28.6.10

Dica de Blog

Editado por Matheus Ferraz, Fräuleins sem Uniforme é dedicado a um dos subgêneros mais insanos e pertubadores: nazi-exploitation! Não deixem de prestigiar!

26.6.10

THE TOURNAMENT (2009), de Scott Mann

A cada sete anos, em uma cidade diferente, um grupo de jogadores do alto escalão executa apostas numa competição onde os maiores assassinos profissionais do mundo todo se reúnem para matar uns aos outros. Só pode haver um sobrevivente e este recebe um prêmio de dez milhões de dólares. O problema é que depois deste evento, o comércio de assassinatos por encomenda fica carente de bons profissionais, mas isso não é da minha conta.

Com essa premissa apelativa, o título genérico THE TOURNAMENT, Ving Rhames e Robert Carlyle no elenco, não entendi porque o filme não teve lançamento comercial nos cinemas americanos. Chegou a passar em algumas mostras, mas foi lançado direto no mercado em DVD e isso poderia ser mal sinal. A não que fosse intenção dos realizadores, mas estariam perdendo uma boa oportunidade de arrecadar mais.

De qualquer forma, fui sem grandes expectativas, mesmo com a indicação do amigo BLOB, que possui extremo bom gosto e havia gostado deste aqui. Mas uma das coisas que me chamou a atenção logo de cara é a presença de Scott Adkins no elenco, o ator habitual do diretor Isaac Florentine, que nos últimos anos nos brindou com bons filmes de ação casca grossa, como UNDISPUTED 2 e NINJA. O terceiro filme da série UNDISPUTED já tenho em mãos e o amigo Otávio Pereira confirmou que é uma beleza!

THE TOURNAMENT começa muito bem e se impõe como aquele tipo de produção que se você tiver estômago fraco, é melhor trocar de filme! Vá assistir TOMATES VERDES FRITOS. É o final de uma dessas competições, acontecendo aqui no Brasil, Ving Rhames é um dos três ultimos sobreviventes e mesmo sem arma alguma consegue se tornar campeão matando seus oponentes sem piedade e de forma brutal.

Mas a trama principal ocorre sete anos depois, na Inglaterra, quando se inicia um novo torneio. Ving está de volta porque quer se vingar do responsável pela morte da esposa, que é um dos participantes. Só que a estória não gira em torno do personagem de Ving, para minha surpresa. Na verdade, o roteiro desenvolve dois protagonistas: o britânico Robert Carlyle, que vive um padre alcóolatra que acaba entrando acidentalmente no torneio após engolir o dispositivo de localização de um dos participapantes, e Kelly Hu, uma assassina sentimental que percebe que o padre não faz parte do jogo e decide protegê-lo. Apesar de Ving Rhames não ser protagonista, é muito legal vê-lo novamente num personagem badass como este aqui.

Infelizmente alguns outros personagens poderiam ser melhor aproveitados, mas pelo menos suas presenças rendem bons momentos. O próprio Adkins sai logo de cena muito rápido, mas o quebra pau com Kelly Hu na igreja abandonada demonstra porque ele é um dos melhores atores do cinema de porrada ocidental atualmente. O mesmo para o assassino francês praticante do parkour que tem um pouco mais de tempo que o Adkins.

Mas a maioria dos vilões serve apenas para fazer número mesmo, para aumentar ao máximo a quantidade de ação e de corpos cravados de balas ou explodidos. E THE TOURNAMENT possui uma bela dose de violência explícita! O climax do filme é uma perseguição com Ving em um caminhão atrás de um ônibus guiado pelo padre de Carlyle, enquanto Kelly Hu troca socos com o francês do parkour em seu interior.

