícia o prenda. Então decide ir para Nova York, lugar perfeito para se abrigar terrorista sem ser incomodado, principalmente depois de uma plástica facial.

O que Wulfgar ainda não sabe é que um especialista anti-terrorismo, Peter Hartman (Nigel Davenport) antecipou seus movimentos e já está em Nova York planejando uma forma de capturá-lo, e para isso conta com uma ajudinha extra formada por alguns dos melhores homens do departamento de polícia. Deke DaSilva (Stallone) e Matthew Fox (Billy Dee Williams), por exemplo, são perfeitos para essa missão. Extremamente capacitados e conhecem cada canto do submundo nova-iorquino, mas antes, passam por um treinamento anti-terrorismo que martela na cabeça dos policiais a necessidade de matar o Wulfgar de qualquer maneira, nem que coloque em risco a vida de inocentes, algo que DaSilva é totalmente contra, mas decide permanecer no grupo assim mesmo, depois de refletir profundamente.

Stallone e Williams estão muito bem, em ótima fase, e possuem uma química que funciona legal como parceiros policiais. O que chama a atenção é Stallone estar longe do seu habitual estereótipo do policial que se acha acima da lei, embora seja de fibra, mas se apresenta em FALCÕES DA NOITE um pouco mais comedido, introspectivo, demonstrando uma faceta diferente do ator como action man dos anos oitenta. Mas o melhor do filme é definitivamente Rutger Hauer (neste que é seu primeiro filme americano), muito convincente, com um olhar expressivo, louco, fazendo o terrorista sangue frio que mata sem piedade. É impressionante como hoje ele seja tão mal aproveitado no cinema.

Indo do "tema policial urbano" à "trama de terrorismo internacional", o filme oferece alguns ótimos momentos de ação e outros em que o rendimento cai um bocado, mas nada que estrague a diversão, longe disso, principalmente porque o “tema policial urbano” (que eu adoro) prevalece em cima da “trama internacional” (que às vezes pode soar bem chatinha) – a cena do bondinho com os reféns, por exemplo, é uma que acho muito longa, muito embromada, embora mostre o quão sádico Wulfgar pode ser. Mas é um filmaço, sem dúvida.