Em homenagem ao Ben Gazzara, que partiu dessa para “melhor” há alguns dias, resolvi escolher um título especial no qual os leitores mais assíduos do blog e fãs de filmes de ação iriam curtir à beça, porque ROAD HOUSE (vamos esquecer o título nacional) é um dos exemplares mais interessantes do “cinema de macho” americano dos anos 80. Mais cedo ou mais tarde eu teria que escrever algumas linhas sobre essa obra prima, mesmo que Gazzara, o vilão do filme, não tivesse falecido recentemente.
Dirigido pelo pouco conhecido Howdy Herrington, ROAD HOUSE é a sintese de todo um gênero em sua fase áurea, com cada elemento disposto de maneira bem definida. Em se tratando de cinema físico americano exacerbado dos anos 80, ROAD HOUSE possui méritos suficientes para se manter no mesmo nível de alguns exemplares sempre lembrados como paroxismos do gênero: DESEJO DE MATAR III, COMANDO PARA MATAR, INVASÃO USA, e alguns outros…
Mas para quem tem Charles Bronsom, Chuck Norris, Schwarzenegger, Stallone, fica obviamente mais fácil deixar a marca desejada. Essas figuras exalam truculência em qualquer produção que estivessem envolvidos naquela época. À princípio, para quem ainda não teve o prazer de ver ROAD HOUSE, aceitar Patrick Swayze como herói de ação é mais complicado. O cara era conhecido como o dançarino de DIRTY DANCING, depois ficou eternamente ligado ao fastasminha apaixonado de GHOST, e nunca lembrado como herói de ação.
Minha relação com ROAD HOUSE é estranha por causa disso. Assisti quando era pequeno, na TV, e depois de um tempo esqueci da sua existência. Quando me lembrei do filme, já na adolescência, tive preconceito porque não comprava a idéia de que Swayze realmente quebrava o pau em cima dos arruaceiros... Resumindo, acabei revendo CAÇADORES DE EMOÇÃO dezenas de vezes até me convencer a dar uma nova chance a ROAD HOUSE.
Isso só aconteceu de fato há pouco anos, mas fez um belo estrago na minha cabeça e de lá pra cá, devo ter revisto pelo menos umas cinco vezes. Só não consigo entender as razões do filme não me marcar na época que vi, como os filmes do Van Damme, Stallone e Seagal faziam… porque depois que se assiste a ROAD HOUSE você tem plena confiança de que Patrick Swayse é um durão de primeira linha, um autêntico herói de faroeste ou um samurai com um tremendo senso de justiça que nasceu na época errada, quando esse tipo de sujeito perdera seu espaço para uma sociedade submissa e passiva como a que temos hoje. Swayze vai ser sempre assimilado a Dalton, seu personagem aqui, o leão-de-chácara mais casca grossa da história do cinema!
Ok, era pra ser uma homenagem ao Gazzara, mas acalmem-se. O Swayze também morreu e eu não fiz uma homenagem dessa pra ele. Então, antes tarde do que nunca… e se existe um motivo para ROAD HOUSE ser extraordinário, é por causa de Swayze e a maneira como o roteiro, escrito por David Lee Henry, desenvolve seu personagem e sua visão de mundo. Um misto de John Wayne com Bruce Lee, o sujeito tem sua carga de mistérios que vai se revelando aos poucos. É educado, formado em filosofia, praticante de Tai Chi, destemido, valente e puta merda, sabe socar os adversários quando é preciso. Possui um lado casca grossa em contraste com outro lado sensível, o paradgma exato do badass perfeito.
O filme também dá boas dicas para quem quiser seguir a profissão de Leão-de-chácara. Basta observar os mínimos detalhes da “cartilha” que Dalton segue à risca tanto no cotidiano quanto na hora de executar o trabalho prático. Por exemplo, o que fazer com seu carro quando vários baderneiros foram jogados pra fora do bar aos socos e chutes por você e não lhe restam outra opção que não seja furar o pneu ou quebrar os vidros do seu veículo como vingança? Não se preocupem, pois o filme ensina como se precaver. Prestem bastante atenção também à cena na qual Dalton explica as regras de como agir quando o bar “pega fogo”… “Be nice”. E ande sempre com sua ficha médica na mochila. “Economiza tempo”, como diria Dalton.
E você já está pronto para seguir carreira.
Um elemento que nunca envelhece em filmes como este, são as adoráveis brigas de bar. Como isso é habitual na profissão do nosso herói, não poderia faltar algumas por aqui. Quem não gosta de uma confusão comendo solta, garrafas voando, mesas quebrando e vidros estilhaçando em um local como esse? Steven Seagal que o diga! A trama, para quem não conhece, é a seguinte: Dalton é um lendário segurança profissional de bares, casas de show, boates, etc, contratado para transformar o Double Deuce num lugar frequentável e de respeito. A situação no local é desprezível, toda noite se transforma num verdadeiro caos. Algumas atitudes do protagonista para botar tudo em ordem acabam batendo de frente com o chefão da cidade, Brad Wesley – Ben Gazzara. Da mesma maneira que uma típica premissa de western.