A direção de Scott Mann é do tipo em que a câmera treme freneticamente e a edição picota as cenas de ação em planos que não duram mais de um segundo, da mesma forma como estamos cansados de ver neste tipo de filme atualmente e isso é um problema que pode incomodar, embora essas cenas não sejam totalmente descartáveis. Ao menos dá pra entender o que acontece na tela nas sequências de ação. O que é difícil de aguentar é o melodrama da persoangem de Kelly Hu, principalmente porque ela não tem a mínima capacidade de expressar qualquer sentimento mais dramático. Como atriz de ação, se sai muito bem, mas é só.

THE TOURNAMENT diverte tranquilamente, não me entediou em momento algum, apesar de alguns detalhes, é bom filme de ação desenfreada e exagerada. Só não acho que chega ao mesmo nível de algumas belezinhas do gênero que também não passaram nos cinemas, como THE BUTCHER, ICARUS, BLOOD AND BONE e SOLDADO UNIVERSAL: REGENERATION.

25.6.10

SINGAPORE SLING (1990), de Nikos Nikolaidis

Alguém aí conhece esta belezura vinda da Grécia? Eu não fazia idéia da existência de SINGAPORE SLING até ontem a noite quando me me deparei por acaso. Trata-se de uma das experiências mais bizarras e pertubadoras que eu já tive com cinema, uma coisa linda, encontro de cinema noir dos anos 40 com David Lynch, surrealismo, filmado em preto e branco, alto grau de erotismo e imagens extremas de revirar o estômago.

Na trama, um detetive procura Laura, que está desaparecida, mas acaba sequestrado por duas mulheres em uma mansão – uma delas é sósia da tal Laura (ou será que ela é mesmo a desaparecida?) – que adoram explorar os limites do prazer, seja cometendo assassinatos, comendo carne humana como se fosse um manjar da alta classe e praticando o coito em suas mais variadas formas, utilizando dos mais variados estímulos, como tortura, choques elétricos, vômito e urina enquanto praticam o ato sexual.

Tudo isso é lançado na tela de forma quase explícita pelas cameras do diretor Nikos Nikolaidis, que também é o autor do roteiro e que morreu em 2007. Gostei bastante da direção, muito seguro no que faz aqui, uma bela obra de arte. Sabe brincar com sua narrativa nada convencional e utiliza de elementos, enquadramentos, narração em off retiradas dos filmes noir, que parece ser a principal fonte de inspiração. Alguns detalhes são bem evidentes: Laura, por exemplo é o título de um belo noir de Otto Preminger e uma das personagens usa o mesmo vestuário de Glória Swanson em CREPÚSCULO DOS DEUSES.

SINGAPORE SLING é bem aberto e confuso na medida exata de um bom surrealismo e deixa várias imagens poderosas de impacto para serem sentidas, vislumbradas pelos espectadores que sabem desfrutar uma bizarrice extrema. Vale destacar também os três atores, os únicos que aparecem em cena, três insanos em um notável desempenho. Corro o risco de ser o último a tomar conhecimento desta obra, mas confesso que nunca tinha ouvido falar. De qualquer forma, vale a pena deixar essa dica para quem ainda não viu. A pergunta do início do texto ainda vale…

20.6.10

O FANTASMA DO PARAÍSO (Phanton of the Paradise, 1974), de Brian De Palma

Nossa! É incrível como eu já não me lembrava de mais nada de O FANTASMA DO PARAÍSO. Revi como se fosse a primeria vez e o filme me surpreendeu de uma maneira muito interessante.

É uma verdadeira anomalia dentro do cinema de Brian De Palma e é bacana perceber como ele era um diretor tão moderno naquela época. O sujeito já dominava uma condução com ritmo de videoclip muito antes de começarem a estuprar este tipo linguagem. Obviamente já neste período não era algo tão original assim, só que o De Palma acerta em cheio no tom deste musical surrealista, psicodélico e surtadíssimo, inspirado em uma espécie de mistureba entre O Fantasma da Ópera, Fausto e O Retrato de Dorian Gray!

