28.2.09

O VINGADOR SILÊNCIOSO (Il Grande Silenzio, 1968), de Sergio Corbucci


Ainda não sou um conhecedor da filmografia de Sergio Corbucci e já li por aí que o sujeito fez uns filmes bem fraquinhos ao longo da carreira, mas quando a coisa é boa (como DJANGO, de 1966, e este aqui), ele acerta em cheio e é por isso que é fácil classificá-lo como um dos maiores realizadores de Western Spaghetti. O VINGADOR SILÊNCIOSO é provavelmente um dos melhores e o mais pessimista exemplar do subgênero. E é por esse pessimismo, principalmente no controverso desfecho, que não é de se estranhar que o filme nunca tenha sido lançado nos Estados Unidos.

O VINGADOR SILÊNCIOSO é estrelado pelo ator francês Jean-Louis Trintignant e o grande Klaus Kinski, só isso já o torna imperdível. No lugar do francês, a primeira escolha era Franco Nero, que já havia trabalhado com o diretor, mas estava com a agenda lotada. Trintignant só aceitou fazer o filme porque era muito amigo do produtor e sob a condição de que não precisasse decorar nenhuma fala. Criaram então um personagem mudo, cujas cordas vocais foram cortadas quando criança. E Trintignant está perfeito vivendo Silêncio, este herói trágico em busca de vingança e lutando contra caçadores de recompensas inescrupulosos. Já Kinski interpreta justamente um caçador de recompensa sem escrúpulos.

O filme se passa nas locações frias e cobertas de neve do estado do Utah onde um grupo de bandidos se esconde nas florestas aos arredores da cidade de Snow Hill esperando a anistia prometida pelo novo governador para poder retornar à cidade e levar uma vida normal. Obrigado a roubar para poder se alimentar durante o exílio involuntário, cada cabeça do grupo vale uma boa grana e vários caçadores de recompensa invadem a região como lobos em busca de caça. Loco (Kinski) é um deles, o mais perigoso e ganancioso. Ao matar um desses fugitivos, Pauline, a mulher do defunto, recruta Silêncio para matar Loco.

A grande sacada de Corbucci foi dar alma aos personagens. Não só aos dois protagonistas, mas também ao Xerife, interpretado por Frank Wolff e Pauline, a bela Vonetta McGee (que não é lá grande coisa como atriz, mas tudo bem). Todos os personagens são movidos por instintos muito bem definidos pela vingança e cobiça. E quando essas motivações dão lugar a um jorro de emoções, fica difícil resistir. Por isso o personagem do xerife é tão carismático e ainda há uma cena belíssima quando Silencio e Pauline fazem amor sob a sedutora melodia de Ennio Morricone. Essa cena é o mais próximo de uma humanização que os personagens poderiam alcançar e talvez por isso, Silencio se torne tão vulnerável a partir daí, diferente daquele pistoleiro onipotente do início.

E o final é extremamente chocante e brutal. Quebra qualquer paradigma dos heróis míticos e invencíveis criados pelo western holliwoodiano. A forma como Corbucci retrata os vilões (especialmente Kinski com aqueles olhos azuis expressivos de gelar a espinha) e os refugiados da floresta reforça ainda mais o sentido dilacerante da conclusão, e Silêncio, ao se apaixonar por Pauline e tornar-se mais humano, acabou enfraquecido, e já não pertence mais aquele universo instintivo e como todos sabem, na natureza são os mais fortes que sobrevivem.

27.2.09

COP (1988), de James B. Harris

COP é todo James Woods. O sujeito parece que nasceu para o papel do policial que faz aqui e deposita seu estado de graça num personagem subversivo, controverso e provocativo. Assim como o próprio filme também o é. O plot é bem simples (policial obcecado em resolver um caso envolvendo um serial killer), mas é a complexidade do personagem e a capacidade de Woods de interpretá-lo é que torna tudo mais interessante.

Só pra dar uma noção do que o sujeito é capaz, basta observá-lo enchendo um suspeito desarmado (isso mesmo, o cabra era um suspeito e estava desarmado) de balas a sangue frio, apenas por abrir a porta do carro de maneira um tanto "brusca". Outra: depois de chegar em casa e descobrir que a mulher o abandonou com a filha, na cena seguinte já mostra o cara transando com uma de suas informantes.

