30.10.09
PARANORMAL ACTIVITY (2007), de Oren Peli
Ontem assisti, de luzes acesas, a este terror que vem levantando as sobrancelhas do público americano. O filme é de 2007, mas só agora teve seu lançamento comercial. Tá certo que eu sou um bunda mole medroso em se tratando de alguns temas, principalmente o de PARANORMAL ACTIVITY que mexe com espíritos malignos e demonismo, coisas que eu realmente acredito. A narrativa é mais uma vez mostrada através uma câmera caseira, no estilo REC e ClOVERFIELD, linguagem que já está enchendo a paciência, mas ao final eu não consegui imaginar o mesmo resultado filmado de outra maneira. De modo convencional poderia até ser melhor, ou pior, mas não seria a mesma coisa. A trama é sobre um casal que compra uma câmera para tentar registrar os acontecimentos estranhos que vêm ocorrendo durante a noite. O homem, totalmente cético, trata o assunto de maneira lúdica, já a moça tenta levar a situação, mas sofre bastante com isso, e a cada noite a coisa vai piorando. Começam com ruídos, portas se mexendo, até chegar num ponto que só vendo com os próprios olhos pra sentir o arrepio. Como ensaio narrativo o filme é fraco, os atores não são muito convincentes e a encenação soa meio fake, em compensação, como exercício de horror, funciona muito bem, as seqüências noturnas são muito realistas e quase me fizeram afrouxar o intestino... De uma forma geral é um filme mediano, mas é uma experiência de medo como poucas vezes já tive.
29.10.09
TORSO (I Corpi Presentano Tracce di Violenza Carnale, 1973), de Sergio Martino
TORSO é sem dúvida uma das experiências mais bacanas com o gênero giallo que eu já tive! A trama é bem simples e com certeza você já deve ter visto um milhão de filme com a mesma premissa, mas e daí? É a filosofia da forma superando o conteúdo o que nós temos aqui! A primeira metade da estória se passa dentro de um campus universitário, onde se inicia uma série de misteriosos assassinatos envolvendo mulheres em "situções picantes", se é que me entendem. Depois, o grupo de belas protagonistas - quatro jovens amigas - vai passar o fim de semana num casarão isolado em uma pequena vila no interior da Itália e, obviamente, o perigoso assassino com suas luvas pretas vai marcar presença para fazer a festa dos fãs do gênero. Martino filma muitíssimo bem, ainda não havia atingido ao máximo seu estilo sofisticado presente em filmes posteriores, mas realiza tudo de uma maneira pura, grosseira, genial, e não poupa o público de assassinatos violentos regados com bastante groselha! Aproveita também as beldades e, com exceção de Suzy Kendall, todas as outras atrizes estão bem à vontade em frente às câmeras, o que ajuda em muito o tom erótico pelo qual o filme é conhecido. No elenco ainda temos o astro do cinema popular italiano, Luc Merenda. O clímax ao final é um dos grandes momentos da carreira de Martino, o suspense é calmamente trabalhando, acumulando tensão, preparando o espectador para as surpresas (que neste período ainda surpreendia o público, diferente de hoje...). Só vendo com os próprios olhos para acreditar no que esse cara é capaz! Se Sergio Martino realizou algum filme melhor que TORSO, ainda preciso descobrir.
OBS: e que título genial o filme recebeu na Itália, não é mesmo?
OBS: e que título genial o filme recebeu na Itália, não é mesmo?
28.10.09
TOP 10 - anos 50
Desta vez eu que me atrasei em relação aos meu colegas Vlademir e Daniel, que postaram suas listas primeiro... Mas está aí os meus 10 preferidos da década de 50, um filme para cada diretor e em ordem de preferência.
1. NO SILÊNCIO DA NOITE (In a Lonely Place, 1950), de Nicholas Ray
2. CAPACETE DE AÇO (Steel Helmet, 1951), de Sam Fuller
3. A MARCA DA MALDADE (Touch of Evil, 1958), de Orson Welles
4. ONDE COMEÇA O INFERNO (Rio Bravo, 1959), de Howard Hawks
5. JANELA INDISCRETA (Rear Window, 1954), de Alfred Hitchcock
6. RASTROS DE ÓDIO (The Searchers, 1956), de John Ford
7. CREPÚSCULO DOS DEUSES (Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder
8. GLÓRIA FEITA DE SANGUE (Paths of Glory, 1957), de Stanley Kubrick
9. VAMPIROS DE ALMAS (lnvasion of The Body Snatchers, 1956), de Don Siegel
10. BALDE DE SANGUE (A Bucket of Blood, 1959), de Roger Corman
27.10.09
TALES OF AN ANCIENT EMPIRE - Clip 3
Como podem ver, eu praticamente me tornei um representante do Albert Pyun no Brasil, hehehe! E este aqui é o terceiro trecho que ele me mandou de TALES OF AN ANCIENT EMPIRE. Segundo ele, é um teste pra saber se a cena está muito escura ou se está legal...
Em breve vou postar comentários sobre alguns filmes antigos dele que eu tenho aqui para ver. Aguardem cambada!
Em breve vou postar comentários sobre alguns filmes antigos dele que eu tenho aqui para ver. Aguardem cambada!
26.10.09
GROTESQUE (Gurotesuku, Japão, 2009), de Kôji Shiraishi
Pelo título já dá pra ter uma noção das intenções deste filme que o Takeo indicou, a de testar até onde o estômago do espectador aguenta! Seguindo essa filosofia ao extremo, somos apresentados a um fiapo de estória sobre um casal, que acabou de realizar o primeiro encontro, seqüestrado e torturado brutalmente para satisfazer os prazeres de um sujeito completamente louco, mas aparentemente comum, tranquilo, que poderia ser confundido com um vizinho seu.
O problema de GROTESQUE é que como narrativa ele é muito frágil ao ponto de incomodar àqueles que precisam de uma estória que, no mínimo, desperte um certo interesse ou que crie uma identificação com os personagens envolvidos para embarcar na trama. Aliás, trama é apenas um detalhe que o diretor/roteirista Kôji Shiraishi realmente não está preocupado. O negócio dele é sangue! Membros mutilados, atrocidades físicas e psicológicas, muito gore!
