28.9.10

GARRAS DE ÁGUIA (Talons of Eagle, 1992), de Michael Kennedy


Há poucas semanas o Osvaldo Neto deu uma dica preciosa de um site que está queimando o estoque e alguns DVDs originais estão na bagatela de 1,50 cada. Claro que eu não perdi a oportunidade e comprei algumas pepitas a esse precinho, entre eles este “clássico” da golden age dos filmes B americanos de artes marciais que marcaram o final dos 80 e início dos anos 90. GARRAS DE ÁGUIA traz Billy Blanks como um dedicado policial novaiorquino, obviamente especialista em artes marciais, que aceita a perigosa missão de ir a Toronto, no Canadá, juntar forças com um detetive local, ninguém menos que Jalal Merhi, e se infiltrar na organização criminosa por trás do tráfico de entorpecentes, comandada por Mr. Li, vivido por James Hong.



Os dois heróis precisam de alguma forma impressionar Mr. Li, que curiosamente financia um torneio de luta clandestina dentro de um armazém abandonado. Mas não fiquem pensando que vai ser moleza. Antes de entrar no torneio, os protagonistas passam por semanas de treinamento de kung fu com o mestre Pan, interpretado pelo próprio Qingfu Pan, que ensina aos dois o grande estilo das Garras de Águia! Por isso o título, sacaram? Então tá bom… Emulando ROCKY, temos várias sequências de treinamento que basicamente se resumem a vídeo clips, com uma música bacana e os dois sujeitos em diversas situações que fazem parte do ensinamento.


Bom, acaba que o torneio não dura nem 10 minutos e logo Blanks e Merhi já estão contratados para trabalhar no Cassino de Mr. Li, onde funciona também, vejam só que legal, um centro de treinamento de kung fu para bandidos! E como se isso não bastasse, o professor é o alemão Matthias Hues, que ensina seus alunos demonstrando toda sua delicadeza, com direito a chutes na cara e ossos quebrados! Hues “interpreta” o braço direito (e talvez algo mais) de Mr. Li, e desde o momento em que vemos o sujeito em cena, já começamos a imaginar uma luta final entre ele e o Sr. Blanks!
Já infiltrados, os heróis tomam conhecimento de que a garota de Mr. Li, Cassandra (Priscilla Barnes) é, na verdade, uma agente disfarçada também. Agora, só precisam arranjar as evidências de que o sujeito é, de fato, o rei do tráfico canadense para desmascará-lo. O problema é sair com vida do local, o que não vai ser fácil tendo o fortão Hues e um grupo de lutadores no encalço.



GARRAS DE ÁGUIA teve um lançamento discreto nos cinemas do Canadá, mas se deu bem mesmo no mercado de vídeo, assim como a grande maioria dos filmes do gênero. Nota-se que é um filme barato, mas tem um ritmo muito bom. Claro que você precisa ser apreciador deste tipo de tralha, pois para um fã do gênero, até nos momentos parados basta colocar Matthias Hues contracenando com James Hong para ficarmos entusiasmados.



Billy Blanks, por exemplo, é um canastrão de primeira linha, e por isso mesmo é muito divertido vê-lo tentando extrair de si alguma atuação. Já as cenas de lutas são bem legais. Claro que não se deve comparar com as coreografias de um filme de Hong Kong, mas Blanks tem bons movimentos. Inclusive ele ficou famoso depois por ter criado o Tae Bo, um sistema de treinamento derivado de várias artes marciais e dança. O aguardado embate entre ele e Hues é histórico, uma obra prima da truculência no cinema!



E o diretor é um tal de Michael Kennedy, que não dirigiu muita coisa pra cinema, mas deixou algumas pérolas. Seu trabalho aqui até que não foi muito difícil, contanto que não dirigisse como um completo idiota, inventando modinha, bastava colocar uns brutamontes pra brigar em frente à câmera e tudo iria funcionar. E funcionou!
Enfim, queria fazer apenas um breve comentário e acabei me extendendo demais. Ainda nem ressaltei que este filme resultou num dos episódios mais engraçados daquele programa da MTV, Tela Class, na qual os caras do Hermes & Renato editavam e dublavam algumas bagaceiras e transformavam numa grande piada! A MTV já tinha morrido há tempos, mas esse programa era o único que prestava. GARRAS DE ÁGUIA se transformou no GARRAS DE BAITOLA, onde Billy Blanks se chamava Edson, “entende”?! Na trama, Edson era um homossexual que estava a procura de um parceiro. “Eu queria um homem pra eu”, diz na agência de relacionamentos. E Merhi surge como pretendente… é muito engraçado e pode ser visto no youtube.



