27.2.12

ZINGU!

A nova edição da ZINGU!, revista eletrônica dedicada ao cinema brasileiro, já está disponível para quem aprecia uma boa leitura, homenageando dessa vez o ator John Herbert e com um puta dossiê do ator Ewerton de Castro. Recomendo TODOS os textos da edição, que está imperdível, mas deixo também os links de duas contribuições que eu fiz para a revista:

ADULTÉRIO POR AMOR
(1978) 
SEXO, SUA ÚNICA ARMA (1981)


 Boa leitura!

26.2.12

OSCAR 2012

Pois é, não tenho escrito sobre filmes das últimas safras aqui no blog, mas não tenho deixado de conferir alguns exemplares. E pode parecer o contrário, mas eu gosto do Oscar, acompanho todo ano e me divirto bastante torcendo para os meus favoritos. É claro que não tive saco pra ver todos os indicados a melhor filme, mas aqui vão umas pequenas impressões daqueles que assisti e que concorrem ao prêmio principal da Academia:


O ARTISTA: Um dos grandes favoritos ao prêmio principal é este filme francês que virou hit internacional desde sua primeira apresentação no Festival de Cannes do ano passado e até então vem abocanhando vários prêmios importantes. Filmado em preto e branco e sem diálogos, O ARTISTA conta a história de um ator do cinema mudo cuja carreira vai ao fundo do poço com a transição para o cinema sonoro. É um trabalho muito bonito, com roteiro bem construido, bem dirigido, um protagonista interessante, vivido com muita inspiração pelo ator francês Jean Dujardin, que deve ser agraciado com o prêmio de melhor ator. Enfim, gosto do filme e recomendo, vale uma espiada. mas não morro de paixões como muita gente tem feito.

UPDATE DEPOIS DO OSCAR: Sem grandes surpresas, O ARTISTA levou mesmo o prêmio.

OS DESCENDENTES: Que filminho... Com trinta minutos eu já estava querendo jogar a toalha. É o típico produto de roteirista pretensioso se achando cool, mas, na verdade, beira o insuportável. Pessolamente, não há praticamente nada que me atraia por aqui. A única coisa que presta é a atuação do George Clooney, uma de suas melhores, ameaçando a estatueta do Dujardin de melhor ator. Só assisti porque o filme vem sendo cotado como um dos favoritos ao prêmio principal… mas seria um equívoco tremendo premiar OS DESCENDENTES na minha opinião.


A INVENÇÃO DE HUGO CABRET: É o meu favorito da noite! Talvez o melhor do Scorsese desde GANGUES DE NOVA YORK, e para os verdadeiros amantes do cinema há um sabor muito especial, um emocionante tributo à sétima arte, à necessidade de se preservar a história do cinema, à George Mèlies e aos diretores pioneiros, tudo isso narrado como uma simples aventura infantil que se revela um universo de homenagens que poucos diretores atuais teriam capacidade de realizar. E temos em cena o imortal conde Drác… ops, o Christopher Lee em uma bela participação. HUGO foi o que recebeu o maior número de indicações no Oscar deste ano, onze no total. É uma pena que não deve receber o prêmio de melhor filme (recebeu melhor diretor no Globo de Ouro, mas acho que não vai se repetir aqui) e vão compensar essa “falha” com vários prêmios técnicos os quais também merece (o som e o visual são espetáculos que impressionam). Mas, se eu tivesse esse poder, HUGO levaria brincando o prêmio da Academia de melhor filme!

MEIA-NOITE EM PARIS: Vocês sabem qual foi o último filme do Woody Allen a ser indicado ao Oscar de melhor filme? HANNAH E SUAS IRMÃS, de 1986. Então porque só agora um trabalho do sujeito volta a ser indicado ao prêmio máximo? Não é de agora que Woody voltou a fazer bons filmes, aliás, ele chegou mesmo a ter uma fase de vacas magras? Provável que alguns de seus exemplares dos anos 70 e 80 sejam superiores, mas Woody Allen nunca deixou de ser um diretor significativo e até hoje mantém uma média alta de filmes bons. E pra quem faz dois filmes por ano, isso é muita coisa. Dito isso, MEIA-NOITE EM PARIS é mais um ótimo filme do Woody, com um roteiro sublime, uma história mágica e elenco perfeito. Se ganhar, fico feliz!


