Já estamos em novembro e analisando o panorama do cinema de ação em 2013, se por um lado não tivemos uma safra vasta de bons exemplares (o que já é habitual nos últimos anos), por outro tivemos a oportunidade de notar algumas peculiaridades: Arnold Schwarzenegger retornou como protagonista de seu próprio veículo de ação em THE LAST STAND, que marcou também uma ótima estreia do coreano Jee-Woon Kim em Hollywood; já Sylvester Stallone não apenas estrelou o melhor filme de ação do ano até o momento, BULLET IN THE HEAD, como também proporcionou o retorno de Walter Hill à cadeira de diretor depois de dez anos sem lançar nada para cinema. Por essas duas obras já teríamos motivos suficientes para comemorar. No entanto, não satisfeitos, Sly e Arnie ainda tiveram forças para se juntar e lançar
ESCAPE PLAN, que já merece destaque só pela ideia de colocar lado a lado esses dois ícones do cinema de ação. O bom é que o filme vai além disso.
ESCAPE PLAN não é exatamente um retorno ao tipo de filme que transformou esses caras no que eles são. Mas me lembra uma época, em meados dos anos 90, em que eles já estavam consolidados como
action heroes e realizavam umas coisas como O DEMOLIDOR e QUEIMA DE ARQUIVO, fitas menores em suas carreiras, mas divertidíssimas e muito superiores em relação à grande maioria do que é realizado hoje em termos de ação. Acho até que é neste período que esse
crossover deveria ter acontecido... Mas, antes tarde do que nunca. Até porque ambos, apesar da idade avançada, ainda possuem fôlego e truculência suficiente para esmagar qualquer Vin Diesel, The Rock, ou seja lá quem for, vê-los caídos diante do seus olhos e ouvir o lamento de suas mulheres...
Não é isso o melhor da vida?
Em
ESCAPE PLAN, Stallone é praticamente um McGyver com músculos e precisa utilizar mais a inteligência do que a força bruta em sua profissão, que consiste em procurar brechas nas penitenciárias de segurança máxima. Como deve ser simpatizante do jornalismo gonzo, a maneira como realiza o trabalho é se infiltrando como prisioneiro, estudando o local, percebendo os pontos fracos e arranjando maneiras de escapulir. Depois de vários anos fazendo isso, escreve um livro sobre o assunto. Uma versão casca-grossa de Hunter S. Thompson.
O problema é quando o Sly decide encarar um novo desafio e acaba parando numa prisão construída a partir das informações, conceitos e ideias adquiridas por ele próprio, a partir do seu trabalho. Uma prisão aparentemente impossível de escapar. Para sua sorte, encontra no local o Schwarzenegger, vivendo o seu personagem mais legal desde TRUE LIES, e decidem unir força para traçar uma rota de fuga. Será que uma prisãozinha será suficiente para parar essa dupla? Quem já viu o filme sabe, quem não viu, vai precisar ver, porque eu não vou contar.
Só digo que Arnoldão rouba o filme em cada momento que aparece na tela, muito mais que um
sidekick de luxo, compondo um personagem diferente de tudo que já fez. Com cabelos e cavanhaque grisalhos, não deixa de ser o brutamontes
badass motherfucker de sempre, mas ao mesmo tempo intercala o tipo engraçadão com variáveis demonstrações de fragilidade diante de algumas situações. A cena em que finge um ataque de desespero para chamar a atenção dos guardas e reza em alemão na solitária já pode entrar na lista dos momentos antológicos da carreira do homem. Stallone também está ótimo, o problema é ter pego Schwarzenegger num dia inspirado e acabou tendo o brilho ofuscado.
O elenco se completa com algumas figuras interessantes: Vincent D'Onofrio, Sam Neil, Jim Caviezel e Vinnie Jones. Estes dois últimos os vilões da parada. 50 Cent não compromete com seu pequeno papel. E a surpresa é a interessante utilização de um personagem árabe, vivido por Faran Tahir, que, numa jogada de muito bom senso do roteiro, consegue quebrar alguns clichês.
O diretor sueco Mikael Hafstrom pode não ser um mestre do cinema de ação, mas parece plenamente consciente do tipo de filme que os fãs de Sly e Arnie estavam esperando.
ESCAPE PLAN nem possui tantas sequências de ação assim, é mais focado no
thriller com os elementos de filmes de prisão. E a presença dos dois atores em cena, contracenando, já é de encher os olhos, de absorver o espectador com uma incrível sensação de nostalgia. Há um profundo respeito do diretor pelos velhos e isso fica claro na maneira como os filma, como os enquadra, como trabalha a rivalidade dos dois em cena. Há até uma breve luta entre os dois que é praticamente um sonho realizado! Sly vs Arnoldão! Wow!