E Woods está perfeito fazendo isso, com uma naturalidade absurda. E é o tipo de ator que quando surge em cena os nossos olhos logo querem acompanhá-lo. E em COP ele está presente em praticamente todas e não consigo ver outro ator em seu lugar. Pena hoje estar tão sumido. O elenco ainda conta com Lesley Ann Warren, Charles Durning e Raymond J. Barry.

O filme foi produzido (juntamente com o próprio Woods), escrito e muito bem dirigido por James B. Harris – produtor de filmes do início de carreira de Stanley Kubrick – e é uma adaptação de Blood on the Moon, de James Ellroy, famoso por suas estórias policiais em formato noir. COP não deixa de ser um neo-noir classudo e um autêntico filmaço que só poderia ter saído nos anos oitenta e nunca teria lugar no cinema americano atual e politicamente correto, principalmente com seu final, um dos mais corajosos e niilistas que eu já vi, mesmo sendo um clichezão.

21.2.09

NÃO TOQUE NO MACHADO (2007), Jacques Rivette


Precisava me iniciar em Jacques Rivette de alguma maneira, então resolvi começar de trás pra frente. NÃO TOQUE NO MACHADO é lindo, uma escolha acertadíssima e foi o último filme do diretor, que fará 81 anos em breve. Engraçado como o cinema francês atual anda um pouco carente de diretores novatos com a mesma força desses velhinhos que ainda teimam em fazer filmes. Obviamente há, mas são poucos. A grande maioria não consegue alcançar a qualidade de um Chabrol, Rohmer ou Resnais, levando em consideração seus últimos filmes. E o Rivette aqui para dar mais credibilidade à teoria.

NÃO TOQUE NO MACHADO é a adaptação de “A Duquesa de Langeais”, escrito por Balzac, e apresenta o general francês Armand de Montriveau que se encontra numa ilha espanhola com a missão de restaurar o Rei Ferdinando VII ao trono, já que após a queda de Napoleão Bonaparte, a Espanha volta-se para os braços da França (se quiser saber mais, vai ler um livro de história!). Tudo balela, já que o verdadeiro objetivo de Armand é curar a dor de cotovelo que tanto lhe angustia.

O fato é que o sujeito procura um amor antigo, sofrido e perdido devido às lúdicas brincadeiras emocionais que os pombinhos propuseram cinco anos antes. Coincidência, porém, a mulher se encontra na mesma ilha. Tornara-se freira e vive agora trancafiada num convento. O reencontro é um desastre, daí somos levados há cinco anos antes para esclarecer essa situação mal resolvida, essa relação conturbada e entender melhor estes personagens, até o momento, tão fechados.

E é praticamente neste flashback que acompanhamos o restante do filme que se resume num verdadeiro duelo emocional e psicológico estabelecendo um paralelo teatral cuja força concentra-se muito na capacidade performática de Guillaume Depardieu (filho do ator Gerard Depardieu; faleceu no ano passado e, curiosamente, tinha uma perna amputada, assim como seu personagem nos textos de Balzac) e Jeanne Balibar. Os dois estão sublimes e contribuem com 50% da essência da obra. O elenco ainda conta com o grande Michel Piccoli e uma ponta do diretor Barbet Schroeder.

Os outros 50% são de Rivette que faz o papel de observador com uma câmera que flui suavemente em movimentos elegantes pelos ambientes exuberantes compondo planos extremamente simples e belos visualmente (a direção de arte e figurinos também ajudam um bocado). A narrativa transcorre basicamente em ambientes fechados e iluminados por velas. E ainda há a genial valorização da encenação, da mise-en-scène, que estabelece uma dinâmica muito mais interessante do que aparenta, já que muita gente deve estar pensando que NÃO TOQUE NO MACHADO se trata apenas de mais um filme chato de conversa.

Na verdade é, mas com muito estilo, maravilhosamente bem filmado com uma simplicidade e maturidade de um verdadeiro mestre do cinema. Quero só ver o que vai sobrar dos franceses quando esses velhos passarem desta pra melhor...

