Com o lançamento do trailer número 2 de BULLET TO THE HEAD, novamente fiquei animado em ver e rever alguns filmes do mestre Walter Hill, fazendo aqui no blog uma ansiosa contagem regressiva para seu próximo trabalho, um dos acontecimentos cinematográficos mais aguardados do próximo ano. Especialmente depois das críticas que saíram após sua exibição no Festival de Roma. Ok, todos já perceberam que BULLET IN THE HEAD é o meu novo MERCENÁRIOS 2… vamos logo ao SOUTHERN COMFORT!
É sobre um grupo da Guarda Nacional americana que faz uns treinamentos de localização e navegação pelos pântanos da Louisiana, tentando encontrar um local específico, exercitando a utilização de mapas, etc. A maioria deles está levando o trabalho bem à sério, muito preocupados com as putas que vão comer quando terminar o exercício. Quero dizer, até mesmo as armas que levam em punho estão carregadas com festim. Em quem vão atirar? Estão em solo americano, não existe inimigo nesse treinamento…
Os problemas começam quando se dão conta de que estão completamente perdidos. Onde deveria haver tal objetivo, só tem água e mais água… Decidem então pegar “emprestado” algumas canoas que encontram num acampamento aparentemente abandonado à beira do rio, com alguns animais esfolados e tal. Mas deixam um bilhete pra quem quer que fosse. Depois de alguns minutos navegando o pelotão descobre que está sendo observado à distância por um grupo de cajuns*, possíveis donos das canoas. Eles gritam para que leiam o bilhete, mas os caipiras não se mexem. Um dos soldados então, decide ser o engraçadinho da turma e começa a atirar na direção dos sujeitos com uma metralhadora cheia de festim. Rá, muito engraçado mesmo.
* Os Cajuns são os decendentes dos Acadianos, expulsos do Canadá, que se instalaram na Louisiana. [/Wikipédia mode off]
Só que os cajuns respondem ao fogo, e a munição não é de festim, para azar dos pobres militares. A primeira bala já acerta a testa do lider do pelotão e, bom, vocês já podem começar a imaginar o que teremos aqui. Sim!!! Walter Hill é um dos canônes em orquestrar sequências de tiroteios, realizou algumas perseguições de carros mais impressionantes que eu já vi em THE DRIVER, é um dos grandes mestres do cinema de ação americano e… também é o diretor de um dos melhores filmes de caipiras psicopatas que existe!
Na época, era clara a intenção de Hill em fazer referência à guerra do Vietnam, mas não há outra maneira de ver SOUTHERN COMFORT atualmente sem pensar no Iraque e outros países do Oriente Médio. O filme mantém sua análise, só muda o local. Quero dizer, temos aqui um pelotão americano, alguns deles agindo como autênticos imbecis, numa região na qual não entende porcaria nenhuma de seus habitantes, sua cultura, não fala nem sua língua. Chega sem permissão, se achando os fodões, mas descobre rapidinho que a coisa não é bem assim. O adversário conhece o território, monta armadilhas, sabe onde se esconder e como monitorá-los…
É o simbolo perfeito para o fracasso inevitável nesse tipo de negócio que o governo americano insiste em fazer de vez em quando ao longo de sua história. E não importa se estão apenas “pegando emprestado uma canoa”. Contendo todo esse substrato, fica difícil não preferir SOUTHERN COMFORT em relação a outros filmes do género, como DELIVERANCE, por exemplo (apesar ser excelente também), que é mais aclamado. Mesmo tirando a análise política, sobra ainda um puta thriller de caçada humana (o final é um dos troços mais tensos que vi nos últimos anos!), o qual destaca-se desde o roteiro, escrito à seis mãos pelo próprio Walter Hill, Michael Kane e David Giler, a utilização dos cenários naturais dos pântanos da Louisiana, passando pela direção habitualmente magistral de Hill e, principalmente, o elenco com feras do calibre de Powers Boothe, Keith Carradine, Fred Ward, Peter Coyote, um Brion James assustador e vários outros.
Vi hoje. Muito bom! Walter Hill é realmente um mestre.
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