E é neste ponto onde o filme concentra suas forças. Pensem em um JOGOS MORTAIS versão hardcore, sem frescura. As seqüências de torturas são extremamente realistas e perturbadoras, juro que até pensei em desviar o olhar diversas vezes enquanto assistia a este show de horrores sanguinolento! O trio de atores cumpre muito bem o seu papel, principalmente Tsugumi Nagasawa, a única presença feminina em cena. Não é qualquer uma que tem coragem de fazer um filme desses, mas como Nagasawa é atriz pornô, aguenta rindo o que você não aguenta chorando, então não deve ter sido assim tão complicado.
Como obra cinematográfica, GROTESQUE não deve agradar muita gente, mas recomendo para os psicopatas de plantão que só querem ver carne despedaçando com muito realismo sem se importar com as justificativas. Eu fico num meio termo, não fede nem cheira...
TALES OF AN ANCIENT EMPIRE - clip 2
Mais um trechinho exclusivo de TALES OF AN ANCIENT EMPIRE, filme de aventura e fantasia dirigido pelo Albert Pyun.
Enjoy!
Enjoy!
25.10.09
UMA BALA PARA O GENERAL (El Chuncho, Quien Sabe?, 1966), de Damiano Damiani
Nada melhor que fechar o sabadão com um Spaghetti Western arrasador! Sabe aquele filme ou diretor que você sempre ouviu todos os amigos comentarem que é muito bom, que todas as resenhas que você lê sempre são positivas e percebe que está dando mole e ainda não viu uma das obras fundamentais de algum gênero que gosta? Pois então, é exatamente o meu caso com UMA BALA PARA O GENERAL, de Damiano Damiani. Não sei porque não havia assistido antes!
Trata-se de um exemplar do mesmo subgênero de VAMOS A MATAR COMPAÑEROS, que postei aqui no blog outro dia, o Zapata Western, filmes sobre revolução mexicana, etc. UMA BALA PARA O GENERAL transcorre justamente neste universo do México revolucionário e conta a estória de um jovem americano que se junta a um grupo de revolucionários, liderados por Chuncho, e ajuda na peleja contra as autoridades e no tráfico de armas entre os rebeldes. A princípio, o que o gringo parece almejar é dinheiro, mas a ambiguidade de seu olhar e da forma de agir conota objetivos obscuros, que ficam claros apenas ao final.
Os personagens principais são perfeitamente construídos, assim como um bom SW tem de ser pra deixar sua marca! E o elenco também auxilia muito nesse sentido. Gian Maria Volonté cai perfeitamente na pele de Chuncho, o líder da nobre causa mexicana e de uma sinceridade impressionante. O gringo, que é chamado de Niño, é vivido por Lou Castel, um sujeito frio, capitalista e certamente “não gosta da fruta”. Por último, um personagem que merecia mais presença em cena, mas no pouco que aparece Klaus Kinski registra seu momento com maestria encarnando o meio irmão de Chuncho. É um fanático religioso que acha que está participando de uma missão religiosa ao invés da libertação de seu país.
Os personagens principais são perfeitamente construídos, assim como um bom SW tem de ser pra deixar sua marca! E o elenco também auxilia muito nesse sentido. Gian Maria Volonté cai perfeitamente na pele de Chuncho, o líder da nobre causa mexicana e de uma sinceridade impressionante. O gringo, que é chamado de Niño, é vivido por Lou Castel, um sujeito frio, capitalista e certamente “não gosta da fruta”. Por último, um personagem que merecia mais presença em cena, mas no pouco que aparece Klaus Kinski registra seu momento com maestria encarnando o meio irmão de Chuncho. É um fanático religioso que acha que está participando de uma missão religiosa ao invés da libertação de seu país.
Damiani conduz um filme bem movimentado, com bastante ação e muito tiroteio, mas o aspecto humano nunca é ignorado. Chuncho, apesar de ser considerado um bandoleiro pela polícia, age em prol de seu povo e mesmo quando esquece seus princípios e acaba movendo-se por dinheiro, consegue fazer a escolha certa ao final, jogando na cara do espectador o ponto de vista esquerdista de seus realizadores. UMA BALA PARA O GENERAL é daqueles filmes magnificamente bem filmados, com bela trilha de Morricone, lindamente fotografado, um dos melhores do gênero! Não perde o foco de seus elementos políticos nem deixa de ser um grande espetáculo.
Recomendo também o texto do amigo lusitano Pedro Pereira, do blog Por um Punhado de Euros.
Recomendo também o texto do amigo lusitano Pedro Pereira, do blog Por um Punhado de Euros.
23.10.09
SPL: SHA PO LANG (2005) & FLASH POINT (2007), de Wilson Yip
Ontem à noite acabei fazendo algo que nem eu mesmo estava esperando, principalmente pela falta de tempo que me assola nos últimos meses e não me permite o prazer de sentar ao sofá em plena quinta-feira para assistir a um mísero filme. Mas sobrou um tempo, comecei a ver FLASH POINT, filme policial de ação cuja porradaria come solta e que alguns amigos haviam dito que valia a pena uma conferida. Só que depois da sessão me deu uma vontade imensa de rever SPL: SHA PO LANG, do mesmo diretor, e aí pronto, quando percebi tinha feito uma dobradinha fantástica do Wilson Yip/Donnie Yen...
Donnie Yen é um ator muito carismático e nos dois filmes encarna personagens muito similares. Em FLASH POINT ele interpreta o típico policial casca-grossa que o companheiro Luiz Alexandre definiu muito bem como o “Dirty Harry chinês”. A trama é bem simples, objetiva e, a princípio, flerta um bocado com a trama de CONFLITOS INTERNOS e OS INFILTRADOS. Depois resolve se enveredar pelo clichê das testemunhas assassinadas para o chefão ser solto da prisão por falta de provas, mas tudo é muito bem conduzido pelo Wilson Yip, com bom ritmo e muitas doses de ação!
Donnie Yen é um ator muito carismático e nos dois filmes encarna personagens muito similares. Em FLASH POINT ele interpreta o típico policial casca-grossa que o companheiro Luiz Alexandre definiu muito bem como o “Dirty Harry chinês”. A trama é bem simples, objetiva e, a princípio, flerta um bocado com a trama de CONFLITOS INTERNOS e OS INFILTRADOS. Depois resolve se enveredar pelo clichê das testemunhas assassinadas para o chefão ser solto da prisão por falta de provas, mas tudo é muito bem conduzido pelo Wilson Yip, com bom ritmo e muitas doses de ação!