20.2.09

Samuel Fuller - Parte II

ANJO DO MAL (1953): Um dos primeiros filmes do Fuller que eu vi. É também a primeira vez que ele trabalhou com o ator Richard Widmark, neste thriller político em forma de noir com uma trama que envolve agentes secretos, policiais e no meio do fogo cruzado, um batedor de carteiras que tenta manter-se neutro em ambos os lados. Muito suspense, seqüências bem conduzidas, violentíssimo para a época e a aula de construção de personagens habitual. * * * *

HELL AND HIGH WATER (1954): Segundo filme com o Widmark e o primeiro em cores (numa produção da Fox), mas Fuller não parece muito à vontade trabalhando com um orçamento mais gordo do que está acostumado. De maneira alguma é um filme ruim, mas possui excessos além do necessário para um diretor que parece sempre filmar o essencial. Aqui, Fuller demonstra toda sua noção de arquitetura e espaço ao contar uma estória tensa que se passa, em sua maioria, dentro de um submarino. * * *

HOUSE OF BAMBOO (1955): Um dos mais brilhantes do diretor, principalmente porque ele parte de uma trama policial passada no Japão apenas para preencher todo o scope com refinados planos que faz questão de filmar ao ar livre nas locações, nas ruas movimentadas de Tóquio em plena década de 50 (tornando-se o primeiro filme de Hollywood a filmar no local), ao invés de utilizar estúdio como faziam normalmente, revelando um estilo que ainda viria aparecer algum tempo depois na Nouvelle Vague francesa. * * * * *

CHINA GATE (1957): Como Fuller adorava o oriente, aqui mais um outro belo exemplar. É um filme mais descompromissado que o usual, o que não significa que não tenha a mesma força de outros. Mais uma aula de direção econômica com um entrecho simples e interessante (que se passa durante a guerra da Indochina). Angie Dickson bastante jovem e lindíssima estrela a produção que ainda conta com Gene Barry e o músico Nat King Cole cantando a bela canção tema do filme. * * * *

RUN OF THE ARROW (1957): Ambientado no final da Guerra Civil, Fuller realiza um ótimo estudo de personagem cujo conflito psicológico encontra-se nas questões raciais quando um soldado confederado, interpretado por Rod Steiger, acaba se juntando a uma tribo Sioux e passa a ser seu representante nas negociações com os brancos (o lider dos Sioux é vivido por um quase irreconhecível Charles Bronson). Mais um daqueles filmes da carreira do diretor que, injustamente, não se ouve falar... * * * *

parte I

18.2.09

SEVEN MEN FROM NOW (1956), de Budd Boetticher

Primeiro contato com o cinema de Budd Boetticher neste western inteligente, puramente cinematográfico e alegoricamente interessante. O elenco é encabeçado por Randolph Scott e, se não me engano, inicia aqui uma pareceria com o diretor que rendeu alguns clássicos famigerados (aliás, os outros filmes desta parceria eu já tenho e vou comentando na medida em que for assistindo). Scott interpreta um ex-xerife atrelado numa caçada por sete sujeitos que assassinaram sua esposa em um assalto; ao longo do caminho ele encontra algumas pessoas que o acompanha, como um casal que ruma para Califórnia numa carroça e um antigo desafeto do protagonista, vivido por Lee Marvin (fazendo um belo contraste Marvin, sempre robusto x Scott e seu jeitão lacônico). Boetticher é bem seguro narrativamente e sabe utilizar as simbologias do gênero, a paisagem, o espaço, as cores, tudo em favor de um estilo simples e respeitador dos princípios da linguagem cinematográfica, o que torna cada plano um espetáculo visual único.

15.2.09

BULLET IN THE HEAD (1990), de John Woo

É chover no molhado dizer isto, mas o John Woo é destes casos de diretores cuja carreira desanda para uma irregularidade cretina após deixar seu país natal. Gosto de alguns filmes hollywoodianos do cara (A ULTIMA AMEAÇA, FACE OFF...), mas na minha opinião, nem o melhor deles consegue chegar aos pés de qualquer filme “hong kongiano” entre os que assisti. BULLET IN THE HEAD foi o ultimo que eu matei e a reação é a mesma de THE KILLER e HARD BOILED. filmaço!

A situação aqui é bem ambiciosa e concentra-se em três amigos (Jacky Cheung, Tony Leung e Waise Lee) muito próximos que vivem na China em meio às manifestações sociais, a miséria e a criminalidade. Quando um deles comete um assassinato, os três decidem fugir do país e vão para Saigon em plena Guerra do Vietnã. Lembrou-me um bocado de O FRANCO ATIRADOR, do Michael Cimino (principalmente na cena do “campo de concentração” vietcong), mas no formato de um pequeno épico de ação com incríveis momentos de violência extrema.