GARRAS DE ÁGUIA também é hilário, só que involuntariamente. O filme tem falhas de continuidade gritantes, roteiro forçado, atuações medíocres, mas pra quem assim como eu acha que esses meros detalhes não estragam a diversão neste tipo de filme, é recomendadíssimo.

26.9.10

MACHETE (2010), de Robert Rodriguez & Ethan Maniquis

texto com spoilers, estão avisados!


MACHETE é um dos filmes mais aguardados por um bocado de gente em 2010, com Danny Trejo finalmente protagonizando o seu próprio veículo, com muita ação exagerada, violento pra burro, cabeças e membros rolando o tempo todo, peitinhos desfilando na tela, uma bela homenagem estética ao exploitation americano dos anos 70 e um elenco de arrebentar para competir com OS MERCENÁRIOS! Ou seja, com todos esses ingredientes só poderia sair um filmaço, certo? ERRADO!

Não que o filme seja ruim, mas fiquei um pouco desapontado. Juro pela mãe do guarda que realmente possui tudo aquilo que citei, mas infelizmente MACHETE ficou só no divertidinho e olhe lá. O filme tem um sério problema de ritmo e o terceiro ato, justamente o grande clímax, a batalha final, é de um desleixo tão absurdo que quase estragou o restante! Robert Rodriguez parece tão cuidadoso com o seu filme quanto seria se tivesse que acordar cedo todo sábado para levar a sogra ao shopping

Só para o caso de alguém ter vivido na idade da pedra até pouco tempo e não saber do que se trata, Machete é o personagem criado por Rodriguez, para o ator Danny Trejo, num dos trailers falsos do projeto GRIND HOUSE. Desde A BALADA DO PISTOLEIRO, Rodriguez e Trejo já pensavam em algo maior com o personagem mexicano, um assassino atirador de facas, chamado Navajas, que tentava perfurar a carcaça de Antonio Banderas, e que é praticamente um Machete, mas na versão malvada. Machete também não é nenhum amigo dos animais e da natureza (não que eu saiba), e a idéia era mesmo criar um herói politicamente incorreto que agredisse, torturasse ou matasse bandidos sem o mínimo de remorso. Graças a Deus, ele está do lado da lei.


No filme, Machete é um ex-policial casca grossa, sedento de vingança pelos responsáveis pela morte de sua família, o que inclui uma série de vilões que perderam uma ótima oportunidade de serem memoráveis, como Jeff Fahey, Don Johnson, Tom Savini, Robert De Niro e Steven Seagal!

Rodriguez conseguiu reunir um puta elenco pra desperdiçar alguns deles como se fossem papel de bala! Jeff Fahey e De Niro conseguem manter um pouco de dignidade com suas presenças, mas Don Johnson, que tem um ótimo personagem, é mal aproveitado e o destino final é simplesmente ridículo. O pior de todos é Tom Savini! O que esse cara foi fazer em MACHETE pra desaparecer daquele jeito?!?!

Precisamos de um parágrafo a parte para Steven Seagal. Vocês sabem que eu sou fã de carteirinha do homem. Até no seu período negro, gordo e acabado, eu estava lá para defendê-lo. Então imaginem minha ansiedade de vê-lo fazendo um papel de vilão num filme desse porte! Tá certo que ele aparece pouco, mas putz, preciso confessar que gostei muito. É uma das melhores coisas do filme… mas, como nem tudo são flores em MACHETE, a luta tão aguardada entre ele e Trejo (que esperava uma revanche desde MARCADO PARA MORTE) é frustrante de tão rápida! E cheia dos mesmos clichês irritantes que acabam com os filmes atualmente.


