Escrever sobre um filme como
COBRA pode ser uma perda de tempo – todo mundo já viu e já está careca de saber do que o filme se trata – mas como eu não estou tendo muito tempo pra ver a quantidade de filmes que eu gostaria (o último que eu vi foi justamente este aqui e já faz uns quatro ou cinco dias), vou tentar alguma coisa pra não deixar o blog paradão.
Além do mais, estamos falando de
COBRA, sim, aquele filme que marcou a sua infância e a de muita gente que neste momento deve estar relembrando os tempos em que Stallone, Arnoldão, Van Damme e Steven Seagal (!) eram vistos semanalmente na TV aberta. E olha que eu nem preciso ir tão longe (também não sou tão velho, peguei o final dos anos 80 adiante e nesta época, estes caras aí foram os responsáveis pela minha formação em cinema de ação). Mas este tom nostálgico que envolve filmes e televisão eu deixo para o Leandro Caraça, que realmente consegue transmitir essa sensação com muito mais emoção em seu
blog.
Para quem não sabe, Sylvester Stallone, inicialmente, seria o homem que daria vida ao policial Axel Foley em UM TIRA DA PESADA, de Martin Brest, tanto como protagonista quanto palpiteiro de roteiro, mas depois que o script acabou virando um banho de sangue, a Universal resolveu botar Stallone para enscanteio, contratando outros roteiristas e escalando Eddie Murphy que se consagrou justamente com este papel. A falecida, infelizmente, Cannon se interessou pelo material do “Garanhão Italiano” e começou a produzir, graças ao bom Deus, essa maravilha que hoje conhecemos.
Naquela época, Stallone não precisaria sair mendigando trabalho ou implorando para que algum estúdio comprasse seus roteiros. Ele já havia se firmado como um modelo de herói de ação dos anos oitenta desde RAMBO e o diretor do segundo filme da franquia, George P. Cosmatos, reuniu-se novamente com o ator pra realizar esta espécie de Rambo urbano, numa das minhas definições mais cretinas...
COBRA é um filme brutal e tem aquele tom fascista que compõe sua óbvia inspiração no filme de Don Siegel, DIRTY HARRY, com Clint Eastwood. A abertura é um delírio quando ouvimos a voz de Stallone relatando o número de assassinatos, estupros e etc por dia nos Estados Unidos, enquanto vira o trabuco em direção a câmera. Logo depois mostra um bando de motoqueiros que se reúne para ficar batucando com machados e outros objetos enquanto os créditos iniciais são apresentados.
Engraçado que no meio dos malucos batucando, eu reparei um tiozinho careca, usando um terno, segurando dois machados. Fiquei imaginando o porquê daquilo e que tipo de ser humano seria aquele de entrar num lugar desses vestido assim pra ficar batucando machados. Vai entender...
A primeira cena de
COBRA mostra um psicopata adentrando um supermercado e fazendo todos os clientes de refém. A policia cerca o local, mas logo percebem que é preciso chamar o homem! Cobra chega em seu carro retrô, com óculos espelhados, luvas pretas, barba por fazer e mastigando um fósforo. Entra no supermercado com um ar totalmente cool, para na prateleira da cerveja e dá um gole. Em determinado momento, o bandido ameaça: “Vou explodir todo o lugar”, “Vá em frente, eu não faço compras aqui”, responde Cobra. Logo depois, outra pérola: “Você é a doença, eu sou a cura”. É uma ótima maneira de demonstrar o nível de pretensão esperado por aqui.
Aquele grupo de motoqueiros que eu citei ali em cima, do qual um dos membros é o tiozinho de blazer, na verdade, trata-se de uma seita que comete assassinatos que até agora não consegui entender os motivos. O filme não explica, mas apenas mulheres sozinhas, à noite, no escuro são assassinadas em prol da seita. Mas que seita é essa que mata mulheres indefesas? E pra que? Só se for uma seita gay com o objetivo de exterminar o sexo feminino. E quem diabos é aquele velhinho de terno batendo dois machados numa seita de motoqueiros??? Enfim, o roteiro é do Stallone, vamos relevar. O fato é que a história deve prosseguir e para isso, entra em cena a modelo fotográfica (a dinamarquesa Brigitte Nielsen) que testemunha um dos crimes e passa a ser alvo dos malfeitores. Cobra fica incumbido de proteger a moça dos malucos.
Mas isso também é só um pretexto pra cenas de ação, frases de efeito e muito suspense. Aliás, este é um tópico importante, porque para um filme de ação, as cenas em que “assassino principal” (Brian Thompson) tenta eliminar suas vítimas são de uma atmosfera intensa de terror e alguns elementos como luvas e objeto pontiagudos ajudam a reforçar o clima de
giallo em determinados momentos. Só faltou mesmo sangue em abundância partindo dessas situações, detalhe que o filme resolve não mostrar.
Mas ainda temos muitas sequencias de ação como a perseguição de carro em alta velocidade, com Stallone em seu carro retrô, dando cavalo de pau no meio do transito pra poder atirar pra trás enquanto o carro realiza o giro completo e volta para a posição inicial sem diminuir a velocidade!
Assim como vários filme que acabam, de alguma forma, analisando a aplicação da lei de uma forma subvertida,
COBRA, com o roteiro de Stallone, também faz a sua contribuição. Mas é um ponto que não se deve levar muito a sério por aqui, ou até deve. O ator/roteirista parece mais preocupado em criar uma figura que vomita frases como “nós os prendemos, os juízes os soltam”, sem que haja uma profundidade temática sobre o assunto, mas a falta de pretensão de Stallone às vezes é muito mais significativa do que milhares de exemplares com essa ambição.
Um dos momentos mais interessantes é no final, no confronto entre Cobra e o psicopata de Brian Thompson, que provoca o homem da lei dizendo que ele não pode matá-lo, mas quando for preso, será liberado, ou coisas do tipo. Claro que Stallone, em toda sua ética fascista, vai soltar uma frase de efeito como “Aqui é onde a lei termina... e inicia a minha”! Genial.
Sabemos que
COBRA não é um filme perfeito e está longe de ser um dos melhores filmes ação ou policial dos anos 80 em termos de qualidade técnica. Mas com toda certeza você deve ter um lugarzinho especial dentro de você pra guardar a cobra. Eu não, eu guardo na prateleira, juntos com meus outros DVD’s!