Essa ambição de Woo está ligada na quantidade de temas que o sujeito tenta abordar num mesmo filme (amizade, cobiça, vingança, consequencias psicológicas da guerra, etc, etc...), ao mesmo tempo em que recheia a coisa toda com cenas de ação espetaculares e realiza o belíssimo trabalho de composição de quadros e movimentos de câmeras dos quais nos acostumamos, e que funciona muito bem, pois o diretor só deixa esses temas se esgotarem o tempo suficiente para que as balas das armas comecem a cuspir freneticamente.

14.2.09

FIGHT FOR YOUR LIFE (1977), de Robert A. Endelson


A imagem acima já dá uma noção do grau de insanidade dos realizadores de FIGHT FOR YOUR LIFE, um verdadeiro exemplar da era dos cinemas grindhouse, subversivo ao extremo, corajoso e repugnante, feito para provocar o público e que rendeu um lugar na lista dos vídeo nasties. Hoje, está um pouco esquecido, mas tudo bem...

Basicamente, a história segue um trio de condenados que, logo no início, consegue escapar do ônibus de transporte da prisão, troca tiro com a polícia e foge no carro de um cafetão. O bando é liderado por Jessie (William Sanderson, de BLADE RUNNER, doentio, depravado e perfeito neste aqui) e conta com Chino, um mexicano, e Ling, um asiático; e em uma cidadezinha aos arredores de Nova York acabam numa casa onde mantém uma família de negros como reféns! É um filme multi-racial, como podem notar...

É neste ambiente que grande parte da coisa se desenrola. Toma uma forma bruta a partir da direção crua e realista de Robert A. Endelson que explora o roteiro de Straw Weisman sem piedade. Apesar da curta duração, FIGHT FOR YOUR LIFE é carregado de situações e temas ofensivos como racismo, religião, estupro e violência desenfreada e sem sentido. Mas o que mais surpreende é o incrível desempenho do elenco submetido a essas situações de extremo conflito psicológico e agressões físicas.

Bom, percebe-se que FIGHT FOR YOUR LIFE não é pra qualquer tipo de publico, além de possuir falhas (alguns diálogos fracos, uma encenação mal feita), principalmente as técnicas por conta do baixo orçamento, que incomodam o espectador mais exigente. Mas o que é falha para alguns, é charme para outros. Os fãs de um bom exploitation vão adorar.

13.2.09

SHE MOB (1968), de Harry Wuest


A Something Weird foi uma famosa distribuidora americana especializada em bagaceiras trash, exploitations e coisas do gênero, como por exemplo SHE MOB, uma tralha que só mesmo esta distribuidora teria a cara de pau de distribuir. É o típico filme que de tão ruim, de tão mal feito, acaba valendo a pena como diversão e curiosidade. Ainda mais com a bela dose de nudez gratuita que o diretor Harry Wuest (não creditado) faz questão de captar em sua câmera mal iluminada.

E não é só a fotografia que é precária. Os atores também não valem o ingresso, com exceção de Marni Castle, que além de fazer um papel duplo, realiza um bom trabalho com a personagem da vilã lésbica Big Shim. A produção é risível e o diretor é péssimo, mas faz o que pode para encenar as situações. Mas chega de mandar brasa no filme, porque pelo menos a história é engraçada e bem movimentada na medida do possível.

Somos apresentados no início a um casal. Mas logo percebemos que Tony é um gigolô, embora Brenda realmente ame o sujeito. Já em outro lugar estão cinco mulheres, entre elas Big Shim e sua namorada. As outras três moças reclamam do tédio e Big Shim resolve chamar Tony para apagar o fogo das moças. Mas quando o gigolô chega ao local, Big Shim lhe aponta uma arma e o seqüestra pedindo uma quantia de dez mil dólares para Brenda.

Brenda decide chamar uma detetive para que recupere o seu amor. Entra em cena então Sweety East, a detetive com cara de traveco que se encarrega de levar o dinheiro e tentar trazer Tony de volta. Depois de muita confusão, porradaria e perseguição de carro – com a impressão de que tudo foi filmado por um garoto de 5 anos de idade – ela consegue recuperar o sujeito, mas decide não devolve-lo para Brenda, pois também se apaixonou por ele.

Er... E é isso...

Bom, acabei até contando o final desta bagaceira. Aposto que ninguém aqui vai querer assistir mesmo. Pelo menos não pelo enredo, só se for pela quantidade de nudez e a dose de violência, que deram ao filme uma considerável bilheteria na época de lançamento. Hoje, serve de artefato histórico para os verdadeiramente interessados no cinema exploitation e tranqueiras de baixo orçamento.