Durante o percurso, Dalton ainda tem tempo para o amor e se apaixona por uma médica, interpretada pela Kelly Lynch, por quem Wesley também sofre de amores. Isso me faz lembrar de mais um elemento essencial que torna ROAD HOUSE tão especial… temos um protagonista fodão, pancadaria à rodo e… ah, sim! Peitos! Apesar de magrela, Lynch faz o favor de ficar bem à vontade em frente às câmeras em uma cena, mas podemos contar com diversos peitos aleatórios que vão surgindo de vez em quando. Minha cena preferida: o strip-tease de Julie Michaels. Já que eu sou um cara legal, coloquei aí abaixo para vocês deslumbrarem a performance da garota.
Outro elemento básico para o sucesso de um bom filme truculento dos anos 80 são as frases de efeitos. E nota-se logo de cara que o departamento de diálogos não estava de brincadeira. Em uma cena, a médica questiona Dalton a razão dele não querer anestesia antes de lhe costurar um corte provocado por uma lâmina. “A dor não machuca”, ele responde. Caramba! É o tipo de frase que você pode carregar para sempre na sua vida, soltar no momento certo entre os amigos e estes vão pensar “putz, esse cara é cool”… ou vão apenas lembrar que você é um nerd que fica encaixando citações de filmes em situações forçadas.
O elenco de ROAD HOUSE também não é de se jogar fora. Além de Swayze, Lynch e Gazzara, temos Sam Elliott desempenhando um veterano leão-de-chácara, parceiro de Dalton de longa data, que chega em determinado momento para lhe dar uma ajuda. Elliott é desses atores subestimados cujo carisma faz com que toda a atenção seja voltada para ele, roubando cada minuto que aparece. O diretor aproveita muito dessa vantagem e o filme ganha uma força a mais com sua presença. Marshall R. Teague, muito antes de estrelar filmes do Isaac Florentine, faz o capanga de Wesley que também tem conhecimento de artes marciais, um páreo duro para Dalton. E Keith David faz uma ponta simpática.
Ben Gazzara já estava rodado, com 59 anos quando trabalhou em ROAD HOUSE. É óbvio que não teria a mínima chance num corpo a corpo com o jovem e atlético herói, mas idade não significa muito para quem tem os meios necessários para foder com a vida de quem quiser. Sua composição vilãnesca é brilhante, tem estilo e Gazzara parece se divertir bancando o bandido rico e excêntrico que desperta o temor dos pobres cidadãos.
É um personagem complexo, na verdade, e Gazzara consegue transmitir no olhar o prazer de ser mau sem apresentar motivos para ser. Na verdade, o sujeito vive numa bosta de cidadezinha que não tem porra nenhuma para fazer (a não ser ir ao Double Deuce), embora tenha tudo o que o dinheiro pode comprar, menos a doutora Kelly Lynch. É, acho que temos motivos suficientes para o cara ter tanta maldade no coração. A situação beira o surreal quando Wesley ordena que um de seus capangas entre com seu monster truck dentro da concessionária de automóveis porque o dono atrasou o pagamento das tarifas impostas pelo facínora.
E é curioso ver um grande ator do porte de Gazzara entrando na brincadeira das frases de efeitos. Na sequência final, por exemplo, quando Dalton se esconde na sala de “troféus de caça” dentro da mansão de Wesley, cheio de animais empalhados. Gazzarra adentra empunhando uma pistola e diz “I see you found my trophy room. The only thing missing is your ass.”!!!
E eu disse que o vilão não teria chance alguma na porrada com Dalton, mas isso não significa que ele não tenha ao menos tentado! Sim, Dalton dá uma coça em Wesley, assim como dá em um monte de gente. As sequências de luta são excelentes, muito convincentes, com a direção segura de Howdy. Swayze parece ter praticado bastante também, pois seus movimentos e golpes são fantásticos! Sam Elliot dá umas porradas, mas fica mais no gingado do boxe, enquanto Swayze e Teague demonstram muita habilidade na ação de suas performances. O confronto entre os dois é o ponto alto de ROAD HOUSE, até porque o diretor faz um belo trabalho de preparação. Cada encontro entre os personagens durante o filme é detalhado como uma operação cirúrgica, acentuando cada olhar e gesto. Quando chega a hora, o diretor não decepciona e entrega uma luta brutal, longa e com um desfecho graficamente violento.