O lado feminino melhora um pouco com as beldades Jessica Alba, Michelle Rodriguez e Lindsey Lohan, esta última em dois momentos interessantes… sem roupa alguma e vestida de freira com uma metralhadora! Sim, MACHETE tem várias idéias divertidas como essa. Temos as duas enfermeiras sexys, o padre de Cheech Marin, algumas cenas de luta exageradas e cartunescas de trejo contra diversos meliantes, utilizando uma boa variação de objetos cortantes, etc. São muitos os momentos que pagam o ingresso, mas ao mesmo tempo surge uma coisa ou outra que enche profundamente o saco! Sangue digital em excesso, furos de roteiro, algumas escolhas do diretor que poderiam ser melhor resolvidas, tudo isso é tolerável até certo ponto em certos tipos de filmes. Mas o que me chateou mesmo foi o ato final, cujas cenas de ação fraquíssimas e efeitos especiais meia boca são piorados ainda mais com a negligência criativa de Rodriguez.

O único que realmente se sai bem nessa história toda é Danny Trejo. Há muito tempo os fãs de cinema de ação classe B aguardam por este momento no qual ele finalmente conquista o direito de estrelar um filme só seu. E aproveita muito bem a oportunidade criando um dos personagens mais badass dos últimos anos! Nunca que o Trejo conseguiria faturar tanta mulher num mesmo filme!!! Mas, por mais que MACHETE seja intencionalmente ridículo e que não deve ser levado a sério, o seu diretor resolveu estragar a festa por conta de desleixo. Em um filme B eu entenderia, mas aqui não… Diverte, mas tinha potencial pra ser bem mais do que isso.

Na dúvida, entre esses fakes exploitations da atualidade, fico com BLACK DYNAMITE!

24.9.10

CHARLIE VALENTINE (2009), de Jesse V. Johnson


Não sendo dirigido por um desses sujeitos sem personalidade que tem assolado o cinema hollywoodiano atual, fica difícil para um fã de bons elencos resistir a um filme de gangster como CHARLIE VALENTINE, que conta com Raymond J. Barry, James Russo, Tom Berenger, Steven Bauer, Keith David, Dominiquie Vandenberg, Vernon Wells, Jerry Trimble e até Matthias Hues!!! Ainda que alguns deles façam apenas aparições do tipo “entra mudo e sai calado”, um enquadramento contendo várias dessas velhas figuras da velha guarda do cinema de ação já vale o filme inteiro.

E para nossa sorte, o diretor não é um desses pau-mandados qualquer. Trata-se do talentoso Jesse V. Johnson, que é simplesmente o responsável pelo melhor filme de 2010 lançado diretamente no mercado de vídeo até o momento: THE BUTCHER, com Eric Roberts. Jesse vem desenvolvendo uma espécie rara de cinema dentro do cerco independente americano, buscando sempre um processo de imersão no submundo do crime, protagonizado por gangsters maduros de meia idade.


J. Barry é o personagem-título, um mafioso sessentão que se mete numa enrascada dos diabos com um chefão do crime local, vivido por um assustador James Russo, após tentar um último golpe. Com o fiasco, seguido de tragédia, Charlie V. foge da cidade e busca refúgio no último lugar que ainda lhe resta: na casa do seu filho que há muito tempo não o vê. É aí que Charlie toma consciência de quão insignificante sua vida tem sido e tenta se reencontrar nessa jornada moral representada pela reaproximação com o filho. CHARLIE VALENTINE é mais um drama cerebral e emotivo, com alguns tiroteios, do que um filme de ação físico de fato - algo um tanto diferente daquilo visto em THE BUTCHER.

Mas quando precisa ser brutal, o filme não poupa o espectador de uma boa dose de violência, sangue e rombos causado por balas em tiroteios muito bem filmados à moda antiga. O público jovem deverá estranhar o ritmo dessas sequências, montadas de maneira cadenciada, feias, sem grandes movimentações de câmera, do jeito que deve ser. Na verdade, acho que o público jovem, de um modo geral, deveria manter uma certa distância de CHARLIE VALENTINE. As cenas de ação acabam servindo de bônus. A narrativa é tão bacana de acompanhar que mesmo se os tiroteios fossem cortados, o filme ainda funcionaria.