É exatamente esse ponto que mais salta aos olhos. A sequência final é eletrizante e o confronto entre Donnie Yen e Collin Chou é uma das cenas de lutas mais legais que eu vi nos últimos anos! Aliás, ambos os atores concordaram que as filmagens dessas sequências foram as mais difíceis que já realizaram em suas carreiras. E olha que o Yen tem muitos anos de estrada descendo o cacete em vagabundos nos filmes...
Já o SPL, como disse, eu já tinha visto na época em que ele surgiu por aqui (principalmente nos blogs, onde todos comentavam com a boca cheia que se tratava de um marco dos filmes de ação de Hong Kong). O fato é que o filme realmente é sensacional, tanto como cinema de ação quanto em conteúdo narrativo.
No elenco, além de Donnie Yen temos o ótimo Simon Yam, que inicialmente surge em cena como provável e único protagonista da trama, que na verdade gira em torno de seu conflito psicológico e físico com o bandidão interpretado por ninguém menos que o grande Sammo Hung, outro velho de guerra do cinema de artes marciais demonstrando que a idade não o impediu de realizar magníficos movimentos durante as lutas.
Já o SPL, como disse, eu já tinha visto na época em que ele surgiu por aqui (principalmente nos blogs, onde todos comentavam com a boca cheia que se tratava de um marco dos filmes de ação de Hong Kong). O fato é que o filme realmente é sensacional, tanto como cinema de ação quanto em conteúdo narrativo.
No elenco, além de Donnie Yen temos o ótimo Simon Yam, que inicialmente surge em cena como provável e único protagonista da trama, que na verdade gira em torno de seu conflito psicológico e físico com o bandidão interpretado por ninguém menos que o grande Sammo Hung, outro velho de guerra do cinema de artes marciais demonstrando que a idade não o impediu de realizar magníficos movimentos durante as lutas.
São vários os detalhes que tornam, na minha opinião, SPL superior a FLASH POINT. A questão do paternalismo realmente não vejo necessidade de haver, mas não chega a incomodar. Um desses detalhes que eu acho interessante é o tom de tragédia que se apresenta como mais um elemento dramático ao filme, principalmente na conclusão calamitosa, que pega o espectador de surpresa. Isso sem falar no confronto perto do desfecho entre Sammo Hung e Yen, que se na física dos movimentos perde para a luta do final de FLASH POINT, acaba tendo muito mais representatividade para os fãs do gênero ao assistir a estes dois monstros em atividade.
22.10.09
18.10.09
LISA AND THE DEVIL (Lisa e il diavolo, 1974), de Mario Bava
LISA AND THE DEVIL é uma entre tantas obras primas de um dos meus diretores favoritos. Mas antes de entrar nos detalhes do filme e descobrir porque este delirante trabalho de Mario Bava é tão bom, é interessante conhecer um pouco sobre as duas versões que rolam por aí.
Uma delas, o produtor Alfredo Leone, numa tentativa de picaretagem habitual desses italianos, tentou aproveitar o sucesso do recém lançado O EXORCISTA, de William Friedkin, e resolveu inserir por conta própria algumas cenas de um padre (interpretado por Robert Alda) realizando a tarefa de tirar o tinhoso do corpo de alguma personagem (não sei exatamente qual, porque eu não vi esta versão).
Parece que aproximadamente 15 minutos do original dirigido pelo Bava haviam sido cortados para as novas cenas se encaixarem. Acredito que essa profanação à obra do diretor de RABID DOGS não tenha resultado em algo melhor que a versão integralmente dirigida por ele, e é esta a versão vista por mim e que irei comentar adiante. Quem quiser se aventurar pela outra versão, recomendo dar uma conferida antes neste aqui...
O filme segue Lisa (Elke Sommers), uma turista em visita a uma antiga cidade européia, onde dá de cara com um afresco com a representação do coisa-ruim. Logo depois, vagando pelas ruelas da cidade, como se estivesse tendo uma atração sobrenatural, ela entra numa oficina de manequins, encontrando um estranho sujeito cujo rosto é idêntico ao do “cão” representado no afresco.
Uma delas, o produtor Alfredo Leone, numa tentativa de picaretagem habitual desses italianos, tentou aproveitar o sucesso do recém lançado O EXORCISTA, de William Friedkin, e resolveu inserir por conta própria algumas cenas de um padre (interpretado por Robert Alda) realizando a tarefa de tirar o tinhoso do corpo de alguma personagem (não sei exatamente qual, porque eu não vi esta versão).
Parece que aproximadamente 15 minutos do original dirigido pelo Bava haviam sido cortados para as novas cenas se encaixarem. Acredito que essa profanação à obra do diretor de RABID DOGS não tenha resultado em algo melhor que a versão integralmente dirigida por ele, e é esta a versão vista por mim e que irei comentar adiante. Quem quiser se aventurar pela outra versão, recomendo dar uma conferida antes neste aqui...
O filme segue Lisa (Elke Sommers), uma turista em visita a uma antiga cidade européia, onde dá de cara com um afresco com a representação do coisa-ruim. Logo depois, vagando pelas ruelas da cidade, como se estivesse tendo uma atração sobrenatural, ela entra numa oficina de manequins, encontrando um estranho sujeito cujo rosto é idêntico ao do “cão” representado no afresco.
A partir daí, a moça acaba se perdendo e a narrativa toma forma de sonho – no caso da protagonista, um tom de pesadelo! Depois de conseguir uma carona com um casal, vai parar numa mansão onde transcorre o restante da trama, que se resume numa somatória de temas do imaginário onírico de Mario Bava, como a morbidez e a necrofilia...
Somos melhor apresentados ao estranho personagem visto na oficina no início, o mordomo Leandro, interpretado pelo magnífico Telly Savalas, sempre chupando um pirulito e com uma estranha força em cena, não é a toa que no final alegórico, quando se descobre a verdadeira identidade do sujeito, não chega a ser uma grande surpresa.
Somos melhor apresentados ao estranho personagem visto na oficina no início, o mordomo Leandro, interpretado pelo magnífico Telly Savalas, sempre chupando um pirulito e com uma estranha força em cena, não é a toa que no final alegórico, quando se descobre a verdadeira identidade do sujeito, não chega a ser uma grande surpresa.