A ÁRVORE DA VIDA: É um belíssimo trabalho do Terrence Malick, sobre… er, o que mesmo? A relação da energia cósmica do universo com a origem da vida? Bom, não importa, a tarefa de interpretar o complexo conteúdo filosófico da obra eu deixo para os críticos de verdade, mas é aquele tipo de filme que pode “falar” de várias maneiras diferentes para cada espectador. E da mesma maneira que alguns vão adorar, outros vão achar uma tremenda porcaria pretensiosa… Eu adorei! Visualmente expressivo, é uma experiência sensorial como poucas vezes tive dentro de uma sala de cinema nos últimos anos, um deleite para os olhos. Não seria nada mal se levasse a estatueta de melhor filme pra casa.

CAVALO DE GUERRA: Spielberg sabe ser mala quando quer e a forma como conta a historinha de um cavalo que passa por um bocado de situações durante a Primeira Guerra é de uma pieguice incomensurável! Tem umas cenas bonitas visualmente e até deve ter acertado em cheio certo público e crítica - teve gente que chegou a comparar Spielberg a John Ford. Façam-me o favor! CAVALO DE GUERRA não deve durar muito e daqui a pouco vai estar no limbo ao lado de AMISTAD e HOOK, os piores filmes do Spielberg. Onde foi parar o diretor de MUNIQUE?! A única cena que gostei: O encontro do soldado americano com o soldado alemão na zona de guerra. O resto pode ir pro lixo.

TÃO FORTE E TÃO PERTO; HISTÓRIAS CRUZADAS; O HOMEM QUE MUDOU O JOGO: Me desculpem se alguém gostou de algum desses aqui, mas eu escolhi boicotá-los. Nenhum deles me atraiu, mesmo sendo indicados ao prêmio máximo. Portanto, não os vi e provavelmente não os verei.

25.2.12

FEMALE VAMPIRE (1973)

A abertura de FEMALE VAMPIRE é uma beleza! Lina Romay se revela através de uma densa bruma vestindo apenas uma capa preta, com os seios à mostra, vagando lentamente em direção ao público, hipnotizado pela sua formosura. A câmera do diretor Jess Franco aproveita para dar alguns dos seus zoons característicos, mostrando em planos detalhes os dotes íntimos e robustos da vestal que continua seu trajeto diretamente para a câmera até a imagem escurecer.

É uma bela homenagem do Franco à exuberância de sua atriz, esposa, musa inspiradora, Lina Romay, que faleceu recentemente, vítima de câncer, aos 58 anos… E aqui prestamos a nossa singela homenagem à ela, pelo amor e dedicação que sempre teve ao cinema extremo e por ter inspirado esse prolífico cineasta a fazer mais de 200 obras!

FEMALE VAMPIRE é um dos filmes ideais para homenageá-la, embora não seja um dos meus favoritos do Franco. Na verdade, trata-se uma dessas produções mais discretas do diretor, realizado com pouquíssimo recurso, talvez filmado em três dias no máximo, com várias cenas claramente improvisadas e sem foco (da câmera mesmo!), sem roteiro, sem sentido algum. No entanto, a presença de Romay é um espetáculo. Nunca a considerei uma grande atriz, tecnicamente falando, mas para uma beldade que se vestia apenas quando o roteiro pedisse e praticava felaccios não simulados para as câmeras do marido, o talento pode ficar em segundo plano, não tem problema… hehe! Ela era perfeita naquilo que fazia.


Se há uma trama para ser descrita aqui, seria algo parecido com isso: Lina Romay é uma vampira muda que ao invés de utilizar os convencionais caninos para perfurar o pescoço e chupar o sangue de suas vítimas, prefere fazer um sexo mortal, cujo orgasmo leva o parceiro(a) à morte. E o filme inteiro segue nessa linha, só na sacanagem e mais sacanagem. Mas tanta sacanagem também cansa e é muito comum o Franco perder totalmente a noção de ritmo. Por outro lado, é justamente nesse tipo de filme que Franco ia às favas com a lógica ou a opinião pública, aproveitava de sua liberdade criativa, botava seu lado safado pra funcionar e ainda criava praticamente do nada uma espécie de narrativa de sonho, cheio de imagens oníricas… Talvez não funcione para o espectador comum, mas o autêntico fã de Jess Franco é igual ao sujeito que adora comer jiló, ninguém convence de que aquilo é ruim de doer!