O FANTASMA DO PARAÍSO é um conto trágico sobre Wislow, um compositor ingênuo que tem sua música roubada por Swam, um grande empresário sem escrúpulos. Quando resolve correr atrás dos seus direitos, se envolve em uma série de situações desagradáveis que culminam num trágico acidente que destroem seu rosto e voz.

Dado como morto, Wislow reaparace no Paradise, casa de show gerenciada por Swam, onde rouba uma fantasia, arranja uma mascara bizarra e banca o fantasma do local para se vingar. Tudo isso acontece com menos de uma hora de duração, narrado com bastante riqueza de detalhes e muitas situações que não valem a pena ficar descrevendo. O que vem a seguir eu vou deixar pra vocês descobrirem quando forem assistir.

O que importa mesmo é que O FANTASMA DO PARAÍSO é desses filmes que enchem os olhos do espectador pelo visual arrojado que resolve sempre nos surpreender a cada plano, seja com a brilhante direção de arte carregada de elementos pop dos anos 60 e 70 ou com movimentos de cameras e enquadramentos sempre muito bem elaborados conduzidos com um misto de segurança e experimentalismo de De Palma, o que na realidade são mais que suficientes para nos encantar.

Isso sem falar da trilha sonora inspiradíssima de Paul Williams, que também trabalha como ator encarnando o sinistro Swam. É belíssima, cativante, consegue a proeza de roubar das imagens o seu papel principal e acaba se tornarndo parte da essência deste brilhante filme. Entra fácil num top 10 do diretor, na minha opinião.

19.6.10

OS ÚLTIMOS MACHÕES (The Last Hard Men, 1976), de Andrew V. McLaglen

O mercado de DVD aqui de Vitória é uma porcaria. Raro achar algumas preciosidades dando sopa. Minha coleção é composta mais por filmes comprados via internet, então fica difícil ser colecionador sendo pobre e morando num fim de mundo, como é o meu caso. Mas a gente dá um jeitinho. Achei OS ÚLTIMOS MACHÕES numa loja de shopping por acaso e não pensei duas vezes antes de levar. Só fui assistir hoje e é realmente um faroeste muito bom!

Westerns crepusculares são meio amargos e melancólicos, mas é sempre um prazer conferi-los. OS ÚLTIMOS MACHÕES segue nessa mesma linha, com a era do fora-da-lei do velho oeste selvagem chegando ao fim, cedendo lugar à sociedade moderna. Na trama, temos dois monstros em plena forma: James Coburn e Charlton Heston – que podem muito bem representar o cinema de macho que o título nacional evoca (embora o personagem do primeiro tenha uma certa ambiguidade em relação à sua sexualidade) – em lados opostos da lei, mas pertencentes a este pequeno grupo que caminhava rumo a extinção.

Heston é Sam Burgade, um velho xerife aposentado com muitas aventuras pra contar da época em que a lei era regida à base de chumbo grosso, diferente do jovem xerife atual que vive sentado atrás de uma grande mesa que possui até telefone. Mas quando o perigoso e sádico Zach Provo, o vilão encarnado por James Coburn, foge da prisão com um grupo de mal encarados, a coisa fica preta. Burgade é quem o colocou no xadrez. Provo agora quer vingança. E joga sujo, sequestrando a filha do herói (Barbara Hershey).

É aí que Burgade percebe que a solução é colocar as balas no seu velho colt, comprar previsões para alguns dias e voltar à ação utilizando o modo old school de caçar e eliminar bandidos.

Só que não vai ser nada fácil para o protagonista, muito menos para o espectador. Não que o filme seja ruim, longe disso, mas algumas situações criadas pelo roteiro são bem fortes e subvertem clichês na relação sequestrador/refém. O que quero dizer é que não é todo dia que vemos um filme americano do gênero onde uma personagem da importância de Hershey sofre o que ela sofreu aqui... Além do próprio protagonista demonstrar ser tão sádico e violento quanto seu inimigo, algo praticamente inexistente no cinema comportado atual.