O que realmente seria um problema em CHARLIE VALENTINE era se o conjunto de atuações dos principais atores do elenco não funcionasse. Mas não vem ao caso. Raymond J. Barry está em estado de graça e carrega o filme tranquilamente. Faz pose de velho sábio, mas sabemos que se trata de um badass de primeira linha. Michael Weatherly, que vive o seu filho, também tem um desempenho sólido, James Russo rouba todas as cenas nas quais aparece e Steven Bauer é outro destaque. O restante do elenco, já citado, vale pelas aparições, deixando o filme com um charme a mais.

CHARLIE VALENTINE não está isento de problemas, possui algumas soluções mal resolvidos em determinados pontos, claramente causados pela falta de verba da produção, mas cumpre muito bem a sua proposta de ser um B movie sério de gangster e um belo estudo de personagem. Lembra aqueles filmes menores, mas mais ousados e simpáticos, feito nos anos 40 e 50, com o dinheiro que sobrava das produções classe A. Tomara que tenha lançamento por aqui.

18.9.10

O ASSASSINO DE SHANTUNG (The Boxer from Shantung, 1972), de Chang Cheh

Comprei bastante DVD’s visitando as lojas e sebos no centro de São Paulo nesta última viagem. Estava na companhia do Takeo, que ficava fazendo suas recomendações. Acabei tendo que comprar uma bolsa só pra carregar pra casa a quantidade de DVD’s que adquiri. Então já sabem, tenho muitas pérolas pra ver e comentar aqui no blog (falo como se antes eu não tivesse... Esse vício de acumular filmes me consome)!
Hoje conferi O ASSASSINO DE SHANTUNG, um dos maiores clássicos da Shaw Brothers, dirigido pelo genial Chang Cheh, e que o Herax já havia me recomendado há mais de um ano. É, demorei muito pra assistir, mas até que valeu a pena esperar para ter o DVD nacional em mãos, lançado pela China Vídeo. É simplesmente um puta filmaço!



Tendo em mente que se trata de uma espécie de SCARFACE das artes marciais, dá pra ter uma noção do que o enredo tem para oferecer. A trama aborda a típica história do sujeito do interior que vai à cidade grande em busca de uma vida melhor, acaba se envolvendo com o submundo da máfia e etc, e se torna um chefão do crime organizado. Mas como se trata de um filme de luta da Shaw Bros., temos aqui um jovem lutador de kung fu, Ma Yongzhen (Chen Kuan-tai), que vai a Xangai tentar a sorte. Envolve-se com as gangues locais e como é lutador extremamente habilidoso, forte pra burro, Ma constrói sua ascensão à base da porrada, até chegar ao topo!



O filme até ensaia algum discurso social sobre o tema, mas o que sobra mesmo são os momentos de pancadaria. As lutas não possuem o alto nível de coreografia como em futuras produções e Chen Kuan-tai não é exatamente um Bruce Lee, mas até que são muito boas, principalmente porque Chang Cheh tem muita noção do que precisa para criar cenas de impacto visual, seja na forma como a câmera se movimenta no acompanhamento dos personagens, ou no apelativo uso da violência e tinta vermelha como sangue. Ter Lau Kar Leung como responsável pela coreografia também deve ter ajudado bastante! A sequência final é de uma brutalidade impressionante! Cheh é um mestre em criar finais violentíssimos e este aqui é um de seus mais sangrentos!