E que maravilha é Elke Sommers dando vida à sua personagem, tragando o espectador pra dentro de sua fantasia... além de estar muito bela. Os outros personagens são apenas bonecos que estão ali para baterem as botas, derramarem sangue e divertir o público.
A excelência de Bava na direção se faz presente em cada enquadramento, movimento de câmeras, e até nos zoons que acabou se tornando um bom artifício para o diretor nos anos 70, quando passou a trabalhar com orçamentos mais modestos em comparação aos seus trabalhos dos anos 60. Até existe uma diferença discreta na utilização das cores como elemento de horror. Se em seus filmes da década anterior Bava carregava na matiz de seus filmes dando o efeito alucinógeno desejado, na década de 70 as tonalidades permitiam um visual mais realista, sem deixar de ter um tratamento fotográfico de primeira!
Bava era um excelente fotógrafo, e ele mesmo iluminava seus próprios filmes, ou pelo menos tinha grande participação. Em LISA AND THE DEVIL, o diretor filmou alguns de seus melhores momentos da carreira, como o assassinato da Condessa cega, interpretada pela grande atriz italiana Alida Valli; quase todas as cenas de homicídios são de uma beleza poética e brutal impressionante! Percebe-se claramente de onde Dario Argento foi se inspirar antes de realizar SUSPÍRIA. Também o bizarro ménage à trois entre Lisa, seu “amante” e Elsa (um cadáver em avançado estado de decomposição)...
Bava era um excelente fotógrafo, e ele mesmo iluminava seus próprios filmes, ou pelo menos tinha grande participação. Em LISA AND THE DEVIL, o diretor filmou alguns de seus melhores momentos da carreira, como o assassinato da Condessa cega, interpretada pela grande atriz italiana Alida Valli; quase todas as cenas de homicídios são de uma beleza poética e brutal impressionante! Percebe-se claramente de onde Dario Argento foi se inspirar antes de realizar SUSPÍRIA. Também o bizarro ménage à trois entre Lisa, seu “amante” e Elsa (um cadáver em avançado estado de decomposição)...
São tantos outros detalhes que fazem de LISA AND THE DEVIL um verdadeiro clássico do horror italiano, que prefiro parar por aqui para não estragar eventuais surpresas. Acho um filme essencial para os admiradores de Mario Bava, embora eu não recomende aos iniciantes. BLOOD AND BLACK LACE, KILL BABY KILL e WHIP AND THE BODY são bons exemplares para começar e amar o sujeito pra sempre, ou então odiá-lo de uma vez...
16.10.09
A POLÍCIA INCRIMINA, A LEI ABSOLVE (High Crime, 1973), de Enzo G. Castellari
Tempo cada vez curto para colocar as idéias em forma de texto, mas pra não deixar o blog parado em relação ao que tenho assistido ultimamente, vamos de resenhas curtinhas mesmo, na correria e do jeito que ficar, ficou. E na verdade são poucos os títulos que ando vendo. O último foi no domingo passado, este sensacional exemplar de policial italiano, dirigido pelo grande Enzo G. Castellari. Não sou tão especialista no gênero quanto o amigo Rogério Ferraz, e outros compañeros de guerra, mas o sujeito, sem dúvida alguma, é um dos maiores nomes dos polizieschi, e justamente HIGH CRIME é considerado a inauguração do estilo, claramente inspirado em OPERAÇÃO FRANÇA, de Friedkin. Se foi mesmo o primeiro filme, os amigos com mais conteúdo podem confirmar e acrescentar mais informações nos comentários.
Sobre o filme, é cinema de primeira linha, inovador e ousado, ao mesmo tempo grosseiro, brutal, rude, Franco Nero inspirado com uma atuação marcante que me chamou muito a atenção. O ator Fernando Rey (que também está em OPERAÇÃO FRANÇA) faz uma bela participação. Castellari tem uma baita personalidade na tela, independente de recursos financeiros, filma como poucos e merece muito mais respeito do que geralmente dão a ele.
Não é a toa que Dia da Fúria está preparando um especial dedicado a ele no ano que vem. Estraguei a surpresa, mas fiquem ligados!
15.10.09
A ILHA DOS HOMENS PEIXES (L'isola degli uomini pesce, 1979), de Sergio Martino
Já faz um tempinho que vi este aqui. E embora o italiano Sergio Martino tenha uma reputação reconhecida pelos seus elegantes gialli, até que era um diretor bem diversificado e transitou por quase todos os gêneros do cinema popular italiano. A ILHA DOS HOMENS PEIXES, realizado ao final da década de 70, é um belo exemplar dessa sua diversificação, uma mistura de ficção científica, terror e seriados de aventura dos anos 30, com um tom de Ilha do Dr. Moreau, e para quem é fã deste tipo de material, a diversão é garantida.
O filme transcorre no fim do século XIX, quando, a caminho de uma prisão localizada numa ilha, um navio que transportava os presos acabou afundando, deixando apenas sete sobreviventes, entre os quais seis são prisioneiros e o outro é o médico da embarcação, Claude de Ross, vivido por Claudio Cassinelli. Numa certa noite, depois de algum tempo à deriva, o bote salva-vidas se choca contra umas rochas e os sobreviventes são naturalmente levados a uma ilha que estava no meio do caminho.
A partir daí, um a um, os presos vão sendo abatidos por estranhas criaturas, sobrevivendo apenas o dr. Ross e mais dois prisioneiros, que prosseguem explorando a ilha e descobrindo seus mistérios, o que inclui uma vasta combinação de elementos estranhos num mesmo filme e que torna tudo mais interessante, como um vulcão prestes a entrar em erupção, experiências diabólicas com seres humanos, vodu e até mesmo o tesouro perdido de Atlântida!
O ator britânico Richard Johnson é quem encarna o vilão Rackham, dono de uma mente maquiavélica. É um grande personagem, sádico, sarcástico... não chega a ser tão marcante, mas funciona. Já Cassinelli é o típico herói dos filmes daquele período, agrada vê-lo como homem de ação. Mas o grande frescor para os olhos é a presença de Barbara Bach, com uma boa atuação e uma beleza impecável, embora possa decepcionar o público masculino que espera algo do nível da Ursula Andress em MOUNTAIN OF THE CANNIBAL GOD, também do diretor Sergio Martino, onde exibe seus doces encantos...