Andrew V. McLaglen vem da escola clássica de fazer cinema. Foi assistente de direção de William A. Wellman e Budd Boetticher, mas para contar a estória destes personagens buscou inspiração no cinema de Sam Peckinpah. Isso fica bem claro em alguns momentos, na forma como trabalha a violência e principalmente quando resolve utilizar câmeras lentas para enfatizar algum elemento dramático ou para tornar a brutalidade em lirismo sanguinário, da mesma maneira que o diretor de WILD BUNCH fazia com maestria. Mas o resultado em OS ÚTIMOS MACHÕES não fica muito atrás. É cinema de macho na veia!

17.6.10

Assisti algumas coisas bem interessantes, mas tenho andado um pouco sem tempo ultimamente para escrever e postar com boa frequência, mas valem ao menos alguns comentários rápidos. Um dos melhores foi o clássico esquecido de 1965, do americano exilado na Inglaterra, vítima do Marcartismo, Cy Endfield, PERDIDOS NO KALAHARI (Sands of Kalahari). É um belíssimo trabalho, uma verdadeira aula de cinema na questão dos espaços. Difícil de acreditar que nunca tenha recebido o reconhecimento que merece. O filme começa devagar quase parando, apresentando aos poucos os personagens que embarcam num avião clandestino por causa do preço camarada que o piloto arranjou. Mas como o barato sai caro em quase todos os filmes, a tripulação acaba vítima de um pouso forçado em pleno deserto sul-africano. A cena da queda com a nuvem de gafanhotos é sensacional! A partir desta situação extrema é que o filme vai crescendo cada vez mais até chegar a um dos finais mais aterradores que eu já vi!


Conferi pela primeira vez também o clássico considerado a pedra fundamental do cinema de horror europeu, I VAMPIRI (1956), de Riccardo Freda e Mario Bava. Sempre houve uma discussão sobre o que cada um havia dirigido. O que eu sei sobre o assunto é que Freda era o diretor e Bava o responsável pela fotografia. Freda deveria realizar todo o filme em doze dias. Quando chegou no décimo, só havia filmado a metade, pediu mais tempo, os produtores não deram e ele pulou fora do projeto deixando a bomba explodir nas mãos do seu diretor de fotografia, que conseguiu se virar e terminar o restante nos dois dias que restava. A bem verdade é que essa transição toda não interfere em absolutamente nada a grandeza desta obra. Claro que é um filme torto, possui alguns defeitos principalmente no ritmo e estrutura narrativa, mas tecnicamente é perfeito, com uma atmosfera de horror que envolve o espectador, em especial no último ato, recheado de elementos que seriam melhor utilizados futuramente. Obrigatório.

Depois eu comento mais filmes!

15.6.10

VIGILÂNCIA TOTAL (Under Surveillance, 1991), de Rafal Zielinski

Mais de uma semana sem atualizar, tanto filme bom pra comentar e acabo postando sobre uma bagaceira que provavelmente quase ninguém se lembra, sequer chegou a ver ou tenho certeza que não vai se interessar… Mas é este o espírito do blog, o qual eu tenho me desviado ultimamente sem querer. Mas vamos à tralha: mais indicado para os apreciadores do ator Robert Davi, este UNDER SURVEILLANCE foi uma entre tantas tentativas modestas e frustradas de colocá-lo como um action man dos anos 90.

A escolha de Davi até que é bacana. Acho um ótimo ator e desde a década de 1980 ele acabou se tornando uma dessas figuras subestimadas pelos grandes estúdios, mas sempre marcando presença em produções de gênero. Possui um talento indiscutível e, talvez por não ser muito chegado a beleza, geralmente se dá melhor nos papéis de vilão. Com certeza merecia mais respeito e o direito de ter seu nome ligado às fitas de ação dos anos 90.