O filme possui três cortes diferentes com graus de erotismo que variam de um para o outro, todas editadas pelo próprio Franco, utilizando pseudônimos. Na versão que eu vi, conhecida como FEMALE VAMPIRE, não há sexo explícito, apesar de uma ceninha rápida na qual Romay se empolga e abocanha o pinto do ator que contracenava. Mas se querem ver a versão mais quente, se não estou enganado, o título é EROTIKILL. Há ainda uma versão que acredito ser mais branda cujo título é LES AVALEUSES.

Eu não como jiló, mas sou fã de Jess Franco e por mais que FEMALE VAMPIRE tenha seus problemas, é um belo conto erótico sobre vampirismo que cresce a cada revisão, graças, especialmente, ao brilho da musa Lina Romay. Requiescat in pace, bella…

21.2.12

O CAÇADOR DE TUBARÕES, aka Il cacciatore di squali (1979)

O máximo que O CAÇADOR DE TUBARÕES conseguiu fazer para me empolgar, foram algumas ceninhas filmadas sob a água, com dublês interagindo com tubarões e que certamente não foram filmadas pelo diretor da bagaça, Enzo G. Castellari. Na verdade, parecem tiradas de um documentário do Discovery Channel. De resto, o filme é uma monótona aventura de caça ao tesouro fazendo pose de filme de tubarão assassino, subgênero tão comum nos anos 70 após o sucesso de TUBARÃO, do Spielberg.

Nem a presença do ator Franco Nero ajuda a tirar o filme do buraco. O sujeito aqui é um americano que vive tranquilo numa praia paradisíaca em um país qualquer da América Central após perder sua família em um trágico acidente. Um pouco amargurado com isso, e com uma peruca loira ridícula, Nero passa seus dias capturando tubarões, comendo uma nativa, bebendo nos bares e trocando socos com arruaceiros… Um dia, o sujeito descobre um tesouro que foi parar no fundo do mar - no interior de um avião que caíra há algum tempo - e tenta retirar o dinheiro lá de dentro. Não demora muito, começam a aparecer umas figuras estranhas rondando o lugar, como o gangster do local, vivido por Eduardo Fajardo, e seus capangas, também em busca da grana.

Apenas uma desculpa para umas doses de tiroteios, explosões, pancadarias e uma longa perseguição que começa de carro, continua a pé e termina com Nero pilotando um avião atrás de seu alvo, tentando escapar numa lancha. Mas nada que lembre o Castellari de THE BIG RACKET ou INGLORIOUS BASTARDS, tudo filmado sem grandes inspirações e o esforço de inserir todos esses ingredientes apenas contribuem com a chatice que é O CAÇADOR DE TUBARÕES. Já disse que as cenas subaquáticas são interessantes, especialmente no final quando a sangreira rola solta e dá pra ver alguns membros decepados pelos ataques dos tubarões. E Franco Nero até tenta fazer um trabalho competente, embora fique difícil se levar a sério com a peruca! Hehe! Vale uma conferida, mas não esperem grandes coisas.

12.2.12

O VINGADOR, aka Raven (1996)

Este é daqueles filmes que eu não faço idéia de como e porquê parei para assistir. Mas deve ter sido por causa do Burt Reynolds, esbanjando carisma, em fim de carreira como homem de ação. É umas das poucas coisas que prestam em O VINGADOR, que é dirigido pelo dublê/cineasta Russel Solberg e possui também umas ceninhas de ação mais ou menos e uma pequena dose de nudez. A história possui uma premissa que poderia render, mas descamba para o thriller estilo “Supercine” dos atuais sábados à noite da Globo.

Raven, do título original, é o nome do personagem de Reynolds, o lider de um esquadrão especial secreto do governo americano. O filme começa em uma missão na Bósnia, onde tudo dá errado e quase todos os membros do esquadrão são mortos em combate. Para piorar, os únicos sobreviventes, Raven e Duce (o fortão Matt Battaglia), acabam tedo uma séria discussão durante a fuga, dentro de um helicóptero, causando um acidente e o desaparecimento de Raven.