11.2.09

BONNIE & CLYDE (1967), de Arthur Penn

Dizem por aí que o ator (e produtor do filme), Warren Beatty precisou implorar de joelhos perante a cúpula da Warner para levar às telas de cinema a vida de Bonnie e Clyde, o famoso casal que roubava bancos na época da depressão americana. Cabeças duras, como sempre, os executivos não tinham idéia de que BONNIE & CLYDE (no Brasil, UMA RAJADA DE BALAS) iria se tornar uma das obras mais influentes do cinema americano e mudaria totalmente a maneira de tratar a violência em Hollywood.

Hollywood, claro! Porque violência, sangue e gore já existia há muito tempo no cinema americano. Mas seria injusto desmerecer a maneira como a violência é abordada aqui. Tomemos por exemplo um dos primeiros assaltos quando Michael J. Pollard estaciona o que deveria ser o carro de fuga. A situação vira uma cena cômica até que PIMBA! Um tiro na cabeça de um funcionário do banco, muito sangue espalhado e acaba a palhaçada!

Não é preciso nem tocar no assunto do desfecho de BONNIE & CLYDE também, não é? Aquele brutal, sangrento, perturbador, chocante! (pronto, falei!). Sam Peckinpah deve ter ficado com água na boca imaginando o que poderia fazer com seus próximos filmes, não é a toa que é chamado de “poeta da violência”.

Também há a influencia da Nouvelle Vague francesa. As primeiras imagens que mostram Faye Dunaway nua em seu quarto parecem saídas de um filme do Truffaut. Por falar nele, a direção quase parou em suas mãos antes de ir para o excelente e subestimado Arthur Penn, que realizou um belíssimo trabalho. Simples, mas moderno, sem as amarras do estilo clássico americano que na época estava meio defasado. Já havia perdido aquela áurea dos anos 30, 40 ou 50, ainda que, deixando bem claro, existissem bons filmes.

Além de Dunaway (que esté maravilhosamente linda), Beatty e Pollard, o filme conta com a presença de Gene Hackman e Estelle Parsons. Todos indicados ao Oscar, mas apenas esta ultima levou a estatueta pra casa, e merecida, embora todo o elenco esteja ótimo. A fotografia também merece destaque (há uma cena em que uma nuvem passa por cima dos atores tapando o sol que é uma coisa absurda de linda, com certeza foi sorte, pois naquela época ainda não se manipulava o tempo com efeitos de computação gráfica), bem como a trilha sonora.

Assistir a BONNIE & CLYDE é recompensador, principalmente quando é a primeira vez, como foi o meu caso. Retirou um peso da minha consciência cinéfila...

9.2.09

PUBLIC ENEMIES

Definitivamente, PUBLIC ENEMIES, do Michael Mann, é o filme mais aguardado por mim em 2009...

8.2.09

THE STREETFIGHTER (1974), de Shigehiro Ozawa

Não, THE STREETFIGHTER não possui qualquer tipo de ligação com o famoso jogo de vídeo game, muito menos com aquela adaptação porca estrelada pelo Van Damme. Este aqui é um autêntico clássico das artes marciais que, se você ainda não conhece, torna-se obrigatório a partir de agora! É estrelado pelo grande Sonny Chiba, provavelmente o maior astro dos filmes de artes marciais, embora não tenha sido tão popular quanto Bruce Lee. O Quentin Tarantino, por exemplo, é um grande fã e colocou o sujeito pra interpretar o Hattori Hanzo em KILL BILL.

O filme é uma maravilha onde a pancadaria come solta sem parar, mas por trás de tudo, há uma trama bem contada e elaborada que o torna muito mais interessante. Chiba vive um bandido de aluguel que resolve “trocar de lado” para defender a única herdeira de uma grande companhia e que possui a máfia nos calcanhares. Trocar de lado entre aspas porque, na verdade, o sujeito só quer mesmo levar uma boa grana. Mas para isso vai ter que enfrentar vários capangas na porrada e uma variedade de lutadores exóticos como um cego que esconde uma espada na sua bengalinha, bem no estilo Zatoichi.