A direção de Martino é simplesmente funcional, sem nenhum tipo de experimentação ou frescura, apenas para contribuir para o sucesso do material, embora alguns momentos sejam arrastados, principalmente na primeira metade, dando um contraste com o final que é bem agitado. De qualquer maneira, o resultado é divertido. E o mais legal é o visual das criaturas, os homens peixes do título, e toda a mitologia criada para justificar a sua existência.
Mas ainda assim, para o “público normal”, provavelmente tudo no filme soará um tanto “trash” (seja lá o que isso significa para este público), mas deve ser bem melhor que a continuação que o próprio Sergio Martino filmou em 1995 e que eu ainda não vi. Alguém aí sabe me dizer se LA REGINA DEGLI UOMINI PESCE presta?
14.10.09
TALES OF AN ANCIENT EMPIRE
Albert Pyun me mandou por email um primeiro trecho de seu novo filme, TALES OF AN ANCIENT EMPIRE, uma aventura de fantasia que tem no elenco Kevin Sorbo, Val Kilmer, Christopher Lambert, Olivier Gruner, entre outros. O link para a cena está logo abaixo do poster.
13.10.09
TRAILERS
Acabei de entrar em alguns blogs de amigos e me deparei com dois trailers de filmes que prometem diversão das boas para 2010!
11.10.09
BASTARDOS INGLÓRIOS (Inglourious Basterds, 2009), de Quentin Tarantino
O novo filme do Tarantino é uma coisa absolutamente linda e é uma pena ver uma parcela da “crítica especializada” metendo o pau, catando defeitos e colocando adjetivos que o filme realmente não merece... mas não vou ficar bancando de advogado, porque outros já fizeram de forma muito mais eficaz do que eu faria, e putz, filmezinho difícil de escrever no impulso, no calor da primeira conferida! É muita coisa transbordando na tela. Por enquanto, fico naquela de que se trata de cinema da mais pura qualidade, um Tarantino no auge da sua maestria como cineasta, no rigor estético e na direção firme, mas ainda sem vergonha, sem medo algum de experimentar (inclusive em modificar a história escrita nos livros sobre a Segunda Guerra Mundial), feito da forma que tem que ser feito.
O filme inteiro é estruturado por capítulos definidos, e me chamou muito a atenção a forma que Tarantino prepara certas sequências com uma lentidão fora do comum, trabalhando um puta diálogo sempre muito bem escrito, que favorece demais à narrativa, acumulando uma carga de tensão, para que logo depois haja uma explosão de ação e violência, da mesma forma que Sergio Leone preparava os duelos de seus filmes. E é incrível como a direção do sujeito tenha crescido tanto, filmando diálogos que não tem nada a ver com a estória, mas com um tour de force impressionante.
E ainda existem as referências cinematográficas, BASTARDOS INGLÓRIOS é um mundo de citações e homenagens que vão desde filmes de ação americanos no estilo “men in a mission” ao cinema popular italiano, (guerra e spaghetti western, mais precisamente), passando pelo cinema clássico. Tudo isso transfigurado num espetáculo tarantinesco, seu próprio filme de guerra sobre vingança, com direito a todas as suas obsessões, diálogos afiados, violência explícita, personagens estilizados, metalinguagem...
O elenco de primeira composto por rostos não tão conhecidos do grande público, a não ser Brad Pitt, é muito bom. Me surpreendeu o Eli Roth, diretor de O ALBERGUE, monstrando sua faceta para a atuação, mas quem rouba a cena é o vilão encarnado por Christoph Waltz, bem merecida a sua Palma em Cannes deste ano pela sua performance.
E Tarantino está com crédito, demonstra que o cinema de ação, guerra, ou qualquer gênero que resolva se meter, não precisa ser alienado para ser divertido. “Acho que esta pode ser a minha obra prima”, como disse o Tenente Aldo Raine (Pitt) ao final.
Mas agora não restam dúvidas, Sr. Taranta, esta É a sua obra prima!
8.10.09
O próximo FERRARA promete!
O nome do próximo trabalho de Abel Ferrara será GAME OF DEATH, um filme de ação cuja trama será centrada num guarda-costas de um famoso político que descobre os planos de um assassino planejando matar seu patrão.
Mas isso é o de menos. O melhor de tudo é o ator escolido para estrelar a nova produção do diretor de VÍCIO FRENÉTICO. Ninguém menos que este sujeito da foto aí em baixo.
Mas isso é o de menos. O melhor de tudo é o ator escolido para estrelar a nova produção do diretor de VÍCIO FRENÉTICO. Ninguém menos que este sujeito da foto aí em baixo.
6.10.09
TOP 10 anos 60
Mais uma listinha injusta...
1. O DESPREZO (Le Mepris, 1963), Jean Luc Godard
2. TRÊS HOMENS EM CONFLITO (The Good, the Bad and the Ugly, 1966), Sergio Leone
3. PAIXÕES QUE ALUCINAM (Shock Corridor, 1963), Samuel Fuller
4. A HORA DO LOBO (Vargtimmen, 1968), Ingmar Bergman
5. OPERAZIONE PAURA (1966), Mario Bava
6. À QUEIMA ROUPA (Point Blank, 1967), John Boorman
7. OS OLHOS SEM ROSTOS (Les Yeux Sans Visage, 1960), Georges Franju
8. MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (The Wild Bunch, 1969), Sam Peckinpah
9. O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962), John Ford
10. BLOW UP (1966), Michelangelo Antonioni
1. O DESPREZO (Le Mepris, 1963), Jean Luc Godard
2. TRÊS HOMENS EM CONFLITO (The Good, the Bad and the Ugly, 1966), Sergio Leone
3. PAIXÕES QUE ALUCINAM (Shock Corridor, 1963), Samuel Fuller
4. A HORA DO LOBO (Vargtimmen, 1968), Ingmar Bergman
5. OPERAZIONE PAURA (1966), Mario Bava
6. À QUEIMA ROUPA (Point Blank, 1967), John Boorman
7. OS OLHOS SEM ROSTOS (Les Yeux Sans Visage, 1960), Georges Franju
8. MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (The Wild Bunch, 1969), Sam Peckinpah
9. O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962), John Ford
10. BLOW UP (1966), Michelangelo Antonioni
12 HOMENS E UMA SENTENÇA (12 Angry Men, 1997, TV), de William Friedkin
Ontem à noite assisti, pela primeira vez, a versão do William Friedkin de 12 HOMENS E UMA SENTENÇA. Sempre tive preconceito com essa refilmagem por achar desnecessária, pela consideração que eu tenho pelo original do Lumet, mesmo sendo realizada por um dos meus diretores americanos favoritos. Mas sentei no sofá, liguei a TV apenas para dar uma rápida zapeada e estava começando no TC Action. Simplesmente não consegui levantar do lugar até a subida dos créditos.