O problema é que UNDER SURVEILLANCE é ruim pra burro! Um thrillerzinho chato, de soluções fáceis e reviravoltas das mais forçadas e estúpidas. Para piorar, os diálogos são ridículos demais para um roteiro escrito por quatro cabeças! A direção de Rafal Zielinski é fraca, não possui qualquer momento de inspiração cinematográfica e a fotografia não fica muito atrás. A trilha sonora ao menos é a típica dos filmes deste período.

Forçando um pouco a barra à favor do filme, podemos até encontrar alguns elementos na trama que remetem a um neo noir, com Davi interpretando um ex-policial, agora investigador de seguros, que tenta descobrir o que realmente aconteceu com seu parceiro, morto de maneira misteriosa. Entra em cena até mesmo uma cínica e sedutora femme fatale na pele da loura Melody Anderson para dar um toque de emoção às aventuras do protagonista, abalando seu coração.

Claro que não chega ao nível de uma única cena entre Bogart e Bacall em qualquer noir que fizeram juntos, mas aí seria exigir demais. No máximo um Guy Pearce e Kim Basinger e mesmo assim a coisa complica…

Bom, ainda assim, vale pela atuação do Davi e o restante do elenco, que conta com a presença de Harry Guardino, Gale Hansen (que dá um toque de buddy movie ao filme) e o grande Charles Napier. E apesar da direção meia boca, algumas cenas de ação, tiroteios e perseguições, devem agradar os fãs ardorosos do cinema de ação old school dos anos 80 e inicio do 90. Chegou a ser lançado em VHS aqui no Brasil com o título VIGILÂNCIA TOTAL, numa época em que era lançado de tudo por aqui...

7.6.10

Notas sobre filmes recentes

- TRUE LEGEND (Su Qi-Er, 2010), de Yuen Woo-Ping
O filme é uma mistura das mais surtadas que homenageia o cinema de artes marciais em todo seu esplendor, especialmente o wuxia, que contempla o lado fantástico do gênero. TRUE LEGEND mais parece uma brincadeira com os vários ingredientes que fizeram – e ainda fazem – a cabeça dos fãs. A narrativa lembra um video game, é porrada do começo ao fim, repleto de referências que vão desde DRUNKEN MASTER a FIVE DEADLY VENONS e muitos outros. Ah, vale lembrar que o diretor Woo-Ping é um dos grandes nomes do cinema de artes marciais de todos os tempos, tendo no curriculo vários clássicos do gênero. TRUE LEGEND marca seu retorno. Desde 1996 ele não dirigia nada para cinema. E continua um mestre em conduzir magníficas sequências de ação (a luta que se desdobra dentro de um fosso é sensacional). Nem os efeitos especiais de CGI exagerados e a abrupta mudança de foco do enredo conseguem atrapalhar a diversão.

- MOTHER (Madeo, 2009), de Bong Joon-Ho
Bong é desses diretores que é sempre bom ficar de olho (Será que vai mesmo pintar um HOSPEDEIRO 2?). Não sei porque demorei tanto, apesar dos elogios de vários amigos, mas finalmente conferi este seu filme mais recente, sobre uma mãe que faz de tudo para provar a inocência do filho retardado, acusado de assassinato. O filme possui alguns ecos que remetem a outro trabalho do diretor, o espetacular MEMÓRIAS DE UM ASSASSINO. MOTHER segue a mesma linha só que desta vez é com essa senhora como protagonista, metendo o nariz em várias situações enquanto investiga o caso, o que não impede de haver momentos de tensão. A direção de Bong é de uma maestria impressionante, administrando sequências de suspense atmosférico com uma carga dramática pra lá de forte, e uma pitada do humor negro habitual em seus filmes. Mas o que mais me surpreende é a atuação devastadora da atriz Kim Lye-ja, que faz o papel da mãe. Ainda prefiro MEMÓRIAS, mas MOTHER não fica muito atrás.