Quando a ação finalmente explode, a adrenalina toma conta. Não há nada mais, com perdão do meu francês, fodástico que Stallone e Schwarzenegger atirando, esmurrando e explodindo coisas de maneira frenética! Hafstrom nem é muito habilidoso na direção dessas sequências, mas pelo menos evita certos maneirismos do cinema de ação atual, como esconder a incompetência chacoalhando a câmera. Aqui podemos enxergar perfeitamente o que se passa e o sujeito ainda aproveita para homenagear Arnoldão com o momento mais
badass de
ESCAPE PLAN, quando o austríaco faz pose em câmera lenta e se prepara para cuspir fogo em diversos vilões com uma metralhadora estilo COMANDO PARA MATAR em punho! Para Stallone, o roteiro lhe reserva uma luta franca contra o Vinnie Jones, que é outro ponto alto do filme.
Obviamente,
ESCAPE PLAN não é perfeito. Toda vez que o filme volta suas atenções aos personagens fora da prisão corta o ritmo envolvente da trama principal, do foco, que é Stallone e Arnie enjaulados. Mas isso só acontece momentaneamente e não prejudica a narrativa de maneira alguma. Na maior parte do tempo, o filme se assume como diversão pura e de qualidade para os admiradores do bom cinema de ação exagerado e aos fãs de ambos atores. Seria um erro esperar mais do que isso. Só lamento que tanto
ESCAPE PLAN quanto LAST STAND e BULLET IN THE HEAD tenham fracassado nas bilheterias. Algo preocupante, porque estou gostando da ideia de ter esses velhotes em atividade no cenário atual. Quando os executivos dos estúdios perceberem que esses caras estão dando prejuizo, o que vai acontecer? E onde estão os fãs que enchiam as salas de cinema há vinte anos atrás? Ou será que estou sendo muito pessimista?
Para finalizar, outros cinco encontros marcantes de autênticos ícones do cinema de ação em filmes que levam o termo truculência ao extremo realizados nos últimos trinta e poucos anos:
DEATH HUNT (81), de Peter R. Hunt: Lee Marvin e Charles Bronson pertencem a uma geração anterior à do Sly e Arnie, ambos já haviam feitos alguns filmes juntos e dispensam apresentações. É neste aqui que se dá o encontro mais dramático entre eles. Na trama, Marvin promove uma caçada humana pra cima do Bronson pelas terras geladas na fronteira do Canadá. O negócio é que nenhum dos dois é o vilão da história, e muito menos o bonzinho. Enquanto pensamos nesse dilema, a violência explode na tela.
TANGO & CASH (89), de Andrey Konchalovskiy: Rambo encontra Snake Plissken, num
buddy movie de ação policial que poderia ser melhor, mas ainda assim possui ingredientes suficientes para os afccionados pelo gênero receberem uma bela dose de explosões, tiros e pancadaria. E ainda tem o Jack Palance como vilão e Robert Z'Dar, o queixo mais discreto do cinema, como desafeto de ambos numa prisão que Sly e Russel precisam fugir. Prisão? Fugir? Opa...
SOLDADO UNIVERSAL (92), de Roland Emmerich: No primeiro filme da saga dos
unisoldiers, dois ícones colocados frente a frente como galos numa rinha. O músculos de Bruxelas, Jean-Claude Van Damme, encara o brutamontes sueco, Dolph Lundgren, num dos melhores filmes da carreira de ambos. Super produção na época, o destaque vai para o Dolph, que faz um dos personagens mais insanos que já encarnou: um sargento que pira, extermina todos os soldados do seu pelotão e faz um colar utilizando as orelhas dos defuntos. Verdadeiro artista artesanal...
MASSACRE NO BAIRRO JAPONÊS (93), de Mark L. Lester: Este aqui é simplesmente um dos filmes mais divertidos e brutais do gênero nos anos 90. Perdi a conta de quantas vezes assisti, só sei que é um dos grandes responsáveis por me fazer amar tanto o cinema de ação. Dolph Lundgren dessa vez une forças com o filho de Bruce Lee, Brandon, que consegue a proeza de roubar a cena do sueco com um personagem carismático e excelente na porrada. Uma pena que Lee morreu tão cedo. Teria lugar garantido hoje no hall da fama dos grandes ícones do cinema de ação. Este filme é prioridade para um futuro texto. Aliás, todos dessa lista são...
O DEMOLIDOR (93), de Marco Brambilla: Mais duas figuras nada amigáveis são colocadas em lados diferentes. E o confronto desses caras vai além do limite do espaço e tempo! Stallone é o policial mais casca grossa do mundo e faz de tudo para pegar Wesley Snipes, o terrorista mais perigoso do mundo. Até consegue, mas vários inocentes morrem no caminho. Ambos são presos e congelados. Trinta anos no futuro, Wesley Snipes toca o terror e só Stallone, o policial
old school é capaz de pará-lo. Que comece o segundo round! Mas antes, Sly precisa aprender a usar as três conchas...