Ainda sobre esse desfecho, achei muito semelhante alguns detalhes entre os finais de O ASSASSINO DE SHANTUNG e a versão dos anos 80 de SCARFACE, dirigido por Brian De Palma. Vou soltar alguns SPOILERS, estejam avisados. Nos dois filmes os personagens continuam pelejando mesmo feridos. Ma com uma machadinha enfiada na barriga continua lutando contra vários oponentes e Al Pacino sendo alvejado por todos os lados permanece de pé atirando. Os dois também são pegos por trás, de surpresa, e ambos caem de uma certa altura sem vida. Será que estou divagando ou não passa de coincidência? Não tenho a informação de que De Palma tenha assistido a este aqui para se inspirar...
Independente de ter inspirado ou não o diretor americano, O ASSASSINO DE SHANTUNG é, com toda certeza, uma obra de grande influencia para o cinema de artes marciais dos anos 70! Recomendo fortemente essa belezinha com o padrão Chang Cheh de qualidade!

17.9.10

LE CHOIX DES ARMES (1981), de Alain Corneau



Outro dia morreu também Alain Corneau e os fãs do cinema policial francês ficaram mais tristes. Não estou ainda nessa categoria. Quem me conhece sabe que eu sou fanático por filme policial, mas assisti a poucos exemplares do chamado cinema “polar” pra me considerar um fã, sou no máximo um admirador do gênero, mas um dia eu chego lá. Vi LES CHOIX DES ARMES em homenagem a Corneau, pra ver o que acontecia, e descobri um mestre, autêntico herdeiro de Jean Pierre Melville! Isso fica evidente logo nas primeiras imagens, quando o filme estabelece um ritmo cadenciado, com longos planos e ação anti-climática, e no decorrer da narrativa preocupa-se em expor o lado sentimental de personagens que compõem o submundo do crime francês.

A trama gira em torno de Mickey (Gerard Depardieu), que foge da prisão deixando um rastro de corpos e começa a importunar a vida de Noel (Yves Montand), um ex-gangster que agora vive tranquilamente em sua fazenda, cuidando de suas éguas, inclusive Nicole (Catherine Deneuve), sua esposa. Além disso, temos a incapacitada polícia no desenrolar das investigações para colocar o fugitivo de volta atrás das grades.

Gerard Depardieu está deliciosamente insano e inconsequente. É um sujeito que perdeu completamente seu lugar na sociedade e tudo que resta de seus atos é a mais pura violência. Mesmo a tentativa de aproximação da filha pequena resulta em um inconveniente sequestro, embora seja um dos momentos mais tocantes do filme, na cena da praia. Quem leva a pior é o personagem de Yves Montand - também em uma atuação brilhante com uma cara gelada, um Buster Keaton trágico sem o cômico - que precisa descer ao mundo do crime novamente para resolver a sua situação com Mickey. Deneuve está linda como sempre…

Corneau faz cinema de qualidade com uma direção seca que trabalha somente o essencial de planos, cortes e movimentos de câmera sutis, sem nenhuma firula, do jeito que tem de ser. Tem sequências ótimas como a fuga do início e uma perseguição de carro no meio do filme, toda coreografada e muito bem arquitetada. Até os acordes da trilha sonora são bem simples e entram apenas nos momentos inusitados. A fotografia acinzentada serve perfeitamente à atmosfera, que tem aquele climão de cinema noir… Grande filme! Diria até que obrigatório para quem deseja conhecer o cinema policial feito na França.

Alain Corneau

R.I.P
1943 - 2010

16.9.10

IMAGENS INUSITADAS

Como prometido, aí estão as fotos tiradas com o mestre do horror nacional, José Mojica Marins, na minha passagem por São Paulo durante o Cinefantasy.






14.9.10

PORTO DOS MORTOS (2010), de Davi de Oliveira Pinheiro


Não queria ser o do contra, maaaas... fui dos poucos que não achou PORTOS DOS MORTOS ruim. Isso não quer dizer que seja uma coisa maravilhosa também, ou que eu vá agora fazer um discurso de defesa. O filme tem suas falhas, só que não estragaram a minha sessão. O argumento de que a expectativa era a de um filme de zumbis ao estilo Romero ou que o título engana pode até ser considerada, principalmente quando se trata de um filme muito aguardado como um zombie movie e que demorou dois anos para chegar ao público. No entanto, prefiro julgar a obra pelo que é, e não pela expectativa que foi criada. E a verdade é que PORTO DOS MORTOS tem uma visão muito pessoal do diretor e não dá lugar ao apelo popular para agradar as multidões. Não é um filme para se divertir, mas para sentir e refletir, mesmo que não funcione bem desta maneira em todos os momentos. A trama gira em torno de um policial vingativo que percorre as estradas de um universo pós apocalíptico em seu maverick preto e turbinado (deve ter sobrado gasolina pra cacete nesse fim de mundo) buscando um serial killer dos infernos. Mas o filme acaba se arriscando muito ao trabalhar no limite da poesia anti-climática sem nunca atingir de fato um resultado comercial exploitation. É um western pós apocalíptico sem ação, um zombie movie sem zumbis, um road movie que não chega a lugar algum… por isso a frustração do pessoal que acompanhou essa primeira sessão foi quase unânime.