- UM HOMEM SÉRIO (A Serious Man, 2009), de Ethan e Joel Coen
Outro que demorei bastante para assistir, mas só agora foi estrear aqui em Vitória. Tenho sempre boas espectativas com filmes dos irmãos Coen, por isso esperei para ver UM HOMEM SÉRIO no cinema. Dividiu muito as opiniões entre a crítica e os amigos blogueiros, mas valeu a pena a espera. Não chega nem perto de ser uma obra prima, mas é legal acompanhar o protagonista, um bunda mole judeu que vê sua vida afundar em desgraças sem tomar qualquer tipo de atitude racional. O produto final pode soar um tanto vago, uma obra cheia de pretensões que falha em alguns pontos, mas está muito longe de ser a chatice que muitos acharam. Existe um lado espiritual muito forte que me agrada e talvez faça mais sentido se levar isso em consideração. A bela fotografia, as boas atuações e a mão firme dos irmãos na condução também ajudaram bastante.

5.6.10

MISHIMA - UMA VIDA EM QUATRO CAPÍTULOS (Mishima: A Life in Four Chapters, 1985), de Paul Schrader

Uma dessas historinhas de bastidores conta que após realizar A MARCA DA PANTERA a vida de Paul Schrader entrou numa maré de azar danada, como uma espécie de maldição. O sujeito foi parar no Japão onde teve a idéia de filmar a vida de Yukio Mishima, provavelmente o maior escritor japonês do século XX. Conseguiu dinheiro com a dupla Francis F. Coppola e George Lucas, escreveu o roteiro junto com seu irmão, Leonard, e filmou uma cinebiografia incomum e de rara beleza no cinema americano. Um verdadeiro banquete de soluções visuais que impressiona até mesmo o espectador mais exigente.

Mishima era uma figura curiosa, um misto de genialidade e loucura, narcisista ao extremo, ativista político, que encontrou um ótimo desempenho aqui na pele de Ken Ogata. O roteiro dos irmãos Schrader é muito inteligente e divide o filme em capítulos e variações temporais, além de inserir três obras de Mishima à narrativa, com o intuito de se aprofundar às variadas máscaras de seu protagonista.

Em seu último dia de vida, Mishima invadiu um quartel em Tóquio, acompanhado de alguns pupilos e praticou o harakiri. Este evento é captado num tom bem realista pelas câmeras de Schrader. Mas a narrativa fragmentada e entrelaçada recua no tempo mostrando, num belo preto e branco, a infância e juventude do autor de Confissões de uma Máscara.

Já as cenas inspiradas na obra do escritor são compostas com uma estética expressionista de cores vibrantes e cenários intencionalmente falsos e estilizados, demostrando toda a segurança artística de Schrader e sua ousadia em transcender visualmente, algo que já tinha esboçado em A MARCA DA PANTERA e em MISHIMA chega ao ápice. A trilha sonora de Philip Glass é um dos grandes destaques, tem um casamento perfeito com as poderosas imagens. Mais um absolutamente obrigatório do diretor.

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Muitos de vocês talvez se lembrem que antes do DEMENTIA 13 eu tinha outro blog, o Cine Art, o qual eu compartilhava com um amigo daqui de Vitória-ES, Felipe Mappa, o trabalho de atualização. Depois de algum tempo, o Felipe abandonou o recinto e eu fiquei mais de um ano carregando o blog sozinho até resolver me mudar para este aqui. Depois de quase dois anos sem atualização, o Cine Art está de volta sob o comando do Felipe, que resolveu embarcar novamente neste prazeroso universo, agora sozinho, ainda que meus velhos e constrangedores textos estejam lá.  Enfim, não deixem de prestigiar o novo Cine Art.

3.6.10

VALHALLA RISING, por Davi de Oliveira Pinheiro

Ao final do visionamento de VALHALLA RISING talvez você esteja um pouco machucado. Algumas marcas de machado no braço, alguns cortes de lâmina na barriga, mas nada que mate, afinal um filme é um filme, mas em tempos de tecnologias que tentam aumentar a imersão do espectador, é interessante uma obra que se atém a preceitos básicos de imagem e som para criar esta imersão.