E o que vale mesmo são as cenas de quebra pau. Simples, sem muitas coreografias extrapoladas, grande parte delas acontecem em ambientes fechados como corredores, escadas ou quartos cheios de móveis, onde o diretor Shigehiro Ozawa aposta mais nas habilidades de Chiba e nas suas expressões faciais (leia-se caretas!). Mas não deixam de ser explosivas e violentas com direito a ossos quebrados, dedos nos olhos, crânios esmagados (um deles numa visão de Raio X), gargantas arrancadas, dentes estourados com um soco e até mesmo as bolas de um negrão arrancadas com as mãos!!! Tudo incrementado com litros e litros de sangue e um tom bem realista realizado com ótimas trucagens.

THE STREETFIGHTER ainda teve mais duas continuações, todas estreladas por Sonny Chiba e qualquer hora dessas eu falo sobre elas também (mas primeiro eu tenho que assistir)...

7.2.09

TAXIDERMIA (2006), de György Pálfi

Só fui assistir agora essa bizarrice do cinema húngaro, bastante elogiado nas mostras onde passou em 2006, e que nunca pintou nos circuitos comerciais. Mas era óbvio que isso aconteceria, basta assisti-lo pra saber a razão...

TAXIDERMIA é dividido em três partes. Narra a história de três homens da mesma família, mas em gerações e épocas distintas, criando um insólito painel da história da Hungria. O primeiro é um soldado que vive agregado a uma família no final da Segunda Guerra, em um local inóspito no interior do país, e possui estranhos hábitos como o de passar o fogo de uma vela sobre o seu corpo, até que seu pênis solte uma labareda de chamas! Yeah! O filme é bizarro a este ponto.

O filho dessa figuraça é o protagonista do segundo ato, que nasceu com um rabo de porco, é obeso e campeão dessas competições onde é vencedor quem consegue ingerir uma quantidade maior de alimentos em menos tempo. Uma coisa muito nojenta de se ver e as cenas onde os competidores vomitam normalmente enquanto batem um papinho nos intervalos das disputas quase me fizeram colocar o almoço pra fora também...

A terceira parte é a melhor, mais interessante e profunda. O filho do comilão torna-se um magricela com um rosto cadavérico e expressivo cuja profissão é taxidermista e possui sua própria loja onde empalha os animais e outros seres, por mais mórbidos que sejam, e busca uma espécie de imortalidade através de uma definitiva obra de arte macabra que é encenada por György Pálfi com uma habilidade incrível, um realismo impressionante que daria inveja a Joe D’Amato. Aqui o filme parte para o extremo do absurdo com imagens de autópsia, mutilações, remoção de órgão, manipulações do corpo humano que surpreenderia até David Cronenberg.

6.2.09

Exploitations Favoritos

Lista esquizofrênica dos meus 30 Exploitations favoritos (e provavelmente devo ter esquecido alguns), sem ordem de preferência:

ASSAULT ON PRECINCT 13 (1976), John Carpenter
BASKET CASE (1982), Frank Henenlotter
THE BEYOND (1981), Lucio Fulci
BLOOD FOR DRACULA (1974), Paul Morrissey
BUIO OMEGA (1979), Joe D'Amato
CANNIBAL HOLOCAUST (1980), Ruggero Deodato
COFFY (1973), Jack Hill
DAY OF THE DEAD (1985), George A. Romero
DEATH RACE 2000 (1975), Paul Bartel
DEEP THROAT (1972), Gerard Damiano
DELLAMORTE DELLAMORE (1994), Michele Soavi
THE DRILLER KILLER (1979), Abel Ferrara
FASTER, PUSSYCAT! KILL! KILL! (1965), Russ Meyer
FIVE FINGERS OF DEATH (1972), Chang-hwa Jeong
FOI DEUS QUEM MANDOU (1976), Larry Cohen
ILSA, SHE WOLF OF THE SS (1975), Don Edmonds
INGLORIOUS BASTARDS (1978), Enzo G. Castellari
I SPIT ON YOUR GRAVE (1978), Meir Zarchi
LADY SNOWBLOOD (1973), Toshiya Fujita
PROFONDO ROSSO (1975), Dario Argento
QUADRILHA DE SÁDICOS (1977), Wes Craven
RABID DOGS (1974), Mario Bava
ROLLING THUNDER (1977), John Flynn
SHE KILLED IN ECSTASY (1971), Jess Franco
SUSPIRIA (1977), Dario Argento
SWEET SWEETBACK'S BAADASSSSS SONG (1971), Melvin Van Peebles
THE TEXAS CHAINSAW MASSACRE (1974), Tobe Hooper
THRILLER, A CRUEL PICTURE (1974), Bo Arne Vibenius
THE TOXIC AVENGER (1984), Lloyd Kaufman e Michael Herz
VANNISHING POINT (1971), Richard C. Sarafian
ZOMBIE 2 (1979), Lucio Fulci