Mas aí também vai do gosto de cada um e acho que o filme vai encontrar o seu público, por menor que seja. PORTO DOS MORTOS é um raríssimo convite à contemplação dentro do gênero fantástico feito no Brasil. É preciso ter isso em mente para, quem sabe, apreciá-lo, ainda que tanta poesia torne o filme chato em determinados pontos. Mas longe de ser ruim. O filme cumpre o seu papel de absorver o olhar do espectador com belas imagens e alguns momentos bem interessantes. Só acho que faltou mesmo ter chutado o balde e mandado um banho de sangue daqueles! Apesar da pretensão fora do comum, estamos diante do longa de estréia de um sujeito que viu muitos filmes e resolveu bancar do próprio bolso o seu exemplar de gênero e brincar com suas influências, por mais hermético e pessoal que tenha sido o produto final. Não quero dizer que isso seja desculpa para gostar do filme, nem que tenha influenciado minha modesta aprovação. Apenas curti esta experimentação maluca que o Davi fez… e só.

Sobre a minha passagem por São Paulo, foi uma tremenda satisfação rever alguns amigos como o Leopoldo, Edu, Vivi, Marcelo Carrard, Joel Caetano, Rubens Mello, Fritz Martiliano, também conhecer pessoalmente alguns amigos ilustres que eu ainda não havia encontrado, como o Leandro Caraça, Takeo, Felipe Guerra, o próprio Davi Pinheiro e, por fim, conhecer algumas pessoas que nunca tive contato, como o Isidoro Guggiana, Kapel Furman, Marcelo Milici e o mestre JOSÉ MOJICA MARINS, com quem tive o prazer de sentar à mesa para jantar e bater um papo. Eu e o Leopoldo tiramos mais uma vez a nossa tradicional foto com uma personalidade, como fizemos com o Marc Price, diretor do COLIN, no ano passado, mas dessa vez com o Zé do Caixão. Assim que me mandarem o retrato, eu posto para fazer inveja a vocês!!!!

7.9.10

DEMENTIA 13 no feriadão: MISTURA DE GÊNEROS


JONES, O FAIXA PRETA (Black Belt Jones, 1974): Jim Kelly é o cara! No clássico OPERAÇÃO DRAGÃO, estrelado por Bruce Lee, era apenas um rosto desconhecido que conquistou a atenção do público com carisma, ótimos movimentos em cenas de lutas e um black power super cool. O diretor Robert Clouse percebeu algo no rapaz e em JONES, O FAIXA PRETA, seu trabalho seguinte, o escalou como protagonista, expandindo ainda mais o potencial do ator, que se tornou um ícone da blaxploitation!

A trama é fraca, mas é lógico que isso não conta. O que vale é a quantidade de cenas em que Jones arrebenta a fuça de vários bandidos - bem ao estilo Bruce Lee, com direito a gritinhos - e os pequenos detalhes e personagens que tornam o filme ainda mais imperdível. Vale lembrar que o diretor possui experiência com filmes de artes marciais, então os fãs não tem do que reclamar. Já nos créditos iniciais somos brindados com uma pequena obra prima dos filmes B: Jones lutando contra vários meliantes enquanto as imagens congelam para o texto dos créditos surgirem na tela. A cena onde Gloria Hendry desabotoa a saia de forma sexy para logo depois botar vários marmanjos a nocaute também é um achado. E no final temos ainda a clássica luta no sabão!