Um ano depois, Duce vive a vida que eu pedi a Deus: tranquilidade, morando numa bela casa de praia, namorando a Krista Allen… No entanto, algo totalmente inesperado acontece, pegando todo mundo de surpresa! Raven ressurge!!! Nossa! E agora quer se vingar dos seus antigos chefes do governo, além de buscar a metade de um dispositivo explosivo (o motivo da briga no helicóptero) quse encontra com Duce.


Eu alertei ali em cima que o plot de O VINGADOR poderia “render”, não que era bom, original ou algo parecido. Aliás, estamos bem longe disso por aqui. O problema é que quando não há ação, mulheres nuas ou Burt Reynolds (que está ótimo, mas aparece bem menos do que deveria), o filme vira um lixo completo e, infelizmente, não temos nenhum destes três elementos de maneira suficiente para compensar a mediocridade do roteiro. Matt Battaglia, coitado, é o mesmo que escalar uma porta de madeira como ator… Krista Allen também não fica atrás, mas ela não precisa de talento com aquelas curvas maravilhosas e duas cenas quentes e bem à vontade que já dão ao filme algum valor.



Se você for um masoquista experimentado e possui bagagem com tralhas como esta aqui, então recomendo. Caso contrário, não vale o esforço de correr atrás.

10.2.12

SLEEPING DOGS - Trailer (Video Game)

Não sou profundo conhecedor do mundo dos games atuais (sou fanático apenas pela série GTA e RED DEAD REDEMPTION, os quais não passo um dia sequer sem jogá-los no Xbox 360™. L.A NOIRE também é muito bacana).

Enfim, também não faço a mínima idéia do que se trata SLEEPING DOGS. No entanto, o amigo Luiz Alexandre mostrou esse vídeo ontem, filmado em live action, que se trata de um trailer desse jogo. Dirigido por Kody Sabourin e Paul Furminger, ambos especialistas em efeitos visuais em filmes de grande porte de Hollywood, o vídeo demonstra dois grandes talentos no trabalho de cenas de luta e ação. Mesmo com a edição rápida, picotada e câmeras lentas, o resultado é fantástico! Talvez eu nem chegue a jogar SLEEPING DOGS, mas o trailer vale a pena ver e rever:



Ok, nada que já não tenhamos visto antes, mas ainda assim, muito melhor que a grande maioria das cenas de ação feita hoje no cinema americano atual.

8.2.12

CHILLERAMA (2011)


A idéia de CHILLERAMA até que é boa: uma antologia que serve de homenagem ao universo drive-in, juntando quatro cineastas especializados em terror de orçamento médio da atualidade. O grupo de camaradas responsáveis pelo feito é formado por Adam Rifkin, Tim Sullivan, Joe Lynch e Adam Green.

A história central se passa na noite de encerramento de um cinema drive-in e o cronograma, comandado por Richard Riehle, é uma maratona de autênticos filmes “trash”. Adam Rifkin (o veterano da turma de diretores) é quem solta o primeiro, WADZILLA. É um troço no mínimo hilário, sobre um sujeito que goza um esperma mutante, que se transforma num monstro gigantesto e aterroriza a população de uma cidade, remetendo aos sci-fi’s de monstros dos anos 50. Com participação de Eric Roberts bem canastrão e efeitos especiais tosquíssimos, o episódio é, de longe, o que temos de mais divertido na “programação” de CHILLERAMA.


Já o segundo, puta merda, é chato pra cacete! Dirigido por Tim Sullivan (da refilmagem de 2001 MANÍACOS), I WAS A TEENAGE WEREBEAR mistura JUVENTUDE TRANSVIADA, de Nicholas Ray, com filmes de lobisomem, sob uma temática homossexual e narrado como um musical. Sim, parece interessante, mas não é. Desnecessariamente longo e sem graça, serve apenas como um bom sonífero. Se forem realmente conferir CHILLERAMA, podem passar a fita pra frente nessa parte...

O episódio seguinte ajuda a subir o nível do projeto novamente. Adam Green (da série HATCHET, que eu já comentei aqui no blog), embora tenha detratores, é um sujeito criativo e consegue tirar boas risadas do público com seu THE DIARY OF ANNE FRANKENSTEIN. A história se passa na Segunda Guerra, temos um Hitler bancando o cientista maluco que resolve dar vida a uma criatura cujo objetivo é matar judeus. O resultado é um Frankenstein bizarro com costeletas de judeu ortodoxo. Filmado em preto e branco e cheio de falhas técnicas intencionais, o alvo de Green são os clássicos de horror dos anos 30, mas com os exageros habituais do diretor. 