VALHALLA RISING ao mesmo tempo em que ataca de forma visceral o espectador, lhe dá mais forças através de uma jornada que para cada um deve ser muito particular, já que é um filme de silêncios, da relação do homem com o ambiente, seja o espaço que separa continentes ou mesmo o compacto de uma embarcação. Trata superficialmente de fé, misturando mitologia nórdica e cristã, mas sua relação principal é com a transcendência do homem, a sua própria noção de importância e de seu lugar na história.

O personagem principal, o Caolho (Mads Mikkelsen, um de meus novos atores favoritos), não participa do filme e de ambições históricas, na verdade. Ele é nosso elo de ligação, mas as questões temáticas se estabelecem através dos demais personagens, de suas reações ao Caolho, cujas únicas ações são violentas, sempre seguidas de silêncio, de calma, de observação. Ele não procura conflitos, nem mesmo gera-os; ele os elimina através da violência. Talvez seja o personagem cinematográfico mais antitrama da história. Em todos os momentos que outros personagens reagem para “avançar” a trama, criar os pontos de trama que facilitariam a absorção do filme, o Caolho tem um rompante de violência e mata o plot point.

Ficamos presos a um filme estagnado, de reações. Um grupo de homens em uma procura, mas sem a força de vontade para chegar ao objetivo, sem capacidade de ir adiante. O que acaba por importar é a atmosfera, os enquadramentos, as locações, as cores e texturas do ambiente. Não cai no campo do experimental, pois a narrativa não é algo novo, mas sai do lugar comum dos filmes de aventura contemporâneos. É um filme de ação que a rejeita e com isso traz um leve sabor de novidade.

1.6.10

O ESCRITOR FANTASMA (The Ghost Writer, 2010), de Roman Polanski

Como se não bastasse apenas uma premissa inteligente e filmar com maestria arrepiante, Polanski faz em O ESCRITOR FANTASMA alguns dos mais belos planos e sequencias que eu vi recentemente numa sala de cinema. Só os mestres filmam desse jeito… O diretor imprime um ritmo mais lento, reflexivo, sem pressa. Todo o filme se baseia em climas e na construção atmosférica de puro suspense. Sim, o filme é anacrônico, mas para quem está de saco cheio das mesmas fórmulas de como se faz suspense atualmente, O ESCRITOR FANTASMA é mais que suficiente.

E estamos falando de uma das maiores autoridades no assunto. REPULSA AO SEXO, O BEBÊ DE ROSEMARY e O INQUILINO são apenas alguns exemplos que provam a genialidade de Polanski na condução do suspense da maneira correta como tem que ser. A trama parte da ótima idéia de um escritor britânico (McGregor), o fantasma do título, contratado para substituir um outro autor que morreu de forma suspeita enquanto escrevia as memórias do ex-primeiro ministro da Inglaterra (Brosnan), agora vivendo numa ilha nos Estados Unidos, rodeado de poucas pessoas e passando por sérias acusações políticas.

No campo das atuações, Ewan McGregor, ator sóbrio, cumpre muito bem suas responsabilidades como protagonista. Mas todo o elenco é um destaque, Tom Wilkinson está sinistro em sua participação, temos Eli Wallach e James Belushi apontando rapidamente e Pierce Brosnan que surpreende num de seus melhores desepenhos. Kim Cattrall e Olivia Williams completam o time no lado feminino.

O ESCRITOR FANTASMA é o melhor Polanski em muitos anos. E isso quer dizer muita coisa. Curioso que o filme me lembrou outro trabalho dele, O ÚLTIMO PORTAL, o qual foi bastante maltratado, apesar de ser muito bom também. Este aqui vem recebendo elogios da "crítica séria", mas nada que realmente apresente a importancia que o filme merece.