Hoje, a figura de Jim Kelly é kirtsh e vista de maneira gozada. Mas uma olhada em JONES, O FAIXA PRETA percebe-se um bom filme, híbrido de blaxploitation e artes marciais, com alguns momentos impagáveis e uma trilha sonora bacana que ajuda na climatização do estilo. Não chega ao nível de um SHAFT, SWEETBACK, COFFY, mas é diversão certeira para o público iniciado nos gêneros marginais dos anos 70.


CORRIDA COM O DIABO (Race With The Devil, 1974): É outro filmaço que faz uma deliciosa bagunça de gêneros. Mas o enredo é bem simples, sobre dois casais que partem juntos num grande trailer para suas merecidas férias. Certa noite, eles testemunham um ritual satânico com sacrifício humano. Após serem descobertos, passam o filme inteiro pelas estradas tentando sobreviver aos ataques dos insanos integrantes do grupo, bem como a paranóia que toma conta de suas mentes.

Embora seja um autêntico B movie, CORRIDA COM O DIABO se beneficia muito por ter dois dos mais representativos atores daquela geração, Warren Oates e Peter Fonda, em excelentes atuações.
Essa mistura de horror com ação era para ser dirigida por Lee Frost, especialista em filmes baratos daquele período, mas acabou substituído por Jack Starret, outra figura que contribuiu bastante com o cinema de baixo orçamento. Frost chegou a receber crédito como roteirista, ao lado de Wes Bishop, mas todas as cenas que rodou foram refilmadas por Starret.

As seqüências de ação, com os carros trombando em alta velocidade são perfeitas e lembram muito o que George Miller faria no seu maravilhoso MAD MAX II, seis anos depois. Não ficaria surpreso se houvesse algum tipo de influência deste aqui sobre a obra do australiano. Mas a atenção do espectador também é voltada completamente aos momentos macabros da narrativa, como a cena do ritual, cujos figurantes eram compostos por membros reais de seitas, conforme afirma o diretor. Se é verdade, eu não sei, só garanto que o filme é uma experiência angustiante e muito divertida. Recomendo!

6.9.10

O HOMEM QUE BURLOU A MÁFIA (Charley Varrick, 1973), de Don Siegel

Aproveitei esses dias de folga para conferir algumas coisas interessantes. E a primeira a ser riscada da lista é essa maravilha do Don Siegel, diretor que eu só não virei fã até agora porque ainda não me comprometi com seu cinema de maneira correta. Só vi o básico: DIRTY HARRY (71), VAMPIROS DE ALMA (56), THE KILLERS (64, sensacional), FUGA DE ALCATRAZ (79)... o suficiente pra saber que preciso mesmo dar mais atenção para o sujeito, especialmente depois de CHALEY VARRICK, um filmaço, típico thriller policial setentista, com excelentes atuações e uma direção cuja única pretensão é ser o mais simples possível. E quando se trata de um mestre deste calibre, o “simples” me deixou babando do início ao fim.
A cena inicial do assalto ao banco e que culmina na fuga de carro é uma puta aula de cinema. É a única sequência de ação movimentada do filme, que é todo estruturado num ritmo calmo, explorando ao máximo o desenrolar da trama, aprofundando nos personagens, etc. O roteiro sem firulas, repleto de situações e diálogos memoráveis (uma das inspirações de Tarantino em PULP FICTION), é inteligente e Siegel o conduz com objetividade e maestria, confiando na perspicácia do público, algo raro no cinema americano atual.
O elenco de tirar o chapéu é encabeçado por Walter Matthau, interpretando o personagem do título original, um ex-piloto acrobático que vira assaltante de banco. Na trama, um roubo comum num pequeno banco do interior, acaba em tragédia quando descobre-se que a grana roubada - uma quantia extremamente maior do que o esperado - pertencia à máfia e o local servia como lavagem de dinheiro. No resto do elenco, quem se destaca é Joe Don Baker, impecável no papel de um frio assassino profissional encarregado pelo crime organizado de descobrir os responsáveis pelo furto, e também Andrew Robinson na pele do afoito e inexperiente comparsa de Varrick.