Voltamos agora à trama inicial do drive-in, cujo responsável pela direção é Joe Lynch (de WRONG TURN 2). Intitulado ZOM-B-MOVIE, o bicho pega por aqui também com um ataque de zumbis de sangue azul e tarados por sexo. Na verdade, descobrimos no desfecho que também se trata de um filme... Metalinguagem de boteco à parte, a sequência final dos ataques de zumbis é carregada de violência, nudez gratuita e muito efeitos especiais old school, o suficiente para alegrar os fãs de um zombie movie sem muita exigência. O problema são as cenas que intercalam cada “episódio”, são bem fracas e prejudicam o andamento do projeto CHILLERAMA, que, no fim das contas, obteve resultados bem abaixo do que eu esperava, apesar de ter Richard Riehle.


No entanto, um filme como CHILLERAMA hoje é programa obrigatório para qualquer aficcionado por tralhas. De todo modo, minha recomendação é assistir apenas a WADZILLA e THE DIARY OF ANNE FRANKENSTEIN. Economiza tempo e pelo menos garante a diversão. Ou então, assista a esta belezinha AQUI.

7.2.12

MATADOR DE ALUGUEL, aka Road House (1989)

Ah, eu adoro esse filme!

Em homenagem ao Ben Gazzara, que partiu dessa para “melhor” há alguns dias, resolvi escolher um título especial no qual os leitores mais assíduos do blog e fãs de filmes de ação iriam curtir à beça, porque ROAD HOUSE (vamos esquecer o título nacional) é um dos exemplares mais interessantes do “cinema de macho” americano dos anos 80. Mais cedo ou mais tarde eu teria que escrever algumas linhas sobre essa obra prima, mesmo que Gazzara, o vilão do filme, não tivesse falecido recentemente.

Dirigido pelo pouco conhecido Howdy Herrington, ROAD HOUSE é a sintese de todo um gênero em sua fase áurea, com cada elemento disposto de maneira bem definida. Em se tratando de cinema físico americano exacerbado dos anos 80, ROAD HOUSE possui méritos suficientes para se manter no mesmo nível de alguns exemplares sempre lembrados como paroxismos do gênero: DESEJO DE MATAR III, COMANDO PARA MATAR, INVASÃO USA, e alguns outros…

Mas para quem tem Charles Bronsom, Chuck Norris, Schwarzenegger, Stallone, fica obviamente mais fácil deixar a marca desejada. Essas figuras exalam truculência em qualquer produção que estivessem envolvidos naquela época. À princípio, para quem ainda não teve o prazer de ver ROAD HOUSE, aceitar Patrick Swayze como herói de ação é mais complicado. O cara era conhecido como o dançarino de DIRTY DANCING, depois ficou eternamente ligado ao fastasminha apaixonado de GHOST, e nunca lembrado como herói de ação.

Minha relação com ROAD HOUSE é estranha por causa disso. Assisti quando era pequeno, na TV, e depois de um tempo esqueci da sua existência. Quando me lembrei do filme, já na adolescência, tive preconceito porque não comprava a idéia de que Swayze realmente quebrava o pau em cima dos arruaceiros... Resumindo, acabei revendo CAÇADORES DE EMOÇÃO dezenas de vezes até me convencer a dar uma nova chance a ROAD HOUSE.

Isso só aconteceu de fato há pouco anos, mas fez um belo estrago na minha cabeça e de lá pra cá, devo ter revisto pelo menos umas cinco vezes. Só não consigo entender as razões do filme não me marcar na época que vi, como os filmes do Van Damme, Stallone e Seagal faziam… porque depois que se assiste a ROAD HOUSE você tem plena confiança de que Patrick Swayse é um durão de primeira linha, um autêntico herói de faroeste ou um samurai com um tremendo senso de justiça que nasceu na época errada, quando esse tipo de sujeito perdera seu espaço para uma sociedade submissa e passiva como a que temos hoje. Swayze vai ser sempre assimilado a Dalton, seu personagem aqui, o leão-de-chácara mais casca grossa da história do cinema!