É um belíssimo trabalho! A estória permanece exatamente a mesma, mas todos os três elementos fundamentais que funcionaram na primeira versão estão em perfeita harmonia aqui. O puta texto, adaptado por Reginald Rose, que também é o autor do roteiro original de 57, desta vez muito mais ácido, com discursos mais explícitos; o elenco sensacional com Jack Lemmon vivendo o papel que pertencia a Henry Fonda, e um excepcional George C. Scott encarnando o mesmo personagem de Lee J. Cobb do original. Fora o restante da trupe, Armin Mueller-Stahl, James Gandolfini, Edward James Olmos, William Petersen, Tony Danza, e outros, todos excelentes; e, por último, a mise en scène de Friedkin, que se não é melhor que a de Sidney Lumet, pelo menos fica pau a pau.
Até as modificações sugeridas por Friedkin (bem sutis, na verdade, apenas alguns detalhes) possuem grande força dramática, como a "converção" de Scott no final, consegue ser mais emocionante que a de Cobb.
Mesmo careca de saber tudo o que acontece, é sempre um prazer rever 12 HOMENS E UMA SENTENÇA, seja no original ou agora nesta versão produzida para a TV.
É um belíssimo trabalho! A estória permanece exatamente a mesma, mas todos os três elementos fundamentais que funcionaram na primeira versão estão em perfeita harmonia aqui. O puta texto, adaptado por Reginald Rose, que também é o autor do roteiro original de 57, desta vez muito mais ácido, com discursos mais explícitos; o elenco sensacional com Jack Lemmon vivendo o papel que pertencia a Henry Fonda, e um excepcional George C. Scott encarnando o mesmo personagem de Lee J. Cobb do original. Fora o restante da trupe, Armin Mueller-Stahl, James Gandolfini, Edward James Olmos, William Petersen, Tony Danza, e outros, todos excelentes; e, por último, a mise en scène de Friedkin, que se não é melhor que a de Sidney Lumet, pelo menos fica pau a pau.
Até as modificações sugeridas por Friedkin (bem sutis, na verdade, apenas alguns detalhes) possuem grande força dramática, como a "converção" de Scott no final, consegue ser mais emocionante que a de Cobb.
Mesmo careca de saber tudo o que acontece, é sempre um prazer rever 12 HOMENS E UMA SENTENÇA, seja no original ou agora nesta versão produzida para a TV.
5.10.09
ANTICRISTO (Antichrist, 2009), de Lars Von Trier
Taí o novo filme do Lars Von Trier, esse dinamarquês maluco que sempre divide as opiniões do público diante de suas obras. Infelizmente não estreou nos cinemas daqui, então tive de apelar mesmo para os meus recursos do submundo, mas tudo bem. E se minhas expectativas estavam lá em cima com todo o bafafá que quase sempre rola com seus filmes, tudo se superou! Las Von Trier só confirma que ainda é o grande diretor que eu enxergava em seus filmes anteriores e ainda possui a mesma facilidade de me surpreender com poder de suas imagens.
Segundo o diretor, o roteiro de ANTICRISTO foi desenvolvido apenas como um exercício de escrita, depois de ter passado por uma forte crise de depressão. A influencia de seu estado de espírito no processo criativo é muito forte: ele explora o gênero do terror psicológico para narrar a estória de um casal que fica arrasado com a morte do filho pequeno e acaba se refugiando em sua cabana isolada no meio da floresta, a qual é chamada de Éden, como tentativa de curar as dores da perda, principalmente a mulher, extremamente traumatizada e com sentimento de culpa pelo ocorrido.
É meio complicado, pra mim, falar sobre ANTICRISTO e com certeza eu não vou ter nada a acrescentar sobre tudo que já foi dito. É um desses filmes extremamente rico em metáforas, aberto a interpretações, onde cada elemento em cena serve de alegoria para algo mais profundo e reflexivo. O tom de pesadelo é constante na floresta onde grande parte da trama se passa – filmada com a impressão de que a qualquer momento os personagens serão destroçados pela força da natureza. É um cenário de vida própria que participa como um personagem, com uma atmosfera carregada de simbolismos que me deixou arrepiado do inicio ao fim.
É até curioso que Trier dedique o filme ao diretor russo Andrei Tarkovsky. Em O ELEMENTO DO CRIME, primeiro longa do dinamarquês, eu já havia suspeitado que a principal influência dele seria mesmo o diretor de STALKER. Este último filme, aliás, parece ser a maior referência do diretor em ANTICRISTO com a psicologia e metafísica do embate entre o homem e a força da natureza.
Esqueçam totalmente a câmera que treme mais que vara de bambu de seus filmes anteriores. A direção do homem aqui é ótima, com pleno cuidado dos planos, sóbrios movimentos de câmera e um rigor estético impressionante. A câmera só treme em certos momentos, quando há a necessidade. Engraçado que este seja o primeiro filme que ele realizou sem tocar na câmera, pois, segundo ele afirma, ainda não se sentia preparado. Então tomara que continue despreparado sempre, porque é o trabalho de direção mais criativo de sua carreira.
Também chama a atenção a maneira como os atores se entregam ao projeto. A narrativa acompanha apenas Willen Dafoe e Charlotte Gainsbourg em seus personagens sem nomes, fazendo alusão a Adão e Eva no jardim do Éden, e eles mandam muito bem. Como é bom ver o Dafoe sendo bem aproveitado! Já Gainsbourg está perfeita! É incrível como o diretor consegue extrair atuações poderosas de suas atrizes, basta lembrar de Emily Watson em ONDAS DO DESTINO, Bjork em DANÇANDO NO ESCURO, ou até mesmo a Nicole Kidman no seu melhor momento em DOGVILLE. E Gainsbourg não fica atrás de nenhuma delas. A carga dramática que o Lars Von Trier coloca sobre o casal é muito pesada e não é qualquer ator que deve aguentar...
