O filme sueco DEIXA ELA ENTRAR foi um desses que conseguiu me pegar em cheio. Estraçalhou-me completamente. Se eu estivesse em uma sala de cinema (aqui em Vitória-ES o filme deve chegar lá no ano de 2015) teria que ser carregado pra casa ao sair da sessão. Reação semelhante em 2008 só com SANGUE NEGRO, ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ e ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO.
Acho que se engana quem pensa que o filme é essencialmente sobre vampiros e afins. É acima de tudo uma experiência humana com total respeito pela realidade, sobre com ser adolescente e descobrir o amor nessa fase da vida e que, por um acaso, temos uma vampira de 12 anos no meio da trama. O diretor Tomas Alfredson faz um magnífico confronto entre as coerências do mundo real com os elementos do fantástico, do horror. Tudo parece plausível nesse universo irreal. A câmera sempre distante, serena, apenas enquadrando, compondo, trabalhando o foque e o desfoque, reflexos, sem muitos cortes nem os artifícios que parecem fazer parte da cartilha americana de “como criar ‘suspense’ em filmes de terror”.
Como disse, não considero um filme de vampiro, mas não deixa de ser um filme de terror. Ser adolescente é um terror. Pelo menos pra mim foi. E pode até parecer meio besta dizer isso, mas me identifiquei bastante com o Oskar, o garoto solitário, alvo de implicância dos colegas encrenqueiros que o filme busca transmitir com tanta sinceridade. E o final... que final! Acho que foi ele quem deu o tiro de misericórdia e me arrebentou depois de todo vislumbre anterior. Penso até que seria desnecessário a cena do trem que fecha o filme. Por mim poderia acabar ali mesmo naquele plano aberto da piscina mostrando o horror!
2008 foi um ano bom para o cinema de terror. Depois de DIÁRIO DOS MORTOS, THE MIST, [REC] e até o retorno de Zé do Caixão com ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO, uma obra extraordinária como DEIXA ELA ENTRAR também ajuda a reascender as esperanças para o cinema de gênero. Pena que são tão poucos com essas qualidades...