Brincadeiras à parte, ROAD HOUSE teve uma continuação, lançada diretamente no mercado de vídeo, em 2006. ROAD HOUSE 2: LAST CALL. Eu não assisti ainda e, para ser sincero, não parece grandes coisas, apesar de ter uns coadjuvantes interessantes como Richard Norton, Jake Busey e Will Patton. E pelo que li no imdb, o protagonista é o filho de Dalton que se tornou policial e blá, blá, blá… Como eu me conheço, sei que sou masoquista, devo assistir a essa tralha qualquer hora dessas.
Mas o que eu queria mesmo é que o Swayze estivesse vivo para reprisar o papel de Dalton em uma nova "aventura"… Poderiam chamar o Darren Aronofsky para dirigir. Seria algo dramático como O LUTADOR, com o Mickey Rourke, misturado com o climão divertido de ROAD HOUSE original, com o velho Dalton precisando botar um bar infernal em ordem, ao mesmo tempo em que tem problemas de relacionamento com o filho e essas coisas clichês que a gente gosta…
Enfim, acho que era tudo que eu tinha para dizer sobre ROAD HOUSE. Deve ter sido o maior texto que já escrevi para o blog. Então, se alguém teve saco para ler até aqui, já me sinto recompensado. Vale a pena descascar, no bom sentido, um filmaço como este, especialmente para que curte filme de ação e pancadaria dos anos 80, apesar da estranheza inicial de ter Patrick Swayze como herói de ação. Mas faço um alerta para quem não assistiu e ainda está com o pé atrás: o filme é obrigatório e o sujeito arrebenta. Podem confiar!
Patrick fez aquele seriado bacana como anti-herói em The Beast...se vc não viu...corra que vale a pena.
ResponderExcluirMeu amigo, que filmão! Quem gosta de um bom filme de ação, recomendo demais. E como você disse, o Sam Elliott sempre roubando a cena, fazendo um guru do personagem do Patrick. Nota 10!
ResponderExcluirNunca imaginei que um dia leria um texto desse tamanho sobre o Road House. E isso não é uma critica, é um elogio. Ficou ótimo! Tambem gosto muito desse filme! E assim como vc, na primeira vez que vi não me marcou. Só quando revi, depois de adulto, é que soube reconhecer as diversas qualidades do filme.
ResponderExcluirRafael, ainda não vi, mas vou conferir em breve.
ResponderExcluirHenrique, valeu pelo comentário! Vejo que realmente leu tudo! Hahaha!
Herax, valeu! Também não esperava que fosse sair um texto desse tamanho... :D
Road House é o filme que dá pra ver tanto com seus amigos quanto com sua namorada. É sério!
ResponderExcluirSim, é verdade! Umas dessas revisões eu fiz com a minha namorada e ela adorou o filme!
ResponderExcluirDesde que comentei, eu não consigo parar de pensar no filme. E uso Leão-de-chacara para elogiar tudo agora haha. Bom, vou ver outra vez.
ResponderExcluirPorra, filmes como esse e Caçadores de Emoção já são clássicos! Sem falar de Outsiders e Red Dawn!
ResponderExcluirE acho q tenho tara por magrelas, pois acho a Lynch uma delícia! Bem, minha musa mor é a Audrey Hepburn né, então...
ResponderExcluiresse filme é clássico, lembro de ter ele gravado em um VHS em casa, acho que assisti umas dez vezes quando era criança. Um outro filme, que eu acho muito legal com o Patrick Swayze dando porrada é Crepúsculo de Aço.
ResponderExcluirExcelente o texto! É o meu filme preferido do Swayze, e um dos meus preferidos (ponto).
ResponderExcluirDe fato, acho que a única coisa que faltou mencionar foi a maneiríssima participação do Jeff Healey, espetacular guitarrista cego que, infelizmente, também morreu recentemente (2008).
Meu preferido de Swayze, junto com Crepúsculo de Aço. A frase, " a dor não machuca ", carrego ela comigo, desde a adolescência, mas não me lembrava, q era justamente deste filme. Muito bom!!!
ResponderExcluirMeu preferido, do Swayze, junto com Crepúsculo de Aço. Interessante, q carrego comigo, a frase " a dor não machuca", desde a adolescência, mas não me lembrava, de onde havia escutado. Muito bom!!!
ResponderExcluirPutz... Enquanto fazia um post sobre 'Paus-mandado' para o meu blog, estava eu pesquisando uma imagem sobre 'Leão-de-Chácara' no Google Images quando vi a figura de Patrick Swayze e achei estranho. Resolvi abir e ler a matéria. Li até o final e posso dizer que o texto e a resenha são tão bons que deu vontade de assistir a Road House na frente da minha imensa lista de filmes 'cult' que tenho! Parabéns e obrigado pelo post!
ResponderExcluiresqueceu de citar à Trilha sonora; a melhor em filmes de ação.
ResponderExcluiresse é um daqueles poucos filmes que valem sempre rever! mais do que recomendado...
ResponderExcluirRealmente faltou citar a trilha sonora, que tem (em sua maioria) a Jeff Healey band. Healey também participou do filme e também já faleceu.
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