E muito se falou das cenas de violência gráfica, sexo explícito, detalhes que os críticos desaprovam acusando o filme de polêmico. Tais cenas são muito bem inseridas no contexto visceral das últimas conseqüências do enredo e não possuem nada de gratuito. Mas servem pra causar o choque também, oras! O que há de mal em um choque visual de vez em quando? Lars Von Trier é subversivo, um provocador. No epílogo de ANTICRISTO, por exemplo, todo mostrado em câmera lenta, lindamente fotografado num preto e branco, ele quer mesmo que os puritanos abandonem as salas e que permaneçam apenas seus admiradores e aqueles com a mente mais aberta para este tipo de experiência visual. Pode até ser que ache o filme uma merda, mas indiferente não dá pra ficar. Eu adorei.
Segundo o diretor, o roteiro de ANTICRISTO foi desenvolvido apenas como um exercício de escrita, depois de ter passado por uma forte crise de depressão. A influencia de seu estado de espírito no processo criativo é muito forte: ele explora o gênero do terror psicológico para narrar a estória de um casal que fica arrasado com a morte do filho pequeno e acaba se refugiando em sua cabana isolada no meio da floresta, a qual é chamada de Éden, como tentativa de curar as dores da perda, principalmente a mulher, extremamente traumatizada e com sentimento de culpa pelo ocorrido.
É meio complicado, pra mim, falar sobre ANTICRISTO e com certeza eu não vou ter nada a acrescentar sobre tudo que já foi dito. É um desses filmes extremamente rico em metáforas, aberto a interpretações, onde cada elemento em cena serve de alegoria para algo mais profundo e reflexivo. O tom de pesadelo é constante na floresta onde grande parte da trama se passa – filmada com a impressão de que a qualquer momento os personagens serão destroçados pela força da natureza. É um cenário de vida própria que participa como um personagem, com uma atmosfera carregada de simbolismos que me deixou arrepiado do inicio ao fim.
É até curioso que Trier dedique o filme ao diretor russo Andrei Tarkovsky. Em O ELEMENTO DO CRIME, primeiro longa do dinamarquês, eu já havia suspeitado que a principal influência dele seria mesmo o diretor de STALKER. Este último filme, aliás, parece ser a maior referência do diretor em ANTICRISTO com a psicologia e metafísica do embate entre o homem e a força da natureza.
Esqueçam totalmente a câmera que treme mais que vara de bambu de seus filmes anteriores. A direção do homem aqui é ótima, com pleno cuidado dos planos, sóbrios movimentos de câmera e um rigor estético impressionante. A câmera só treme em certos momentos, quando há a necessidade. Engraçado que este seja o primeiro filme que ele realizou sem tocar na câmera, pois, segundo ele afirma, ainda não se sentia preparado. Então tomara que continue despreparado sempre, porque é o trabalho de direção mais criativo de sua carreira.
Também chama a atenção a maneira como os atores se entregam ao projeto. A narrativa acompanha apenas Willen Dafoe e Charlotte Gainsbourg em seus personagens sem nomes, fazendo alusão a Adão e Eva no jardim do Éden, e eles mandam muito bem. Como é bom ver o Dafoe sendo bem aproveitado! Já Gainsbourg está perfeita! É incrível como o diretor consegue extrair atuações poderosas de suas atrizes, basta lembrar de Emily Watson em ONDAS DO DESTINO, Bjork em DANÇANDO NO ESCURO, ou até mesmo a Nicole Kidman no seu melhor momento em DOGVILLE. E Gainsbourg não fica atrás de nenhuma delas. A carga dramática que o Lars Von Trier coloca sobre o casal é muito pesada e não é qualquer ator que deve aguentar...
E muito se falou das cenas de violência gráfica, sexo explícito, detalhes que os críticos desaprovam acusando o filme de polêmico. Tais cenas são muito bem inseridas no contexto visceral das últimas conseqüências do enredo e não possuem nada de gratuito. Mas servem pra causar o choque também, oras! O que há de mal em um choque visual de vez em quando? Lars Von Trier é subversivo, um provocador. No epílogo de ANTICRISTO, por exemplo, todo mostrado em câmera lenta, lindamente fotografado num preto e branco, ele quer mesmo que os puritanos abandonem as salas e que permaneçam apenas seus admiradores e aqueles com a mente mais aberta para este tipo de experiência visual. Pode até ser que ache o filme uma merda, mas indiferente não dá pra ficar. Eu adorei.
4.10.09
3.10.09
A ORGIA DA MORTE (The Masque of the Red Death, 1964), de Roger Corman
Demorou um bocado para a Academia reconhecer o quão Roger Corman é importante e representativo para o cinema. Finalmente em 2010 o homem vai receber um Oscar honroso pela contribuição a esta arte que tanto adoramos. E ele merece isso por vários motivos, um desses é por possuir o nome definitivo no que confere às adaptações das obras do escritor de mistério Edgar Allan Poe.
Segundo Corman, a princípio ele realizaria para a American International Pictures apenas A QUEDA DA CASA DE USHER, em 1960. Como o filme foi muito bem recebido, acabaram solicitando outras adaptações do escritor americano. O próprio diretor disse em entrevistas que ficara na dúvida entre The Pit and the Pendulum e The Masque of the Red Death, mas acabou escolhendo o primeiro, pois havia acabado de assistir ao SÉTIMO SELO, e achou que o filme de Bergman possuía muitas semelhanças com o segundo. Depois disso, Corman acabou fazendo a série de filmes inspirados em Poe que todos nós conhecemos e sempre ficava na dúvida entre escolher alguma outra obra e The Masque of the Red Death. Após adaptar todas as estórias que gostava, durante quatro anos, ele já não se importava com as semelhanças do filme sueco e acabou realizando por fim este aqui, que ele considera, ao lado de A Queda da Casa de Usher, um dos melhores escritos de Poe (e acabou recebendo o título de A ORGIA DA MORTE aqui no Brasil).