Ok, era pra ser uma homenagem ao Gazzara, mas acalmem-se. O Swayze também morreu e eu não fiz uma homenagem dessa pra ele. Então, antes tarde do que nunca… e se existe um motivo para ROAD HOUSE ser extraordinário, é por causa de Swayze e a maneira como o roteiro, escrito por David Lee Henry, desenvolve seu personagem e sua visão de mundo. Um misto de John Wayne com Bruce Lee, o sujeito tem sua carga de mistérios que vai se revelando aos poucos. É educado, formado em filosofia, praticante de Tai Chi, destemido, valente e puta merda, sabe socar os adversários quando é preciso. Possui um lado casca grossa em contraste com outro lado sensível, o paradgma exato do badass perfeito.


O filme também dá boas dicas para quem quiser seguir a profissão de Leão-de-chácara. Basta observar os mínimos detalhes da “cartilha” que Dalton segue à risca tanto no cotidiano quanto na hora de executar o trabalho prático. Por exemplo, o que fazer com seu carro quando vários baderneiros foram jogados pra fora do bar aos socos e chutes por você e não lhe restam outra opção que não seja furar o pneu ou quebrar os vidros do seu veículo como vingança? Não se preocupem, pois o filme ensina como se precaver. Prestem bastante atenção também à cena na qual Dalton explica as regras de como agir quando o bar “pega fogo”… “Be nice”. E ande sempre com sua ficha médica na mochila. “Economiza tempo”, como diria  Dalton.

E você já está pronto para seguir carreira.

Um elemento que nunca envelhece em filmes como este, são as adoráveis brigas de bar. Como isso é habitual na profissão do nosso herói, não poderia faltar algumas por aqui. Quem não gosta de uma confusão comendo solta, garrafas voando, mesas quebrando e vidros estilhaçando em um local como esse? Steven Seagal que o diga! A trama, para quem não conhece, é a seguinte: Dalton é um lendário segurança profissional de bares, casas de show, boates, etc, contratado para transformar o Double Deuce num lugar frequentável e de respeito. A situação no local é desprezível, toda noite se transforma num verdadeiro caos. Algumas atitudes do protagonista para botar tudo em ordem acabam batendo de frente com o chefão da cidade, Brad Wesley – Ben Gazzara. Da mesma maneira que uma típica premissa de western.


Durante o percurso, Dalton ainda tem tempo para o amor e se apaixona por uma médica, interpretada pela Kelly Lynch, por quem Wesley também sofre de amores. Isso me faz lembrar de mais um elemento essencial que torna ROAD HOUSE tão especial… temos um protagonista fodão, pancadaria à rodo e… ah, sim! Peitos! Apesar de magrela, Lynch faz o favor de ficar bem à vontade em frente às câmeras em uma cena, mas podemos contar com diversos peitos aleatórios que vão surgindo de vez em quando. Minha cena preferida: o strip-tease de Julie Michaels. Já que eu sou um cara legal, coloquei aí abaixo para vocês deslumbrarem a performance da garota.






Outro elemento básico para o sucesso de um bom filme truculento dos anos 80 são as frases de efeitos. E nota-se logo de cara que o departamento de diálogos não estava de brincadeira. Em uma cena, a médica questiona Dalton a razão dele não querer anestesia antes de lhe costurar um corte provocado por uma lâmina. “A dor não machuca”, ele responde. Caramba! É o tipo de frase que você pode carregar para sempre na sua vida, soltar no momento certo entre os amigos e estes vão pensar “putz, esse cara é cool”… ou vão apenas lembrar que você é um nerd que fica encaixando citações de filmes em situações forçadas.

O elenco de ROAD HOUSE também não é de se jogar fora. Além de Swayze, Lynch e Gazzara, temos Sam Elliott desempenhando um veterano leão-de-chácara, parceiro de Dalton de longa data, que chega em determinado momento para lhe dar uma ajuda. Elliott é desses atores subestimados cujo carisma faz com que toda a atenção seja voltada para ele, roubando cada minuto que aparece. O diretor aproveita muito dessa vantagem e o filme ganha uma força a mais com sua presença. Marshall R. Teague, muito antes de estrelar filmes do Isaac Florentine, faz o capanga de Wesley que também tem conhecimento de artes marciais, um páreo duro para Dalton. E Keith David faz uma ponta simpática.