PS: Foi bom fazer essa lista, pois acabei me lembrando do meu filme de vampiros favorito, já que rolou essa discussão nos comentários do post do dia 02 de fevereiro quando eu disse que achava que era o DRACULA do Coppola. Na verdade, é BLOOD FOR DRACULA, do Paul Morrissey. Onde eu estava com a cabeça? Isso é que dá ser um cinéfilo de meia tigela...


PS2: Eu sei, eu sei... tem um filme a mais na lista. Eu não consegui tirar nenhum desses aí pra ficar 30 certinho. Simples assim.

4.2.09

THE READER (2008), de Stephen Daldry

O Stephen Daldry numa hora dessas deve estar se achando o rei da cocada. Mas com todo esse hype que a Academia criou em cima dele, seria difícil pensar diferente. Três filmes no currículo, três indicações a melhor diretor e duas de melhor filme. O pior é que ele nem vale isso tudo. Ok, é um diretor razoável, tem sua personalidade, quem sou eu pra ficar falando alguma coisa?

E THE READER até que não é ruim. Tem um argumento interessante (que eu não quero contar), boas atuações – mas nada impressionante (a não ser a ousadia da Kate Winslet, toda murcha, aparecer nua em vários momentos) – uma ótima fotografia, trilha sonora, direção de arte e toda parte técnica funcionado legal. Daldry até que se dá bem com planos abertos, lúgubres e contemplativos, mas na direção de atores a coisa fica feia.

Nada que estrague muito a diversão do espectador menos exigente, mas vou tentar explicar o que me incomodou: acho que o problema está na encenação, no comportamento dos atores em cena (não quero dizer atuações ruins), como se os personagens não estivessem vivenciando os acontecimentos, mas sim atuando para uma câmera. Há uma certa falsidade na relação personagem x realidade virtual, por mais que os atores se esforcem. Diferente do teatro, por exemplo, onde a falsidade está enraizada no instantâneo contato com o público. O cinema não. A linguagem cinematográfica permite dar um tom realista que o teatro não pode.

Vamos encurtar a parada: THE READER é mais um desses filmes banais, um pouquinho acima da média, mas vai ter muita gente achando lindo, poético, rasgando elogios exacerbados. Num tô nem aí! Sou muito mais rever THE WRESTLER ou GRAN TORINO...

2.2.09

vampiros e elefantes...

Acabei não postando a segunda parte da filmografia do Fuller por "problemas técnicos", mas uma hora vai...

Fim de semana assisti A DANÇA DOS VAMPIROS (67), do Roman Polanski. Ainda preciso ver muita coisa dele das décadas de 60 e 70. Só assisti os mais famosos: REPULSA AO SEXO, O BEBÊ DE ROSEMARY, CHINATOWN, etc. Gostei bastante dessa comédia macabra de forte apelo visual (algo parecido com alguns Bavas coloridos da década de 60) onde temos um professor canhestro e seu ajudante medroso (o próprio Polanski) às voltas com uma família de vampiros na Transilvânia, repleto de gags que se baseiam nos clichês dos filmes de vampiros. Uma forma inteligente de homenagear o gênero... Ah, e ainda tem a Sharon Tate, estonteante e arrebatadora em todos os momentos que aparece no quadro.

Assisti também mais um filme do Clintão, tentando preencher as lacunas do diretor que ainda me restam. Mas faltam poucos agora. CORAÇÃO DE CAÇADOR (90) me pareceu um dos melhores filmes do diretor e é impossível não voltar ao velho tema da direção clássica que ele tanto prega, mas vou tentar... Eastwood está excelente no papel do diretor egocêntrico que fica obcecado por caçar um grande elefante nas savanas africanas deixando as filmagens de seu novo filme em segundo plano. A real é que essa história tem traços biográfico que pertencem ao diretor John Huston quando foi à África realizar UMA AVENTURA NA ÁFRICA, de 1951, um de seus filmes mais famosos. Belíssimos os planos finais do confronto do protagonista com o imenso elefante, o homem x natureza, a tragédia visceral... e a maneira de fechar o filme com a palavra “ação” é genial. Simples, sem excessos, consciente...