O filme em si é sensacional. Corman dirige aquele que provavelmente foi o seu maior colaborador nas adaptações de Poe, o ator Vincent Price, encarnando um dos papéis mais marcantes de sua carreira, o do príncipe Prospero. Maquiavélico, sádico, cínico, iconoclasta e adorador do tinhoso, o sujeito é a perfeita representação do mal e Price faz jus à sua reputação de mestre do horror em frente às câmeras numa grande performance. E isso é extremamente crucial para a grandeza do filme. Só sua presença já valeria a conferida.
Mas é claro que o filme vai além. Muitos se lembram de Corman apenas como o pai do dos filmes B americanos, o homem que driblava todas as armadilhas do baixo orçamento e realizava quatro ou cinco filmes por ano. Ou então como descobridor de talentos, tendo lançado no mundo no cinema nomes como Jack Nicholson, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Monte Hellman e muitos outros. Claro que isso são feitos importantíssimos, sem dúvida, mas muita gente acaba esquecendo que ele também era um puta diretor! Em A ORGIA DA MORTE ele estava no auge da criatividade e trabalhando com o seu diretor de fotografia – o futuro diretor Nicholas Roeg – fez miséria com o visual do filme, com o clima atmosférico denso e principalmente com o uso das cores como elemento de horror, algo que só mesmo o italiano Mario Bava conseguia superar. Algumas sequências são verdadeiras pinturas em movimento.
Quanto ao Corman econômico, pai dos B movies, A ORGIA DA MORTE foi seu primeiro filme rodado na Inglaterra, por causa das taxas de impostos muito mais em conta (além de conseguir subsídios do próprio governo britânico), reaproveitando o cenário do filme BECKET, de Peter Glenville, também de 64. Uma prova de que até mesmo nas suas realizações mais rebuscadas visualmente, o espírito B sempre prevalecia. Um fato curioso é que dizem por aí que a atriz principal do filme, Jane Asher, perguntou a Corman se um amigo poderia visitar o set e se juntar a eles para um almoço. Ela explicou que ele era um músico que estava a ponto de fazer seu primeiro show em Londres naquela noite. No final do almoço, Corman deu ao rapaz boa sorte e seguiu em frente. Era ninguém menos que Paul McCartney, e no outro dia Corman leu no jornal sobre o sucesso que havia sido aquele show.
Enfim, fofocas da sétima arte à parte, fica a recomendação para uma noite escura e sombria este belíssimo filme de terror. Fica também a minha homenagem a este grande profissional que finalmente terá seu nome em voga no período da premiação do Oscar no ano que vem (embora seja uma pena, mas parece que a cerimônia não vai ser igual as anteriores mostrando cenas dos filmes e tal com o Oscar honorário).
Segundo Corman, a princípio ele realizaria para a American International Pictures apenas A QUEDA DA CASA DE USHER, em 1960. Como o filme foi muito bem recebido, acabaram solicitando outras adaptações do escritor americano. O próprio diretor disse em entrevistas que ficara na dúvida entre The Pit and the Pendulum e The Masque of the Red Death, mas acabou escolhendo o primeiro, pois havia acabado de assistir ao SÉTIMO SELO, e achou que o filme de Bergman possuía muitas semelhanças com o segundo. Depois disso, Corman acabou fazendo a série de filmes inspirados em Poe que todos nós conhecemos e sempre ficava na dúvida entre escolher alguma outra obra e The Masque of the Red Death. Após adaptar todas as estórias que gostava, durante quatro anos, ele já não se importava com as semelhanças do filme sueco e acabou realizando por fim este aqui, que ele considera, ao lado de A Queda da Casa de Usher, um dos melhores escritos de Poe (e acabou recebendo o título de A ORGIA DA MORTE aqui no Brasil).
O filme em si é sensacional. Corman dirige aquele que provavelmente foi o seu maior colaborador nas adaptações de Poe, o ator Vincent Price, encarnando um dos papéis mais marcantes de sua carreira, o do príncipe Prospero. Maquiavélico, sádico, cínico, iconoclasta e adorador do tinhoso, o sujeito é a perfeita representação do mal e Price faz jus à sua reputação de mestre do horror em frente às câmeras numa grande performance. E isso é extremamente crucial para a grandeza do filme. Só sua presença já valeria a conferida.
Mas é claro que o filme vai além. Muitos se lembram de Corman apenas como o pai do dos filmes B americanos, o homem que driblava todas as armadilhas do baixo orçamento e realizava quatro ou cinco filmes por ano. Ou então como descobridor de talentos, tendo lançado no mundo no cinema nomes como Jack Nicholson, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Monte Hellman e muitos outros. Claro que isso são feitos importantíssimos, sem dúvida, mas muita gente acaba esquecendo que ele também era um puta diretor! Em A ORGIA DA MORTE ele estava no auge da criatividade e trabalhando com o seu diretor de fotografia – o futuro diretor Nicholas Roeg – fez miséria com o visual do filme, com o clima atmosférico denso e principalmente com o uso das cores como elemento de horror, algo que só mesmo o italiano Mario Bava conseguia superar. Algumas sequências são verdadeiras pinturas em movimento.
Quanto ao Corman econômico, pai dos B movies, A ORGIA DA MORTE foi seu primeiro filme rodado na Inglaterra, por causa das taxas de impostos muito mais em conta (além de conseguir subsídios do próprio governo britânico), reaproveitando o cenário do filme BECKET, de Peter Glenville, também de 64. Uma prova de que até mesmo nas suas realizações mais rebuscadas visualmente, o espírito B sempre prevalecia. Um fato curioso é que dizem por aí que a atriz principal do filme, Jane Asher, perguntou a Corman se um amigo poderia visitar o set e se juntar a eles para um almoço. Ela explicou que ele era um músico que estava a ponto de fazer seu primeiro show em Londres naquela noite. No final do almoço, Corman deu ao rapaz boa sorte e seguiu em frente. Era ninguém menos que Paul McCartney, e no outro dia Corman leu no jornal sobre o sucesso que havia sido aquele show.
Enfim, fofocas da sétima arte à parte, fica a recomendação para uma noite escura e sombria este belíssimo filme de terror. Fica também a minha homenagem a este grande profissional que finalmente terá seu nome em voga no período da premiação do Oscar no ano que vem (embora seja uma pena, mas parece que a cerimônia não vai ser igual as anteriores mostrando cenas dos filmes e tal com o Oscar honorário).
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