Ben Gazzara já estava rodado, com 59 anos quando trabalhou em ROAD HOUSE. É óbvio que não teria a mínima chance num corpo a corpo com o jovem e atlético herói, mas idade não significa muito para quem tem os meios necessários para foder com a vida de quem quiser. Sua composição vilãnesca é brilhante, tem estilo e Gazzara parece se divertir bancando o bandido rico e excêntrico que desperta o temor dos pobres cidadãos.

É um personagem complexo, na verdade, e Gazzara consegue transmitir no olhar o prazer de ser mau sem apresentar motivos para ser. Na verdade, o sujeito vive numa bosta de cidadezinha que não tem porra nenhuma para fazer (a não ser ir ao Double Deuce), embora tenha tudo o que o dinheiro pode comprar, menos a doutora Kelly Lynch. É, acho que temos motivos suficientes para o cara ter tanta maldade no coração. A situação beira o surreal quando Wesley ordena que um de seus capangas entre com seu monster truck dentro da concessionária de automóveis porque o dono atrasou o pagamento das tarifas impostas pelo facínora.

E é curioso ver um grande ator do porte de Gazzara entrando na brincadeira das frases de efeitos. Na sequência final, por exemplo, quando Dalton se esconde na sala de “troféus de caça” dentro da mansão de Wesley, cheio de animais empalhados. Gazzarra adentra empunhando uma pistola e diz “I see you found my trophy room. The only thing missing is your ass.”!!!

E eu disse que o vilão não teria chance alguma na porrada com Dalton, mas isso não significa que ele não tenha ao menos tentado! Sim, Dalton dá uma coça em Wesley, assim como dá em um monte de gente. As sequências de luta são excelentes, muito convincentes, com a direção segura de Howdy. Swayze parece ter praticado bastante também, pois seus movimentos e golpes são fantásticos! Sam Elliot dá umas porradas, mas fica mais no gingado do boxe, enquanto Swayze e Teague demonstram muita habilidade na ação de suas performances. O confronto entre os dois é o ponto alto de ROAD HOUSE, até porque o diretor faz um belo trabalho de preparação. Cada encontro entre os personagens durante o filme é detalhado como uma operação cirúrgica, acentuando cada olhar e gesto. Quando chega a hora, o diretor não decepciona e entrega uma luta brutal, longa e com um desfecho graficamente violento.


O filme recebeu o título aqui no Brasil de MATADOR DE ALUGUEL. Não sei onde a criatura que teve a brilhante idéia de colocar esse nome estava com a cabeça, porque não existe nenhum “matador” na trama. Muito menos algum que fosse “alugado”. Já assisti ao filme umas cinco vezes e não consegui encontrar o tal matador de aluguel do título...

Brincadeiras à parte, ROAD HOUSE teve uma continuação, lançada diretamente no mercado de vídeo, em 2006. ROAD HOUSE 2: LAST CALL. Eu não assisti ainda e, para ser sincero, não parece grandes coisas, apesar de ter uns coadjuvantes interessantes como Richard Norton, Jake Busey e Will Patton. E pelo que li no imdb, o protagonista é o filho de Dalton que se tornou policial e blá, blá, blá… Como eu me conheço, sei que sou masoquista, devo assistir a essa tralha qualquer hora dessas.

Mas o que eu queria mesmo é que o Swayze estivesse vivo para reprisar o papel de Dalton em uma nova "aventura"… Poderiam chamar o Darren Aronofsky para dirigir. Seria algo dramático como O LUTADOR, com o Mickey Rourke, misturado com o climão divertido de ROAD HOUSE original, com o velho Dalton precisando botar um bar infernal em ordem, ao mesmo tempo em que tem problemas de relacionamento com o filho e essas coisas clichês que a gente gosta…

Enfim, acho que era tudo que eu tinha para dizer sobre ROAD HOUSE. Deve ter sido o maior texto que já escrevi para o blog. Então, se alguém teve saco para ler até aqui, já me sinto recompensado. Vale a pena descascar, no bom sentido, um filmaço como este, especialmente para que curte filme de ação e pancadaria dos anos 80, apesar da estranheza inicial de ter Patrick Swayze como herói de ação. Mas faço um alerta para quem não assistiu e ainda está com o pé atrás: o filme é obrigatório e o sujeito arrebenta. Podem confiar!